Engoli o choro e gritei as últimas palavras, sentindo a magia rasgar a garganta junto com o grito.
— Per il sangue e per la luna, io ti lego alla morte!O ar pareceu vibrar, o chão estremeceu sob meus pés. A magia explodiu — crua, selvagem, poderosa — e eu quase perdi o equilíbrio com o impacto.Rowan foi arrastado ao chão pelas raízes, o corpo puxado como se a própria terra tivesse ganhado vida e quisesse devorá-lo inteiro. O cheiro de ferro queimado se espalhou, enjoativo, ácido, queimando meu nariz e minha garganta. O grito dele ecoou alto, um som grotesco… animal e humano ao mesmo tempo. Eu tremi. Por um segundo, achei que fosse acabar ali. Mas eu devia saber… monstros como Rowan não morrem fácil.Num último esforço desesperado, ele puxou uma das pistolas e, mesmo preso, mesmo sangrando, disparou na minha direção. Tudo ao redor pareceu desacelerar. O mundo inteiro se tornou um borrão, menos aquela bala. Eu vi… Vi a maldita bala vindo. Lenta. Inevitável. O som doCinco anos depois... O sol de fim de tarde pintava o céu de dourado e laranja quando caminhávamos lado a lado pelo parque. A mão dele envolvia a minha como se nunca mais quisesse soltar — firme, quente, segura. E eu sorria, sem conseguir evitar, porque a paz que sentia ao lado dele era tudo o que eu sempre sonhei.Ethan parecia mais leve agora. Os traços fortes ainda estavam ali, o olhar intenso, a postura dominante… mas havia algo diferente — uma serenidade que só o tempo e o amor podiam trazer.— Eu ainda estranho quando tudo tá… calmo assim — ele murmurou de repente, apertando de leve meus dedos. — Parte de mim acha que a merda vai começar a qualquer momento.Olhei pra ele, sorrindo de lado. — É porque você se acostumou demais com o caos, Ethan. Mas... às vezes, a gente vence. E o prêmio é isso. — Apontei em volta — o parque cheio de crianças correndo, casais rindo, o mundo girando sem medo.Ele parou por um segundo e me puxou suavemente pra mais perto,
— Tô falando sério — ele provocou, erguendo as sobrancelhas, aquele sorriso torto brincando nos lábios. — Olha pra isso… dois garotos correndo, você grávida… mais um e eu viro o alfa da minha própria alcateia. — Ele se aproximou mais, roçando o nariz no meu, a voz rouca e baixa só pra mim. — Quer mesmo me dar mais um ou dois? Só pra garantir o território…Soltei uma risada abafada, tentando disfarçar o quanto aquela ideia, no fundo, não me soava tão absurda assim. Porque a verdade era que, com ele, tudo parecia possível… até mesmo povoar o mundo com nossos filhos.— Você não presta… — murmurei, desviando o olhar pra esconder o sorriso bobo que insistia em nascer.— Mas você me ama — ele sussurrou, com aquela convicção que só ele tinha. Como se não restasse espaço pra dúvida no peito dele. Como se amar ele fosse tão natural quanto respirar.Assenti, mordendo o lábio pra conter o sorriso que já escapava. — Infelizmente.Ethan jogou a cabeça pra trás e riu alto, o s
O cheiro de sangue impregnava o ar, aguçando meu olfato e fazendo meus instintos lupinos vir à tona. A floresta ao nosso redor era um santuário intocado pelos humanos, um lugar onde a natureza ainda reinava soberana e nos dava a liberdade de sermos os lobos que éramos. A luz do luar se filtrava por entre as folhas das árvore, criando sombras no solo úmido e coberto de folhas caídas. O ar era carregado com o perfume de pinheiros, terra molhada e a presença distante de um alce, nossa presa. Eu amava o poder que a caçada trazia. Não era a fome que me movia, mas a excitação de sentir minha força, minha conexão com meus irmãos, com a terra e com a fera que habitava dentro de mim. Éramos uma matilha, sempre unidos. Porra, lobos nunca estão sozinhos. Corríamos juntos em movimentos sincronizados. Minhas patas, ainda em meu corpo de lobo, se moviam em silêncio sobre o chão de terra macia. Meu pelo marrom escuro se camuflava entre os troncos e as sombras da floresta, enquanto meus se
Apesar de podermos nos misturar aos humanos, nunca seríamos como eles. Mesmo em nossas formas humanas, éramos altos, rápidos e fortes de uma maneira que chamava atenção. Qualquer humano que nos visse saberia que tem algo diferente em nós. — Relaxe, Colin — falei finalmente, quebrando o silêncio. — Não é como se algum humano tivesse nos visto aqui no meio do nada. — Não importa, Ethan — ele retrucou, cruzando os braços. — É sobre discrição. Precisamos manter nosso disfarce o máximo possível, devemos agir como lobos apenas quando estamos em forma de lobos. Alec riu, ainda em sua forma meio lupina, exibindo os dentes afiados. — Relaxa, chefe. Disciplina ou não, ninguém aqui é mais humano do que você. Colin lançou-lhe um olhar que poderia perfurar um diamante, e eu tive que esconder um sorriso. Todos ali sabiam que ele tinha razão, mas isso não significava que deixaríamos de provocá-lo. Afinal, éramos uma matilha, e isso significava que brigas, e provocações, faziam parte do pac
