Ivy estava presa no grande salão, e naquele instante, tudo que ela desejava era desaparecer entre as sombras. O espaço era amplo, com paredes de pedra e tetos altos que amplificavam cada som, mas para ela, parecia sufocante. Porque ela sempre soubera que não era bem-vinda, e a hostilidade estava presente em toda a atmosfera.
Principalmente naquele instante, quando aquela loba avançou suas garras afiadas contra ela, os olhos prateados e cobertos por um ódio cego e latente.
O movimento foi rápido demais para Ivy reagir, e a garra daquela loba rasgou sua bochecha antes mesmo que ela pudesse chamar por sua loba. Aquela fêmea parece disposta a continuar com seu golpe e Ivy sente seu sangue gelar, porque percebe que não teria chance alguma contra ela. Principalmente com a situação deplorável e fraqueza que seu corpo se encontrava.
— Você é tão covarde quanto os fracassados dos seus pais. — A loba volta a rosnar e se prepara para atacar Ivy novamente, que só desvia os olhos e espera pelo golpe.
No entanto, antes que aquele ataque pudesse atingi-la, um borrão atravessou o salão.
Lucian. O cheiro dele impregna tudo ao redor e só então, Ivy abre os olhos e o vê.
Lucian interceptou a loba com uma precisão quase sobrenatural, segurando-a pelo braço e jogando-a contra a parede com um estrondo. A fêmea gritou de dor ao impacto, mas Lucian não recuou. Sua expressão era fria, seus olhos dourados brilhando com uma fúria incontrolável.
— O que você acha que está fazendo? — Lucian rosnou, sua voz mais grave, reverberando como um trovão. Seus olhos brilhavam com um dourado predatório, deixando claro que o lobo dentro dele estava à superfície.
A loba tentou se levantar, mas Lucian a pressionou contra a parede com uma força implacável, os dentes à mostra em um rosnado ameaçador. A loba tentou recuar, mas Lucian não soltou. Em vez disso, seu aperto se intensificou, arrancando um gemido de dor da mulher.
O som fez Ivy estremecer; não por empatia, mas porque a intensidade de Lucian era tão avassaladora quanto a ameaça inicial.
— Você ousa atacar alguém sob a minha proteção? — ele continuou, a raiva em suas palavras queimando como fogo. — Eu não tolero desobediência.
Ivy observava a cena, o coração disparado. A presença de Lucian era avassaladora, e a maneira como ele a havia protegido era quase... reconfortante. Mas a brutalidade com que ele tratava a outra loba a fez estremecer.
— Ela não pertence a este lugar, Lucian! — a loba cuspiu, ignorando a dor. — Ela é uma traidora! Filha de assassinos!
— Talvez você esteja certa. — A resposta dele foi tranquila, quase casual, mas a ameaça na sua voz era inconfundível. — Mas quem decide isso sou eu, não você.
A loba se contorceu, tentando se libertar, mas Lucian a empurrou contra a parede com um movimento rápido, prendendo-a facilmente. Ele inclinou-se, seus olhos brilhando enquanto murmurava perigosamente perto de seu ouvido:
— Se tocar nela novamente, eu vou fazer você se arrepender de ter nascido nesta alcateia.
— Lucian, você está...
— Cale-se! — Lucian a interrompeu, apertando o braço da mulher com mais força. Um grito escapou de seus lábios, e Ivy viu as marcas de suas garras começarem a sangrar.
Ele se inclinou, os olhos fixos nos dela, um aviso claro.
— Você não a toca. Nunca.
Lucian soltou a loba, deixando-a cair no chão com um baque surdo. Ele não deu atenção para os gemidos de dor ou o olhar apavorado que ela lançou em sua direção antes de sair cambaleando pela porta, ignorando-a completamente.
Ele virou-se para Ivy, seus olhos ainda brilhando de fúria. Ela tentou recuar, mas ele estendeu a mão, segurando-a pelo braço com firmeza — não com força, mas o suficiente para fazê-la ficar imóvel.
Ivy prendeu a respiração. A fúria de Lucian era tangível, uma força esmagadora que parecia preencher toda a sala. Mas ao mesmo tempo, havia algo perturbadoramente calculado em seus movimentos, como se ele estivesse deliberadamente mostrando não apenas sua autoridade, mas também sua crueldade.
— Você está bem? — perguntou, a voz mais baixa, mas ainda carregada de intensidade.
Ivy assentiu, embora suas mãos estivessem tremendo e seu coração estivesse disparado.
— Não precisava que você a machucasse assim... — murmurou, sem conseguir olhar diretamente para ele. As memórias do ataque e da intervenção brutal de Lucian ainda estavam frescas. — Isso… foi cruel — murmurou, desviando os olhos.
Lucian estreitou os olhos e ergueu o queixo, seus traços endurecidos.
