Eu passei o resto da semana com os nervos em frangalhos. Eu não acessei o f******k e nem o e-mail da “Gi”. E me dediquei a escrever meus artigos para o meu blog sobre arte. Não estive na minha cafeteria predileta em nenhum desses dias e nem escrevi sequer uma linha sobre o meu novo projeto literário. Eu recebi críticas boas e também algumas cruéis sobre os meus livros e eu posso viver com isso, mas as coisas que esse estranho falou me feriram na alma. Não foi uma crítica ao meu trabalho, foi uma crítica a mim como ser humano, como mulher e isso mexeu comigo de tal maneira que eu estou tendo dificuldades de lidar.
- Você ainda está aí? - Eu estava deitada na cama, relendo um exemplar da Divina Comédia. – Você precisa correr, nós só temos duas horas para chegar à Mansão Mazza.
- Penny, eu não vou a essa festa.
- Por favor, eu estou contando com você.
- Eu não serei uma boa companhia.
- Você não tem que ser. Pode ficar parada e muda como uma estátua. Eu só quero que você esteja lá. Você nunca vai a lugar nenhum, nunca faz nada para se divertir.
- Eu leio.
- Eu não acho que o seu príncipe encantado vai pular das páginas de um livro. Ou você vai busca-lo lá fora ou você vai morrer sozinha – Ok. Ela não tinha como acertar mais na mosca.
- Eu não estou procurando um homem – rebati.
- Eu sei. Eu também não estou. Mas se por acaso ele aparecer, não vai ser entre essas quatro paredes. Vamos lá, esqueça os homens. Apenas me faça companhia.
Eu sabia que eu não ia ganhar essa batalha – Tudo bem. Eu vou. Mas eu não vou demorar. Duas horas no máximo e eu estarei fora. Você pode ficar lá. Eu não me importo.
- Tudo bem, duas horas. Agora, mexa-se. Eu coloquei o vestido azul novo no seu guarda roupas.
- Penny, eu só experimentei ele por que você me disse que seria para você e você queria vê-lo vestido em alguém. Mas eu não poderia usar aquele vestido. Não tem nada nas costas e eu não acho que tenho seios suficientes para ficar bem com ele.
- Apenas vista – ela gritou enquanto se dirigia para o seu quarto para se arrumar. Ela havia passado a tarde em um spa fazendo tudo que ela acha que precisa para ficar bem. A verdade é que ela não precisava de nada disso. Ela é linda. Eu, porém, não sabia o que fazer com meu cabelo que estava quase sempre trançado e não tinha ideia de onde eu arrumaria coragem para desfilar com esse vestido. Era nu demais nas costas e os seios ficavam em evidência. Não tinha nenhum casaco que eu pudesse usar durante toda a festa. Um bolero, talvez. Resignada, eu fui até o meu banheiro e tomei um banho. Lavei os cabelos, mesmo sabendo que gastaria um bom tempo secando e não poderia fazer nada com ele de última hora a não ser deixa-lo solto. Mas isso era bom, afinal, ele poderia me ajudar a cobrir parte das minhas costas à mostra.
Eu não poderia colocar um sutiã por baixo, pois apareceria sem dúvidas e eu também não tinha nenhum daqueles adesivos que a maioria das mulheres usa.
Depois de secar meus cabelos, a mim restou apenas vestir o bendito vestido e me olhar no espelho. Estava nu demais. Deus do céu!
Quando Penny entrou no meu closet e viu minha cara de desgosto, ela trazia consigo um par de sapatos de saltos na cor preta e uma minúscula bolsa preta com strass azuis – Não faça essa cara. Você está linda. Basta colocar esses saltos e eu vou fazer uma bela maquiagem.
- Eu não gosto de maquiagem.
- Não se trata de gostar... tem que colocar um pouco de cor em seu rosto. Uma sombra azul turquesa, vai ficar excepcional. Eu prometo que vou colocar apenas um brilho labial e um pouco de rímel. Nada mais.
Eu sabia que não adiantava protestar. Ela já tinha tudo decidido, eu só precisava obedecer e daqui a duas horas eu estaria livre dela.
