Capítulo 6

Mas não, eu era o responsável. O “maduro”. O caçula que tinha que provar que podia ser tão confiável quanto os mais velhos. Respirei fundo, deixando o ar frio preencher meus pulmões e, aos poucos, soltei, tentando dissipar o impulso violento que pulsava dentro de mim.

Olhei para os papéis na mesa. Contratos, propostas, análises financeiras. Tudo aquilo parecia gritar que eu não podia largar agora. Mas, de repente, isso não parecia tão importante assim.

Eu me levantei, ignorando o ranger da cadeira de couro enquanto ela voltava para sua posição. Caminhei até a porta e a abri, chamando minha secretária, que estava sentada na mesa do lado de fora. Ela ergueu os olhos para mim, as sobrancelhas arqueadas em surpresa.

Fitei ela enquanto controlada o meu tom de voz para não soar ríspido.

Ela abriu a boca para perguntar mais alguma coisa, mas já não me importava. Peguei meu celular e saí do escritório com passos decididos. Enquanto caminhava pelo corredor, disquei o número de Scarlett, minha noiva, que atendeu no terceiro toque.

— Ethan? Meu amor, que surpresa.— a voz dela era sempre uma mistura de doçura e ironia, ela era minha noiva e as vezes eu sentia que ela podia olhar através de qualquer intenção minha.

Scarlett era uma Kingsley, filha de um alfa tão rico e poderoso quanto meu pai, era por isso que iríamos casar. Uma aliança que foi feita antes mesmo de nós nascermos, e agora estávamos presos um ao outro. Eu podia não amar Scarlett, ou ela podia não ser minha destinada. Mas, ainda havia um carinho entre nós dois que não poderia ser negado.

— Scarlett, o que você acha de jantar no La Verve hoje? — perguntei, um sorriso surgindo no canto dos lábios.

Falei o restaurante mais luxuoso que exclusivo que poderia encontrar, este era um restaurante feito para lobisomens, não que não aceitasse humanos, mas era um lugar que não havia a confusão de sons e cheiros que nem em outros lugares. Uma reserva nesse lugar poderia demorar meses, mas não para mim.

— La Verve? — ela riu, sua risada era suave e doce. — Isso é sua tentativa de compensar os jantares cancelados da última semana?

Revirei os olhos, mesmo sabendo que ela não podia ver.

— Talvez. Ou talvez eu só queira te encontrar para termos uma boa conversa.

Houve uma pausa antes de ela gargalhar.

— Eu sei que não é isso, Ethan — ela fez uma pausa, como se estivesse pensando, mas eu sabia que era apenas uma pausa dramática. — Vamos lá, eu chuto que é sobre o Alec. Vocês dois têm essa dinâmica peculiar de irmãos.

— Peculiar é um jeito muito educado de descrever — sorri, saindo do prédio e sentindo o ar frio de Nova York bater no rosto. — Mas o que me diz?

— Eu digo que se você conseguir reservar uma mesa para esta noite, estou dentro.

— Considere feito. — Desliguei antes que ela pudesse acrescentar mais alguma coisa.

As ruas de Nova York fervilhavam com a energia de sempre. Carros buzinavam, pedestres apressados se espremiam pelas calçadas, e eu? Eu apenas caminhava, tentando deixar o escritório e Alec para trás, pelo menos mentalmente.

As luzes piscavam, refletindo nas vitrines enquanto o cheiro de comida de rua enchia o ar. Não que isso fosse agradável para mim. Comidas humanas sempre tinham um gosto estranho. Insípido, quase como se faltasse algo vital. Exceto o café. Café era simples. Amargo, quente, direto ao ponto.

Entrei em uma cafeteria de esquina, ignorando os olhares de algumas pessoas. Não sei se era por minha altura ou pela aura que parecia repelir quem quer que fosse corajoso o bastante para se aproximar.

— Um café preto, sem açúcar — pedi, a minha voz tinha um tom de impaciência, sem tempo para cordialidade.

A atendente acenou, se movendo para atender meu pedido. Alguns minutos depois, eu tinha o copo em mãos e estava de volta à rua, o calor do líquido sendo reconfortante contra o frio que cortava o ar. Dei o primeiro gole, sentindo o amargor se espalhar pela minha língua.

Perdido em pensamentos, não percebi o peso dos passos atrás de mim. Aquele era um hábito estúpido de baixar a guarda que eu tinha quando estava em minha forma humana, mesmo que eu soubesse que não podia fazer isso em um lugar movimentado como Nova York.

O som veio antes: um clique baixo, quase inaudível no caos da cidade. O cheiro de metal e pólvora me atingiu e foi o suficiente para eu conseguir esquivar. Joguei meu corpo para o lado no último segundo, o projétil passando tão perto que escutei o zunido. O copo de café caiu, espalhando o líquido escuro pela calçada.

Porra, meu café!

Um rosnado escapou dos meus lábios, baixo e ameaçador, enquanto eu girava sobre os calcanhares, os olhos varrendo a multidão. Mas quem quer que fosse, já estava longe, ou se misturara entre os civis.

Cacete.

Quem quer que fosse, sabia o que estava fazendo.

Me endireitei, ainda com os sentidos em alerta, e murmurei para mim mesmo:

— Parece que o dia vai ser mais interessante do que eu esperava.

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