Olhar o ir e vir das pessoas sempre me inspirava. Fazia com que as ideias borbulhassem. Embora, em outro momento, o silêncio me ajudasse a aperfeiçoar essas ideias. Antes eu achava que aquela cena típica, onde um escritor se sentava em um café, era clichê demais. Estereotipada, eu diria. Hoje vejo que tudo é uma questão de adaptação e que algumas coisas podem não te servir hoje e serem imprescindíveis amanhã. Pois bem, agora aquele café estava incorporado a minha rotina. Todos os dias pela manhã eu me dirigia até ele e me sentava no mesmo local, de onde tinha uma visão privilegiada de todo o lugar, bem como da rua. Eu gostava de imaginar o que cada uma dessas pessoas fazia ao longo do dia. Do que elas gostavam? Quem eram? Que tipo de vida elas levavam? Para quem era aquele copo extra de café com leite que a loira vestida com uma saia lápis e saltos de dez centímetros levava todos os dias? E o que aquela mulher com pinta de executiva viu naquele homem que se vestia e se comportava co
Mais tarde, eu estava na parte do vinho quando a porta se abriu e uma Penélope animada entrou. Quando ela chegava assim era algo para se preocupar porque ela tinha um plano. E, devo dizer, ela não costuma ser muito criativa sobre eles. Então eu poderia deduzi-los. Quase sempre terminava com ela me arrastando para algum lugar ou tentando me salvar de mim mesma, como ela costumava dizer.- Eu vou querer uma dessas - disse sem preâmbulo. Sinalizando para a minha taça.- Olá pra você também.- Olá, Giovanna. Tenho uma ótima notícia: Consegui a conta da Mazza.- Que boa notícia. Parabéns. - Eu enchi uma taça de vinho e deslizei por cima do balcão - Só me explique: Essa empresa Mazza a qual você se refere tem alguma coisa a ver com a Mazza Telecom?- A mesma. E você não devia estar me perguntando isso. Pelo menos, não se você esteve prestando atenção sobre o que eu falava nas últimas duas semanas.- Eu estava prestando atenção. Só queria ter certeza. E devo dizer: Isso é incrível.- Incrív
Eu passei o resto da semana com os nervos em frangalhos. Eu não acessei o facebook e nem o e-mail da “Gi”. E me dediquei a escrever meus artigos para o meu blog sobre arte. Não estive na minha cafeteria predileta em nenhum desses dias e nem escrevi sequer uma linha sobre o meu novo projeto literário. Eu recebi críticas boas e também algumas cruéis sobre os meus livros e eu posso viver com isso, mas as coisas que esse estranho falou me feriram na alma. Não foi uma crítica ao meu trabalho, foi uma crítica a mim como ser humano, como mulher e isso mexeu comigo de tal maneira que eu estou tendo dificuldades de lidar.- Você ainda está aí? - Eu estava deitada na cama, relendo um exemplar da Divina Comédia. – Você precisa correr, nós só temos duas horas para chegar à Mansão Mazza.- Penny, eu não vou a essa festa.- Por favor, eu estou contando com você.- Eu não serei uma boa companhia.- Você não tem que ser. Pode ficar parada e muda como uma estátua. Eu só quero que você esteja lá. Você
Caminhei com a minha taça de vinho por entre os presentes. Todos envolvidos em conversas amigáveis. Alguns trocaram olhares comigo e me deram alguns acenos, que eu correspondia timidamente. Logo que pude, segui no sentido oposto à entrada por um corredor. Uma porta tão imponente como a que eu entrei quando cheguei aqui me levou até uma saída para um belo jardim. Era como se a casa fosse um grande cubo e no centro um jardim foi aberto. Inúmeras janelas davam para o espaço, garantindo que os habitantes pudessem ter uma bela visão do lugar. Pequenos postes de iluminação em estilo antigo decoravam o jardim e bancos em ferro fundido na cor branca embelezavam dando uma atmosfera aconchegante. Eu não conseguia deixar de imaginar quantas pessoas se sentaram nesses bancos ao logos dos anos. Quantas histórias se passaram aqui? Quantos amores? Quantas separações? Uma grama bem cuidada cobria todo o jardim e trilhas de pedra possibilitavam uma caminhada sem maltratar a grama. Em um instante eu es
