CAPÍTULO 2.3

- Sem mais vinho pra mim, então?

- Ok. Sem mais vinho. Eu não saberia o que fazer com você se tomar mais um gole. Talvez você acabe com a festa e soque a cara do dono da casa.

- Eu não faria isso com o seu irmão. Ele demitiria a minha amiga.

- Eu estava falando de mim.

- Essa festa é sua, então?

- Não. Mas a casa é.

 - Oh! Então eu realmente te insultei.

- Eu só a uso de vez em quando. Fico mais tempo na Toscana - Ele tomou mais um pouco de vinho e virou o corpo em minha direção. Apoiando a sua mão esquerda no encosto do banco e a perna no espaço ao meu lado – E quanto a você? O que você faz?

- Bem, quando eu não estou insultando as pessoas eu costumo escrever alguns artigos para alguns jornais e revistas. Ah, e também blogs.

- Interessante. Sobre o que você escreve?

- Um pouco de tudo.

- Por exemplo...?

- Como eu disse, um pouco de tudo. Mas gosto de falar sobre arte e também sobre política. Por falar nisso, sua casa é uma obra de arte. Eu já mencionei isso?

- Sim. Isso foi um pouco antes de me insultar.

- Oddio! Você não vai me deixar esquecer isso, não é? Por que está me torturando?

Matteo se curvou e colocou a taça no chão. Em seguida, ergueu a mão e tocou meu rosto. O seu toque era quente sobre a minha pele e eu parei de respirar nesse momento – Por que eu adoro esse tom cor-de-rosa que as suas bochechas exibem quando fica envergonhada – Seus olhos me sondavam intimamente e eu podia jurar que ele via a minha alma nesse instante – ele aproximou seu rosto do meu – respire – ele disse quando a sua boca estava a apenas alguns centímetros de distância da minha. E quando ele aproximou mais um pouco e seus lábios finalmente encostaram-se aos meus eu estremeci com o contato e provei o sabor requintado do vinho em sua língua. Foram apenas alguns segundos, mas pareceu bem mais. Como se o tempo tivesse parado.

Mas ele se afastou de repente e eu relutei um pouco em abrir meus olhos com medo que a sensação de prazer indescritível que atravessava todo o meu corpo se fosse, era como se meu corpo estivesse adormecido por um longo tempo e houvesse despertado. Mas eventualmente eu abri os olhos e a sensação, de fato, se foi. Em seus olhos havia dor. Uma dor que não parecia estar lá há alguns instantes. Uma dor que era carregada demais para um par de olhos tão belos e um sorriso tão radiante. – Eu sinto muito – ele murmurou – Não foi muito educado da minha parte. Eu não sei por que eu...

- Tutto a posto. – Sussurei – Vamos esquecer isso. Eu não estou no meu juízo perfeito esta noite.

- Ma che dici?(O que você está dizendo?) Quer dizer que se você estivesse em seu juízo perfeito jamais me beijaria? – seu semblante estava mais leve. Brincalhão.

Eu ri – Não foi isso que eu quis dizer. Você me entendeu – eu disse em falsa repreensão. Eu fiquei de pé rápido demais e senti tudo girar a minha volta. Braços fortes me seguraram e eu me vi pressionada contra uma parede de músculos – Eu estou encerrando a noite – murmurei contra o tecido do seu smoking elegante e aspirei profunda e lentamente o seu cheiro. Um toque amadeirado em sua essência. Um cheiro divino. Apesar do meu anúncio de estar indo embora, ele não me soltou. Eu ergui minha cabeça, lutando para me afastar do seu peito e encontrei o par de olhos amendoados fixos em mim.

Ele fechou os olhos momentaneamente enquanto murmurava suas desculpas - Scusa – Em seguida, cobriu meus lábios com os seus. Mas desta vez foi diferente. Não foi suave, não foi incerto. Foi intenso, necessitado e longo. Seus dedos estavam entre os fios dos meus cabelos me mantendo firme contra os seus lábios, enquanto sua outra mão queimava como brasa na base das minhas costas. Durante toda a minha vida eu me senti um peixe fora d’água onde quer que eu estivesse, mas nesse momento, aqui, eu me sentia em casa. A sensação de pertencimento era gritante e se qualquer pessoa me tomasse em seus braços como este homem fez, eu me sentiria desconfortável, mas com Matteo era diferente e saber disso me intrigava. Quando ele se afastou eu estava sem fôlego.

- Eu... – ele começou a dizer, mas eu interrompi.

- Já sei. Você sente muito – De alguma maneira, ouvi-lo dizer isso da primeira vez me incomodou. Mesmo sabendo que ele apenas não queria ser rude. Mesmo sabendo que ele estava se desculpando por me beijar sem o meu consentimento, tendo acabado de me conhecer, incomodava-me. Suas sobrancelhas estavam encolhidas. Seu rosto estava confuso. – Eu estou indo embora.

- Meu motorista vai te levar em segurança até a sua casa.

