CAPÍTULO 2.2

Caminhei com a minha taça de vinho por entre os presentes. Todos envolvidos em conversas amigáveis. Alguns trocaram olhares comigo e me deram alguns acenos, que eu correspondia timidamente. Logo que pude, segui no sentido oposto à entrada por um corredor. Uma porta tão imponente como a que eu entrei quando cheguei aqui me levou até uma saída para um belo jardim. Era como se a casa fosse um grande cubo e no centro um jardim foi aberto. Inúmeras janelas davam para o espaço, garantindo que os habitantes pudessem ter uma bela visão do lugar. Pequenos postes de iluminação em estilo antigo decoravam o jardim e bancos em ferro fundido na cor branca embelezavam dando uma atmosfera aconchegante. Eu não conseguia deixar de imaginar quantas pessoas se sentaram nesses bancos ao logos dos anos. Quantas histórias se passaram aqui? Quantos amores? Quantas separações? Uma grama bem cuidada cobria todo o jardim e trilhas de pedra possibilitavam uma caminhada sem maltratar a grama. Em um instante eu estava pisando nas pedras e adentrando no jardim.

- Vá embora – uma voz ríspida ordenou e eu dei um pequeno grito assustada. Pela minha visão periférica vi um homem de costas sentado em um dos bancos do jardim, que estava escondido atrás de uma pequena palmeira.

- Eu sinto muito – murmurei quase sem fôlego, enquanto mudava meu rumo para dentro da mansão.

- ESPERE! – ele gritou e eu congelei mais de susto do que por vontade de obedecer. - Eu sinto muito – ele disse por fim em um tom mais gentil – Eu achei que fosse outra pessoa.

- Eu não queria incomodar. Só estava...

- Vire-se – Mais uma ordem. Eu hesitei um pouco, mas pareceu uma eternidade. Então virei e me deparei com um par de olhos castanhos amendoados. Ele estava de pé agora, em um belo smoking, a gravata borboleta estava desfeita e ele segurava uma taça de vinho tinto em uma mão e uma garrafa ainda um pouco cheia na outra – o que você dizia? – ele perguntou depois de um longo silêncio.

Eu desviei meu olhar para o chão e engoli com dificuldade. Podia sentir o seu escrutínio em mim. A cada segundo que se passava minha boca parecia secar mais, como se eu estivesse submetida ao sol do deserto e estivesse desidratando lentamente. Ele era belo. Mama mia, tão belo. Seus lábios avermelhados pelo vinho. Sua respiração também não estava regular. Mesmo agora quando olhava para os seus sapatos eu podia me lembrar de cada detalhe do seu rosto. Belo. – Não queria perturbá-lo. Scusa.

- Não se desculpe – Seu tom agora era suave. Preocupado até. – Olhe pra mim – Eu olhei por que eu queria ver esses olhos de novo. Suas sobrancelhas estavam encolhidas. Ele parecia confuso – Eu que devo pedir desculpas. Eu a assustei. Deixe que eu me desculpe corretamente.

- Está tudo bem. A culpa foi minha – falei rapidamente, dividida entre sair correndo e ter mais um pouco dessa visão.

- Deixe que eu lhe sirva um pouco de vinho – ele disse, olhando para a minha taça meio vazia.

- Eu não acho que eu deva... – Ele não esperou a minha recusa e estendeu a garrafa para me servir - ... apenas um pouco – insistiu. Eu me vi erguendo a taça e ele me serviu uma quantidade generosa

- Obrigada – murmurei e me virei para ir embora.

- Sente-se um pouco e termine essa taça de vinho comigo.

- Eu realmente não quero incomodar.

- Não incomoda. Por favor. Sente-se. – Ele fez um gesto para que eu me sentasse no banco. Eu olhei para trás, em direção à porta que dava acesso ao interior da mansão. Por fim levantei um pouco a longa saia do vestido e dei alguns passos até me acomodar. Ele se sentou ao meu lado. Perto. Muito perto – Como se chama?

- Giovanna.

- É um belo nome.

- É um nome comum.

- Mas belo – Disse. Ele colocou a garrafa no chão ao seu lado e estendeu a mão pra mim – Matteo.

Eu aceitei a mão estendida e senti um formigamento com o contato e, junto com essa sensação, vinha um desejo de não mais soltá-lo. Meu rosto queimava com o nervosismo. Essa era a razão pela qual eu ainda era uma virgem com essa idade. Eu parecia que fugia de cães raivosos sempre que estava sozinha com um homem. Quase nunca sabia o que dizer e se eu não soubesse que era eu quem escrevia todos aqueles livros, eu não acreditaria que poderia tê-lo feito – É um prazer conhece-lo – consegui dizer.

