- Qual o seu problema com Antony? – Perguntei a Penny dois dias depois. A festa estava sendo um sucesso. Havia em torno de duas centenas de convidados, sendo que pelo menos trinta deles estavam hospedados na propriedade. Isso sem contar os familiares de Matteo e meus. Felizmente a casa era imensa e havia um anexo apenas para os hóspedes. A nossa família estava hospedada no prédio principal e eu estava adorando toda aquela movimentação. Embora meus pés estivessem me matando e Matteo aproveitasse cada pequena oportunidade para me fazer sentar.- O problema – ela arqueou as sobrancelhas e deu um olhar mortal na direção dele – é que ele é um idiota.- Mas você era louca para pegar esse contrato.- Sim, por que era grande, desafiador, uma excelente experiência para a minha empresa que está apenas começando e precisava de um cliente de prestígio com a Mazza telecom. Além do mais, pagava bem e eu sabia que podia fazê-lo. Mas eu não tinha ideia do quanto era difícil trabalhar com esse... hom
Matteo - Bom dia, pessoal. – Um bom dia coletivo soou na varanda. Apesar de a festa ter ido até tarde a noite passada, a maioria dos nossos familiares acordaram cedo.- Querido, onde está Giovanna? – mamma quis saber.- ainda dormindo, mamma.- Eu também dormia bastante quando estava grávida – A mãe de Giovanna contou – e também enjoava bastante. Para mim foi a fase mais complicada – Então ela começou a contar um pouco sobre a sua própria gestação.Eu me sentei na outra extremidade da mesa, já que o meu pai sentou-se na outra ponta. O clima era bastante animado. O cheiro de café fresco impregnava o ar misturando-se ao dos ovos mexidos, suco de laranja e outras delícias. Havia chovido, o que podia ser perfeitamente comprovado pelo cheiro de terra molhada e pelas gotas de chuva que ainda caíam do beiral. Eu não podia deixar de pensar no tempo que eu não reparava nessas coisas. Durante anos eu apenas trabalhei e me lamentei. Eu só conseguia enxergar o quanto a minha vida era
Enquanto meus irmãos e Penélope saíram para cavalgar, meus pais levaram os meus futuros sogros para um passeio pela vinícola. Embora eu adorasse fazer isso, eu adorava ainda mais, ficar com Giovanna. Sobretudo quando ela não está falando comigo. Quando todos saíram, ela se levantou, mexeu na pilha de correspondência, pegou um embrulho e entrou na casa sem dizer uma palavra. Eu esperei alguns minutos para que ela se acalmasse e só então fui atrás dela.O embrulho estava sobre a mesinha lateral e ela estava deitada de lado olhando para ele.- Oi – eu comecei, por que não sabia como agir quando ela estava assim. em regra, ela era calma, doce, nãos e irritava com facilidade. Eu não estava habituado a lidar com Giovanna temperamental.- Oi – ela respondeu secamente.- O que é isso?- Apenas um livro.- Você não vai abrir.- Mais tarde.Eu caminhei até a cama e sentei-me na beira da cama – Posso ver?Ela hesitou um pouco e eu imaginei que ela deveria estar com muita raiva para não querer fa
Bem, eu estava quebrada, mas iria juntar cada pequeno pedaço e ficaria forte para o meu filho – O carro está aí – ela anunciou. E pegou a minha bolsa que estava sobre a penteadeira e me entregou. Eu dei uma última olhada no meu reflexo no espelho e não me reconheci. Aquele rosto perfeitamente maquiado contrastava com a minha alma. Eu não escolhi nada, nem o vestido azul, nem sapatos prateados, nem o modo como meu cabelo estava arrumado em um penteado meio preso meio solto, nem a cor do lápis de delineava os meus olhos. Nada. Penélope, Lucy e Antonella juntas, que por sinal haviam se tornado boas amigas durante o período em que se revezavam para cuidar de mim, foram as únicas a escolher tudo. Quando Matteo deixou o seu quarto, no dia em que o mundo desabou sobre a minha cabeça, Tony o seguiu me deixando para trás com Penélope e Antonella. Eu não tinha energia para explicar tudo o que havia acontecido. Então, apenas peguei o novo livro que estava em cima da mesinha de cabeceira e mostr
