Alec e eu trocamos um olhar rápido antes de assumirmos nossas posições. As brincadeiras e provocações de minutos atrás desapareceram, substituídas pela tensão de não sermos mais os caçadores, e sim, a caça.
— Eles nos encontraram — murmurei, os olhos varrendo as sombras da floresta. — E não vieram para conversar. — Fiquem juntos! — ele ordenou, a voz um rosnado grave. Isso não foi um acidente. Alec e eu, que estávamos prestes a sair em disparada na corrida provocada minutos antes, paramos abruptamente. Alec olhou para mim, a brincadeira desaparecendo de seus olhos cinzentos, substituída por alerta, e o pior, medo. —Você sentiu? — ele sussurrou para mim, sua respiração tensa e descompassada. — Não. Mas ouvi o tiro antes que chegasse. O terceiro tiro veio mais rápido, atravessando o ar como um aviso. Dessa vez, passou tão perto de Cassia que ela teve que se abaixar para evita-lo. Os caçadores iriam acabar acertando um de nós e não poderíamos deixar isso acontecer. — Caralho! — ela exclamou, os olhos dourados brilhando enquanto ela recuava para o grupo. Colin levantou uma mão, exigindo silêncio. Seus olhos estavam semicerrados, o rosto tenso. Ele ergueu o queixo, farejando o ar, os pelos invisíveis de sua nuca claramente arrepiados. — Caçadores — ele finalmente rosnou, o tom grave e definitivo. — Não estamos sozinhos. Todos congelaram, os sentidos apurados enquanto o som de passos se aproximava lentamente. Não era apenas um caçador. Pelos batimentos acelerados e pela falta de disfarce, havia uma equipe inteira vindo na nossa direção. — Merda. Eles vieram preparados — murmurei, sentindo a adrenalina subir. — Cassia, ajude Liam — Colin ordenou em um sussurro afiado. — Alec, Ethan, cubram o perímetro. Não façam nada estúpido. Eu e Alec nos entreolhamos, mas não questionamos. Saltamos para posições opostas, os olhos atentos a qualquer movimento entre as árvores. Meu coração batia forte, mas meu instinto de sobrevivência me fazia permanecer focado. O cheiro de pólvora era distinto agora, misturado ao suor humano. —Eles estão mais perto do que deveriam estar —Alec sussurrou, quase inaudível. — E sabem o que estão caçando — completei, as palavras pesadas enquanto ajustava minha postura, me preparando para o que viesse a seguir. Alec avançou, os músculos ainda parcialmente transformados, os olhos cinzentos queimando de raiva. Eu o segui de perto, sentindo o calor da adrenalina percorrer meu corpo enquanto nos movíamos entre as árvores, caçando os caçadores. Eles quem seriam as presas agora. Colin e Caleb assumiram a liderança, coordenando nossos movimentos com um simples aceno de cabeça ou rosnado baixo. Caleb era frio e metódico, enquanto Colin, com sua autoridade inquestionável, mantinha o foco em proteger a matilha. O primeiro caçador apareceu à vista. Um homem alto, vestido com roupas camufladas, carregando uma arma que brilhava sob a luz fraca. Ele estava distraído demais para quem estava caçando lobisomens, com toda certeza, era um novato. — Cuidado com as armadilhas — Colin avisou apenas alto o suficiente para eu e Caleb escutarmos, apontando para o chão à frente. Alec não hesitou com um salto, ele se lançou sobre o homem, derrubando-o antes que ele pudesse reagir. O grito abafado do caçador foi silenciado quando Alec cravou os dentes em sua garganta, o sangue jorrando em várias direções. — Você não vai tocar em mais ninguém — Alec rosnou, a voz cheia de ódio. Mais passos ecoaram à nossa direita. Caleb levantou uma mão, sinalizando para nos dividirmos. Eu segui para o flanco esquerdo enquanto Colin e Caleb avançavam diretamente. Um segundo caçador apareceu, dessa vez uma mulher com olhos calculistas. Ela disparou