Ethan Whitmore
O som dos saltos da minha secretária invadiu meu escritório antes mesmo de eu erguer os olhos da pilha interminável de papéis que precisava assinar. Suspirei, deixando a caneta de lado por um momento. Ela entrou com mais uma pilha de documentos nos braços, sempre com aquele perfume que era doce demais. Odiava quando ela aparecia no escritório com esse perfume, era sempre enjoativo e me dava náuseas depois. Por que humanos têm essa necessidade absurda de mascarar seus cheiros? Pensei, enquanto meu nariz se contorcia involuntariamente com o aroma artificial que ela carregava. Não era ruim, mas para alguém como eu, com sentidos tão aguçados, era quase insuportável. — Senhor Whitmore — disse ela, colocando os papéis na mesa com cuidado. Sua voz era educada, profissional, mas havia algo a mais nela. Um resquício de hesitação que não passava despercebido para mim. Eu a encarei por um segundo, tentando decifrar se aquele receio vinha do fato de eu ser seu chefe, o CEO escolhido por Colin depois da divisão das empresas, ou se era algo mais. Humanos sentiam. Eles sempre sentiam. Mesmo sem saber o que eu era, algo nos instintos dela devia avisar que havia algo errado comigo. Ela esperou que eu dissesse algo, mas apenas murmurei um "deixe aí" enquanto pegava os papéis da pilha anterior. Ela saiu rapidamente, fechando a porta com mais força do que pretendia. Eu deixei escapar um suspiro pesado e me recostei na cadeira, olhando para a pilha crescente de papelada. Essa vida corporativa é um inferno. Eu voltei a pegar a caneta, assinando mais um contrato sem sequer me dar ao trabalho de ler tudo. Colin achava que eu precisava de responsabilidade. Que gerenciar o ramo de construção da Whitmore Industries me faria amadurecer. Talvez ele estivesse certo, mas, sinceramente, isso não importava. O que importava era terminar logo esse dia e sair daqui. Voltar para casa, para o silêncio, para onde eu não precisasse fingir ser algo que não sou. Estava quase terminando de assinar um contrato quando o telefone no canto da mesa tocou. Suspirei pesadamente, deixando a caneta de lado. Poucas pessoas ligavam diretamente para minha linha, e todas elas geralmente tinham o dom de transformar meu humor em algo pior. Atendi sem entusiasmo. — Ethan Whitmore. A risada do outro lado fez meus dentes rangerem antes mesmo de ele dizer qualquer coisa. Era um som inconfundível, era a risada do meu irmão, Alec. — Como está o trabalho, irmãozinho? — Alec perguntou, e eu podia ouvir o sorriso provocador em sua voz. — Diga logo o que você quer, Alec. Estou ocupado. — Ocupado? — ele riu, como se a ideia de eu estar ocupado absurda. — Você parece sempre tão entediado. Aposto que está aí sentado, afundado em papéis, enquanto eu... Houve uma pausa teatral que me fez revirar os olhos. Alec sabia muito bem ser irritante quando queria ser e isso me fazia querer torcer o pescoço dele toda vez que eu o via. — ...estou aproveitando a Suíça. Minha mão apertou o telefone com mais força do que deveria. — Alec... Rosnei, meu lado lupino querendo tomar conta daquele corpo humano. Ele estava se divertindo na Suíça e eu preso em um cubículo em Nova York. Cacete, queria muito dar um soco naquela cara pretensiosa de Alec. — Não me diga que está rosnando agora, Ethan. — Ele gargalhou, como se tivesse conseguido o que queria. — Olha só, eu sabia que administrar o ramo de tecnologia seria incrível, mas não imaginei que me daria tantas oportunidades de viajar. Você deveria experimentar. Oh, espera! Você não pode. Está preso aí, no escritório, cuidando de empreiteiras, não é? — Você tem mais alguma coisa para dizer ou ligou só para ser irritante? — rosnei, sentindo meus caninos coçarem, um reflexo involuntário. — Só queria lembrar você de como é bom ser livre, irmãozinho. Aproveite sua pilha de papéis. — Alec riu mais uma vez e desligou antes que eu pudesse responder. Fiquei olhando para o telefone por alguns segundos, resistindo à vontade de arremessá-lo