Capítulo 4

Ivy estava presa no grande salão, e naquele instante, tudo que ela desejava era desaparecer entre as sombras. O espaço era amplo, com paredes de pedra e tetos altos que amplificavam cada som, mas para ela, parecia sufocante. Porque ela sempre soubera que não era bem-vinda, e a hostilidade estava presente em toda a atmosfera.

Principalmente naquele instante, quando aquela loba avançou suas garras afiadas contra ela, os olhos prateados e cobertos por um ódio cego e latente.

O movimento foi rápido demais para Ivy reagir, e a garra daquela loba rasgou sua bochecha antes mesmo que ela pudesse chamar por sua loba. Aquela fêmea parece disposta a continuar com seu golpe e Ivy sente seu sangue gelar, porque percebe que não teria chance alguma contra ela. Principalmente com a situação deplorável e fraqueza que seu corpo se encontrava.

— Você é tão covarde quanto os fracassados dos seus pais. — A loba volta a rosnar e se prepara para atacar Ivy novamente, que só desvia os olhos e espera pelo golpe.

No entanto, antes que aquele ataque pudesse atingi-la, um borrão atravessou o salão.

Lucian. O cheiro dele impregna tudo ao redor e só então, Ivy abre os olhos e o vê.

Lucian interceptou a loba com uma precisão quase sobrenatural, segurando-a pelo braço e jogando-a contra a parede com um estrondo. A fêmea gritou de dor ao impacto, mas Lucian não recuou. Sua expressão era fria, seus olhos dourados brilhando com uma fúria incontrolável.

— O que você acha que está fazendo? — Lucian rosnou, sua voz mais grave, reverberando como um trovão. Seus olhos brilhavam com um dourado predatório, deixando claro que o lobo dentro dele estava à superfície.

A loba tentou se levantar, mas Lucian a pressionou contra a parede com uma força implacável, os dentes à mostra em um rosnado ameaçador. A loba tentou recuar, mas Lucian não soltou. Em vez disso, seu aperto se intensificou, arrancando um gemido de dor da mulher.

 O som fez Ivy estremecer; não por empatia, mas porque a intensidade de Lucian era tão avassaladora quanto a ameaça inicial.

— Você ousa atacar alguém sob a minha proteção? — ele continuou, a raiva em suas palavras queimando como fogo. — Eu não tolero desobediência.

Ivy observava a cena, o coração disparado. A presença de Lucian era avassaladora, e a maneira como ele a havia protegido era quase... reconfortante. Mas a brutalidade com que ele tratava a outra loba a fez estremecer.

— Ela não pertence a este lugar, Lucian! — a loba cuspiu, ignorando a dor. — Ela é uma traidora! Filha de assassinos!

— Talvez você esteja certa. — A resposta dele foi tranquila, quase casual, mas a ameaça na sua voz era inconfundível. — Mas quem decide isso sou eu, não você.

A loba se contorceu, tentando se libertar, mas Lucian a empurrou contra a parede com um movimento rápido, prendendo-a facilmente. Ele inclinou-se, seus olhos brilhando enquanto murmurava perigosamente perto de seu ouvido:

— Se tocar nela novamente, eu vou fazer você se arrepender de ter nascido nesta alcateia.

— Lucian, você está...

— Cale-se! — Lucian a interrompeu, apertando o braço da mulher com mais força. Um grito escapou de seus lábios, e Ivy viu as marcas de suas garras começarem a sangrar.

Ele se inclinou, os olhos fixos nos dela, um aviso claro.

— Você não a toca. Nunca.

Lucian soltou a loba, deixando-a cair no chão com um baque surdo. Ele não deu atenção para os gemidos de dor ou o olhar apavorado que ela lançou em sua direção antes de sair cambaleando pela porta, ignorando-a completamente.

Ele virou-se para Ivy, seus olhos ainda brilhando de fúria. Ela tentou recuar, mas ele estendeu a mão, segurando-a pelo braço com firmeza — não com força, mas o suficiente para fazê-la ficar imóvel.

Ivy prendeu a respiração. A fúria de Lucian era tangível, uma força esmagadora que parecia preencher toda a sala. Mas ao mesmo tempo, havia algo perturbadoramente calculado em seus movimentos, como se ele estivesse deliberadamente mostrando não apenas sua autoridade, mas também sua crueldade.

— Você está bem? — perguntou, a voz mais baixa, mas ainda carregada de intensidade.

Ivy assentiu, embora suas mãos estivessem tremendo e seu coração estivesse disparado.

— Não precisava que você a machucasse assim... — murmurou, sem conseguir olhar diretamente para ele. As memórias do ataque e da intervenção brutal de Lucian ainda estavam frescas. —  Isso… foi cruel — murmurou, desviando os olhos.

Lucian estreitou os olhos e ergueu o queixo, seus traços endurecidos.

— Proteção exige força, Ivy. E força às vezes significa crueldade.

Por um momento, ela ficou sem palavras, sentindo o peso de sua presença e a complexidade de suas ações. Ele era um protetor implacável, mas também um alfa brutal. E, mesmo que ela odiasse admitir, aquele paradoxo começava a mexer com ela de uma forma que a deixava ainda mais confusa.

