CAPÍTULO 3.2

No dia seguinte, eu saí de casa a caminho da cafeteria. Eu me sentei em meu lugar predileto e pedi o de sempre. Enquanto comia, observava tudo a minha volta. A mulher com pinta de executiva estava sozinha. O rapaz que costumava acompanhá-la não estava com ela e eu me perguntava se isso era um fim. Eu sempre achei que eles não combinavam e não era apenas as roupas, era tudo: o jeito, o gosto... mas então eu me perguntei o que isso dizia sobre o seu relacionamento. Tirar conclusões era o mal da humanidade. E daí que ele não andasse com um terno caro para fazer par com ela, Deus sabe o quanto ele poderia ser bom pra ela mesmo com seus jeans surrados e sua pinta de bad boy. Deus sabe o quanto ele poderia ser um companheiro, amigo, amante, dedicado e prestativo. Mas então vinha eu e julgava o que era o seu relacionamento, baseada na sua roupa ou no fato dele parecer descompromissado e tomar um café “nada a ver” com o dela. Isso e a conversa que eu tive com Pain na noite passada me deram algo sobre o que pensar. E eu queria escrever sobre isso, ainda que, no momento, eu não veja como isso tem a ver com a minha história atual. Mas isso era outra história.

Dois dias depois, eu estava sentada no lugar de sempre na mesma cafeteria, digitando destemidamente quando a porta do café se abriu e um par de olhos amendoados conhecidos entrou. Eu acreditava que eu jamais os veria novamente, mas aqui estavam eles e estavam direcionados para mim. Apesar de estar em choque, eu fechei abruptamente o meu notebook quando ele estava a apenas dois passos da minha mesa – Giovanna – ele disse como forma de cumprimento – Posso? – perguntou apontando para a cadeira ao meu lado. Como eu não respondi, ele apenas se sentou. A garçonete, que estava mapeando seus movimentos desde o momento que ele apontou na entrada se aproximou e ofereceu o cardápio. Ele pediu um cappuccino e ela se afastou para buscar. Eu aproveitei esse momento para encontrar a minha voz.

- Matteo? O que você está fazendo aqui. Não, deixe-me adivinhar, veio dizer que sente muito – Eu disse e imediatamente me arrependi. Essa não era eu falando. Eu não era assim. Eu era educada com as pessoas e perdoava muito facilmente. Não guardava mágoas e nem exibia uma boca inteligente. Eu evitava discussões desnecessárias e era da paz.

- Touché! Eu mereci essa. Mas você tem razão, eu vim me desculpar com você pela forma como eu me comportei.

- Realmente, beijar uma mulher como eu deve ter sido terrível – eu ironizei. Mas ele não riu. Em troca, ele aceitou o cappuccino que a garçonete lhe ofereceu e depois de tomar um gole e meditar um pouco ele começou.

- Perdi minha esposa a pouco mais de dois anos e tenho tido dificuldade em aceitar isso. Você foi a única mulher que eu beijei em cinco anos. Os três que estive com ela e os dois desde que ela partiu. Eu... não me sinto preparado para ter qualquer tipo de relacionamento com ninguém e, sinceramente, acho que nunca estarei. Eu apenas... reagi a você de uma maneira inesperada. Eu me desculpei muitas vezes com você, mas também com ela. No fundo era com ela que eu estava me desculpando por traí-la. Eu sei que é... ridículo, uma vez que ela se foi. Mas é assim que eu me sinto.

Ele despejou tudo e então era minha vez de me desculpar – Scusa. Eu... não tinha ideia. Acho que eu tenho o dom de cometer gafes quando eu estou com você.

Ele sorriu – tudo bem. Acho que depois que você me chamou de arrogante eu posso esperar qualquer coisa de você – Então eu sorri e o clima estava leve – tinha me esquecido de como você é bela quando enrubesce desse jeito.

Eu tentei afastar o assunto – Como você me achou aqui?