Meia-hora mais tarde, nós estávamos em um táxi a caminho da festa. A mansão Mazza não ficava muito distante de onde morávamos. Mas estava localizada no centro histórico de Milão, nas proximidades do Parco Sempione, um belo parque no estilo londrino intrinsecamente ligado à história do país. Em torno dele há prédios históricos belíssimos, como a biblioteca Sempione e o Castello Sforzesco.
Quando paramos em frente a uma bela Mansão do século XIX, eu senti meu coração parar uma batida. Eu já havia visto a mansão muitas vezes por fora. Porém, sendo uma amante da arte, eu não poderia deixar de me empolgar com a possibilidade de vê-la por dentro. Quantas obras de arte será que existiam ali dentro? Era o que eu me perguntava.
Havia carros luxuosíssimos parando na entrada da mansão. De dentro deles desciam toda a sorte de passageiros impressionantemente ricos. No final, eu fiquei feliz por Penélope ter comprado esse vestido pra mim. Eu não tenho vestidos como esse e não é por uma questão de preço. Eu apenas não estava habituada a tanto cetim e brilho. Minhas roupas são, em sua maioria, simples, confortáveis e funcionais. Nem sabia como andar sem tropeçar em tanto tecido.
Quando o táxi conseguiu parar no pátio central, onde os outros convidados estavam desembarcando, um homem bem vestido em um terno preto elegante, abriu a porta do táxi e nos deu as boas-vindas. Penélope lançou algumas notas para o motorista e nós descemos do carro.
Dirigimo-nos para a grande porta de madeira artisticamente trabalhada e entramos em um belo salão. Havia, como eu tinha previsto, verdadeiras relíquias nas paredes e, o próprio mobiliário era um verdadeiro tesouro. Se não fosse por essa quantidade expressiva de pessoas em volta eu me sentiria no paraíso.
Eu me senti mais desconfortável do que de costume. Homens e mulheres desfilavam deslumbrantes pelo salão e logo eu e Penélope estávamos com uma taça de vinho cada uma. Não pude deixar de ficar impressionada com a naturalidade que ela conseguia imprimir em cada passo e em cada gesto. Apenas eu sabia o quanto ela estava nervosa. Eu sabia que ela, assim como eu, não era de família abastada. Tivemos pais que nos deram o que precisávamos, mas nada se comparava ao que essa família e os seus convidados estavam acostumados. Mas ainda assim ela conseguia parecer natural depois de tudo. Enquanto eu me sentia como se tivesse uma melancia na cabeça.
Ela caminhou, quase que me arrastando, em direção a um pequeno grupo – Olá, pessoal. – Ela cumprimentou – Giovanna, você já conhece Benito – ela disse sinalizando para o rapaz a nossa direita. Na verdade eu não o conhecia de fato, mas poderia identificar seus gemidos se ele o fizesse agora. Eu sabia que ela era o único que frequentou o nosso apartamento algumas noites. Felizmente ele chegava depois que eu já estava no refúgio do meu quarto e saía antes que eu estivesse de pé – e esses são Isabel e Dino. Nós trocamos cumprimentos educados e logo a conversa começou a rolar solta entre eles. Todos estavam na equipe de Penny e o assunto em questão era sem dúvida sobre trabalho. Havia muita gente pelo salão. A música soava em um volume agradável, mas as conversas e os risinhos iam ficando cada vez mais altos à medida que o vinho e o champanhe circulavam.
Meia-hora depois eu já estava entediada, mas quando pensei em me despedir de Penny, eu me lembrei do que o estranho do f******k havia me dito: Você é uma mentira. Então eu queria ousar. Eu queria ser mais como as minhas personagens. Eu queria provar a mim mesma que eu podia contar a minha própria história e viver além das páginas de um livro.
- Eu vou dar uma volta pela mansão – avisei a Penny.
- Você não está fugindo, não é? Você nem sequer teve um vislumbre do Senhor Mazza.
- Não. Eu não estou fugindo. Apenas dando uma volta. Quero ver as obras de artes que tem por aqui. – expliquei. E, de certo modo, eu queria.