um tiro, mas Colin desviou com destreza, avançando sobre ela. Seu grito foi cortado pela metade quando ele a atingiu, as garras atravessando sua carne como se fosse feita de manteiga. — Continuem atentos! — Colin gritou, o comando nos fazendo continuar alerta. Avistei um terceiro caçador tentando recarregar sua arma enquanto se escondia atrás de uma árvore. Não dei tempo a ele. Saltei, meus pés batendo contra o tronco e impulsionando meu corpo para frente. O impacto o derrubou no chão, e em segundos minhas garras estavam em sua garganta. O seu sangue quente e viscoso sujou minhas garras, mas eu não me importava com isso. Tinha vingado meu irmão Liam e isso era o que importava. —Vocês nunca deveriam ter vindo até aqui — sussurrei, sentindo o último suspiro dele escapar. Alec apareceu ao meu lado, os olhos ainda brilhando com fúria. — Isso é pelo Liam, seus bastardos — ele murmurou, limpando o sangue que escorria de suas mãos. Cassia e Liam, mesmo com ele ferido, se juntaram a nós, cobrindo nossa retaguarda enquanto Caleb e Colin se certificavam de que não havia mais ameaças. No final, a clareira estava silenciosa novamente, exceto pelo som de nossas respirações pesadas. Os corpos dos caçadores estavam espalhados pelo chão, e o cheiro de sangue era dominante. —Estão todos bem? — Colin perguntou, a voz carregada de cansaço e autoridade. — Liam vai precisar de cuidados, mas está vivo — respondeu Cassia, ajudando o irmão a se levantar. Alec ainda estava furioso, os punhos cerrados. — Eles vão voltar. Eles sempre voltam. — E nós estaremos prontos — disse Colin, os olhos escuros fixos em mim. — Isso é só o começo. Eles não vão parar até nos exterminarem, mas enquanto eu estiver aqui, ninguém vai tocar na nossa família. Com o silêncio finalmente dominando a clareira, um a um começamos a rumar para nossos carros, o peso do ataque e da morte pairando sobre nós como uma sombra densa. Colin liderava o caminho enquanto Cassia ajudava Liam a caminhar, apoiando o irmão mais ferido em seus ombros. Alec ainda estava furioso, seus passos pesados esmagando galhos e folhas secas, enquanto Caleb permanecia quieto, seu olhar perdido em algum ponto distante. Eu segui no final da fila, meus pés esmagando o solo ensanguentado enquanto minha mente vagava. Até quando? Era a única pergunta que ecoava em minha cabeça. Até quando os humanos tentariam nos caçar, nos matar, como se fôssemos monstros que ameaçam suas frágeis existências? Nós não queríamos suas cidades, seus avanços tecnológicos, suas guerras. Não queríamos suas vidas. Tudo o que desejávamos era viver nas sombras, longe de tudo e de todos, em paz. Mas, mesmo assim, aqui estávamos. Escondidos. Perseguidos. E, inevitavelmente, forçados a matar aqueles que se colocam em nosso caminho. O cheiro metálico do sangue ainda preenchia minhas narinas, se misturando ao aroma da terra úmida e do suor. Não éramos monstros, apesar do que eles pensavam. Mas, ao mesmo tempo, não éramos humanos, e talvez fosse isso que mais os assustava. Cassia lançou um olhar por cima do ombro, como se sentisse meus pensamentos. Quando cheguei ao meu carro, senti o metal frio sob minha mão enquanto abria a porta. Olhei para o céu noturno, as estrelas brilhando indiferentes à batalha que havia acabado de acontecer. Eles sempre vão nos caçar, pensei. Porque temem aquilo que não podem controlar. E nós sempre teremos que lutar, porque eles não porquê queremos, mas porquê não nos deixarão outra escolha. Entrei no carro, fechando a porta com um clique que soou mais alto do que deveria. Enquanto o motor roncava, os olhos dourados que me encaravam no retrovisor refletiam uma única verdade: viver nas sombras não era