— E quanto a você — ele continuou, mais baixo— seja forte. Na próxima vez, eu talvez não chegue a tempo. — E lançando lhe um olhar que parecia perfurar sua alma, ele saiu da sala.

Ivy permaneceu parada, tentando recuperar o fôlego. Mais uma vez, ela soube que o verdadeiro inimigo não estava do lado de fora das portas da alcateia — mas bem diante dela, com olhos dourados e intenções que ela ainda não conseguia decifrar.

Assim que a porta se fechou atrás de Lucian, a sala de jantar ficou estranhamente silenciosa, e ela notou que os poucos lobos que costumavam rondar o espaço não estavam por perto. Era hora do jantar, e provavelmente todos estavam reunidos na área comum.

— Uma oportunidade perfeita. — Falou em voz alta.

Ivy se afastou daquela larga mesa, os movimentos precisos e cuidadosos. Seus olhos varreram o ambiente, procurando qualquer sinal de alguém que pudesse interferir em seu plano. Nada. O corredor estava vazio.

Ivy sabia que ficar sob os cuidados de Lucian não era uma opção. Ele era cruel, intransigente, e o olhar impassível que dera à loba que tentou atacá-la ainda assombrava sua mente.

 Ele parecia não se importar em machucar seus próprios companheiros. E se ele era assim com os membros de sua alcateia, o que aconteceria com ela quando ele se cansasse?

Uma pergunta surgiu como um trovão em sua mente: E se eu acabar como meus pais?

A raiva misturada com o medo borbulhou em seu peito. Não, ela não podia permitir que isso acontecesse. Lucian havia tirado tudo dela, e agora tentava mantê-la ali, submissa e sob controle.

— Eu não sou como os outros. Ele não pode me domar.

E assim, ela moveu-se rapidamente pelo corredor, os passos leves e silenciosos, como se a própria adrenalina a tornasse mais ágil. Havia apenas uma saída possível: o portão que levaria até a trilha na floresta. Ela o vira ao chegar, mas até agora nunca tivera a oportunidade de alcançá-lo.

O caminho parecia interminável, cada porta cruzada uma nova fonte de medo. Ouvia ruídos ao longe, o tilintar de talheres e o baixo burburinho de vozes no salão principal. Sua garganta estava seca, mas ela não podia parar. A ideia de liberdade a guiava como um farol na escuridão.

Chegando ao portão, seu coração saltou.

Ele estava entreaberto. Talvez alguém tivesse esquecido de fechá-lo por completo, ou talvez fosse um milagre do destino. Ivy não perdeu tempo. Espremeu-se pela abertura, sentindo o vento noturno chicotear seu rosto.

A floresta se estendia diante dela, uma promessa de liberdade, mas também cheia de perigos desconhecidos. Mesmo assim, ela sabia que o maior perigo estava dentro da alcateia, nos olhos dourados de Lucian e na sombra de sua autoridade implacável.

Respirando fundo, Ivy começou a correr.

 Cada passo a levava para mais longe das garras do lobo cruel que a aprisionara. E, mais importante, para mais perto da única coisa que a fazia seguir em frente: a chance de encontrar seu irmão.

— Eu não serei prisioneira de ninguém. Não outra vez.

Ivy sabia que seu irmão ainda estava ali, prisioneiro, sofrendo nas mãos de Lucian e seus homens. Não poderia fugir sem antes tentar ajudá-lo. Ivy balançou a cabeça. Precisava ser rápida, ou sua chance de escapar evaporaria. Inspirou profundamente e mudou sua direção.

Os corredores internos da masmorra estavam mais silenciosos do que antes, com a maior parte da alcateia concentrada no jantar. Movendo-se furtivamente, ela se dirigiu às celas, onde sabia que seu irmão estava preso. Quanto mais perto chegava, mais sua respiração se tornava pesada com a antecipação.

Finalmente, chegou à entrada. A porta de ferro estava mal iluminada por uma lamparina no corredor. Ao espiar pelas barras, viu uma cena que congelou seu coração.

Seu irmão, amarrado a correntes na parede de pedra, recebia golpes implacáveis de um chicote. O carcereiro, um macho corpulento e cruel, dava cada golpe com força brutal, rosnando com satisfação doentia.

— Você quer saber onde ela está? — o homem rugia, irritado. — Fale, e isso vai parar.

O irmão de Ivy, mesmo debilitado, ergueu a cabeça com esforço. Seus olhos estavam semicerrados, o rosto ensanguentado, mas sua expressão permanecia firme.

— Não vou... falar nada... — ele conseguiu dizer, a voz rouca.

Ivy sentiu a raiva e o desespero borbulharem dentro dela. Sem pensar, empurrou a porta com um estrondo, fazendo-a se abrir violentamente. O som ecoou pelas paredes, chamando a atenção do carcereiro.

— Quem diabos você pensa que é?! — o homem gritou, virando-se com o chicote ainda em punho.

Ivy avançou sem hesitar, colocando-se entre o homem e seu irmão. Seus olhos queimavam com uma mistura de medo e determinação.

— Se quiser machucar meu irmão, terá que passar por mim!

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