Me ajeitei na cadeira, observando quando Colin finalmente se inclinou para frente, os antebraços apoiados na mesa. O alfa da matilha, o irmão mais velho, com aquela aura de comando que ninguém questionava. Ninguém, menos Ethan.
— Certo — Colin começou, a voz grave cortando o silêncio. — A gente precisa de um plano sólido. Não tem espaço pra erro. Não quando se trata de Rowan. Esse desgraçado sobreviveu a todos que tentaram caçar ele antes.Meu estômago se revirou ao ouvir aquele nome. Rowan. O caçador de lobisomens mais famoso e temido. O homem que, até alguns dias atrás, eu achava que era só uma história pra assustar filhotes desobedientes. Mas ele era real. E estava nos caçando.— A gente não vai sobreviver se for direto pro ataque — Caleb se meteu, a voz séria. — Ele quer que a gente faça isso. Quer que a gente perca a cabeça.Ethan balançou a cabeça devagar. Os olhos dele estavam sombrios, frios, como eu nunca tinha visto.— Eu sei. Por isso não vamos dar o qE então Ethan se levantou, o ar mudando ao redor dele.— Amanhã — ele disse. — A gente faz amanhã, antes que Rowan faça a jogada dele primeiro.Colin arqueou a sobrancelha.— Por quê? Qual a pressa?— Porque eu conheço caçadores — Ethan disse, e por um segundo, a dor brilhou nos olhos dele. — E eu conheço ele. Se ele já tá tão perto… é porque ele tem alguém aqui dentro. E se for isso, estamos fodidos.Aquela palavra ficou no ar, pesada, real.— Vocês vão revisar o plano cem vezes hoje — Ethan continuou. — Eu vou falar com Scarlett. Ela vai vir. Ela sempre vem.— Não acha que é arriscado envolver ela de novo? — Cassia perguntou. — Ela… te odeia.Ele riu sem humor.— Não mais do que eu odeio o Rowan. E ela sabe disso. Vai vir.Liam se levantou, estalando os ossos como se já se preparasse pra guerra.— Então o que a gente tá esperando? Vamos fazer isso direito.Eu observei tudo, registrando cada olhar, cada gesto. Sentindo o medo crescer,
O sol ainda nem havia nascido quando abri os olhos, sentindo o calor do corpo de Ethan ao meu lado. Por um instante, eu me permiti ficar ali, quieta, observando o peito dele subir e descer devagar, como se o mundo lá fora não estivesse prestes a desabar sobre nós.Mas a paz foi breve.O peso do que nos esperava logo caiu sobre mim, arrancando-me daquele pequeno refúgio. Me mexi devagar, tentando não acordá-lo, mas Ethan abriu os olhos no mesmo instante, como se já estivesse acordado há horas.— Bom dia… — ele murmurou, a voz rouca, arrastada pelo sono.— Bom dia… — respondi num sussurro, mordendo o lábio. — Dormiu alguma coisa?Ele deu um sorriso torto, sem humor.— Difícil dormir sabendo o que vem pela frente. — A mão grande subiu até o meu rosto, acariciando minha bochecha. — Mas você tava aqui… isso já valeu por mil noites mal dormidas.Me inclinei e depositei um beijo leve nos lábios dele.— A gente vai sair dessa, Ethan.Ele não respondeu, só
— A gente vai dividir o time — Colin começou, voltando ao tom sério. — Alec e Liam vão ficar nas saídas superiores. Quero visão de cima. Caleb, você e Cassia cuidam das laterais. Ninguém se aproxima sem vocês perceberem. Caleb assentiu, sério, e Cassia já parecia pronta pra matar alguém só de pensar em como tudo poderia dar errado. — E você? — Alec perguntou, o olhar afiado como uma lâmina. Colin olhou pra Ethan, quase com pesar. — Eu fico no ponto cego. Se Rowan tentar surpreender… ele vai me encontrar primeiro. — E eu? — perguntei, a voz soando mais firme do que eu me sentia. Ethan respirou fundo e se aproximou, suas mãos pegando meu rosto com uma delicadeza que parecia quase incongruente praquele homem. — Você vai fazer o que combinamos, Lila. Vai chamar a atenção dele. Atrair. Mas na hora que eu disser… você sai dali. Sem heroísmo. — E se ele for atrás
O som do primeiro disparo ecoou pelo galpão, e então o mundo virou caos.Liam desceu da viga como um predador, o corpo já se transformando no ar — ossos estalando, músculos rasgando a roupa cara enquanto a pele dava lugar ao pelo escuro e denso. Caleb e Alec vieram logo atrás, as feições humanas se contorcendo enquanto os olhos brilhavam num tom dourado animalesco. Garras surgiram, dentes se alongaram. Até mesmo Cassia, sempre tão contida, caiu de joelhos, o corpo tremendo antes de ceder à besta que morava dentro dela.A matilha Withmore se revelava por completo.O som dos ossos quebrando, da pele se rasgando, misturava-se ao rosnar gutural de todos eles, fazendo o ar vibrar ao meu redor. Eu deveria sentir medo — e, por um instante, senti — mas logo aquilo se transformou em algo quase primitivo. Era o que eles eram. O que sempre foram.Ethan foi o último a se transformar. Ele me lançou um último olhar, os olhos azuis brilhando com uma força quase selvagem, antes de c