Alec levantou as mãos em um gesto de rendição, mas o brilho divertido em seus olhos continuava presente. — Tudo bem, tudo bem. Só estou dizendo que Scarlett é uma boa escolha, mesmo sem ser sua destinada. — Scarlett é uma boa escolha porque é conveniente, não porque há sentimentos entre nós — retruquei, cansado daquela conversa. — E antes que qualquer um de vocês diga algo, eu sei o que está em jogo. Colin, que até então permanecera em silêncio, ergueu a mão para interromper a conversa. — Basta. Scarlett é assunto dele, não nosso. E todos sabemos que achar a destinada não é algo que se força. — Mas ainda é nossa responsabilidade garantir que ele esteja fazendo o melhor para a família — insistiu Alec, mas desta vez sua voz tinha menos provocação. — E eu farei — disse, meu tom firme enquanto olhava para cada um deles. — E não hesitarei em fazer, mesmo que seja casar com Scarlett. Por um momento, o silêncio pairou entre nós, cada um digerindo as palavras. Então Cassia sor
— Alec, você vai cuidar da tecnologia. Você sempre foi o mais curioso entre nós, e tem um talento especial para entender o futuro antes de ele acontecer. Alec levantou uma sobrancelha, parecendo surpreso, mas satisfeito. — Tecnologia, hein? Não posso reclamar disso. Colin então voltou o olhar para mim. Seu olhar parecia pesar um pouco mais ao pousar sobre o caçula da família. — Ethan, você vai cuidar da construção e das empreiteiras. — Construção? — Perguntei, surpreso. — Sim — respondeu ele, com firmeza. — Você tem uma maneira única de visualizar o que pode ser feito, de transformar o impossível em algo concreto. É disso que esse ramo precisa. — E a força bruta também ajuda — acrescentou Alec, com um sorriso provocador. Revirei os olhos, mas Colin ergueu a mão, pedindo silêncio. — Isso não é uma questão de força — ele disse, o tom impaciente. — É uma questão de visão e persistência, e Ethan tem ambos. Olhei para ele, tentando entender se era um elogio ou um desaf
Alec e eu trocamos um olhar rápido antes de assumirmos nossas posições. As brincadeiras e provocações de minutos atrás desapareceram, substituídas pela tensão de não sermos mais os caçadores, e sim, a caça. — Eles nos encontraram — murmurei, os olhos varrendo as sombras da floresta. — E não vieram para conversar. — Fiquem juntos! — ele ordenou, a voz um rosnado grave. Isso não foi um acidente. Alec e eu, que estávamos prestes a sair em disparada na corrida provocada minutos antes, paramos abruptamente. Alec olhou para mim, a brincadeira desaparecendo de seus olhos cinzentos, substituída por alerta, e o pior, medo. —Você sentiu? — ele sussurrou para mim, sua respiração tensa e descompassada. — Não. Mas ouvi o tiro antes que chegasse. O terceiro tiro veio mais rápido, atravessando o ar como um aviso. Dessa vez, passou tão perto de Cassia que ela teve que se abaixar para evita-lo. Os caçadores iriam acabar acertando um de nós e não poderíamos deixar isso acontecer. —
Ethan Whitmore O som dos saltos da minha secretária invadiu meu escritório antes mesmo de eu erguer os olhos da pilha interminável de papéis que precisava assinar. Suspirei, deixando a caneta de lado por um momento. Ela entrou com mais uma pilha de documentos nos braços, sempre com aquele perfume que era doce demais. Odiava quando ela aparecia no escritório com esse perfume, era sempre enjoativo e me dava náuseas depois. Por que humanos têm essa necessidade absurda de mascarar seus cheiros? Pensei, enquanto meu nariz se contorcia involuntariamente com o aroma artificial que ela carregava. Não era ruim, mas para alguém como eu, com sentidos tão aguçados, era quase insuportável. — Senhor Whitmore — disse ela, colocando os papéis na mesa com cuidado. Sua voz era educada, profissional, mas havia algo a mais nela. Um resquício de hesitação que não passava despercebido para mim. Eu a encarei por um segundo, tentando decifrar se aquele receio vinha do fato de eu ser seu chefe, o