Mas não, eu era o responsável. O “maduro”. O caçula que tinha que provar que podia ser tão confiável quanto os mais velhos. Respirei fundo, deixando o ar frio preencher meus pulmões e, aos poucos, soltei, tentando dissipar o impulso violento que pulsava dentro de mim.
Olhei para os papéis na mesa. Contratos, propostas, análises financeiras. Tudo aquilo parecia gritar que eu não podia largar agora. Mas, de repente, isso não parecia tão importante assim. Eu me levantei, ignorando o ranger da cadeira de couro enquanto ela voltava para sua posição. Caminhei até a porta e a abri, chamando minha secretária, que estava sentada na mesa do lado de fora. Ela ergueu os olhos para mim, as sobrancelhas arqueadas em surpresa. Fitei ela enquanto controlada o meu tom de voz para não soar ríspido. Ela abriu a boca para perguntar mais alguma coisa, mas já não me importava. Peguei meu celular e saí do escritório com passos decididos. Enquanto caminhava pelo corredor, disquei o número de Scarlett, minha noiva, que atendeu no terceiro toque. — Ethan? Meu amor, que surpresa.— a voz dela era sempre uma mistura de doçura e ironia, ela era minha noiva e as vezes eu sentia que ela podia olhar através de qualquer intenção minha. Scarlett era uma Kingsley, filha de um alfa tão rico e poderoso quanto meu pai, era por isso que iríamos casar. Uma aliança que foi feita antes mesmo de nós nascermos, e agora estávamos presos um ao outro. Eu podia não amar Scarlett, ou ela podia não ser minha destinada. Mas, ainda havia um carinho entre nós dois que não poderia ser negado. — Scarlett, o que você acha de jantar no La Verve hoje? — perguntei, um sorriso surgindo no canto dos lábios. Falei o restaurante mais luxuoso que exclusivo que poderia encontrar, este era um restaurante feito para lobisomens, não que não aceitasse humanos, mas era um lugar que não havia a confusão de sons e cheiros que nem em outros lugares. Uma reserva nesse lugar poderia demorar meses, mas não para mim. — La Verve? — ela riu, sua risada era suave e doce. — Isso é sua tentativa de compensar os jantares cancelados da última semana? Revirei os olhos, mesmo sabendo que ela não podia ver. — Talvez. Ou talvez eu só queira te encontrar para termos uma boa conversa. Houve uma pausa antes de ela gargalhar. — Eu sei que não é isso, Ethan — ela fez uma pausa, como se estivesse pensando, mas eu sabia que era apenas uma pausa dramática. — Vamos lá, eu chuto que é sobre o Alec. Vocês dois têm essa dinâmica peculiar de irmãos. — Peculiar é um jeito muito educado de descrever — sorri, saindo do prédio e sentindo o ar frio de Nova York bater no rosto. — Mas o que me diz? — Eu digo que se você conseguir reservar uma mesa para esta noite, estou dentro. — Considere feito. — Desliguei antes que ela pudesse acrescentar mais alguma coisa. As ruas de Nova York fervilhavam com a energia de sempre. Carros buzinavam, pedestres apressados se espremiam pelas calçadas, e eu? Eu apenas caminhava, tentando deixar o escritório e Alec para trás, pelo menos mentalmente. As luzes piscavam, refletindo nas vitrines enquanto o cheiro de comida de rua enchia o ar. Não que isso fosse agradável para mim. Comidas humanas sempre tinham um gosto estranho. Insípido, quase como se faltasse algo vital. Exceto o café. Café era simples. Amargo, quente, direto ao ponto. Entrei em uma cafeteria de esquina, ignorando os olhares de algumas pessoas. Não sei se era por minha altura ou pela aura que parecia repelir quem quer que fosse corajoso o bastante para se aproximar. — Um café preto, sem açúcar — pedi, a minha voz tinha um tom de impaciência, sem tempo para cordialidade. A atendente acenou, se movendo para atender meu pedido. Alguns minutos depois, eu tinha o copo em mãos e estava de volta à rua, o calor do líquido sendo reconfortante contra o frio que cortava o ar. Dei o primeiro gole, sentindo o amargor se espalhar pela minha língua. Perdido em pensamentos, não percebi o peso dos passos atrás de mim. Aquele era um hábito estúpido de baixar a guarda que eu tinha quando estava