— Proteção exige força, Ivy. E força às vezes significa crueldade.
Por um momento, ela ficou sem palavras, sentindo o peso de sua presença e a complexidade de suas ações. Ele era um protetor implacável, mas também um alfa brutal. E, mesmo que ela odiasse admitir, aquele paradoxo começava a mexer com ela de uma forma que a deixava ainda mais confusa.
— E quanto a você — ele continuou, mais baixo— seja forte. Na próxima vez, eu talvez não chegue a tempo. — E lançando lhe um olhar que parecia perfurar sua alma, ele saiu da sala.
Ivy permaneceu parada, tentando recuperar o fôlego. Mais uma vez, ela soube que o verdadeiro inimigo não estava do lado de fora das portas da alcateia — mas bem diante dela, com olhos dourados e intenções que ela ainda não conseguia decifrar.
Assim que a porta se fechou atrás de Lucian, a sala de jantar ficou estranhamente silenciosa, e ela notou que os poucos lobos que costumavam rondar o espaço não estavam por perto. Era hora do jantar, e provavelmente todos estavam reunidos na área comum.
— Uma oportunidade perfeita. — Falou em voz alta.
Ivy se afastou daquela larga mesa, os movimentos precisos e cuidadosos. Seus olhos varreram o ambiente, procurando qualquer sinal de alguém que pudesse interferir em seu plano. Nada. O corredor estava vazio.
Ivy sabia que ficar sob os cuidados de Lucian não era uma opção. Ele era cruel, intransigente, e o olhar impassível que dera à loba que tentou atacá-la ainda assombrava sua mente.
Ele parecia não se importar em machucar seus próprios companheiros. E se ele era assim com os membros de sua alcateia, o que aconteceria com ela quando ele se cansasse?
Uma pergunta surgiu como um trovão em sua mente: E se eu acabar como meus pais?
A raiva misturada com o medo borbulhou em seu peito. Não, ela não podia permitir que isso acontecesse. Lucian havia tirado tudo dela, e agora tentava mantê-la ali, submissa e sob controle.
— Eu não sou como os outros. Ele não pode me domar.
E assim, ela moveu-se rapidamente pelo corredor, os passos leves e silenciosos, como se a própria adrenalina a tornasse mais ágil. Havia apenas uma saída possível: o portão que levaria até a trilha na floresta. Ela o vira ao chegar, mas até agora nunca tivera a oportunidade de alcançá-lo.
O caminho parecia interminável, cada porta cruzada uma nova fonte de medo. Ouvia ruídos ao longe, o tilintar de talheres e o baixo burburinho de vozes no salão principal. Sua garganta estava seca, mas ela não podia parar. A ideia de liberdade a guiava como um farol na escuridão.
Chegando ao portão, seu coração saltou.
Ele estava entreaberto. Talvez alguém tivesse esquecido de fechá-lo por completo, ou talvez fosse um milagre do destino. Ivy não perdeu tempo. Espremeu-se pela abertura, sentindo o vento noturno chicotear seu rosto.
A floresta se estendia diante dela, uma promessa de liberdade, mas também cheia de perigos desconhecidos. Mesmo assim, ela sabia que o maior perigo estava dentro da alcateia, nos olhos dourados de Lucian e na sombra de sua autoridade implacável.
Respirando fundo, Ivy começou a correr.
Cada passo a levava para mais longe das garras do lobo cruel que a aprisionara. E, mais importante, para mais perto da única coisa que a fazia seguir em frente: a chance de encontrar seu irmão.
— Eu não serei prisioneira de ninguém. Não outra vez.
Ivy sabia que seu irmão ainda estava ali, prisioneiro, sofrendo nas mãos de Lucian e seus homens. Não poderia fugir sem antes tentar ajudá-lo. Ivy balançou a cabeça. Precisava ser rápida, ou sua chance de escapar evaporaria. Inspirou profundamente e mudou sua direção.
Os corredores internos da masmorra estavam mais silenciosos do que antes, com a maior parte da alcateia concentrada no jantar. Movendo-se furtivamente, ela se dirigiu às celas, onde sabia que seu irmão estava preso. Quanto mais perto chegava, mais sua respiração se tornava pesada com a antecipação.
Finalmente, chegou à entrada. A porta de ferro estava mal iluminada por uma lamparina no corredor. Ao espiar pelas barras, viu uma cena que congelou seu coração.
Seu irmão, amarrado a correntes na parede de pedra, recebia golpes implacáveis de um chicote. O carcereiro, um macho corpulento e cruel, dava cada golpe com força brutal, rosnando com satisfação doentia.
— Você quer saber onde ela está? — o homem rugia, irritado. — Fale, e isso vai parar.
