O caos de cheiros na cidade era sufocante. O perfume dos humanos ao meu redor se misturava com o aroma de gasolina, comida de rua, fumaça.
Fechei os olhos por um segundo, respirando fundo, tentando isolar o cheiro do atirador, mas tudo o que consegui foi um monte de fragrâncias enjoativas. Perfumes florais, cítricos, amadeirados. Humanos sempre mascaravam seus cheiros naturais com esses aromas artificiais. Uma prática que eu nunca compreendi e odiava ainda mais nesses momentos. Malditos perfumes humanos. Pensei, apertando o passo pela multidão. Precisava sair dali, encontrar um lugar mais calmo onde pudesse me concentrar. Mas antes que pudesse tomar outra decisão, ouvi o som abafado de outro disparo. O instinto me salvou mais uma vez. Me joguei para o lado, quase tropeçando em um grupo de pedestres, enquanto o projétil passava a centímetros do meu ombro. As pessoas na multidão começaram a correr, gritos e exclamações de pânico preenchiam pela rua. Meu peito subia e descia com a respiração pesada enquanto eu apertava os punhos. Eu era uma provocação, um jogo para esse caçador. Eu me movi rapidamente, cortando a multidão com a facilidade do predador que eu era, mas minha mente fervilhava em alerta. Cada passo meu era seguido pelo som inconfundível de botas pesadas. Não era apenas um, eram vários. O cheiro metálico de armas se misturava ao perfume irritante dos humanos ao redor, tornando minha tarefa de rastrear eles difícil. Minha mandíbula apertou, e um rosnado baixo escapou de minha garganta. Meu instinto me dizia que correr não resolveria nada, mas a localização estava contra mim. Não havia espaço para retaliar sem atrair ainda mais atenção. Passei por um grupo de turistas tirando fotos e virei rapidamente uma esquina, entrando em uma rua um pouco mais estreita. O som dos passos atrás de mim aumentou, mais rápido, mais perto. Era como se eles quisessem me empurrar para um canto, forçando-me a enfrentar o ataque. — Bastardos! — sussurrei para mim mesmo, enquanto meus dentes estavam cerrados. Minha visão periférica captou um movimento à esquerda, e eu me joguei para frente, sentindo o ar deslocar-se onde o tiro passou. A bala atingiu um poste atrás de mim, o som seco ecoando pela rua. Eu me agachei por reflexo, usando o momento para olhar ao redor. Tinha ao menos três atiradores que estavam se movendo entre os pedestres, tentando me cercar. Um deles, a poucos metros, ajustava a mira. Eu disparei em sua direção antes que ele pudesse atirar novamente. As pessoas ao redor gritaram, se afastando enquanto eu avançava com velocidade sobre-humana. Minha mão agarrou a arma antes que ele pudesse reagir, e um único golpe em seu pescoço o derrubou. O som da arma caindo no chão foi como seu suspiro final. Um a menos. Mas não havia tempo para celebrar. Outro tiro passou perto, e minha irritação atingiu o seu pico. Meu corpo queimava com o desejo de lutar, mas já tinha chamado atenção demais. Ao meu redor tinham pessoas chamando a polícia, a maioria correndo na direção contrária. Caralho, Colin vai me matar. Olhei ao redor, notando uma saída estreita entre dois prédios. Sem hesitar, me lancei para lá, afastando qualquer humano que se colocasse no caminho. Minhas pernas trabalhavam como se estivessem em chamas, o coração martelando em um ritmo constante. Outro disparo ressoou, desta vez ricocheteando em uma parede ao meu lado. Eles não param de aparecer, são piores que baratas. Pensei enquanto a raiva corria pelas minhas veias, me deixando com vontade de quebrar mais pescoços. Enquanto eu andava a multidão começava a rarear, e as luzes brilhantes da cidade se tornavam menos intensas. Cada passo me levava para uma área menos movimentada, onde os prédios eram menores e a presença de pessoas, mais escassa. Eu precisava de espaço, algo que me desse vantagem. Sentir os passos atrás de mim ficava cada vez mais evidente, mas também mais espaçados. Os caçadores estavam ficando para trás. Mas não por muito tempo. Virei a esquina mais a frente, tentando não deixar rastros para os homens que me seguiam. O cheiro de pólvora e suor ainda impregnava meus sentidos, mas o perfume doce de flores me atingiu de forma inesperada. Era tão distinto, tão diferente do cheiro metálico das armas e da adrenalina humana, que me fez vacilar por um instante. Olhei ao redor e vi uma pequena floricultura. A porta de vidro fumê estava parcialmente entreaberta, e a luz suave lá dentro criava um contraste acolhedor com a escuridão da rua. A vitrine estava decorada com arranjos delicados, flores de todas as cores emolduradas por folhas verdes e vasos de cerâmica pintados à mão. O aroma natural que escapava dali era tão familiar que por um momento me transportei para a floresta, onde eu pertencia. A lembrança foi tão vívida que meus ombros, sempre tensos, relaxaram quase involuntariamente. Mas eu não podia me dar ao luxo de baixar a