- Não é necessário – eu disse e comecei a me distanciar, mas sua mão segurou firme o meu braço.

- Eu insisto. Não vou deixar você ir sozinha a esta hora.

Eu queria recusar. Mas a verdade é que eu estava tonta e não queria ter que esperar um táxi em frente à mansão – Tudo bem. Eu só preciso avisar a minha amiga.

- Vou com você – ele disse e me seguiu para dentro. Enquanto eu caminhava, sentia sua mão espalmada na parte inferior das minhas costas. Eu encontrei o cabelo loiro de Penélope na multidão. Apesar de ela ser pequena com seus 1,56, ela estava em um lugar que parecia atrair a atenção de todos. Logo eu descobriria o porquê. Um homem alto, muito bem vestido, com cabelos castanhos bem cortados e exibindo belos olhos verdes estava ao lado de Penélope e, após dar mais dois passos em sua direção, eu vi que Antonella estava no grupo. Pela semelhança, eu pude deduzir que este homem era o Mazza que eu faltava conhecer e eu quis correr de volta para o jardim nesse instante, mas a mão firme atrás de mim me mantinha caminhando.

- Matteo, onde você esteve? – o homem perguntou, mas, antes que Matteo pudesse responder, Penélope notou a minha presença.

- Giovanna, eu estava preocupada com você. Pensei que tivesse ido embora sem falar comigo. Você tem algumas chamadas não atendidas em seu aparelho.

- Eu sinto muito. Eu não ouvi chamar. Eu vim apenas me despedir.

- Não vai nos apresentar? – Anthony questionou. Mas eu não pude dizer se ele estava se dirigindo a Matteo ou a Penélope.

Penélope avocou a missão de fazer as apresentações – Esta é Giovanna. Minha amiga. Giovanna este é Antony Mazza.

Matteo concluiu – Nos conhecemos no jardim central – Ele encolheu os ombros e de alguma maneira ele parecia culpado – Antonella também já a conheceu – ele disse como se estivesse se justificando. Isso só ficava pior a cada minuto. Até pra mim que não era um exemplo de pessoa sociável sabia que não havia necessidade de se justificar por ter acabado de conhecer alguém. Conhecer alguém não era um crime afinal.

- É um prazer conhece-lo Sr. Mazza – eu disse quando aceitei a mão que ele estendeu.

Ele deu um sorriso tão radiante quanto o que o seu irmão me dera mais cedo – Chame-me de Antony, por favor – e pela expressão chocada de Penélope eu podia dizer que isso não era o seu comportamento normal.

- É uma pena que vá embora tão cedo – Antonella falou – Eu realmente gostaria de ter a oportunidade de conversar mais com você. Matteo te manteve escondida naquele jardim.

- Bem, eu adoraria. Quem sabe da próxima vez. Foi realmente um prazer conhecer a todos. É uma bela festa. Obrigada.

- Você é bem-vinda – Anthony disse com um olhar atento estudando o meu comportamento e o de Matteo. Eu sabia que estava corando, por que meu rosto simplesmente queimava sob o seu escrutínio. Eu queria sumir dali.

Eu dei um abraço em Penélope e ela me deu aquele olhar que diz: Precisamos conversar. E, murmurando um até logo, eu praticamente corri pra fora da mansão.

. Só quando eu fui parada por dois braços fortes, é que me dei conta de que Matteo estava me seguindo – Ei, Devagar. Eu vou levar você até a saída lateral, onde Martinelli estará a sua espera – eu apenas acenei concordando. – Você está bem?

- Sim.

- Tem certeza? – ele insistiu.

- Sim. Eu estou bem. Obrigada.

Nós contornamos a mansão e quando chegamos a uma imponente garagem na lateral da mansão, Matteo segurou a minha mão me forçando a parar e olhar para ele – Giovanna, eu gostei de ter conhecido você esta noite. Se você não tivesse aparecido, teria sido uma noite solitária e difícil.

- Se eu não tivesse aparecido, quem teria insultado você, a sua família e a sua casa? – Eu brinquei para aliviar o clima. Ele riu então ficou sério de repente. Seus olhos se fixaram na minha boca, não sei se relembrando o beijo ou desejando beijar-me de novo.

- Giovanna, eu não devia ter beijado você – vergonha me tomou e eu puxei a minha mão da sua e baixei meus olhos para os meus pés – Não me entenda mal. Eu... esse beijo mexeu comigo como eu jamais pensei que poderia. Mas eu não estou... pronto. Nunca estarei novamente. É... complicado.

- Não se preocupe. Estamos em mundo totalmente diferentes. Se não fosse pela insistência da minha amiga, nós jamais teríamos nos conhecido. Então você não vai me ver de novo.

