No dia seguinte, eu saí de casa a caminho da cafeteria. Eu me sentei em meu lugar predileto e pedi o de sempre. Enquanto comia, observava tudo a minha volta. A mulher com pinta de executiva estava sozinha. O rapaz que costumava acompanhá-la não estava com ela e eu me perguntava se isso era um fim. Eu sempre achei que eles não combinavam e não era apenas as roupas, era tudo: o jeito, o gosto... mas então eu me perguntei o que isso dizia sobre o seu relacionamento. Tirar conclusões era o mal da humanidade. E daí que ele não andasse com um terno caro para fazer par com ela, Deus sabe o quanto ele poderia ser bom pra ela mesmo com seus jeans surrados e sua pinta de bad boy. Deus sabe o quanto ele poderia ser um companheiro, amigo, amante, dedicado e prestativo. Mas então vinha eu e julgava o que era o seu relacionamento, baseada na sua roupa ou no fato dele parecer descompromissado e tomar um café “nada a ver” com o dela. Isso e a conversa que eu tive com Pain na noite passada me deram algo sobre o que pensar. E eu queria escrever sobre isso, ainda que, no momento, eu não veja como isso tem a ver com a minha história atual. Mas isso era outra história.
Dois dias depois, eu estava sentada no lugar de sempre na mesma cafeteria, digitando destemidamente quando a porta do café se abriu e um par de olhos amendoados conhecidos entrou. Eu acreditava que eu jamais os veria novamente, mas aqui estavam eles e estavam direcionados para mim. Apesar de estar em choque, eu fechei abruptamente o meu notebook quando ele estava a apenas dois passos da minha mesa – Giovanna – ele disse como forma de cumprimento – Posso? – perguntou apontando para a cadeira ao meu lado. Como eu não respondi, ele apenas se sentou. A garçonete, que estava mapeando seus movimentos desde o momento que ele apontou na entrada se aproximou e ofereceu o cardápio. Ele pediu um cappuccino e ela se afastou para buscar. Eu aproveitei esse momento para encontrar a minha voz.
- Matteo? O que você está fazendo aqui. Não, deixe-me adivinhar, veio dizer que sente muito – Eu disse e imediatamente me arrependi. Essa não era eu falando. Eu não era assim. Eu era educada com as pessoas e perdoava muito facilmente. Não guardava mágoas e nem exibia uma boca inteligente. Eu evitava discussões desnecessárias e era da paz.
- Touché! Eu mereci essa. Mas você tem razão, eu vim me desculpar com você pela forma como eu me comportei.
- Realmente, beijar uma mulher como eu deve ter sido terrível – eu ironizei. Mas ele não riu. Em troca, ele aceitou o cappuccino que a garçonete lhe ofereceu e depois de tomar um gole e meditar um pouco ele começou.
- Perdi minha esposa a pouco mais de dois anos e tenho tido dificuldade em aceitar isso. Você foi a única mulher que eu beijei em cinco anos. Os três que estive com ela e os dois desde que ela partiu. Eu... não me sinto preparado para ter qualquer tipo de relacionamento com ninguém e, sinceramente, acho que nunca estarei. Eu apenas... reagi a você de uma maneira inesperada. Eu me desculpei muitas vezes com você, mas também com ela. No fundo era com ela que eu estava me desculpando por traí-la. Eu sei que é... ridículo, uma vez que ela se foi. Mas é assim que eu me sinto.
Ele despejou tudo e então era minha vez de me desculpar – Scusa. Eu... não tinha ideia. Acho que eu tenho o dom de cometer gafes quando eu estou com você.
Ele sorriu – tudo bem. Acho que depois que você me chamou de arrogante eu posso esperar qualquer coisa de você – Então eu sorri e o clima estava leve – tinha me esquecido de como você é bela quando enrubesce desse jeito.
Eu tentei afastar o assunto – Como você me achou aqui?
- Eu fui até a sua casa nos últimos dias, mas não tive coragem de falar com você. Então eu te segui até aqui. O que você faz aqui todos os dias?