Caminhei com a minha taça de vinho por entre os presentes. Todos envolvidos em conversas amigáveis. Alguns trocaram olhares comigo e me deram alguns acenos, que eu correspondia timidamente. Logo que pude, segui no sentido oposto à entrada por um corredor. Uma porta tão imponente como a que eu entrei quando cheguei aqui me levou até uma saída para um belo jardim. Era como se a casa fosse um grande cubo e no centro um jardim foi aberto. Inúmeras janelas davam para o espaço, garantindo que os habitantes pudessem ter uma bela visão do lugar. Pequenos postes de iluminação em estilo antigo decoravam o jardim e bancos em ferro fundido na cor branca embelezavam dando uma atmosfera aconchegante. Eu não conseguia deixar de imaginar quantas pessoas se sentaram nesses bancos ao logos dos anos. Quantas histórias se passaram aqui? Quantos amores? Quantas separações? Uma grama bem cuidada cobria todo o jardim e trilhas de pedra possibilitavam uma caminhada sem maltratar a grama. Em um instante eu es
- Sem mais vinho pra mim, então?- Ok. Sem mais vinho. Eu não saberia o que fazer com você se tomar mais um gole. Talvez você acabe com a festa e soque a cara do dono da casa.- Eu não faria isso com o seu irmão. Ele demitiria a minha amiga.- Eu estava falando de mim.- Essa festa é sua, então?- Não. Mas a casa é. - Oh! Então eu realmente te insultei.- Eu só a uso de vez em quando. Fico mais tempo na Toscana - Ele tomou mais um pouco de vinho e virou o corpo em minha direção. Apoiando a sua mão esquerda no encosto do banco e a perna no espaço ao meu lado – E quanto a você? O que você faz?- Bem, quando eu não estou insultando as pessoas eu costumo escrever alguns artigos para alguns jornais e revistas. Ah, e também blogs.- Interessante. Sobre o que você escreve?- Um pouco de tudo.- Por exemplo...?- Como eu disse, um pouco de tudo. Mas gosto de falar sobre arte e também sobre política. Por falar nisso, sua casa é uma obra de arte. Eu já mencionei isso?- Sim. Isso foi um pouco
- Oddio! Você quase nunca sai de casa, mas quando faz... Minha nossa! Posso imaginar por que você vive confinada – Penélope exclamou depois de espremer cada detalhe da noite passada – Eu tenho que fazer milagre apenas para conseguir que aquele carrasco do Antony Mazza me dê um bom dia e então você apenas aparece e ele lhe pede para que o chame pelo primeiro nome e tem um sorriso idiota pra você. O irmão dele simplesmente faz um exame de amídalas em você depois de você ter insultado ele, sua casa e a sua família e a irmã dele só te idolatra. O homem ainda te oferece uma limusine para deixá-la na porta de casa. Eu apenas tive que me contentar com o bom e velho táxi. Não que eu quisesse qualquer coisa daquele carrasco – ela diz. Em seguida toma um longo gole do seu café – Você tinha que ver a troca de olhares entre Antonella e Anthony depois que vocês saíram. Parecia que viam uma santa. Mama mia! Eu enchi uma xícara de café bem quente e me sentei do outro lado da mesa de cozi
No dia seguinte, eu saí de casa a caminho da cafeteria. Eu me sentei em meu lugar predileto e pedi o de sempre. Enquanto comia, observava tudo a minha volta. A mulher com pinta de executiva estava sozinha. O rapaz que costumava acompanhá-la não estava com ela e eu me perguntava se isso era um fim. Eu sempre achei que eles não combinavam e não era apenas as roupas, era tudo: o jeito, o gosto... mas então eu me perguntei o que isso dizia sobre o seu relacionamento. Tirar conclusões era o mal da humanidade. E daí que ele não andasse com um terno caro para fazer par com ela, Deus sabe o quanto ele poderia ser bom pra ela mesmo com seus jeans surrados e sua pinta de bad boy. Deus sabe o quanto ele poderia ser um companheiro, amigo, amante, dedicado e prestativo. Mas então vinha eu e julgava o que era o seu relacionamento, baseada na sua roupa ou no fato dele parecer descompromissado e tomar um café “nada a ver” com o dela. Isso e a conversa que eu tive com Pain na noite passada me deram al
