Mais tarde, eu estava na parte do vinho quando a porta se abriu e uma Penélope animada entrou. Quando ela chegava assim era algo para se preocupar porque ela tinha um plano. E, devo dizer, ela não costuma ser muito criativa sobre eles. Então eu poderia deduzi-los. Quase sempre terminava com ela me arrastando para algum lugar ou tentando me salvar de mim mesma, como ela costumava dizer.
- Eu vou querer uma dessas - disse sem preâmbulo. Sinalizando para a minha taça.
- Olá pra você também.
- Olá, Giovanna. Tenho uma ótima notícia: Consegui a conta da Mazza.
- Que boa notícia. Parabéns. - Eu enchi uma taça de vinho e deslizei por cima do balcão - Só me explique: Essa empresa Mazza a qual você se refere tem alguma coisa a ver com a Mazza Telecom?
- A mesma. E você não devia estar me perguntando isso. Pelo menos, não se você esteve prestando atenção sobre o que eu falava nas últimas duas semanas.
- Eu estava prestando atenção. Só queria ter certeza. E devo dizer: Isso é incrível.
- Incrível nem chega perto de descrever o meu feito. Você sabe que eu só estou no começo e por mais que eu tenha trabalhado duro para conseguir isso, eu não estava muito confiante de que o arrogante Antony Mazza iria me dar essa conta. E agora eu estou desesperada. Ok. Eu consegui isso, mas e se eu simplesmente ferrar com tudo? – Então ela veste aquele olhar perdido. E eu me lembro de que quando ela atravessou aquela porta, ela tinha um plano, então esse olhar perdido não combina muito com ela. Ela simplesmente sabe o que quer e ela vai conseguir. Pode apostar.
- Você é boa no que faz. Eu não acredito que você possa estragar as coisas.
- Eu não posso me dar ao luxo de ferrar tudo. Simplesmente não posso. E é justamente por isso que nós temos que estar perfeitas na sexta-feira e eu até já sei que roupas podemos vestir. Veja como é importante pensar positivo. É a lei da atração. Eu fui até aquela butique onde você experimentou aquele vestido azul turquesa que fez um par perfeito com seus olhos e um contraste com seus cabelos escuros e apenas o comprei por que eu sabia lá no meu âmago que eu iria conseguir esse contrato e logo seria convidada para este evento anual da Mazza e Viu como deu certo?
- Espera. O que tem a ver você conseguindo um contrato com você comprando um vestido pra mim?
- Não é óbvio?
- Não pra mim.
- Quem mais eu iria querer o meu lado em um evento tão importante além da minha melhor amiga de todos os tempos?
- Você já parou pra pensar que a sua melhor amiga de todos os tempos não está habituada com festas chiques como essas e que eu serei com certeza uma companhia desagradável. Eu não sou boa com pessoas. Você sabe. E eu posso arruinar um bom negócio pra você apenas por existir. Se você me considera a sua melhor amiga de todos os tempos, você deveria me conhecer o suficiente para saber disso.
- Minha nossa! Eu sempre soube que você tinha problemas de autoestima, mas não imaginava o quanto.
- só estou dizendo como as coisas são. E você faria bem em me ouvir.
Ela se pôs a tagarelar sobre cada pessoa que importava e que estaria presente neste evento e sobre as possibilidades de atrair alguns parceiros da Mazza para a sua empresa de Marketing, ignorando totalmente o fato de eu ter recusado o convite. Enquanto ela evoluía na conversa eu me desliguei momentaneamente. Eu fazia isso às vezes quando não queria ser levada pelo furacão chamado Penélope. Hoje, porém, a razão da minha desatenção era por que minha mente estava ocupada demais pensando no e-mail estranho que eu recebi mais cedo. Teria sido mesmo engano? Só pode. Que outra explicação teria? – e como você está indo com os seus artigos? - Ela chamou a minha atenção.
- Está indo bem.
