Capítulo 1

Apesar de podermos nos misturar aos humanos, nunca seríamos como eles. Mesmo em nossas formas humanas, éramos altos, rápidos e fortes de uma maneira que chamava atenção. Qualquer humano que nos visse saberia que tem algo diferente em nós.

— Relaxe, Colin — falei finalmente, quebrando o silêncio. — Não é como se algum humano tivesse nos visto aqui no meio do nada.

— Não importa, Ethan — ele retrucou, cruzando os braços. — É sobre discrição. Precisamos manter nosso disfarce o máximo possível, devemos agir como lobos apenas quando estamos em forma de lobos.

Alec riu, ainda em sua forma meio lupina, exibindo os dentes afiados.

— Relaxa, chefe. Disciplina ou não, ninguém aqui é mais humano do que você.

Colin lançou-lhe um olhar que poderia perfurar um diamante, e eu tive que esconder um sorriso. Todos ali sabiam que ele tinha razão, mas isso não significava que deixaríamos de provocá-lo. Afinal, éramos uma matilha, e isso significava que brigas, e provocações, faziam parte do pacote.

Cassia murmurou algo sob a respiração, mas ajustou sua forma, as orelhas lupinas desaparecendo e a pele se tornando completamente humana.

— É essa falta de disciplina de vocês que pode nos expor — meu irmão mais velho continuo, seus cabelos negros refletindo o luar. — Um dia vocês vão ser líderes assim como eu, e precisarão saber se controlar.

Suspirei, mas sabia que tinha que acatar a ordem dele. Minhas garras se retraíram, o pelo desapareceu gradualmente, e meus traços se tornaram os de um homem, embora o tamanho e a musculatura que permaneciam tornassem impossível me confundir com qualquer humano comum. Eu me movi até uma sombra da floresta e olhei meu reflexo em uma poça d’água próxima. Meus olhos brilhavam em um tom dourado, como se fossem feito de ouro puro. Era um brilho que era mais intenso nas sombras, um lembrete constante de quem, ou o que, eu realmente era.

Um lobo.

— Ainda assim, não importa o quanto tentemos parecer humanos, não é? — perguntei, mais para mim mesmo do que para os outros, observando meu reflexo. — Ainda somos diferentes. Mais altos, mais fortes e com olhos que brilham como se tivéssemos estrelas no lugar da alma.

— Isso é exatamente o que somos — Cassia respondeu, se aproximando e tocando meu ombro. — Não importa o quanto tentemos nos misturar, sempre seremos lobos. Isso nunca vai mudar.

Colin revirou seus olhos, cruzando os braços.

— Não é sobre mudar o que somos. É sobre sobreviver. Temos que parecer o mais humanos possíveis ou seremos caçados e mortos iguais nossos antepassados.

Eu não disse nada, mas minhas mãos cerraram-se em punhos ao meu lado. Colin estava certo, cacete, ele sempre estava certo. No fundo, eu sabia que nunca seríamos completamente livres. Mesmo no meio da floresta, a necessidade de esconder quem éramos nos perseguia. A ideia de nunca sermos livres o suficiente me fazia querer cortar em dois cada caçador de lobisomens existentes.

Eles eram que nem uma praga e uma praga deveria ser varrida da existência.

Alec, o segundo mais novo, se encostou em uma árvore próxima, cruzando os braços sobre o peito musculoso enquanto lançava um olhar divertido na minha direção.

— E então, Ethan? Como vão as coisas com Scarlett? — ele perguntou, com um sorriso que eu já sabia ser provocador. — Você finalmente deixou de ser teimoso e fez dela sua destinada?

Eu revirei os olhos, soltando um suspiro irritado enquanto passava a mão pelos cabelos ainda úmidos de suor e orvalho.

— Você sabe que não é assim que funciona, Alec.

Alec ergueu uma sobrancelha, o sorriso ainda maior.

— Ah, é? Porque parece que você tem adiado isso há bastante tempo.

Cassia, que estava sentada em uma pedra próxima, deu uma risada curta, ajeitando os cabelos castanhos enquanto olhava para mim.

— Ele está certo, Ethan. Todos nós sabemos que saber quem é sua destinada não é algo que você pode simplesmente “adiar”. Ou acontece, ou não acontece.

Eu respirei fundo, sentindo o calor da frustração subir.

— É exatamente isso. Não é algo que eu controlo. É um laço, um amor à primeira vista, e acontece entre os dois ao mesmo tempo. É uma conexão inquebrável, um amor verdadeiro.

— Devotamos nossas vidas ao parceiro quando isso acontece — interrompeu Caleb, o terceiro irmão mais velho, sua voz grave carregando seriedade. — E vocês dois sabem disso.

— Então, o que você está dizendo é que ainda não aconteceu? — provocou Alec, ignorando o tom de Caleb e inclinando-se para frente. — Porque se não aconteceu até agora...

— Se não aconteceu até agora, talvez não seja para acontecer — interrompi, a irritação clara em meu tom. — E eu não preciso de você ou de ninguém me lembrando disso, Alec.

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