Capítulo 4

Alec e eu trocamos um olhar rápido antes de assumirmos nossas posições. As brincadeiras e provocações de minutos atrás desapareceram, substituídas pela tensão de não sermos mais os caçadores, e sim, a caça.

— Eles nos encontraram — murmurei, os olhos varrendo as sombras da floresta. — E não vieram para conversar.

— Fiquem juntos! — ele ordenou, a voz um rosnado grave. Isso não foi um acidente.

Alec e eu, que estávamos prestes a sair em disparada na corrida provocada minutos antes, paramos abruptamente. Alec olhou para mim, a brincadeira desaparecendo de seus olhos cinzentos, substituída por alerta, e o pior, medo.

—Você sentiu? — ele sussurrou para mim, sua respiração tensa e descompassada.

— Não. Mas ouvi o tiro antes que chegasse.

O terceiro tiro veio mais rápido, atravessando o ar como um aviso. Dessa vez, passou tão perto de Cassia que ela teve que se abaixar para evita-lo.

Os caçadores iriam acabar acertando um de nós e não poderíamos deixar isso acontecer.

— Caralho! — ela exclamou, os olhos dourados brilhando enquanto ela recuava para o grupo.

Colin levantou uma mão, exigindo silêncio. Seus olhos estavam semicerrados, o rosto tenso. Ele ergueu o queixo, farejando o ar, os pelos invisíveis de sua nuca claramente arrepiados.

— Caçadores — ele finalmente rosnou, o tom grave e definitivo. — Não estamos sozinhos.

Todos congelaram, os sentidos apurados enquanto o som de passos se aproximava lentamente. Não era apenas um caçador. Pelos batimentos acelerados e pela falta de disfarce, havia uma equipe inteira vindo na nossa direção.

— Merda. Eles vieram preparados — murmurei, sentindo a adrenalina subir.

— Cassia, ajude Liam — Colin ordenou em um sussurro afiado. — Alec, Ethan, cubram o perímetro. Não façam nada estúpido.

Eu e Alec nos entreolhamos, mas não questionamos. Saltamos para posições opostas, os olhos atentos a qualquer movimento entre as árvores. Meu coração batia forte, mas meu instinto de sobrevivência me fazia permanecer focado. O cheiro de pólvora era distinto agora, misturado ao suor humano.

—Eles estão mais perto do que deveriam estar —Alec sussurrou, quase inaudível.

— E sabem o que estão caçando — completei, as palavras pesadas enquanto ajustava minha postura, me preparando para o que viesse a seguir.

Alec avançou, os músculos ainda parcialmente transformados, os olhos cinzentos queimando de raiva. Eu o segui de perto, sentindo o calor da adrenalina percorrer meu corpo enquanto nos movíamos entre as árvores, caçando os caçadores. Eles quem seriam as presas agora.

Colin e Caleb assumiram a liderança, coordenando nossos movimentos com um simples aceno de cabeça ou rosnado baixo. Caleb era frio e metódico, enquanto Colin, com sua autoridade inquestionável, mantinha o foco em proteger a matilha.

O primeiro caçador apareceu à vista. Um homem alto, vestido com roupas camufladas, carregando uma arma que brilhava sob a luz fraca. Ele estava distraído demais para quem estava caçando lobisomens, com toda certeza, era um novato.

— Cuidado com as armadilhas — Colin avisou apenas alto o suficiente para eu e Caleb escutarmos, apontando para o chão à frente.

Alec não hesitou com um salto, ele se lançou sobre o homem, derrubando-o antes que ele pudesse reagir. O grito abafado do caçador foi silenciado quando Alec cravou os dentes em sua garganta, o sangue jorrando em várias direções.

— Você não vai tocar em mais ninguém — Alec rosnou, a voz cheia de ódio.

Mais passos ecoaram à nossa direita. Caleb levantou uma mão, sinalizando para nos dividirmos. Eu segui para o flanco esquerdo enquanto Colin e Caleb avançavam diretamente.