Sexta-feira, 08 de Maio de 2015HaroldEla estava uma pilha, o que é compreensível. Eu mesmo não estou assim tão tranquilo, embora não deixe transparecer. Mesmo tendo uma ideia do resultado, eu insisti para que esperássemos o resultado geral para fazer qualquer pronunciamento. O que ela concordou.Deus! Essa mulher me surpreendeu a cada volta do processo eleitoral nos últimos meses. Ela veio para Winchester comigo e nós passamos mais tempo aqui do que em Londres. Ela hoje é praticamente parte da cidade. Ela conheceu cada morador, conversou com eles, conheceu suas histórias e simplesmente os conquistou.Eu já era uma figura conhecida em Winchester por causa dos meus pais, que são daqui, pelo fato de eu ter crescido aqui e convivido com a maioria dos moradores. Mas vendo como ela se portava no meio dessas pessoas eu poderia dizer que ela cresceu aqui também.Eu tentei, durante todos esses meses, a tranquilizar. Explicando que era minha primeira candidatura e que eu sequer tinha ocupado
Felizmente o nosso jantar chegou no momento exato minimizando o mal-estar. Um homem perfeitamente paramentado em roupas de chef apareceu acompanhando o jantar. Ele deu um sorriso sincero em direção a Matteo. Parecia realmente feliz em vê-lo e ao mesmo tempo incrédulo – Meu amigo, eu estou feliz em vê-lo aqui depois de tanto tempo. Quando Martino me disse que você estava vindo eu não acreditei. Tinha que ver eu mesmo. – ele olhou pra mim, seu olhar especulando. Matteo ficou de pé no ato e os dois se abraçaram ligeiramente.- É bom ver você Gabriel. Deixe-me apresentar Giovanna, uma amiga. Giovanna este é Gabriel, um grande amigo e chef do restaurante. Se você não gostar da comida já sabe a quem deve culpar – Matteo brincou tentando descontrair. Gabriel me cumprimentou, mas ele parecia ainda não acreditar no que via. Ele olhava para Matteo e depois pra mim e era como se ele estivesse diante de algo estranho. Muito estranho.Por fim, ele pareceu recobrar a compostura – É um prazer conhec
Matteo “Que merda eu estou fazendo?” Era o que eu me perguntava enquanto assistia Giovanna dormir com a cabeça batendo no vidro lateral do carro. Deus! Como ela é linda. Realmente linda, doce, inteligente, com um toque de inocência encantadora e o mais interessante é que ela não tem a menor ideia disso. Mas quanto mais eu percebia essas qualidades nela, mas culpado eu me sentia. Eu não podia negar que me estava atraído por ela fisicamente e que estava encantado com o seu jeito, mas eu não acho que serei capaz de entregar meu coração a outra mulher. Não. Isso não é uma possibilidade. Eu nem mesmo acredito que poderia entregar meu corpo. Eu não estive com alguém desde muito tempo. Mesmo antes que Anabela se fosse, ela não estava em condições de ter relações sexuais e eu tampouco poderia pensar nisso. Tudo o que eu conseguia pensar naquela época era no quanto eu queria que ela ficasse, no quanto doía o medo, a insegurança. No quanto a vida era injusta e no quanto ela estava s
Giovanna Meus olhos ainda estavam fechados, mas eu estava acordada. Uma mão subia e descia pelo meu braço tão suavemente que me fez questionar se isso estava mesmo acontecendo. Eu podia sentir sua respiração na minha cabeça e meu corpo subia e descia no ritmo do seu peito. Eu sentia o batucar do seu coração e o seu cheiro. Não tinha dúvida de onde eu estava, sabia que estava nos braços de Matteo, apesar de não ter estado aqui tantas vezes assim. Apenas três breves momentos enquanto ele me assaltava com seus beijos, mas eu reconhecia. Seu cheiro, seu toque... Eu tentei controlar a minha ansiedade por alguns instantes, pois não queria que aquele acabasse. Porém, a parte racional em mim me disse que eu deveria terminar isso o quanto antes. Eu ignorei essa parte racional dos infernos, claro. Mesmo sabendo das consequências. Mesmo prevendo o mais distante que um relacionamento com este homem poderia me levar. Eu olhava além e o que eu via não era bom. Ao final dessa história eu