O irmão de Ivy, mesmo debilitado, ergueu a cabeça com esforço. Seus olhos estavam semicerrados, o rosto ensanguentado, mas sua expressão permanecia firme.
— Não vou... falar nada... — ele conseguiu dizer, a voz rouca.
Ivy sentiu a raiva e o desespero borbulharem dentro dela. Sem pensar, empurrou a porta com um estrondo, fazendo-a se abrir violentamente. O som ecoou pelas paredes, chamando a atenção do carcereiro.
— Quem diabos você pensa que é?! — o homem gritou, virando-se com o chicote ainda em punho.
Ivy avançou sem hesitar, colocando-se entre o homem e seu irmão. Seus olhos queimavam com uma mistura de medo e determinação.
— Se quiser machucar meu irmão, terá que passar por mim!
O carcereiro deu uma risada grave diante da determinação cega e a coragem imprudente de Ivy. Lentamente ele avança em sua direção, o sorriso diabólico presente em seu rosto duro e cruel.— Ora, ora... a ovelhinha decidiu enfrentar o lobo. Pena que não vai durar muito. — Ele resmunga, ficando cada vez mais próximo.Ivy tremeu, mas não cedeu. Seu coração batia tão forte que sentia como se fosse rasgar seu peito, mas sua convicção era maior que o medo. Enquanto encarava o carcereiro, ouviu o irmão atrás dela.— Saia daqui, Ivy! Ele vai te machucar... como fizeram comigo.— Eu não vou deixar você sozinho — respondeu, sem desviar os olhos do homem à frente.O carcereiro levantou o chicote novamente, pronto para desferir o golpe, mas algo aconteceu. O som grave de passos ecoou pelo corredor. Pesados, firmes, inconfundíveis.Lucian. Lucian não hesitou. Um rosnado profundo e ensurdecedor escapou de sua garganta quando entrou com violência no recinto.O carcereiro hesitou, os olhos piscando na
Os gemidos fracos de Ethan ecoavam na masmorra enquanto dois curandeiros da alcateia o colocavam cuidadosamente em uma maca improvisada.Ivy permaneceu ao lado dele, segurando sua mão com firmeza, sentindo cada fragmento de dor do irmão como se fosse dela mesma.— Você precisa cuidar das suas feridas, Ethan — disse Ivy, a voz embargada.— E você precisa sair daqui — ele respondeu, tossindo. A fraqueza era evidente, mas havia fogo em seus olhos, mesmo quando estavam pesados de exaustão.O curandeiro lhe aplicou um unguento nas feridas abertas enquanto Ivy se inclinava, acariciando os cabelos suados dele.— Não se preocupe comigo. Eu vou dar um jeito, Ethan. Prometo.Mas antes que pudesse dizer mais, a porta de ferro rangeu. Lucian entrou, sua presença preenchendo o espaço como uma tempestade.— Ele vai viver. — Disse Lucian, de maneira seca, com os olhos focados em Ivy. — Agora você vem comigo.Ivy lançou um último olhar ao irmão, sabendo que ele seria levado à enfermaria. Seus lábios
Ivy sentiu os olhares perfurando sua pele enquanto caminhava ao lado de Lucian. Os membros da alcateia estavam em silêncio, mas seus olhos eram cortantes. Ela sabia o que diziam. Sabia o quanto os desprezavam. E pior: sabia que a presença de Lucian ao seu lado não fazia as coisas mais fáceis. Para todos ali, ela era apenas uma intrusa, a nova Luna que precisaria se provar a todo custo. E Ivy, embora tentasse ocultar, se sentia perdida nesse jogo.— Você está bem? — A voz de Lucian, finalmente, cortou o silêncio.Ele a olhava de lado, com seus olhos frios como a noite. Não havia preocupação no tom, apenas uma indiferença calculada.— Claro. — Ela respondeu, tentando manter a compostura. Ela não iria ceder ao desconforto deles. Não agora, não nunca. — Só me sinto em casa aqui. — Disse com sarcasmo.Lucian ignorou, sua expressão de pedra nunca vacilando. Eles avançaram mais alguns metros até estarem no lado interno da casa da alcatéia, e seguiram até o que Ivy percebeu, ser o salão de m
Ivy se virou em frente ao espelho pela última vez enquanto as mulheres ao seu redor terminavam de ajustar o seu vestido. O azul celeste abraçava seu corpo delicadamente, realçando a palidez de sua pele e o brilho de seus olhos intensos. Apesar da indignação de ser moldada como um objeto, por um momento, ela não reconheceu o próprio reflexo.Ela mal suportava o peso daqueles toques "delicados". Como alguém poderia achar que um vestido ou cabelos trançados poderiam mascarar o furacão que ela sentia por dentro? Ela não era apenas outra peça naquele jogo implacável. Não poderia ser.Antes que pudesse mergulhar mais fundo nesses pensamentos, a porta do quarto se abriu, revelando Lucian.— Está pronta? — ele perguntou, sua voz firme preenchendo o ambiente antes que pudesse vê-la completamente.Quando seus olhos a captaram, Lucian parou. Ele não era um homem facilmente surpreendido, mas ali estava ela, uma versão de Ivy que ele não esperava. Seu olhar deslizou do cabelo vermelho, agora caind