- Que bom. Você sabe que eu te acho muito inteligente. Você tem uma excelente formação e uma facilidade com a escrita que é impressionante. Eu já te disse que eu acho que você deveria tentar algo mais emocionante como escrever um livro ou ser uma editora. Não que eu não ache interessante escrever artigos para sites e jornais e eu sei que você é bem remunerada pelo seu trabalho. Mas... - Ela não tinha ideia – Você sabe, hoje eu estava lendo sobre uma escritora que está fazendo o maior sucesso. Estão até falando que seu primeiro livro pode ser adaptado para o cinema. Essa mulher provavelmente deve estar morando em Nova York ou na Califórnia, em uma casa absurdamente cara, cercada de caras gostosos e gastando rios de dinheiro em roupas de grife. Tudo isso por que ela ousou. Eu tenho certeza que você poderia ser tão boa quanto ela. Talvez você precisasse de um pouco de ajuda com a criatividade já que você não vive muito e, logo, não deve ter muito pra contar, mas você é inteligente e tem o dom da escrita. Eu não me conformo. Essa Gi poderia muito bem ser você.
Por um momento eu me assustei com a possibilidade dela ter desconfiado de alguma coisa, mas, felizmente, ela continuou falando sobre o quanto essa escritora era impressionante e que já havia comprado seu último livro e estava contando os dias para a chegada do seu exemplar. Quando ela caminhou para o seu quarto entre um blá blá blá e outro, eu me acalmei e continuei fazendo a nossa comida enquanto ouvia o sei insistente tagarelar à distância.
Felizmente ela não levou o assunto adiante. Eu também fiz questão de permanecer quieta. Eu estava acostumada com esses argumentos e não valia a pena rebatê-los. A não ser que eu quisesse investir o resto da minha noite em uma discussão e, ainda assim, não conseguiria convencê-la. Essa era Penélope: Uma jovem mulher inteligente, decidida, corajosa e ousada. Além disso, ela está certa no final das contas. Embora eu não pudesse dizer isso a ela. Esse é o preço.
Ela não tinha nenhuma ideia de que eu fazia exatamente o que ela agora me aconselhava. Ninguém tinha, exceto a minha agente. Nem mesmo os meus pais, nem o meu irmão. Nem mesmo a minha amiga de infância que estava vivendo em outro continente no momento e de quem eu sentia tanta falta. Ninguém. Não foi fácil segurar esse segredo. Mas eu sabia que, no instante em que alguém mais soubesse, o segredo estaria arruinado e eu não me sentia preparada para lidar com as consequências disto. Algumas pessoas insistiram em dizer que se tratava de uma estratégia de marketing, mas não é. É apenas eu sendo eu mesma.
Eu cheguei perto de contar algumas vezes. Quando ele foi um sucesso de leituras em duas plataformas de publicação livre. Quando recebi um e-mail de Lucy, minha atual agente, interessada em promover meu livro, Mas principalmente após o sucesso do primeiro livro. Eu queria compartilhar com alguém a felicidade que eu estava sentindo.
Antes disso, quando o livro estava no período de preparação, eu estava muito insegura sobre o que as outras pessoas achariam do meu livro. Esse é o verdadeiro motivo de eu ter demorando tanto tempo antes de publicá-lo. Quando eu comecei a escrevê-lo, não tinha ideia de que se tornaria um livro. Ele começou como uma fuga do meu mundo privado. Coisas que eu fazia apenas na minha cabeça, coisas que ficava no mundo das ideias sem nenhum compromisso com a concretização delas. Frases não ditas, atos não realizados, projetos que nunca sairiam do papel. Aos poucos, a personagem tomou vida e, de repente, não era mais eu. Era ela. A personagem.