- É isso – ele apontou com uma pequena dose de raiva – eu devia estar aliviado por ouvir isso, mas eu não estou. Droga – em um instante ele praguejava e no outro eu estava pressionada contra a parede da garagem provando a sua boca, completamente sem ação, apenas sendo guiada pelos golpes da sua língua. Meu corpo todo tremia como se o prazer que se formava dentro de mim fosse grande demais para caber no meu interior. Ele não parecia estar se sentindo de outra forma. Eu podia sentir sua dureza pressionada na parte inferior da minha barriga. Eu sentia cada pulsar. Sua mão deslizou pelo meu corpo, roçando de leve a lateral do meu seio. Eu estremeci de prazer. Ninguém nunca me tocou assim. Nunca. E por mais que eu imaginasse, eu não tinha ideia do quanto isso era bom. Nenhuma divagação chegou perto da realidade. Então ele se afastou repentinamente e começou a andar de um lado para o outro com as mãos deslizando freneticamente pelos cabelos castanhos, cada vez mais bagunçados – Martinelli – ele gritou e um homem apareceu na entrada da garagem – Por favor, leve a Senhora Giovanna para casa.

- Sim, senhor – O homem correu para dentro da garagem para retirar o carro enquanto eu continuava na parede da garagem me esforçando para respirar.

- Giovanna... – Ele começou, mas eu o interrompi.

- Dai, basta!(Vai, basta) – Eu me afastei da parede e consegui me sustentar sobre minhas próprias pernas apesar da tremedeira que percorria o meu corpo. – Se você disser que sente muito mais uma vez eu não vou suportar. É ofensivo. Apenas vá. – Ele travou o seu olhar no meu e parecia resistir em voltar para dentro. Para meu total alívio uma limusine parou ao meu lado e ele abriu a porta para que eu entrasse. Eu entrei sem hesitar – Adeus, Matteo.

- Arrivederci, Giovanna.

Eu estava em choque. Uma lágrima deslizou pelo meu rosto e eu só podia imaginar que era pela humilhação à qual ele havia me submetido. Beijar-me daquela maneira por três vezes e se desculpar por todas elas. Como se fosse um crime beijar alguém como eu. E isso por que eu estou no meu melhor. Estou produzida. Agora imagine se ele me visse com um coque desgrenhado no alto da cabeça com um lápis enfiado para prendê-lo e uma camiseta desbotada com gola esgarçada e uma calça de yoga. Ele iria se sentir um completo idiota.

Uma voz metálica soou dentro do veículo, como num interfone – Senhorita, para onde devo leva-la? – Eu disse o endereço, mas ele não respondeu. Quando ele falou novamente eu sabia que ele não tinha ouvido – Mantenha pressionado o botão vermelho à sua direita, se desejar falar comigo. Se quiser posso apenas dar uma volta até que esteja pronta.

Eu apertei o botão e informei o meu endereço. Eu não percebi que havíamos chegado até que o motorista estava de pé, do lado de fora da limusine, com a porta aberta pra mim e a mão estendida para me ajudar a sair.

- Obrigada – eu disse.

- Foi um prazer senhora.

Eu praticamente corri para dentro do meu prédio e subi as escadas até o primeiro andar onde ficava o meu apartamento. Eu moro em um prédio antigo, datado do século dezenove. Os apartamentos são espaçosos e o nosso é decorado em contraste com o exterior: os móveis são modernos, de design limpos, bem minimalista. Assim que me vi dentro do apartamento eu fechei a porta e caminhei pesarosa para o meu quarto. Sem tirar o belo vestido, eu me joguei na cama e as lágrimas apenas deslizaram pelo meu rosto. Eu chorei. Por mais magoada que eu estivesse com a sua rejeição, ainda não era isso que estava me incomodando. Eu sentia o peito carregado com a dor da perda. Parece ridículo, eu sei, mas eu não podia evitar. Eu sentia como se tivesse segurando em minhas mãos algo precioso. Algo que eu nunca tive e de repente me vi desejando manter. Apenas por alguns instantes eu desejei como nunca desejei outra coisa e no instante seguinte eu havia perdido.

Eventualmente, eu me repreendi. Essa não sou eu. Eu sequer conheço aquele homem. Eu apenas fui apresentada a ele. Tudo bem que eu tive um papo agradável, tudo bem que ele foi gentil, tudo bem que ele me beijou três vezes e foi a melhor coisa que eu já experimentei na vida, mas só foi isso: um beijo. Tenho certeza que ele tem sessões “beijoqueiras” pelo menos uma vez por noite com mulheres diferente. Dane-se! Preciso tirar isso da minha cabeça.

Determinada. Eu me levantei e tirei o vestido com cuidado. Pendurando-o na porta do meu closet. Vergonhosamente eu não tinha um demaquilante. Absurdo! Eu sei. Mas o único que eu tive no passado perdeu a validade sem que eu usasse mais de três vezes. Fiz uma nota mental de comprar um no dia seguinte e fui até o quarto de Penny para pegar um pouco do dela. Usei lá mesmo e voltei para o meu quarto. Um bom banho e um pijama aquecido depois e eu me sentia... a mesma merda. Só que limpa.

Eu também estava exausta e o vinho ainda estava claramente turvando minha mente. Deitei-me entre as cobertas e adormeci.

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