suficiente. Não para eles. E, talvez, nunca fosse para nós.Ethan Whitmore O som dos saltos da minha secretária invadiu meu escritório antes mesmo de eu erguer os olhos da pilha interminável de papéis que precisava assinar. Suspirei, deixando a caneta de lado por um momento. Ela entrou com mais uma pilha de documentos nos braços, sempre com aquele perfume que era doce demais. Odiava quando ela aparecia no escritório com esse perfume, era sempre enjoativo e me dava náuseas depois. Por que humanos têm essa necessidade absurda de mascarar seus cheiros? Pensei, enquanto meu nariz se contorcia involuntariamente com o aroma artificial que ela carregava. Não era ruim, mas para alguém como eu, com sentidos tão aguçados, era quase insuportável. — Senhor Whitmore — disse ela, colocando os papéis na mesa com cuidado. Sua voz era educada, profissional, mas havia algo a mais nela. Um resquício de hesitação que não passava despercebido para mim. Eu a encarei por um segundo, tentando decifrar se aquele receio vinha do fato de eu ser seu chefe, o
Mas não, eu era o responsável. O “maduro”. O caçula que tinha que provar que podia ser tão confiável quanto os mais velhos. Respirei fundo, deixando o ar frio preencher meus pulmões e, aos poucos, soltei, tentando dissipar o impulso violento que pulsava dentro de mim. Olhei para os papéis na mesa. Contratos, propostas, análises financeiras. Tudo aquilo parecia gritar que eu não podia largar agora. Mas, de repente, isso não parecia tão importante assim. Eu me levantei, ignorando o ranger da cadeira de couro enquanto ela voltava para sua posição. Caminhei até a porta e a abri, chamando minha secretária, que estava sentada na mesa do lado de fora. Ela ergueu os olhos para mim, as sobrancelhas arqueadas em surpresa. Fitei ela enquanto controlada o meu tom de voz para não soar ríspido. Ela abriu a boca para perguntar mais alguma coisa, mas já não me importava. Peguei meu celular e saí do escritório com
O caos de cheiros na cidade era sufocante. O perfume dos humanos ao meu redor se misturava com o aroma de gasolina, comida de rua, fumaça. Fechei os olhos por um segundo, respirando fundo, tentando isolar o cheiro do atirador, mas tudo o que consegui foi um monte de fragrâncias enjoativas. Perfumes florais, cítricos, amadeirados. Humanos sempre mascaravam seus cheiros naturais com esses aromas artificiais. Uma prática que eu nunca compreendi e odiava ainda mais nesses momentos. Malditos perfumes humanos. Pensei, apertando o passo pela multidão. Precisava sair dali, encontrar um lugar mais calmo onde pudesse me concentrar. Mas antes que pudesse tomar outra decisão, ouvi o som abafado de outro disparo. O instinto me salvou mais uma vez. Me joguei para o lado, quase tropeçando em um grupo de pedestres, enquanto o projétil passava a centímetros do meu ombro. As p
Quando meus olhos finalmente se fixaram nela, o tempo pareceu parar. Todo o caos, o barulho da cidade, os caçadores me perseguindo nada disso existia mais. Havia apenas ela. Apenas aquela figura me importava. Sua pele era de uma palidez delicada e seus olhos, castanhos claros, que eram iguais âmbar. Mas o que mais me prendeu foi o seu cabelo. Longos fios ruivos, com um tom acobreado tão vibrante que me fez pensar nas folhas de outono. Ela era perfeita. Não no sentido mundano e superficial que eu sempre desprezei, mas perfeita de um jeito que fez meu peito apertar, como se toda a minha existência tivesse sido um prelúdio para este momento. Para ela. Apenas para ela. Tudo seria por ela. Era como se o universo estivesse sussurrando que ela era minha, que ela era a razão para tudo. Minha destinada. E então, a realidade me atingiu como um golpe seco. Ela era huma