em minha forma humana, mesmo que eu soubesse que não podia fazer isso em um lugar movimentado como Nova York. O som veio antes: um clique baixo, quase inaudível no caos da cidade. O cheiro de metal e pólvora me atingiu e foi o suficiente para eu conseguir esquivar. Joguei meu corpo para o lado no último segundo, o projétil passando tão perto que escutei o zunido. O copo de café caiu, espalhando o líquido escuro pela calçada. Porra, meu café! Um rosnado escapou dos meus lábios, baixo e ameaçador, enquanto eu girava sobre os calcanhares, os olhos varrendo a multidão. Mas quem quer que fosse, já estava longe, ou se misturara entre os civis. Cacete. Quem quer que fosse, sabia o que estava fazendo. Me endireitei, ainda com os sentidos em alerta, e murmurei para mim mesmo: — Parece que o dia vai ser mais interessante do que eu esperava.O caos de cheiros na cidade era sufocante. O perfume dos humanos ao meu redor se misturava com o aroma de gasolina, comida de rua, fumaça. Fechei os olhos por um segundo, respirando fundo, tentando isolar o cheiro do atirador, mas tudo o que consegui foi um monte de fragrâncias enjoativas. Perfumes florais, cítricos, amadeirados. Humanos sempre mascaravam seus cheiros naturais com esses aromas artificiais. Uma prática que eu nunca compreendi e odiava ainda mais nesses momentos. Malditos perfumes humanos. Pensei, apertando o passo pela multidão. Precisava sair dali, encontrar um lugar mais calmo onde pudesse me concentrar. Mas antes que pudesse tomar outra decisão, ouvi o som abafado de outro disparo. O instinto me salvou mais uma vez. Me joguei para o lado, quase tropeçando em um grupo de pedestres, enquanto o projétil passava a centímetros do meu ombro. As p
Quando meus olhos finalmente se fixaram nela, o tempo pareceu parar. Todo o caos, o barulho da cidade, os caçadores me perseguindo nada disso existia mais. Havia apenas ela. Apenas aquela figura me importava. Sua pele era de uma palidez delicada e seus olhos, castanhos claros, que eram iguais âmbar. Mas o que mais me prendeu foi o seu cabelo. Longos fios ruivos, com um tom acobreado tão vibrante que me fez pensar nas folhas de outono. Ela era perfeita. Não no sentido mundano e superficial que eu sempre desprezei, mas perfeita de um jeito que fez meu peito apertar, como se toda a minha existência tivesse sido um prelúdio para este momento. Para ela. Apenas para ela. Tudo seria por ela. Era como se o universo estivesse sussurrando que ela era minha, que ela era a razão para tudo. Minha destinada. E então, a realidade me atingiu como um golpe seco. Ela era huma
Nunca na minha vida havia perdido o controle assim, nem mesmo quando a besta dentro de mim estava em sua forma mais selvagem. Tentei me acalmar. Mas cada movimento dela parecia acender um calor dentro de mim. Eu precisava parar. Precisava afastar esses pensamentos obscenos que tomavam conta da minha mente como uma tempestade. Ela era humana. Pequena. Frágil. Meu pau seria o suficiente para quebrar ela em duas de dentro para fora. Mas bem que eu poderia me saborear de seu gozo, me ajoelhar de frente a ela enquanto ela sentava aberta para mim. Lamber e chupar seu pequeno clitóris até ela esquecer o próprio nome. Porra! Os caçadores eram teimosos, e seus passos voltaram a ecoar pela calçada, aproximando-se novamente. Meu corpo se tensionou, todos os instintos gritando para proteger o território que, por alguma razão, senti que agora incluía aquela pequena h
Limpei a garganta, tentando não me engasgar com as palavras que pareciam presas, difíceis de falar. — Só estava de passagem — consegui dizer, mantendo minha voz baixa e controlada, mesmo que meu corpo inteiro estivesse em alerta máximo. — E parece que escolhi o lugar errado na hora errada. Ela franziu a testa, não estava satisfeita com minha resposta evasiva. — De passagem? — Ela apontou para a porta com um movimento casual, mas seus olhos estavam fixos em mim, estudando cada detalhe. — Esses homens não pareciam estar te perseguindo por coincidência. Eu dei de ombros, tentando parecer indiferente, mas meu autocontrole estava se desgastando rapidamente. — Não são pessoas com quem você quer se envolver — respondi, meu tom intencionalmente vago. Ela deu mais um passo à frente, e foi aí que percebi o quão pequena ela realmente era. Não devia ter mais de 1,55m, enquanto eu passava de 1,90m. A