Para minha surpresa, o dinheiro começou a entrar e, por mais que eu quisesse fazer um monte de coisas com ele, eu não saberia como justificar certas excentricidades. Hoje eu pagava meu próprio aluguel no Brera, um bairro charmosíssimo de Milão, mas em um apartamento simples e me mantinha por conta própria sem grandes dificuldades, além de ter uma boa reserva de dinheiro. Mas eu tinha que justificar isso para os meus pais.
Quando eu estava na faculdade eles me mantinham e, depois que lancei o meu primeiro livro não havia mais necessidade da ajuda deles. Para justificar o dinheiro que eu passei a receber e a minha súbita independência financeira, eu escrevia de fato alguns artigos para revistas, jornais, blogs. E, tanto os meus pais como o meu irmão e a minha melhor amiga pensavam como a minha colega de quarto. Eles achavam que eu deveria ousar mais. Fazer algo grande. Eles não tinham ideia, no entanto.
Mais tarde, quando Penny voltou para a cozinha, a comida estava pronta, mas ela se desculpou levando seu prato para o quarto, pois tinha trabalho a fazer. Ela estava muito ansiosa para começar a trabalhar com a Mazza Telecom e eu estava muito aliviada em ficar sozinha. Eu precisava checar meus e-mails e saber se a pessoa misteriosa havia enviado outro. Então, limpei a cozinha rapidamente e corri para o meu quarto.
Não havia nenhum e-mail novo e, surpreendentemente fiquei decepcionada com isso. Eu estava curiosa a respeito e esperava que, talvez, ele fosse mais claro no próximo e-mail, me ajudando a solucionar o mistério. Como não havia nada, me dispus a revisar meus escritos do dia anterior e passei a responder os muitos e-mails que chegavam dos leitores e as mensagens no f******k. Eu havia criado um perfil em nome de “Gi autora” e uma página para cada um dos livros que eu havia publicado. O que Penélope disse sobre a escritora morar nos Estados Unidos fazia todo sentido, uma vez Nova York a minha cidade atual de acordo com o meu perfil no f******k e a maioria das minhas histórias se passava em cenário norte-americano. Apenas a última tinha a Itália como fundo o que gerou um frenesi local com a possibilidade da escritora em questão estar morando na Itália. Pra mim foi uma redescoberta. Eu amava falar sobre o meu país e sobre as coisas que eu conhecia tão bem. Eu era uma amante da arte e conseguia deixar isso tão claro em meu livro que contava a vida de uma pintora italiana.
Havia vários pedidos de amizade no f******k e eu geralmente não era muito seletiva com minhas escolhas. Eu sabia que a maioria das pessoas que me adicionavam eram leitores do meu livro ou pessoas curiosas sobre ele, ou simplesmente amantes literários. Eu saí aceitando todos os pedidos de amizade pendentes e, logo em seguida, uma mensagem surgiu no chat do f******k. O perfil era fake, sem sombra de dúvida. A pessoa em questão se chamava Teo Pain e esse nome me chamou a atenção por que o remetente do e-mail enviado logo cedo era tpain.tpain@outlook.com. Que tipo de pessoa tem dor como nome? (dor em inglês é pain). Eu cliquei sobre a notificação de mensagem e uma pequena janela se abriu no canto inferior direito da tela.
“Achei você” dizia apenas. As reticências piscavam embaixo da tela anunciando que ele estava digitando. Eu não respondi nada. Apenas esperei. Com certeza ele já havia percebido que eu visualizei a mensagem. De repente as reticências pararam, como se a pessoa tivesse desistido de enviar a mensagem, mas então, as palavras surgem na tela.
“Por aqui é melhor. Assim eu sei que você viu. Sei que leu e que eu não estou apenas falando sozinho.”
Meu primeiro pensamento foi o de ignorar, como ele mesmo havia pedido mais cedo do assunto do e-mail. Mas a jovem curiosa em mim foi mais corajosa. Aliás, a Gi era corajosa, coisa que a Giovanna Greco não era.“Quem é você? – perguntei – Eu o conheço?”