contra a parede. Alec nunca vai mudar. Ele podia ser o segundo mais novo, mas agia como se fosse dez anos mais novo que eu. Sempre procurando um novo jeito de me irritar, e o pior, ele sempre conseguia. Peguei a caneta de volta, tentando ignorar a raiva que fazia meu peito vibrar. Ele podia viajar o mundo inteiro se quisesse, mas sabia tão bem quanto eu que não se tratava de liberdade. Todos nós carregávamos as correntes da responsabilidade, gostássemos disso ou não. Rosnei de novo, mais alto dessa vez, o som reverberando pelo escritório vazio. Passei as mãos pelo rosto, tentando aliviar a tensão que Alec sempre conseguia me causar. A vontade de pegar o jatinho e voar direto para a Suíça só para estrangular aquele desgraçado era quase irresistível.Mas não, eu era o responsável. O “maduro”. O caçula que tinha que provar que podia ser tão confiável quanto os mais velhos. Respirei fundo, deixando o ar frio preencher meus pulmões e, aos poucos, soltei, tentando dissipar o impulso violento que pulsava dentro de mim. Olhei para os papéis na mesa. Contratos, propostas, análises financeiras. Tudo aquilo parecia gritar que eu não podia largar agora. Mas, de repente, isso não parecia tão importante assim. Eu me levantei, ignorando o ranger da cadeira de couro enquanto ela voltava para sua posição. Caminhei até a porta e a abri, chamando minha secretária, que estava sentada na mesa do lado de fora. Ela ergueu os olhos para mim, as sobrancelhas arqueadas em surpresa. Fitei ela enquanto controlada o meu tom de voz para não soar ríspido. Ela abriu a boca para perguntar mais alguma coisa, mas já não me importava. Peguei meu celular e saí do escritório com
O caos de cheiros na cidade era sufocante. O perfume dos humanos ao meu redor se misturava com o aroma de gasolina, comida de rua, fumaça. Fechei os olhos por um segundo, respirando fundo, tentando isolar o cheiro do atirador, mas tudo o que consegui foi um monte de fragrâncias enjoativas. Perfumes florais, cítricos, amadeirados. Humanos sempre mascaravam seus cheiros naturais com esses aromas artificiais. Uma prática que eu nunca compreendi e odiava ainda mais nesses momentos. Malditos perfumes humanos. Pensei, apertando o passo pela multidão. Precisava sair dali, encontrar um lugar mais calmo onde pudesse me concentrar. Mas antes que pudesse tomar outra decisão, ouvi o som abafado de outro disparo. O instinto me salvou mais uma vez. Me joguei para o lado, quase tropeçando em um grupo de pedestres, enquanto o projétil passava a centímetros do meu ombro. As p
Quando meus olhos finalmente se fixaram nela, o tempo pareceu parar. Todo o caos, o barulho da cidade, os caçadores me perseguindo nada disso existia mais. Havia apenas ela. Apenas aquela figura me importava. Sua pele era de uma palidez delicada e seus olhos, castanhos claros, que eram iguais âmbar. Mas o que mais me prendeu foi o seu cabelo. Longos fios ruivos, com um tom acobreado tão vibrante que me fez pensar nas folhas de outono. Ela era perfeita. Não no sentido mundano e superficial que eu sempre desprezei, mas perfeita de um jeito que fez meu peito apertar, como se toda a minha existência tivesse sido um prelúdio para este momento. Para ela. Apenas para ela. Tudo seria por ela. Era como se o universo estivesse sussurrando que ela era minha, que ela era a razão para tudo. Minha destinada. E então, a realidade me atingiu como um golpe seco. Ela era huma
Nunca na minha vida havia perdido o controle assim, nem mesmo quando a besta dentro de mim estava em sua forma mais selvagem. Tentei me acalmar. Mas cada movimento dela parecia acender um calor dentro de mim. Eu precisava parar. Precisava afastar esses pensamentos obscenos que tomavam conta da minha mente como uma tempestade. Ela era humana. Pequena. Frágil. Meu pau seria o suficiente para quebrar ela em duas de dentro para fora. Mas bem que eu poderia me saborear de seu gozo, me ajoelhar de frente a ela enquanto ela sentava aberta para mim. Lamber e chupar seu pequeno clitóris até ela esquecer o próprio nome. Porra! Os caçadores eram teimosos, e seus passos voltaram a ecoar pela calçada, aproximando-se novamente. Meu corpo se tensionou, todos os instintos gritando para proteger o território que, por alguma razão, senti que agora incluía aquela pequena h