- Eu fui até a sua casa nos últimos dias, mas não tive coragem de falar com você. Então eu te segui até aqui. O que você faz aqui todos os dias?

- Eu gosto daqui. Às vezes em casa eu fico... sozinha demais. Gosto de ter pessoas em volta às vezes. De preferência quando elas não estão interagindo comigo.

- Você é muito tímida... – ele murmurou, mais como uma constatação do que qualquer outra coisa.

- Sim. Eu sempre fui tímida. Isso sempre foi um obstáculo na minha vida. Confesso que com você eu me sinto mais à vontade do que com qualquer outra pessoa em tão pouco tempo. Vimo-nos uma única vez e eu sinto como se te conhecesse a muito tempo.

- Também me sinto assim. Talvez possamos ser... amigos. Gosto de conversar com você. Dá-me algo mais sobre o que pensar. Você não me olha daquele jeito que meus irmãos fazem.

- Que jeito.

- Pena... Eles me olham com pena e vivem me empurrando para fazer coisas que eu não quero. Eu entendo de certa forma, mas eu não posso mais lidar com isso. Eu te devo uma, aliás.

Eu cruzei os braços e me encostei, agora um pouco mais relaxada, na cadeira – deve?

- Sim. De algum modo eles me encheram menos o saco ao nos ver juntos. Eu sei que não é legal o que vou dizer, mas foi bom não ter ninguém andando atrás de mim como se eu fosse desabar a qualquer momento.

- Talvez você devesse andar menos como se fosse desabar...

- Mais fácil falar do que fazer.

- Eu sei.

- Então, eu pensei que podíamos sair. Fazer alguma coisa juntos. Um jantar, um teatro... qualquer coisa do tipo. Só conversar um pouco.

Eu parei pra pensar sobre isso. Sendo sincera, eu queria cada minuto com ele. Eu gostava de como eu me sentia perto dele, a conversa simplesmente fluía e o papo era bom. Ele era divertido, apesar do que pensam os seus irmãos. Mas, honestamente, isso ia dar merda. Qualquer pessoa com um pingo de juízo teria recusado. Estava na cara que eu iria me apaixonar. Mas, então, eu queria isso. Com certeza eu não sabia o que estava fazendo, mas eu queria sentir alguma coisa. Eu estava cansada de olhar pela janela enquanto as pessoas se arriscavam e viviam as suas vidas. A pergunta que eu me fiz é: O que pode acontecer de pior? Eu poderia me apaixonar por ele, podia aproveitar um pouco do que ele quisesse partilhar comigo, então, um belo dia, ele iria dar um basta e eu choraria uma semana e depois seguiria a minha vida. Ponto final. Mas e se eu nunca conseguir seguir em frente? Embora, eu não estou indo a lugar algum agora mesmo. Era como se o bem e o mal estivessem debatendo as possibilidades nos meus ouvidos. Eu estava confusa – Eu não acho que seria uma boa ideia – consegui dizer, finalmente.

- Olha, sem compromisso. Apenas um jantar. Mais nada.

É claro que a decisão já estava tomada no instante em que ele passou por aquela porta. Eu apenas não sabia disso. O que eu estava fazendo não era resistir. Era apenas buscar os argumentos necessários para justificar o meu sim. Eu estava completamente seduzida e nem sequer sabia disso então.

- Um jantar.

- Pego você na sexta-feira às 20h00min. Eu tenho uma reunião em dez minutos. Obrigado por me perdoar pelo meu mau comportamento da semana passada e, também, por aceitar o meu convite pra jantar. É uma maneira de me redimir, além de você ser uma companhia agradável.

Eu apenas acenei com a cabeça, ainda incerta. Enquanto ele ficava de pé, em seguida se curvava e beijava a minha testa castamente. Foi apenas o tempo de ele estar fora da cafeteria para eu murmurar um: “Que merda!”

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