- Eu gosto daqui. Às vezes em casa eu fico... sozinha demais. Gosto de ter pessoas em volta às vezes. De preferência quando elas não estão interagindo comigo.
- Você é muito tímida... – ele murmurou, mais como uma constatação do que qualquer outra coisa.
- Sim. Eu sempre fui tímida. Isso sempre foi um obstáculo na minha vida. Confesso que com você eu me sinto mais à vontade do que com qualquer outra pessoa em tão pouco tempo. Vimo-nos uma única vez e eu sinto como se te conhecesse a muito tempo.
- Também me sinto assim. Talvez possamos ser... amigos. Gosto de conversar com você. Dá-me algo mais sobre o que pensar. Você não me olha daquele jeito que meus irmãos fazem.
- Que jeito.
- Pena... Eles me olham com pena e vivem me empurrando para fazer coisas que eu não quero. Eu entendo de certa forma, mas eu não posso mais lidar com isso. Eu te devo uma, aliás.
Eu cruzei os braços e me encostei, agora um pouco mais relaxada, na cadeira – deve?
- Sim. De algum modo eles me encheram menos o saco ao nos ver juntos. Eu sei que não é legal o que vou dizer, mas foi bom não ter ninguém andando atrás de mim como se eu fosse desabar a qualquer momento.
- Talvez você devesse andar menos como se fosse desabar...
- Mais fácil falar do que fazer.
- Eu sei.
- Então, eu pensei que podíamos sair. Fazer alguma coisa juntos. Um jantar, um teatro... qualquer coisa do tipo. Só conversar um pouco.
Eu parei pra pensar sobre isso. Sendo sincera, eu queria cada minuto com ele. Eu gostava de como eu me sentia perto dele, a conversa simplesmente fluía e o papo era bom. Ele era divertido, apesar do que pensam os seus irmãos. Mas, honestamente, isso ia dar merda. Qualquer pessoa com um pingo de juízo teria recusado. Estava na cara que eu iria me apaixonar. Mas, então, eu queria isso. Com certeza eu não sabia o que estava fazendo, mas eu queria sentir alguma coisa. Eu estava cansada de olhar pela janela enquanto as pessoas se arriscavam e viviam as suas vidas. A pergunta que eu me fiz é: O que pode acontecer de pior? Eu poderia me apaixonar por ele, podia aproveitar um pouco do que ele quisesse partilhar comigo, então, um belo dia, ele iria dar um basta e eu choraria uma semana e depois seguiria a minha vida. Ponto final. Mas e se eu nunca conseguir seguir em frente? Embora, eu não estou indo a lugar algum agora mesmo. Era como se o bem e o mal estivessem debatendo as possibilidades nos meus ouvidos. Eu estava confusa – Eu não acho que seria uma boa ideia – consegui dizer, finalmente.
- Olha, sem compromisso. Apenas um jantar. Mais nada.
É claro que a decisão já estava tomada no instante em que ele passou por aquela porta. Eu apenas não sabia disso. O que eu estava fazendo não era resistir. Era apenas buscar os argumentos necessários para justificar o meu sim. Eu estava completamente seduzida e nem sequer sabia disso então.
- Um jantar.
- Pego você na sexta-feira às 20h00min. Eu tenho uma reunião em dez minutos. Obrigado por me perdoar pelo meu mau comportamento da semana passada e, também, por aceitar o meu convite pra jantar. É uma maneira de me redimir, além de você ser uma companhia agradável.
Eu apenas acenei com a cabeça, ainda incerta. Enquanto ele ficava de pé, em seguida se curvava e beijava a minha testa castamente. Foi apenas o tempo de ele estar fora da cafeteria para eu murmurar um: “Que merda!”