guarda. Escutei passos apressados atrás de mim, acompanhados por vozes abafadas. — Ele entrou em algum lugar por aqui. Procurem! — uma voz masculina rosnou, era um dos caçadores que estavam em meu encalço. Olhei para os lados, avaliando minhas opções. A rua estava vazia, mas por pouco tempo. Sem pensar muito, me movi rapidamente, entrando na floricultura. A porta fechou suavemente atrás de mim, sem fazer barulho, e o vidro fumê ofereceu a cobertura que eu precisava. Lá fora, as sombras dos caçadores passaram pela frente da loja, mas eles continuaram caminhando, sem perceber minha presença por causa da escuridão do vidro. Soltei uma respiração curta, mas antes que pudesse me preparar para o próximo movimento, o ambiente ao meu redor capturou minha atenção por completo. O cheiro das flores era ainda mais intenso aqui dentro, como se eu tivesse mergulhado em um doce aroma calmante para um lobo como eu. Fechei os olhos por um breve segundo, sentindo o lobo dentro de mim se acalmar. Isso era o que eu buscava: paz, conexão com a natureza, um lugar onde meu instinto não precisava estar sempre em alerta. Mas o momento de calma quase me traiu. Quase. Abri os olhos, forçando-me a focar novamente. Não podia me deixar levar. Eles ainda estavam lá fora, me procurando. Meus sentidos estavam afiados, mas agora eu precisava de um plano. Meu olhar rapidamente percorreu a loja. Vasos grandes formavam uma barreira ao lado da entrada. Um balcão exibia ferramentas de jardinagem — podões, tesouras e até um pequeno machado. Útil, se necessário. Meu olhar varreu o ambiente à minha volta. Flores de todas as cores enchiam o espaço, dispostas em vasos, cestos e prateleiras. Samambaias pendiam do teto, criando sombras que se moviam com a luz suave de lâmpadas amareladas. O ar parecia mais limpo ali. Eu respirava fundo, sentindo meu peito se encher com uma calma que não experimentava há meses. Fechei os olhos por um instante, deixando aquele momento me envolver. E então, uma voz doce, quase melódica, quebrou o silêncio: — Bem-vindo. Minhas pálpebras se abriram lentamente, e meu olhar foi direto para a origem do som. Na penumbra da loja, uma figura feminina se destacava, meio escondida atrás de uma prateleira de vasos por causa de seu diminuto tamanho. Ela parecia tão natural naquele ambiente quanto as próprias flores. Ao ver aquela mulher logo a minha frente, senti tudo mudar. Pela primeira vez desde que a perseguição começou, senti que o perigo podia esperar.Quando meus olhos finalmente se fixaram nela, o tempo pareceu parar. Todo o caos, o barulho da cidade, os caçadores me perseguindo nada disso existia mais. Havia apenas ela. Apenas aquela figura me importava. Sua pele era de uma palidez delicada e seus olhos, castanhos claros, que eram iguais âmbar. Mas o que mais me prendeu foi o seu cabelo. Longos fios ruivos, com um tom acobreado tão vibrante que me fez pensar nas folhas de outono. Ela era perfeita. Não no sentido mundano e superficial que eu sempre desprezei, mas perfeita de um jeito que fez meu peito apertar, como se toda a minha existência tivesse sido um prelúdio para este momento. Para ela. Apenas para ela. Tudo seria por ela. Era como se o universo estivesse sussurrando que ela era minha, que ela era a razão para tudo. Minha destinada. E então, a realidade me atingiu como um golpe seco. Ela era huma
Nunca na minha vida havia perdido o controle assim, nem mesmo quando a besta dentro de mim estava em sua forma mais selvagem. Tentei me acalmar. Mas cada movimento dela parecia acender um calor dentro de mim. Eu precisava parar. Precisava afastar esses pensamentos obscenos que tomavam conta da minha mente como uma tempestade. Ela era humana. Pequena. Frágil. Meu pau seria o suficiente para quebrar ela em duas de dentro para fora. Mas bem que eu poderia me saborear de seu gozo, me ajoelhar de frente a ela enquanto ela sentava aberta para mim. Lamber e chupar seu pequeno clitóris até ela esquecer o próprio nome. Porra! Os caçadores eram teimosos, e seus passos voltaram a ecoar pela calçada, aproximando-se novamente. Meu corpo se tensionou, todos os instintos gritando para proteger o território que, por alguma razão, senti que agora incluía aquela pequena h
Limpei a garganta, tentando não me engasgar com as palavras que pareciam presas, difíceis de falar. — Só estava de passagem — consegui dizer, mantendo minha voz baixa e controlada, mesmo que meu corpo inteiro estivesse em alerta máximo. — E parece que escolhi o lugar errado na hora errada. Ela franziu a testa, não estava satisfeita com minha resposta evasiva. — De passagem? — Ela apontou para a porta com um movimento casual, mas seus olhos estavam fixos em mim, estudando cada detalhe. — Esses homens não pareciam estar te perseguindo por coincidência. Eu dei de ombros, tentando parecer indiferente, mas meu autocontrole estava se desgastando rapidamente. — Não são pessoas com quem você quer se envolver — respondi, meu tom intencionalmente vago. Ela deu mais um passo à frente, e foi aí que percebi o quão pequena ela realmente era. Não devia ter mais de 1,55m, enquanto eu passava de 1,90m. A