O meu interlocutor respondeu de imediato “Receio que não. Mas isso não é exatamente um problema, é? Ninguém conhece você, mas as pessoas te escutam e você fala com elas. A diferença entre esse espaço e o seu livro é que no livro, só você fala. Aqui você ouve”
“Foi você quem escreveu o e-mail” – Não foi uma pergunta.
“sim”
“O que você quer de mim?” perguntei. Eu realmente queria saber. Não. Eu tinha o direito de saber. Um estranho começa a me enviar mensagens completamente estranha com um toque de ódio em cada palavra. Esta pessoa me culpava por algo e eu tinha que saber do que se tratava. Ele demorou um longo tempo para responder, cada instante de espera mexia com a minha sanidade de tal forma que eu quase digitei outra pergunta. Mas me contive de escrever e me mantive ali, parada diante do notebook, esperando. Eu não poderia sequer respirar direito.
“Eu não sei. Conversar, talvez. Eu quero... entender.”
“Você quer entender? Acho que sou eu que quero entender.” Agora eu estava chateada “Você começa a enviar mensagens sem pé nem cabeça pra mim e você que quer entender?”
Como o meu breve desabafo, eu tinha esperanças que ele se compadecesse da minha angústia e começasse a falar. Mas o que eu consegui foi despertar uma raia ainda maior dele. A mensagem seguinte, assim como as outras, eram mensagens de texto, mas eu podia sentir todo o escárnio embutido em cada palavra escrita “Não é você que tem todas as respostas? A vida sobre a sua ótica é bela. Você dá esperanças às pessoas. Uma fuga da realidade, solução para os problemas da vida, a cura para quem precisa, certezas para as dúvidas do mundo, mas quando chega a última página e nós finalmente saímos daquele transe, eles ainda estarão aqui. Nós ainda vamos morrer, ou vamos ficar para trás quando aqueles que amamos se forem, os problemas persistirão enquanto você não os resolver e as dúvidas ainda existirão.”
Agora foi a minha vez de não responder de imediato. Eu não sabia o que dizer. Não mesmo. Ele parecia estar me culpando por alguma coisa que eu não tenho ideia do que seja e eu me sentia injustiçada e envolvida em uma história que eu não sabia do que se tratava. Eu não concordo com ele de qualquer forma.
“Sei que você ainda está aí” ele disse. Eu não sabia dizer o que mais me surpreendia nele. Se era o desamparo que parecia existir por trás do sarcasmo ou se era o seu ar beligerante. Ele queria discutir comigo. A Gi poderia fazê-lo, talvez, embora não seja muito a praia dela, mas a fragilidade de Giovanna havia emergido.
“Sim. Eu estou.”
“diga algo”
“O que você quer que eu diga? Você me acusa de ter todas as respostas, mas é você que parece estar certo do que diz. Não tenho intenção de mudar o que você pensa.”
“Você acha que eu estou sendo injusto com você, não é? Bem, eu tenho uma novidade pra você: A vida não é justa. Ela não é. Se a sua Meg fosse real, ela estaria morta agora e o seu Ryan estaria fodido. É apenas o jeito como as coisas são.”
“Respeito a sua opinião.”
“Respeito a sua opinião? Sério? Isso é tudo? É tudo que você tem a dizer? Você brinca de Deus diante de um teclado, mas você não é nada. Você não pode mudar a vida real. Você percebe isso? Você pode colocar essa m*****a coisa na sua cabeça?”