Limpei a garganta, tentando não me engasgar com as palavras que pareciam presas, difíceis de falar. — Só estava de passagem — consegui dizer, mantendo minha voz baixa e controlada, mesmo que meu corpo inteiro estivesse em alerta máximo. — E parece que escolhi o lugar errado na hora errada. Ela franziu a testa, não estava satisfeita com minha resposta evasiva. — De passagem? — Ela apontou para a porta com um movimento casual, mas seus olhos estavam fixos em mim, estudando cada detalhe. — Esses homens não pareciam estar te perseguindo por coincidência. Eu dei de ombros, tentando parecer indiferente, mas meu autocontrole estava se desgastando rapidamente. — Não são pessoas com quem você quer se envolver — respondi, meu tom intencionalmente vago. Ela deu mais um passo à frente, e foi aí que percebi o quão pequena ela realmente era. Não devia ter mais de 1,55m, enquanto eu passava de 1,90m. A
O La Verve era tudo o que eu esperava de um restaurante cinco estrelas: ostentação, luxo e um refinamento que beirava o exagero. Lustres de cristal pendiam do teto alto e as mesas eram cobertas por toalhas brancas impecáveis. As cadeiras eram forradas com veludo escarlate, combinando com o tom das paredes, e um jazz lento e suave tocava ao fundo, criando uma atmosfera sofisticada, mas para mim, incrivelmente entediante. Pelo menos o jazz não doía em minha audição como outros barulhos humanos. As mesas ao nosso redor estavam ocupadas por casais humanos elegantes, mas nada neles se comparava à presença de Scarlett. Minha noiva, com sua beleza lupina inatingível, chamava atenção de todos ali sem nem mesmo tentar. O garçom se aproximou da mesa com passos treinados, equilibrando habilmente duas bandejas prateadas. O cheiro da comida refinada invadiu meus sentidos, mas ao contrário dos humanos ao redor, não me causava nenhuma emoção. Comida humana sempre foi
Ela sorriu levemente, como se tivesse ganho alguma discussão silenciosa. Seus lábios, pintados de vermelho profundo, se curvaram enquanto ela apoiava o garfo no prato e entrelaçava os dedos sob o queixo. — Então, o que aconteceu hoje? — perguntou, sua voz estava cheia de curiosidade. — Não me diga que os caçadores voltaram a te rastrear. Eu a encarei por um momento, tentando decidir o quanto contar. Mas, ao final, qual era o ponto de esconder? Scarlett era tão imersa no nosso mundo quanto eu. — Eles voltaram, sim — disse, com um tom casual, como se estivesse discutindo o clima. — Pegaram meu rastro perto do centro da cidade. Tive que despistá-los em uma floricultura. Scarlett soltou uma risada breve, incrédula. — Uma floricultura? Você? Revirei os olhos, mas não pude deixar de sorrir. — Acredite ou não, funcionou. A porta de vidro fumê escondeu minha entrada, e o cheiro das flores mascarou meu rastro por
A taça de vinho parou a meio caminho da minha boca, e antes que pudesse impedir, engasguei, tossindo baixo. — Ethan? — Scarlett perguntou, arqueando uma sobrancelha perfeitamente desenhada, o garfo ainda na mão. A atenção de algumas pessoas próximas se voltou para mim. Controlei a tosse, sentindo o calor subir pelo meu pescoço até as orelhas. Maldição. — Desculpe — disse rapidamente, tentando me recompor. — Eu me distraí por um momento. Ela não parecia convencida. Seus olhos verdes estavam fixos em mim, esperando por uma explicação. Eu precisava inventar algo rápido. — É que... — Olhei para ela, e então me forcei a sorrir, um sorriso torto e cheio de falsa confiança. — Eu percebi o decote do seu vestido. O olhar de Scarlett suavizou imediatamente, e um pequeno sorriso brincou em seus lábios. Ela inclinou o corpo para frente levemente, deixando que o tecido elegante de seu