Sexta-feira, 08 de Maio de 2015HaroldEla estava uma pilha, o que é compreensível. Eu mesmo não estou assim tão tranquilo, embora não deixe transparecer. Mesmo tendo uma ideia do resultado, eu insisti para que esperássemos o resultado geral para fazer qualquer pronunciamento. O que ela concordou.Deus! Essa mulher me surpreendeu a cada volta do processo eleitoral nos últimos meses. Ela veio para Winchester comigo e nós passamos mais tempo aqui do que em Londres. Ela hoje é praticamente parte da cidade. Ela conheceu cada morador, conversou com eles, conheceu suas histórias e simplesmente os conquistou.Eu já era uma figura conhecida em Winchester por causa dos meus pais, que são daqui, pelo fato de eu ter crescido aqui e convivido com a maioria dos moradores. Mas vendo como ela se portava no meio dessas pessoas eu poderia dizer que ela cresceu aqui também.Eu tentei, durante todos esses meses, a tranquilizar. Explicando que era minha primeira candidatura e que eu sequer tinha ocupado
Felizmente o nosso jantar chegou no momento exato minimizando o mal-estar. Um homem perfeitamente paramentado em roupas de chef apareceu acompanhando o jantar. Ele deu um sorriso sincero em direção a Matteo. Parecia realmente feliz em vê-lo e ao mesmo tempo incrédulo – Meu amigo, eu estou feliz em vê-lo aqui depois de tanto tempo. Quando Martino me disse que você estava vindo eu não acreditei. Tinha que ver eu mesmo. – ele olhou pra mim, seu olhar especulando. Matteo ficou de pé no ato e os dois se abraçaram ligeiramente.- É bom ver você Gabriel. Deixe-me apresentar Giovanna, uma amiga. Giovanna este é Gabriel, um grande amigo e chef do restaurante. Se você não gostar da comida já sabe a quem deve culpar – Matteo brincou tentando descontrair. Gabriel me cumprimentou, mas ele parecia ainda não acreditar no que via. Ele olhava para Matteo e depois pra mim e era como se ele estivesse diante de algo estranho. Muito estranho.Por fim, ele pareceu recobrar a compostura – É um prazer conhec
Matteo “Que merda eu estou fazendo?” Era o que eu me perguntava enquanto assistia Giovanna dormir com a cabeça batendo no vidro lateral do carro. Deus! Como ela é linda. Realmente linda, doce, inteligente, com um toque de inocência encantadora e o mais interessante é que ela não tem a menor ideia disso. Mas quanto mais eu percebia essas qualidades nela, mas culpado eu me sentia. Eu não podia negar que me estava atraído por ela fisicamente e que estava encantado com o seu jeito, mas eu não acho que serei capaz de entregar meu coração a outra mulher. Não. Isso não é uma possibilidade. Eu nem mesmo acredito que poderia entregar meu corpo. Eu não estive com alguém desde muito tempo. Mesmo antes que Anabela se fosse, ela não estava em condições de ter relações sexuais e eu tampouco poderia pensar nisso. Tudo o que eu conseguia pensar naquela época era no quanto eu queria que ela ficasse, no quanto doía o medo, a insegurança. No quanto a vida era injusta e no quanto ela estava s
Giovanna Meus olhos ainda estavam fechados, mas eu estava acordada. Uma mão subia e descia pelo meu braço tão suavemente que me fez questionar se isso estava mesmo acontecendo. Eu podia sentir sua respiração na minha cabeça e meu corpo subia e descia no ritmo do seu peito. Eu sentia o batucar do seu coração e o seu cheiro. Não tinha dúvida de onde eu estava, sabia que estava nos braços de Matteo, apesar de não ter estado aqui tantas vezes assim. Apenas três breves momentos enquanto ele me assaltava com seus beijos, mas eu reconhecia. Seu cheiro, seu toque... Eu tentei controlar a minha ansiedade por alguns instantes, pois não queria que aquele acabasse. Porém, a parte racional em mim me disse que eu deveria terminar isso o quanto antes. Eu ignorei essa parte racional dos infernos, claro. Mesmo sabendo das consequências. Mesmo prevendo o mais distante que um relacionamento com este homem poderia me levar. Eu olhava além e o que eu via não era bom. Ao final dessa história eu