Eu senti meu estômago se contorcer com o pânico. O que era isso afinal? Era um louco? Um psicopata que resolveu me perseguir? Nessas horas eu estava grata por não ter a minha identidade revelada. Você nunca sabia com quem você se depararia. “Eu não brinco de Deus” digitei, mas a essa altura do campeonato eu mesma estava começando a não ter certeza de nada. Ele conseguiu minar a minha totalmente a minha autoestima. Não que isso fosse algo difícil de se conseguir. Minha autoestima já era completamente abalada. Mesmo assim escrevi-lhe uma resposta. “Não tenho essa pretensão. Assim como os maiores escritores da história não o faziam. Nós apenas queremos compartilhar histórias felizes, trazer um pouco de alegria para as pessoas, fazê-las sonhar. Dar-lhes esperanças e motivá-las a construir sua própria felicidade. Não há crime nisso. Eu não posso ser responsabilizada por que você não teve maturidade suficiente para fazer essa distinção. Se fosse uma criança, eu poderia entender. Mesmo assim, dependendo da idade já conseguem distinguir. Você está entendendo tudo errado.” Expliquei. Meu estômago estava involuntariamente contraído enquanto eu assistia as reticências piscando na janela de conversa. Quando sua resposta finalmente chegou era um grande texto.
“Não se trata de mim. Mas de pessoas que estão por um fio e, desesperadas, se agarram a esperanças falsas e recusam a mão verdadeira estendida ao seu lado para se agarrar a palavras aleatórias de alguém que não tem um pingo de bom senso. Você as ilude e um dia, apenas um dia, elas vão perceber que isso tudo não existe. Não existe o “felizes para sempre” e não existe isso de sonhar e tornar realidade simplesmente por que a porra do controle não está nas suas mãos. Isso tudo vai apenas se acabar quando você virar a última página e mudar os seus olhos do livro para a realidade a sua volta. Eu sou capaz de apostar que você é uma mulher solitária e infeliz. Tenho certeza que os homens maravilhosos que você descreve são apenas fruto da sua imaginação e você sequer foi capaz de conhecer um que quisesse levar você pra cama. E quanto a se manter anônima? Você apenas não quer que as pessoas vejam a mulher feia e sem graça que você é. Então você as ilude e faz com que elas pensem que você é alguém que não é de fato. Você, Gi, ou seja lá qual for o seu nome, você é uma mentira e eu estou farto de gente como você. Eu estou farto de tudo.”
- Porra! – Eu fechei abruptamente o meu notebook e me enrolei em uma bola sobre a cama. O que eu havia feito para merecer tanto ódio? Eu posso jurar que nunca, e eu quero dizer nunca mesmo, eu fui destinatário de tanto ódio. Nem quando eu achava que as pessoas me desprezavam por ser uma nerd sem graça, nem quando eu estava com raiva de mim por alguma bobagem que eu havia feito, jamais me senti como agora. Por que ele me odiava tanto? Quem era esse homem, afinal? Era perguntas que apenas martelavam na minha cabeça e eu tinha que saber. Ele achava que eu era infeliz e solitária. Bem, talvez ele não estivesse tão longe da verdade. Talvez eu seja mesmo uma mentira. Talvez esses personagens sejam o que eu não tenho coragem para ser: felizes e ousados. Mesmo quando sofrem, eles não desistem de buscar o que desejam. Mas eu? Bem, eu não sei quem eu sou. Quando eu não estou sendo um personagem em uma das minhas histórias eu não sou ninguém. Eu.não.sou.ninguém.
