Capítulo 7

O caos de cheiros na cidade era sufocante. O perfume dos humanos ao meu redor se misturava com o aroma de gasolina, comida de rua, fumaça.

Fechei os olhos por um segundo, respirando fundo, tentando isolar o cheiro do atirador, mas tudo o que consegui foi um monte de fragrâncias enjoativas. Perfumes florais, cítricos, amadeirados.

Humanos sempre mascaravam seus cheiros naturais com esses aromas artificiais. Uma prática que eu nunca compreendi e odiava ainda mais nesses momentos.

Malditos perfumes humanos.

Pensei, apertando o passo pela multidão. Precisava sair dali, encontrar um lugar mais calmo onde pudesse me concentrar.

Mas antes que pudesse tomar outra decisão, ouvi o som abafado de outro disparo. O instinto me salvou mais uma vez. Me joguei para o lado, quase tropeçando em um grupo de pedestres, enquanto o projétil passava a centímetros do meu ombro.

As pessoas na multidão começaram a correr, gritos e exclamações de pânico preenchiam pela rua.

Meu peito subia e descia com a respiração pesada enquanto eu apertava os punhos. Eu era uma provocação, um jogo para esse caçador.

Eu me movi rapidamente, cortando a multidão com a facilidade do predador que eu era, mas minha mente fervilhava em alerta. Cada passo meu era seguido pelo som inconfundível de botas pesadas. Não era apenas um, eram vários. O cheiro metálico de armas se misturava ao perfume irritante dos humanos ao redor, tornando minha tarefa de rastrear eles difícil.

Minha mandíbula apertou, e um rosnado baixo escapou de minha garganta. Meu instinto me dizia que correr não resolveria nada, mas a localização estava contra mim. Não havia espaço para retaliar sem atrair ainda mais atenção.

Passei por um grupo de turistas tirando fotos e virei rapidamente uma esquina, entrando em uma rua um pouco mais estreita. O som dos passos atrás de mim aumentou, mais rápido, mais perto. Era como se eles quisessem me empurrar para um canto, forçando-me a enfrentar o ataque.

— Bastardos! — sussurrei para mim mesmo, enquanto meus dentes estavam cerrados.

Minha visão periférica captou um movimento à esquerda, e eu me joguei para frente, sentindo o ar deslocar-se onde o tiro passou. A bala atingiu um poste atrás de mim, o som seco ecoando pela rua.

Eu me agachei por reflexo, usando o momento para olhar ao redor. Tinha ao menos três atiradores que estavam se movendo entre os pedestres, tentando me cercar. Um deles, a poucos metros, ajustava a mira.

Eu disparei em sua direção antes que ele pudesse atirar novamente. As pessoas ao redor gritaram, se afastando enquanto eu avançava com velocidade sobre-humana. Minha mão agarrou a arma antes que ele pudesse reagir, e um único golpe em seu pescoço o derrubou. O som da arma caindo no chão foi como seu suspiro final.

Um a menos.

Mas não havia tempo para celebrar. Outro tiro passou perto, e minha irritação atingiu o seu pico. Meu corpo queimava com o desejo de lutar, mas já tinha chamado atenção demais. Ao meu redor tinham pessoas chamando a polícia, a maioria correndo na direção contrária.

Caralho, Colin vai me matar.

Olhei ao redor, notando uma saída estreita entre dois prédios. Sem hesitar, me lancei para lá, afastando qualquer humano que se colocasse no caminho.

Minhas pernas trabalhavam como se estivessem em chamas, o coração martelando em um ritmo constante. Outro disparo ressoou, desta vez ricocheteando em uma parede ao meu lado.

Eles não param de aparecer, são piores que baratas.

Pensei enquanto a raiva corria pelas minhas veias, me deixando com vontade de quebrar mais pescoços.

Enquanto eu andava a multidão começava a rarear, e as luzes brilhantes da cidade se tornavam menos intensas. Cada passo me levava para uma área menos movimentada, onde os prédios eram menores e a presença de pessoas, mais escassa.

