Capítulo 5

Ethan Whitmore

O som dos saltos da minha secretária invadiu meu escritório antes mesmo de eu erguer os olhos da pilha interminável de papéis que precisava assinar. Suspirei, deixando a caneta de lado por um momento. Ela entrou com mais uma pilha de documentos nos braços, sempre com aquele perfume que era doce demais. Odiava quando ela aparecia no escritório com esse perfume, era sempre enjoativo e me dava náuseas depois.

Por que humanos têm essa necessidade absurda de mascarar seus cheiros?

Pensei, enquanto meu nariz se contorcia involuntariamente com o aroma artificial que ela carregava. Não era ruim, mas para alguém como eu, com sentidos tão aguçados, era quase insuportável.

— Senhor Whitmore — disse ela, colocando os papéis na mesa com cuidado. Sua voz era educada, profissional, mas havia algo a mais nela.

Um resquício de hesitação que não passava despercebido para mim.

Eu a encarei por um segundo, tentando decifrar se aquele receio vinha do fato de eu ser seu chefe, o CEO escolhido por Colin depois da divisão das empresas, ou se era algo mais.

Humanos sentiam. Eles sempre sentiam. Mesmo sem saber o que eu era, algo nos instintos dela devia avisar que havia algo errado comigo.

Ela esperou que eu dissesse algo, mas apenas murmurei um "deixe aí" enquanto pegava os papéis da pilha anterior. Ela saiu rapidamente, fechando a porta com mais força do que pretendia. Eu deixei escapar um suspiro pesado e me recostei na cadeira, olhando para a pilha crescente de papelada.

Essa vida corporativa é um inferno. Eu voltei a pegar a caneta, assinando mais um contrato sem sequer me dar ao trabalho de ler tudo. Colin achava que eu precisava de responsabilidade. Que gerenciar o ramo de construção da Whitmore Industries me faria amadurecer.

Talvez ele estivesse certo, mas, sinceramente, isso não importava. O que importava era terminar logo esse dia e sair daqui. Voltar para casa, para o silêncio, para onde eu não precisasse fingir ser algo que não sou.

Estava quase terminando de assinar um contrato quando o telefone no canto da mesa tocou. Suspirei pesadamente, deixando a caneta de lado. Poucas pessoas ligavam diretamente para minha linha, e todas elas geralmente tinham o dom de transformar meu humor em algo pior.

Atendi sem entusiasmo.

— Ethan Whitmore.

A risada do outro lado fez meus dentes rangerem antes mesmo de ele dizer qualquer coisa. Era um som inconfundível, era a risada do meu irmão, Alec.

— Como está o trabalho, irmãozinho? — Alec perguntou, e eu podia ouvir o sorriso provocador em sua voz.

— Diga logo o que você quer, Alec. Estou ocupado.

— Ocupado? — ele riu, como se a ideia de eu estar ocupado absurda. — Você parece sempre tão entediado. Aposto que está aí sentado, afundado em papéis, enquanto eu...

Houve uma pausa teatral que me fez revirar os olhos. Alec sabia muito bem ser irritante quando queria ser e isso me fazia querer torcer o pescoço dele toda vez que eu o via.

— ...estou aproveitando a Suíça.

Minha mão apertou o telefone com mais força do que deveria.

— Alec...

Rosnei, meu lado lupino querendo tomar conta daquele corpo humano. Ele estava se divertindo na Suíça e eu preso em um cubículo em Nova York.

Cacete, queria muito dar um soco naquela cara pretensiosa de Alec.

— Não me diga que está rosnando agora, Ethan. — Ele gargalhou, como se tivesse conseguido o que queria. — Olha só, eu sabia que administrar o ramo de tecnologia seria incrível, mas não imaginei que me daria tantas oportunidades de viajar. Você deveria experimentar. Oh, espera! Você não pode. Está preso aí, no escritório, cuidando de empreiteiras, não é?

— Você tem mais alguma coisa para dizer ou ligou só para ser irritante? — rosnei, sentindo meus caninos coçarem, um reflexo involuntário.

— Só queria lembrar você de como é bom ser livre, irmãozinho. Aproveite sua pilha de papéis. — Alec riu mais uma vez e desligou antes que eu pudesse responder.

Fiquei olhando para o telefone por alguns segundos, resistindo à vontade de arremessá-lo contra a parede.

Alec nunca vai mudar. Ele podia ser o segundo mais novo, mas agia como se fosse dez anos mais novo que eu. Sempre procurando um novo jeito de me irritar, e o pior, ele sempre conseguia.

Peguei a caneta de volta, tentando ignorar a raiva que fazia meu peito vibrar. Ele podia viajar o mundo inteiro se quisesse, mas sabia tão bem quanto eu que não se tratava de liberdade. Todos nós carregávamos as correntes da responsabilidade, gostássemos disso ou não.

Rosnei de novo, mais alto dessa vez, o som reverberando pelo escritório vazio. Passei as mãos pelo rosto, tentando aliviar a tensão que Alec sempre conseguia me causar. A vontade de pegar o jatinho e voar direto para a Suíça só para estrangular aquele desgraçado era quase irresistível.

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