O La Verve era tudo o que eu esperava de um restaurante cinco estrelas: ostentação, luxo e um refinamento que beirava o exagero. Lustres de cristal pendiam do teto alto e as mesas eram cobertas por toalhas brancas impecáveis. As cadeiras eram forradas com veludo escarlate, combinando com o tom das paredes, e um jazz lento e suave tocava ao fundo, criando uma atmosfera sofisticada, mas para mim, incrivelmente entediante. Pelo menos o jazz não doía em minha audição como outros barulhos humanos. As mesas ao nosso redor estavam ocupadas por casais humanos elegantes, mas nada neles se comparava à presença de Scarlett. Minha noiva, com sua beleza lupina inatingível, chamava atenção de todos ali sem nem mesmo tentar. O garçom se aproximou da mesa com passos treinados, equilibrando habilmente duas bandejas prateadas. O cheiro da comida refinada invadiu meus sentidos, mas ao contrário dos humanos ao redor, não me causava nenhuma emoção. Comida humana sempre foi
Ela sorriu levemente, como se tivesse ganho alguma discussão silenciosa. Seus lábios, pintados de vermelho profundo, se curvaram enquanto ela apoiava o garfo no prato e entrelaçava os dedos sob o queixo. — Então, o que aconteceu hoje? — perguntou, sua voz estava cheia de curiosidade. — Não me diga que os caçadores voltaram a te rastrear. Eu a encarei por um momento, tentando decidir o quanto contar. Mas, ao final, qual era o ponto de esconder? Scarlett era tão imersa no nosso mundo quanto eu. — Eles voltaram, sim — disse, com um tom casual, como se estivesse discutindo o clima. — Pegaram meu rastro perto do centro da cidade. Tive que despistá-los em uma floricultura. Scarlett soltou uma risada breve, incrédula. — Uma floricultura? Você? Revirei os olhos, mas não pude deixar de sorrir. — Acredite ou não, funcionou. A porta de vidro fumê escondeu minha entrada, e o cheiro das flores mascarou meu rastro por
A taça de vinho parou a meio caminho da minha boca, e antes que pudesse impedir, engasguei, tossindo baixo. — Ethan? — Scarlett perguntou, arqueando uma sobrancelha perfeitamente desenhada, o garfo ainda na mão. A atenção de algumas pessoas próximas se voltou para mim. Controlei a tosse, sentindo o calor subir pelo meu pescoço até as orelhas. Maldição. — Desculpe — disse rapidamente, tentando me recompor. — Eu me distraí por um momento. Ela não parecia convencida. Seus olhos verdes estavam fixos em mim, esperando por uma explicação. Eu precisava inventar algo rápido. — É que... — Olhei para ela, e então me forcei a sorrir, um sorriso torto e cheio de falsa confiança. — Eu percebi o decote do seu vestido. O olhar de Scarlett suavizou imediatamente, e um pequeno sorriso brincou em seus lábios. Ela inclinou o corpo para frente levemente, deixando que o tecido elegante de seu
O garçom voltou naquele momento, interrompendo a tensão crescente entre nós. Ele colocou o recibo e o cartão sobre a mesa, e eu assinei rapidamente, sem sequer olhar o montante. Scarlett aproveitou a pausa para se levantar, os saltos altos batendo no chão de madeira com um som ritmado. — Você parece muito confiante de que eu confiaria meu cartão a você — provoquei, seguindo-a enquanto ela se movia para fora do restaurante. Ela se virou parcialmente, lançando um olhar por cima do ombro enquanto caminhava em direção à saída. — Talvez você devesse — respondeu ela, a voz carregada de um desafio sutil. Scarlett começou a andar mais rápido, quase como se estivesse me provocando a segui-la. Eu sabia que ela não estava realmente correndo, mas o balanço deliberado dos quadris e o ritmo dos passos eram suficientes para me fazer acelerar. — Vai me deixar para trás agora? — perguntei, a voz carregada de ironia, enquanto me apressava para alcançá
Ela se virou para mim, os seus lábios já prontos para encontrar os meus. O beijo foi quente, faminto, como se estivéssemos ambos tentando dominar um ao outro. Minhas mãos deslizaram de sua cintura para seus quadris, puxando-a contra mim enquanto ela retribuía com igual intensidade. Porra! Caminhamos às cegas pelo corredor, batendo contra as paredes enquanto nossos corpos se chocavam. Scarlett riu contra os meus lábios quando minhas costas bateram contra uma estante, derrubando um pequeno objeto de decoração. — Seja mais cuidadoso, Ethan — murmurou ela, mordendo meu lábio inferior antes de voltar ao beijo. — Quem precisa de decoração? Essas coisas estão apenas em meu caminho... — rebati, agarrando-a novamente enquanto nossos passos nos levavam para mais perto do quarto. Quando finalmente cruzamos a porta, empurrei-a para dentro, deixando-a tropeçar levemente antes de cair na cama com uma risada. Eu a o