- Sem mais vinho pra mim, então?- Ok. Sem mais vinho. Eu não saberia o que fazer com você se tomar mais um gole. Talvez você acabe com a festa e soque a cara do dono da casa.- Eu não faria isso com o seu irmão. Ele demitiria a minha amiga.- Eu estava falando de mim.- Essa festa é sua, então?- Não. Mas a casa é. - Oh! Então eu realmente te insultei.- Eu só a uso de vez em quando. Fico mais tempo na Toscana - Ele tomou mais um pouco de vinho e virou o corpo em minha direção. Apoiando a sua mão esquerda no encosto do banco e a perna no espaço ao meu lado – E quanto a você? O que você faz?- Bem, quando eu não estou insultando as pessoas eu costumo escrever alguns artigos para alguns jornais e revistas. Ah, e também blogs.- Interessante. Sobre o que você escreve?- Um pouco de tudo.- Por exemplo...?- Como eu disse, um pouco de tudo. Mas gosto de falar sobre arte e também sobre política. Por falar nisso, sua casa é uma obra de arte. Eu já mencionei isso?- Sim. Isso foi um pouco
- Oddio! Você quase nunca sai de casa, mas quando faz... Minha nossa! Posso imaginar por que você vive confinada – Penélope exclamou depois de espremer cada detalhe da noite passada – Eu tenho que fazer milagre apenas para conseguir que aquele carrasco do Antony Mazza me dê um bom dia e então você apenas aparece e ele lhe pede para que o chame pelo primeiro nome e tem um sorriso idiota pra você. O irmão dele simplesmente faz um exame de amídalas em você depois de você ter insultado ele, sua casa e a sua família e a irmã dele só te idolatra. O homem ainda te oferece uma limusine para deixá-la na porta de casa. Eu apenas tive que me contentar com o bom e velho táxi. Não que eu quisesse qualquer coisa daquele carrasco – ela diz. Em seguida toma um longo gole do seu café – Você tinha que ver a troca de olhares entre Antonella e Anthony depois que vocês saíram. Parecia que viam uma santa. Mama mia! Eu enchi uma xícara de café bem quente e me sentei do outro lado da mesa de cozi
No dia seguinte, eu saí de casa a caminho da cafeteria. Eu me sentei em meu lugar predileto e pedi o de sempre. Enquanto comia, observava tudo a minha volta. A mulher com pinta de executiva estava sozinha. O rapaz que costumava acompanhá-la não estava com ela e eu me perguntava se isso era um fim. Eu sempre achei que eles não combinavam e não era apenas as roupas, era tudo: o jeito, o gosto... mas então eu me perguntei o que isso dizia sobre o seu relacionamento. Tirar conclusões era o mal da humanidade. E daí que ele não andasse com um terno caro para fazer par com ela, Deus sabe o quanto ele poderia ser bom pra ela mesmo com seus jeans surrados e sua pinta de bad boy. Deus sabe o quanto ele poderia ser um companheiro, amigo, amante, dedicado e prestativo. Mas então vinha eu e julgava o que era o seu relacionamento, baseada na sua roupa ou no fato dele parecer descompromissado e tomar um café “nada a ver” com o dela. Isso e a conversa que eu tive com Pain na noite passada me deram al
Sexta-feira, 08 de Maio de 2015HaroldEla estava uma pilha, o que é compreensível. Eu mesmo não estou assim tão tranquilo, embora não deixe transparecer. Mesmo tendo uma ideia do resultado, eu insisti para que esperássemos o resultado geral para fazer qualquer pronunciamento. O que ela concordou.Deus! Essa mulher me surpreendeu a cada volta do processo eleitoral nos últimos meses. Ela veio para Winchester comigo e nós passamos mais tempo aqui do que em Londres. Ela hoje é praticamente parte da cidade. Ela conheceu cada morador, conversou com eles, conheceu suas histórias e simplesmente os conquistou.Eu já era uma figura conhecida em Winchester por causa dos meus pais, que são daqui, pelo fato de eu ter crescido aqui e convivido com a maioria dos moradores. Mas vendo como ela se portava no meio dessas pessoas eu poderia dizer que ela cresceu aqui também.Eu tentei, durante todos esses meses, a tranquilizar. Explicando que era minha primeira candidatura e que eu sequer tinha ocupado