Engoli o choro e gritei as últimas palavras, sentindo a magia rasgar a garganta junto com o grito.— Per il sangue e per la luna, io ti lego alla morte!O ar pareceu vibrar, o chão estremeceu sob meus pés. A magia explodiu — crua, selvagem, poderosa — e eu quase perdi o equilíbrio com o impacto.Rowan foi arrastado ao chão pelas raízes, o corpo puxado como se a própria terra tivesse ganhado vida e quisesse devorá-lo inteiro. O cheiro de ferro queimado se espalhou, enjoativo, ácido, queimando meu nariz e minha garganta. O grito dele ecoou alto, um som grotesco… animal e humano ao mesmo tempo. Eu tremi. Por um segundo, achei que fosse acabar ali. Mas eu devia saber… monstros como Rowan não morrem fácil.Num último esforço desesperado, ele puxou uma das pistolas e, mesmo preso, mesmo sangrando, disparou na minha direção. Tudo ao redor pareceu desacelerar. O mundo inteiro se tornou um borrão, menos aquela bala. Eu vi… Vi a maldita bala vindo. Lenta. Inevitável. O som do
Cinco anos depois... O sol de fim de tarde pintava o céu de dourado e laranja quando caminhávamos lado a lado pelo parque. A mão dele envolvia a minha como se nunca mais quisesse soltar — firme, quente, segura. E eu sorria, sem conseguir evitar, porque a paz que sentia ao lado dele era tudo o que eu sempre sonhei.Ethan parecia mais leve agora. Os traços fortes ainda estavam ali, o olhar intenso, a postura dominante… mas havia algo diferente — uma serenidade que só o tempo e o amor podiam trazer.— Eu ainda estranho quando tudo tá… calmo assim — ele murmurou de repente, apertando de leve meus dedos. — Parte de mim acha que a merda vai começar a qualquer momento.Olhei pra ele, sorrindo de lado. — É porque você se acostumou demais com o caos, Ethan. Mas... às vezes, a gente vence. E o prêmio é isso. — Apontei em volta — o parque cheio de crianças correndo, casais rindo, o mundo girando sem medo.Ele parou por um segundo e me puxou suavemente pra mais perto,
— Tô falando sério — ele provocou, erguendo as sobrancelhas, aquele sorriso torto brincando nos lábios. — Olha pra isso… dois garotos correndo, você grávida… mais um e eu viro o alfa da minha própria alcateia. — Ele se aproximou mais, roçando o nariz no meu, a voz rouca e baixa só pra mim. — Quer mesmo me dar mais um ou dois? Só pra garantir o território…Soltei uma risada abafada, tentando disfarçar o quanto aquela ideia, no fundo, não me soava tão absurda assim. Porque a verdade era que, com ele, tudo parecia possível… até mesmo povoar o mundo com nossos filhos.— Você não presta… — murmurei, desviando o olhar pra esconder o sorriso bobo que insistia em nascer.— Mas você me ama — ele sussurrou, com aquela convicção que só ele tinha. Como se não restasse espaço pra dúvida no peito dele. Como se amar ele fosse tão natural quanto respirar.Assenti, mordendo o lábio pra conter o sorriso que já escapava. — Infelizmente.Ethan jogou a cabeça pra trás e riu alto, o s
O cheiro de sangue impregnava o ar, aguçando meu olfato e fazendo meus instintos lupinos vir à tona. A floresta ao nosso redor era um santuário intocado pelos humanos, um lugar onde a natureza ainda reinava soberana e nos dava a liberdade de sermos os lobos que éramos. A luz do luar se filtrava por entre as folhas das árvore, criando sombras no solo úmido e coberto de folhas caídas. O ar era carregado com o perfume de pinheiros, terra molhada e a presença distante de um alce, nossa presa. Eu amava o poder que a caçada trazia. Não era a fome que me movia, mas a excitação de sentir minha força, minha conexão com meus irmãos, com a terra e com a fera que habitava dentro de mim. Éramos uma matilha, sempre unidos. Porra, lobos nunca estão sozinhos. Corríamos juntos em movimentos sincronizados. Minhas patas, ainda em meu corpo de lobo, se moviam em silêncio sobre o chão de terra macia. Meu pelo marrom escuro se camuflava entre os troncos e as sombras da floresta, enquanto meus se