Matteo saiu do veículo e me ajudou a sair do carro. Eu não pude deixar de reparar nos seus modos. É difícil nos deparar com homens com tais maneiras nos dias atuais. Ônus da modernidade. Eu apreciei e agradeci a gentileza. Em seguida, retirei minha mão do seu contato e me afastei dele em alguns passos curtos. Olhando em volta, em seguida para o céu, permaneci muda.- Giovanna?- É perfeito, Matteo. Eu estava olhando o céu durante o percurso através do vidro do carro e estava bastante impressionada. No entanto, isso... – Apontei para o céu – é simplesmente incrível. Acho que as luzes da cidade ou a nossa pressa constante nos impede de admirar o céu com mais frequência. Agora aqui, no meio de toda essa natureza, eu me pergunto como pode alguém duvidar da existência de um Deus diante de tamanha beleza. É a mesma sensação que tenho quando estou de frente para o mar. Uma coisa tão perfeita e grandiosa não pode ser obra do acaso. Não mesmo. Eu me recuso a pensar de outro modo.- Então talve
Tirei a roupa e peguei meu laptop na bolsa. Apesar de exausta, não havia maneira de eu conseguir dormir nesse momento. Não depois de tudo. Talvez trabalhar um pouco trouxesse o sono de volta. Eu subi na cama enorme de madeira trabalhada e me contive de passar a mão em cada parte divinamente esculpida. Nos primeiros quinze minutos eu me distraí respondendo algumas mensagens enviadas para “Gi” até que eu percebi que “Pain” havia ficado on line. Surpreendi-me com isso por que já era muito tarde e logo amanheceria.“Acordada?” Ele começou.“Sim. Mas achei que estaria sozinha por aqui”.“Não. Você não está sozinha. Mais alguém não consegue dormir.”“Quer falar sobre o que te incomoda?”“Não sei” Ele disse simplesmente e eu não falei de novo. Dei-lhe algum tempo para decidir. E deu certo “Alguma vez você quis tanto algo mesmo sabendo que é errado?”“Estamos falando de algo ou de alguém?” perguntei sem lhe responder efetivamente.“Garota esperta. Estamos falando de alguém.”“Por que você não
Eu desci para o café da manhã por volta das oito horas. Fiquei longas horas pensando sobre a possibilidade de Teo e Matteo serem a mesma pessoa antes de adormecer e me sentia extremamente cansada nesta manhã. Apesar de empolgada por conhecer a propriedade, eu estava igualmente apreensiva sobre o Matteo que encontraria esta manhã. Nossa despedida não foi das melhores a noite passada e eu receava tanto quanto almejava por esse encontro. Era incrível como tudo era confuso entre nós. Desde a forma como nos conhecemos até os eventos que me colocaram aqui neste lugar.Ao chegar ao piso inferior parei, indecisa sobre por qual caminho seguir. Eu sabia que, se seguisse para a direita chegaria até a cozinha, onde estive a noite passada. Após titubear um pouco, segui por esse caminho. Estava bem perto do meu destino quando ouvi duas vozes femininas que conversavam animadamente. Eu parei por um instante na entrada, observando a cena. Uma mulher mais jovem, a qual eu supus ser Guilhermina, tendo e
Nós terminamos de comer e Matteo pegou no bolso de trás da sua calça um tubo de protetor solar. Foi um momento íntimo, apesar inocência do gesto, quando ele passou o protetor no meu rosto e nos meus braços. Em seguida, nós descemos as escadas que dava acesso ao terreno onde havia uma picape parada a nossa espera. Um homem se aproximou e nos entregou chapéus, um de palha com aba larga que protegia muito bem do sol o meu rosto e parte dos meus ombros e a Matteo foi dado um boné branco. Nós entramos no veículo e nos dirigimos à parte de trás da mansão e depois seguimos em frente em direção aos vinhedos. A casa ficava em uma parte alta da extensa propriedade e dava pra ver muito à nossa volta. Mesmo assim, eu não podia dizer onde ficavam os limites da vinícola. Tudo que eu via era o verde dos vinhedos e montanhas. Matteo estacionou e nós caminhamos por diversos corredores de videiras enquanto ele me explicava todo o processo de preparo da terra, plantio, colheita, separação das uvas que s