Nunca na minha vida havia perdido o controle assim, nem mesmo quando a besta dentro de mim estava em sua forma mais selvagem. Tentei me acalmar. Mas cada movimento dela parecia acender um calor dentro de mim. Eu precisava parar. Precisava afastar esses pensamentos obscenos que tomavam conta da minha mente como uma tempestade. Ela era humana. Pequena. Frágil. Meu pau seria o suficiente para quebrar ela em duas de dentro para fora. Mas bem que eu poderia me saborear de seu gozo, me ajoelhar de frente a ela enquanto ela sentava aberta para mim. Lamber e chupar seu pequeno clitóris até ela esquecer o próprio nome. Porra! Os caçadores eram teimosos, e seus passos voltaram a ecoar pela calçada, aproximando-se novamente. Meu corpo se tensionou, todos os instintos gritando para proteger o território que, por alguma razão, senti que agora incluía aquela pequena h
Limpei a garganta, tentando não me engasgar com as palavras que pareciam presas, difíceis de falar. — Só estava de passagem — consegui dizer, mantendo minha voz baixa e controlada, mesmo que meu corpo inteiro estivesse em alerta máximo. — E parece que escolhi o lugar errado na hora errada. Ela franziu a testa, não estava satisfeita com minha resposta evasiva. — De passagem? — Ela apontou para a porta com um movimento casual, mas seus olhos estavam fixos em mim, estudando cada detalhe. — Esses homens não pareciam estar te perseguindo por coincidência. Eu dei de ombros, tentando parecer indiferente, mas meu autocontrole estava se desgastando rapidamente. — Não são pessoas com quem você quer se envolver — respondi, meu tom intencionalmente vago. Ela deu mais um passo à frente, e foi aí que percebi o quão pequena ela realmente era. Não devia ter mais de 1,55m, enquanto eu passava de 1,90m. A
O La Verve era tudo o que eu esperava de um restaurante cinco estrelas: ostentação, luxo e um refinamento que beirava o exagero. Lustres de cristal pendiam do teto alto e as mesas eram cobertas por toalhas brancas impecáveis. As cadeiras eram forradas com veludo escarlate, combinando com o tom das paredes, e um jazz lento e suave tocava ao fundo, criando uma atmosfera sofisticada, mas para mim, incrivelmente entediante. Pelo menos o jazz não doía em minha audição como outros barulhos humanos. As mesas ao nosso redor estavam ocupadas por casais humanos elegantes, mas nada neles se comparava à presença de Scarlett. Minha noiva, com sua beleza lupina inatingível, chamava atenção de todos ali sem nem mesmo tentar. O garçom se aproximou da mesa com passos treinados, equilibrando habilmente duas bandejas prateadas. O cheiro da comida refinada invadiu meus sentidos, mas ao contrário dos humanos ao redor, não me causava nenhuma emoção. Comida humana sempre foi
Ela sorriu levemente, como se tivesse ganho alguma discussão silenciosa. Seus lábios, pintados de vermelho profundo, se curvaram enquanto ela apoiava o garfo no prato e entrelaçava os dedos sob o queixo. — Então, o que aconteceu hoje? — perguntou, sua voz estava cheia de curiosidade. — Não me diga que os caçadores voltaram a te rastrear. Eu a encarei por um momento, tentando decidir o quanto contar. Mas, ao final, qual era o ponto de esconder? Scarlett era tão imersa no nosso mundo quanto eu. — Eles voltaram, sim — disse, com um tom casual, como se estivesse discutindo o clima. — Pegaram meu rastro perto do centro da cidade. Tive que despistá-los em uma floricultura. Scarlett soltou uma risada breve, incrédula. — Uma floricultura? Você? Revirei os olhos, mas não pude deixar de sorrir. — Acredite ou não, funcionou. A porta de vidro fumê escondeu minha entrada, e o cheiro das flores mascarou meu rastro por