Eu passei o resto da semana com os nervos em frangalhos. Eu não acessei o facebook e nem o e-mail da “Gi”. E me dediquei a escrever meus artigos para o meu blog sobre arte. Não estive na minha cafeteria predileta em nenhum desses dias e nem escrevi sequer uma linha sobre o meu novo projeto literário. Eu recebi críticas boas e também algumas cruéis sobre os meus livros e eu posso viver com isso, mas as coisas que esse estranho falou me feriram na alma. Não foi uma crítica ao meu trabalho, foi uma crítica a mim como ser humano, como mulher e isso mexeu comigo de tal maneira que eu estou tendo dificuldades de lidar.- Você ainda está aí? - Eu estava deitada na cama, relendo um exemplar da Divina Comédia. – Você precisa correr, nós só temos duas horas para chegar à Mansão Mazza.- Penny, eu não vou a essa festa.- Por favor, eu estou contando com você.- Eu não serei uma boa companhia.- Você não tem que ser. Pode ficar parada e muda como uma estátua. Eu só quero que você esteja lá. Você
Caminhei com a minha taça de vinho por entre os presentes. Todos envolvidos em conversas amigáveis. Alguns trocaram olhares comigo e me deram alguns acenos, que eu correspondia timidamente. Logo que pude, segui no sentido oposto à entrada por um corredor. Uma porta tão imponente como a que eu entrei quando cheguei aqui me levou até uma saída para um belo jardim. Era como se a casa fosse um grande cubo e no centro um jardim foi aberto. Inúmeras janelas davam para o espaço, garantindo que os habitantes pudessem ter uma bela visão do lugar. Pequenos postes de iluminação em estilo antigo decoravam o jardim e bancos em ferro fundido na cor branca embelezavam dando uma atmosfera aconchegante. Eu não conseguia deixar de imaginar quantas pessoas se sentaram nesses bancos ao logos dos anos. Quantas histórias se passaram aqui? Quantos amores? Quantas separações? Uma grama bem cuidada cobria todo o jardim e trilhas de pedra possibilitavam uma caminhada sem maltratar a grama. Em um instante eu es
- Sem mais vinho pra mim, então?- Ok. Sem mais vinho. Eu não saberia o que fazer com você se tomar mais um gole. Talvez você acabe com a festa e soque a cara do dono da casa.- Eu não faria isso com o seu irmão. Ele demitiria a minha amiga.- Eu estava falando de mim.- Essa festa é sua, então?- Não. Mas a casa é. - Oh! Então eu realmente te insultei.- Eu só a uso de vez em quando. Fico mais tempo na Toscana - Ele tomou mais um pouco de vinho e virou o corpo em minha direção. Apoiando a sua mão esquerda no encosto do banco e a perna no espaço ao meu lado – E quanto a você? O que você faz?- Bem, quando eu não estou insultando as pessoas eu costumo escrever alguns artigos para alguns jornais e revistas. Ah, e também blogs.- Interessante. Sobre o que você escreve?- Um pouco de tudo.- Por exemplo...?- Como eu disse, um pouco de tudo. Mas gosto de falar sobre arte e também sobre política. Por falar nisso, sua casa é uma obra de arte. Eu já mencionei isso?- Sim. Isso foi um pouco
- Oddio! Você quase nunca sai de casa, mas quando faz... Minha nossa! Posso imaginar por que você vive confinada – Penélope exclamou depois de espremer cada detalhe da noite passada – Eu tenho que fazer milagre apenas para conseguir que aquele carrasco do Antony Mazza me dê um bom dia e então você apenas aparece e ele lhe pede para que o chame pelo primeiro nome e tem um sorriso idiota pra você. O irmão dele simplesmente faz um exame de amídalas em você depois de você ter insultado ele, sua casa e a sua família e a irmã dele só te idolatra. O homem ainda te oferece uma limusine para deixá-la na porta de casa. Eu apenas tive que me contentar com o bom e velho táxi. Não que eu quisesse qualquer coisa daquele carrasco – ela diz. Em seguida toma um longo gole do seu café – Você tinha que ver a troca de olhares entre Antonella e Anthony depois que vocês saíram. Parecia que viam uma santa. Mama mia! Eu enchi uma xícara de café bem quente e me sentei do outro lado da mesa de cozi