O La Verve era tudo o que eu esperava de um restaurante cinco estrelas: ostentação, luxo e um refinamento que beirava o exagero. Lustres de cristal pendiam do teto alto e as mesas eram cobertas por toalhas brancas impecáveis. As cadeiras eram forradas com veludo escarlate, combinando com o tom das paredes, e um jazz lento e suave tocava ao fundo, criando uma atmosfera sofisticada, mas para mim, incrivelmente entediante. Pelo menos o jazz não doía em minha audição como outros barulhos humanos. As mesas ao nosso redor estavam ocupadas por casais humanos elegantes, mas nada neles se comparava à presença de Scarlett. Minha noiva, com sua beleza lupina inatingível, chamava atenção de todos ali sem nem mesmo tentar. O garçom se aproximou da mesa com passos treinados, equilibrando habilmente duas bandejas prateadas. O cheiro da comida refinada invadiu meus sentidos, mas ao contrário dos humanos ao redor, não me causava nenhuma emoção. Comida humana sempre foi
Ela sorriu levemente, como se tivesse ganho alguma discussão silenciosa. Seus lábios, pintados de vermelho profundo, se curvaram enquanto ela apoiava o garfo no prato e entrelaçava os dedos sob o queixo. — Então, o que aconteceu hoje? — perguntou, sua voz estava cheia de curiosidade. — Não me diga que os caçadores voltaram a te rastrear. Eu a encarei por um momento, tentando decidir o quanto contar. Mas, ao final, qual era o ponto de esconder? Scarlett era tão imersa no nosso mundo quanto eu. — Eles voltaram, sim — disse, com um tom casual, como se estivesse discutindo o clima. — Pegaram meu rastro perto do centro da cidade. Tive que despistá-los em uma floricultura. Scarlett soltou uma risada breve, incrédula. — Uma floricultura? Você? Revirei os olhos, mas não pude deixar de sorrir. — Acredite ou não, funcionou. A porta de vidro fumê escondeu minha entrada, e o cheiro das flores mascarou meu rastro por
A taça de vinho parou a meio caminho da minha boca, e antes que pudesse impedir, engasguei, tossindo baixo. — Ethan? — Scarlett perguntou, arqueando uma sobrancelha perfeitamente desenhada, o garfo ainda na mão. A atenção de algumas pessoas próximas se voltou para mim. Controlei a tosse, sentindo o calor subir pelo meu pescoço até as orelhas. Maldição. — Desculpe — disse rapidamente, tentando me recompor. — Eu me distraí por um momento. Ela não parecia convencida. Seus olhos verdes estavam fixos em mim, esperando por uma explicação. Eu precisava inventar algo rápido. — É que... — Olhei para ela, e então me forcei a sorrir, um sorriso torto e cheio de falsa confiança. — Eu percebi o decote do seu vestido. O olhar de Scarlett suavizou imediatamente, e um pequeno sorriso brincou em seus lábios. Ela inclinou o corpo para frente levemente, deixando que o tecido elegante de seu
O garçom voltou naquele momento, interrompendo a tensão crescente entre nós. Ele colocou o recibo e o cartão sobre a mesa, e eu assinei rapidamente, sem sequer olhar o montante. Scarlett aproveitou a pausa para se levantar, os saltos altos batendo no chão de madeira com um som ritmado. — Você parece muito confiante de que eu confiaria meu cartão a você — provoquei, seguindo-a enquanto ela se movia para fora do restaurante. Ela se virou parcialmente, lançando um olhar por cima do ombro enquanto caminhava em direção à saída. — Talvez você devesse — respondeu ela, a voz carregada de um desafio sutil. Scarlett começou a andar mais rápido, quase como se estivesse me provocando a segui-la. Eu sabia que ela não estava realmente correndo, mas o balanço deliberado dos quadris e o ritmo dos passos eram suficientes para me fazer acelerar. — Vai me deixar para trás agora? — perguntei, a voz carregada de ironia, enquanto me apressava para alcançá