Um segundo caçador apareceu, dessa vez uma mulher com olhos calculistas. Ela disparou um tiro, mas Colin desviou com destreza, avançando sobre ela. Seu grito foi cortado pela metade quando ele a atingiu, as garras atravessando sua carne como se fosse feita de manteiga.

— Continuem atentos! — Colin gritou, o comando nos fazendo continuar alerta.

Avistei um terceiro caçador tentando recarregar sua arma enquanto se escondia atrás de uma árvore. Não dei tempo a ele. Saltei, meus pés batendo contra o tronco e impulsionando meu corpo para frente. O impacto o derrubou no chão, e em segundos minhas garras estavam em sua garganta.

O seu sangue quente e viscoso sujou minhas garras, mas eu não me importava com isso. Tinha vingado meu irmão Liam e isso era o que importava.

—Vocês nunca deveriam ter vindo até aqui — sussurrei, sentindo o último suspiro dele escapar.

Alec apareceu ao meu lado, os olhos ainda brilhando com fúria.

— Isso é pelo Liam, seus bastardos — ele murmurou, limpando o sangue que escorria de suas mãos.

Cassia e Liam, mesmo com ele ferido, se juntaram a nós, cobrindo nossa retaguarda enquanto Caleb e Colin se certificavam de que não havia mais ameaças.

No final, a clareira estava silenciosa novamente, exceto pelo som de nossas respirações pesadas. Os corpos dos caçadores estavam espalhados pelo chão, e o cheiro de sangue era dominante.

—Estão todos bem? — Colin perguntou, a voz carregada de cansaço e autoridade.

— Liam vai precisar de cuidados, mas está vivo — respondeu Cassia, ajudando o irmão a se levantar.

Alec ainda estava furioso, os punhos cerrados.

— Eles vão voltar. Eles sempre voltam.

— E nós estaremos prontos — disse Colin, os olhos escuros fixos em mim. — Isso é só o começo. Eles não vão parar até nos exterminarem, mas enquanto eu estiver aqui, ninguém vai tocar na nossa família.

Com o silêncio finalmente dominando a clareira, um a um começamos a rumar para nossos carros, o peso do ataque e da morte pairando sobre nós como uma sombra densa. Colin liderava o caminho enquanto Cassia ajudava Liam a caminhar, apoiando o irmão mais ferido em seus ombros. Alec ainda estava furioso, seus passos pesados esmagando galhos e folhas secas, enquanto Caleb permanecia quieto, seu olhar perdido em algum ponto distante.

Eu segui no final da fila, meus pés esmagando o solo ensanguentado enquanto minha mente vagava.

Até quando?

Era a única pergunta que ecoava em minha cabeça.

Até quando os humanos tentariam nos caçar, nos matar, como se fôssemos monstros que ameaçam suas frágeis existências?

Nós não queríamos suas cidades, seus avanços tecnológicos, suas guerras. Não queríamos suas vidas. Tudo o que desejávamos era viver nas sombras, longe de tudo e de todos, em paz. Mas, mesmo assim, aqui estávamos. Escondidos. Perseguidos. E, inevitavelmente, forçados a matar aqueles que se colocam em nosso caminho.

O cheiro metálico do sangue ainda preenchia minhas narinas, se misturando ao aroma da terra úmida e do suor. Não éramos monstros, apesar do que eles pensavam. Mas, ao mesmo tempo, não éramos humanos, e talvez fosse isso que mais os assustava.

Cassia lançou um olhar por cima do ombro, como se sentisse meus pensamentos.

Quando cheguei ao meu carro, senti o metal frio sob minha mão enquanto abria a porta. Olhei para o céu noturno, as estrelas brilhando indiferentes à batalha que havia acabado de acontecer.

Eles sempre vão nos caçar, pensei. Porque temem aquilo que não podem controlar.

E nós sempre teremos que lutar, porque eles não porquê queremos, mas porquê não nos deixarão outra escolha.

Entrei no carro, fechando a porta com um clique que soou mais alto do que deveria. Enquanto o motor roncava, os olhos dourados que me encaravam no retrovisor refletiam uma única verdade: viver nas sombras não era suficiente.

Não para eles. E, talvez, nunca fosse para nós.

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