O peso no ar parecia maior conforme os anciãos avançavam em direção a Ivy. Eles eram vultos de autoridade, com passos lentos e olhares que intimidavam até os lobos mais experientes. Ivy respirou fundo, seus dedos entrelaçados em um esforço visível para disfarçar o nervosismo.Quando ficaram próximos, ela os saudou com um pequeno aceno de cabeça, mantendo um tom educado, embora sua voz traísse um leve tremor. — É uma honra conhecê-los pessoalmente, senhores. — Ivy falou, tentando manter um sorriso, apesar de não tolerar nem um pouco a existência daqueles homens.No entanto, Ivy percebeu que se quisesse sobreviver naquele lugar, precisaria aprender a fingir e ignorar seus reais sentimentos.Mesmo assim, os anciãos sequer reagiram a sua tentativa de aproximação. Suas expressões permaneceram imóveis, suas vozes inaudíveis enquanto sussurravam entre si. Sem nem dirigir uma palavra a Ivy, ou mísero olhar, fizeram um gesto chamando Lucian.— Alfa. Precisamos falar em particular. — a voz gra
Assim que Lucian entrou naquela sala com os anciões, Ivy começou a caminhar entre as pessoas, tentando não chamar atenção. Cada riso distante e olhar furtivo parecia uma crítica velada, como se ela fosse uma intrusa no mundo ao qual Lucian pertencia. A sensação de deslocamento era sufocante.Talvez voltar para o quarto fosse a melhor opção.Enquanto atravessava o salão, ela tentou desviar de um dos serviçais carregando bandejas. Sua atenção dispersa, somada ao tumulto ao redor, fez com que esbarrasse na pessoa, e tudo pareceu acontecer em câmera lenta: o equilíbrio perdido, a bandeja balançando no ar, e a certeza de que cairia no chão com um estrondo.Mas, antes que pudesse atingir o solo, mãos firmes a seguraram pela cintura, erguendo-a de volta com facilidade. Ivy ergueu os olhos rapidamente, o coração batendo descompassado. A figura que a amparava era alta, poderosa e imediatamente familiar. O olhar claro e penetrante era inconfundível.— Você está bem? — perguntou o homem, sua voz
O ar da noite era morno, perfumado pelo aroma das flores do jardim da alcateia. A lua cheia pairava alta no céu, sua luz prateada iluminando tudo com um brilho mágico e quase irreal.Ivy caminhava ao lado de Alaric, o coração inquieto, ora observando o homem que parecia impenetrável, ora se perdendo na beleza do cenário.— Não esperava que o jardim fosse tão... calmo — Ivy comentou, tentando quebrar o silêncio enquanto seus passos ecoavam em uníssono no caminho de pedra.— Surpreendente vindo de Lucian, não acha? — Alaric replicou, a voz carregada de uma ironia sutil, que fez Ivy desviar os olhos, sem saber como reagir.Eles atravessaram um caminho lateral e passaram diante de uma sala anexada à casa principal. As janelas estavam entreabertas, e Ivy mal pôde conter o susto ao ouvir a voz grave e autoritária de Lucian de dentro.— ... deixe que ele faça isso. Se é guerra que ele está pensando em criar, vai ter. Minha palavra segue imutável. Vamos aguardar, mas, se for necessário que ha
Alaric deu um passo para trás, ainda sorrindo, mas seus olhos brilharam com algo mais. Algo que Lucian não parecia ter percebido.— Interessante... — murmurou Alaric antes de se virar para Ivy, dando-lhe um olhar de despedida que a fez estremecer. — Conversaremos em outra ocasião. Boa noite, Ivy.Ele saiu sem pressa, deixando Lucian e Ivy a sós sob a luz prateada da lua. E, enquanto Ivy encarava o alfa, que parecia pronto para explodir, seu coração batia descontrolado.O que quer que estivesse acontecendo ali, ela sabia que estava no centro de algo muito maior do que poderia imaginar.Lucian não dissera mais nada, enquanto a noite parecia ainda mais escura enquanto ele guiava Ivy de volta à mansão principal.Ele permaneceu em silêncio, mas a fúria em cada passo seu falava mais do que qualquer palavra. Ivy quase podia ouvir o zumbido de sua raiva contida.O ar de dentro da mansão estava diferente, carregado, como se refletisse o humor de Lucian. Quando chegaram ao corredor, em direção