Olhar o ir e vir das pessoas sempre me inspirava. Fazia com que as ideias borbulhassem. Embora, em outro momento, o silêncio me ajudasse a aperfeiçoar essas ideias. Antes eu achava que aquela cena típica, onde um escritor se sentava em um café, era clichê demais. Estereotipada, eu diria. Hoje vejo que tudo é uma questão de adaptação e que algumas coisas podem não te servir hoje e serem imprescindíveis amanhã. Pois bem, agora aquele café estava incorporado a minha rotina. Todos os dias pela manhã eu me dirigia até ele e me sentava no mesmo local, de onde tinha uma visão privilegiada de todo o lugar, bem como da rua. Eu gostava de imaginar o que cada uma dessas pessoas fazia ao longo do dia. Do que elas gostavam? Quem eram? Que tipo de vida elas levavam? Para quem era aquele copo extra de café com leite que a loira vestida com uma saia lápis e saltos de dez centímetros levava todos os dias? E o que aquela mulher com pinta de executiva viu naquele homem que se vestia e se comportava co
Mais tarde, eu estava na parte do vinho quando a porta se abriu e uma Penélope animada entrou. Quando ela chegava assim era algo para se preocupar porque ela tinha um plano. E, devo dizer, ela não costuma ser muito criativa sobre eles. Então eu poderia deduzi-los. Quase sempre terminava com ela me arrastando para algum lugar ou tentando me salvar de mim mesma, como ela costumava dizer.- Eu vou querer uma dessas - disse sem preâmbulo. Sinalizando para a minha taça.- Olá pra você também.- Olá, Giovanna. Tenho uma ótima notícia: Consegui a conta da Mazza.- Que boa notícia. Parabéns. - Eu enchi uma taça de vinho e deslizei por cima do balcão - Só me explique: Essa empresa Mazza a qual você se refere tem alguma coisa a ver com a Mazza Telecom?- A mesma. E você não devia estar me perguntando isso. Pelo menos, não se você esteve prestando atenção sobre o que eu falava nas últimas duas semanas.- Eu estava prestando atenção. Só queria ter certeza. E devo dizer: Isso é incrível.- Incrív
Eu passei o resto da semana com os nervos em frangalhos. Eu não acessei o facebook e nem o e-mail da “Gi”. E me dediquei a escrever meus artigos para o meu blog sobre arte. Não estive na minha cafeteria predileta em nenhum desses dias e nem escrevi sequer uma linha sobre o meu novo projeto literário. Eu recebi críticas boas e também algumas cruéis sobre os meus livros e eu posso viver com isso, mas as coisas que esse estranho falou me feriram na alma. Não foi uma crítica ao meu trabalho, foi uma crítica a mim como ser humano, como mulher e isso mexeu comigo de tal maneira que eu estou tendo dificuldades de lidar.- Você ainda está aí? - Eu estava deitada na cama, relendo um exemplar da Divina Comédia. – Você precisa correr, nós só temos duas horas para chegar à Mansão Mazza.- Penny, eu não vou a essa festa.- Por favor, eu estou contando com você.- Eu não serei uma boa companhia.- Você não tem que ser. Pode ficar parada e muda como uma estátua. Eu só quero que você esteja lá. Você
Caminhei com a minha taça de vinho por entre os presentes. Todos envolvidos em conversas amigáveis. Alguns trocaram olhares comigo e me deram alguns acenos, que eu correspondia timidamente. Logo que pude, segui no sentido oposto à entrada por um corredor. Uma porta tão imponente como a que eu entrei quando cheguei aqui me levou até uma saída para um belo jardim. Era como se a casa fosse um grande cubo e no centro um jardim foi aberto. Inúmeras janelas davam para o espaço, garantindo que os habitantes pudessem ter uma bela visão do lugar. Pequenos postes de iluminação em estilo antigo decoravam o jardim e bancos em ferro fundido na cor branca embelezavam dando uma atmosfera aconchegante. Eu não conseguia deixar de imaginar quantas pessoas se sentaram nesses bancos ao logos dos anos. Quantas histórias se passaram aqui? Quantos amores? Quantas separações? Uma grama bem cuidada cobria todo o jardim e trilhas de pedra possibilitavam uma caminhada sem maltratar a grama. Em um instante eu es