Eu precisava de espaço, algo que me desse vantagem. Sentir os passos atrás de mim ficava cada vez mais evidente, mas também mais espaçados. Os caçadores estavam ficando para trás. Mas não por muito tempo.

Virei a esquina mais a frente, tentando não deixar rastros para os homens que me seguiam. O cheiro de pólvora e suor ainda impregnava meus sentidos, mas o perfume doce de flores me atingiu de forma inesperada. Era tão distinto, tão diferente do cheiro metálico das armas e da adrenalina humana, que me fez vacilar por um instante.

Olhei ao redor e vi uma pequena floricultura. A porta de vidro fumê estava parcialmente entreaberta, e a luz suave lá dentro criava um contraste acolhedor com a escuridão da rua. A vitrine estava decorada com arranjos delicados, flores de todas as cores emolduradas por folhas verdes e vasos de cerâmica pintados à mão.

O aroma natural que escapava dali era tão familiar que por um momento me transportei para a floresta, onde eu pertencia. A lembrança foi tão vívida que meus ombros, sempre tensos, relaxaram quase involuntariamente.

Mas eu não podia me dar ao luxo de baixar a guarda.

Escutei passos apressados atrás de mim, acompanhados por vozes abafadas.

— Ele entrou em algum lugar por aqui. Procurem! — uma voz masculina rosnou, era um dos caçadores que estavam em meu encalço.

Olhei para os lados, avaliando minhas opções. A rua estava vazia, mas por pouco tempo.

Sem pensar muito, me movi rapidamente, entrando na floricultura. A porta fechou suavemente atrás de mim, sem fazer barulho, e o vidro fumê ofereceu a cobertura que eu precisava. Lá fora, as sombras dos caçadores passaram pela frente da loja, mas eles continuaram caminhando, sem perceber minha presença por causa da escuridão do vidro.

Soltei uma respiração curta, mas antes que pudesse me preparar para o próximo movimento, o ambiente ao meu redor capturou minha atenção por completo.

O cheiro das flores era ainda mais intenso aqui dentro, como se eu tivesse mergulhado em um doce aroma calmante para um lobo como eu.

Fechei os olhos por um breve segundo, sentindo o lobo dentro de mim se acalmar. Isso era o que eu buscava: paz, conexão com a natureza, um lugar onde meu instinto não precisava estar sempre em alerta.

Mas o momento de calma quase me traiu. Quase.

Abri os olhos, forçando-me a focar novamente. Não podia me deixar levar. Eles ainda estavam lá fora, me procurando. Meus sentidos estavam afiados, mas agora eu precisava de um plano.

Meu olhar rapidamente percorreu a loja. Vasos grandes formavam uma barreira ao lado da entrada. Um balcão exibia ferramentas de jardinagem — podões, tesouras e até um pequeno machado. Útil, se necessário.

Meu olhar varreu o ambiente à minha volta. Flores de todas as cores enchiam o espaço, dispostas em vasos, cestos e prateleiras. Samambaias pendiam do teto, criando sombras que se moviam com a luz suave de lâmpadas amareladas. O ar parecia mais limpo ali.

Eu respirava fundo, sentindo meu peito se encher com uma calma que não experimentava há meses.

Fechei os olhos por um instante, deixando aquele momento me envolver. E então, uma voz doce, quase melódica, quebrou o silêncio:

— Bem-vindo.

Minhas pálpebras se abriram lentamente, e meu olhar foi direto para a origem do som. Na penumbra da loja, uma figura feminina se destacava, meio escondida atrás de uma prateleira de vasos por causa de seu diminuto tamanho. Ela parecia tão natural naquele ambiente quanto as próprias flores.

Ao ver aquela mulher logo a minha frente, senti tudo mudar. Pela primeira vez desde que a perseguição começou, senti que o perigo podia esperar.

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