No dia seguinte, eu saí de casa a caminho da cafeteria. Eu me sentei em meu lugar predileto e pedi o de sempre. Enquanto comia, observava tudo a minha volta. A mulher com pinta de executiva estava sozinha. O rapaz que costumava acompanhá-la não estava com ela e eu me perguntava se isso era um fim. Eu sempre achei que eles não combinavam e não era apenas as roupas, era tudo: o jeito, o gosto... mas então eu me perguntei o que isso dizia sobre o seu relacionamento. Tirar conclusões era o mal da humanidade. E daí que ele não andasse com um terno caro para fazer par com ela, Deus sabe o quanto ele poderia ser bom pra ela mesmo com seus jeans surrados e sua pinta de bad boy. Deus sabe o quanto ele poderia ser um companheiro, amigo, amante, dedicado e prestativo. Mas então vinha eu e julgava o que era o seu relacionamento, baseada na sua roupa ou no fato dele parecer descompromissado e tomar um café “nada a ver” com o dela. Isso e a conversa que eu tive com Pain na noite passada me deram al
Sexta-feira, 08 de Maio de 2015HaroldEla estava uma pilha, o que é compreensível. Eu mesmo não estou assim tão tranquilo, embora não deixe transparecer. Mesmo tendo uma ideia do resultado, eu insisti para que esperássemos o resultado geral para fazer qualquer pronunciamento. O que ela concordou.Deus! Essa mulher me surpreendeu a cada volta do processo eleitoral nos últimos meses. Ela veio para Winchester comigo e nós passamos mais tempo aqui do que em Londres. Ela hoje é praticamente parte da cidade. Ela conheceu cada morador, conversou com eles, conheceu suas histórias e simplesmente os conquistou.Eu já era uma figura conhecida em Winchester por causa dos meus pais, que são daqui, pelo fato de eu ter crescido aqui e convivido com a maioria dos moradores. Mas vendo como ela se portava no meio dessas pessoas eu poderia dizer que ela cresceu aqui também.Eu tentei, durante todos esses meses, a tranquilizar. Explicando que era minha primeira candidatura e que eu sequer tinha ocupado
Felizmente o nosso jantar chegou no momento exato minimizando o mal-estar. Um homem perfeitamente paramentado em roupas de chef apareceu acompanhando o jantar. Ele deu um sorriso sincero em direção a Matteo. Parecia realmente feliz em vê-lo e ao mesmo tempo incrédulo – Meu amigo, eu estou feliz em vê-lo aqui depois de tanto tempo. Quando Martino me disse que você estava vindo eu não acreditei. Tinha que ver eu mesmo. – ele olhou pra mim, seu olhar especulando. Matteo ficou de pé no ato e os dois se abraçaram ligeiramente.- É bom ver você Gabriel. Deixe-me apresentar Giovanna, uma amiga. Giovanna este é Gabriel, um grande amigo e chef do restaurante. Se você não gostar da comida já sabe a quem deve culpar – Matteo brincou tentando descontrair. Gabriel me cumprimentou, mas ele parecia ainda não acreditar no que via. Ele olhava para Matteo e depois pra mim e era como se ele estivesse diante de algo estranho. Muito estranho.Por fim, ele pareceu recobrar a compostura – É um prazer conhec
Matteo “Que merda eu estou fazendo?” Era o que eu me perguntava enquanto assistia Giovanna dormir com a cabeça batendo no vidro lateral do carro. Deus! Como ela é linda. Realmente linda, doce, inteligente, com um toque de inocência encantadora e o mais interessante é que ela não tem a menor ideia disso. Mas quanto mais eu percebia essas qualidades nela, mas culpado eu me sentia. Eu não podia negar que me estava atraído por ela fisicamente e que estava encantado com o seu jeito, mas eu não acho que serei capaz de entregar meu coração a outra mulher. Não. Isso não é uma possibilidade. Eu nem mesmo acredito que poderia entregar meu corpo. Eu não estive com alguém desde muito tempo. Mesmo antes que Anabela se fosse, ela não estava em condições de ter relações sexuais e eu tampouco poderia pensar nisso. Tudo o que eu conseguia pensar naquela época era no quanto eu queria que ela ficasse, no quanto doía o medo, a insegurança. No quanto a vida era injusta e no quanto ela estava s