- O prazer é meu. – ele disse. Um momento de silêncio se estendeu e eu tomei um longo gole do meu vinho, esperando que tivesse uma dose de coragem no líquido que me permitisse falar mais do que uma palavra – Você é sempre tímida assim ou eu realmente assustei você?

- Eu sou assim – disse e sorri um pouco por ter conseguido dizer algo mais – então... – comecei, agora me sentindo um pouco mais corajosa – quem você achava que fosse quando ouviu meus passos pelas pedras do jardim?

- Minha irmã – eu arqueei as sobrancelhas e eu acho que ele entendeu como uma crítica e tentou explicar – Dio mio! Eu a amo, mas ela às vezes me sufoca - Ele sorriu mostrando dentes brancos perfeitos. – Você trabalha na Mazza telecom?

- Não. Na verdade eu fui praticamente coagida pela minha colega de quarto a estar aqui hoje para acompanha-la. Mas eu não estou muito habituada a eventos como esses. Além disso, eu não conheço ninguém – Pronto. Agora eu sentia vontade de dar uma pirueta com tanta desenvoltura. Acho que o vinho está fazendo efeito. Então, bebi um pouco mais.

- Então sua colega de quarto trabalha na Mazza Telecom? – ele questionou.

- Sim. Ela acaba de ser contratada para fazer o marketing da empresa. Eu não devia ter dito isso. Por que se você conhece o dono e se eu disser alguma bobagem isso pode comprometer o emprego da minha amiga.

- Não se preocupe. O seu segredo está seguro comigo.

- Obrigado. Mas mesmo assim eu vou tentar me comportar – brinquei. Embora no fundo eu desejasse realmente não falar bobagem. Até aqui eu me sentia orgulhosa de mim.

- Você não se parece com alguém que não se comporta.

Eu tomei o restante do vinho e ele, imediatamente, pegou a garrafa e despejou um pouco mais – Acho que você está certo. Eu quase sempre me comporto demais e isso parece que é um problema para algumas pessoas – eu me lembrei do “estranho do f******k” – Algumas pessoas poderiam recriminar o fato de eu ser comportada demais.

Ele riu novamente. Provavelmente se divertindo com o meu momento porre. Eu nunca tomei um porre, a propósito. Pensando sobre isso, eu coloquei minha taça, agora cheia, no chão ao meu lado. Eu podia sentir o seu olhar sobre mim e eu olhei em volta para todos os lugares menos pra ele – É um jardim maravilhoso. É perfeito. Ele traz...

-... Paz – ele completa com perfeição o meu pensamento.

- Exatamente – eu digo – Que tipo de pessoa mora em lugar como esse? – eu digo mais pra mim mesma.

- Eu acho uma bela casa – ele observa.

- Não falo da casa. Eu sou apaixonada por arte e história. Essa casa é perfeita. É como viver em um livro de história. Cada pedaço desse lugar deve ter uma história diferente. Estar aqui nos faz querer saber quantas coisas aconteceram aqui ao longo dos anos? Quantas brigas? Quantas conquistas? Quantos amores? Quantas dores... – eu estava no modo escritora agora – Mas não é qualquer pessoa que pode se dar ao luxo de morar em um lugar como esse. Essas pessoas aí dentro devem ter mais dinheiro do que podem gastar em uma vida, enquanto tantas pessoas não tem nada. Quase sempre são pessoas arrogantes, que cultuam o dinheiro e o poder, enquanto menosprezam as pessoas e estão acostumados a serem bajulados. Preocupam-se apenas com o seu umbigo. Até os programas sociais que dizem ajudar, quase sempre são feitos apenas por uma questão de status e pouco tem a ver com os realmente necessitados.

- Na verdade... – ele começa a dizer quando ouvimos passos. Nós nos voltamos para olhar na direção do som e uma bela mulher com cabelos castanhos e belos olhos amendoados surge.

- Aí está você. Eu... – Mas então ela parou ao me ver e abre um sorriso radiante – Olá, eu sou Antonella Mazza – então ela estende a mão para me cumprimentar. Eu fico de pé abruptamente e aperto a sua mão, mas sinto minhas pernas fracas com a menção do seu sobrenome.

- Eu... eu sou Giovanna Greco – consigo dizer, mas minha cabeça só consegue processar uma prece persistente: Senhor, que essa não seja a irmã dele.

- É um prazer conhece-la Giovanna – então, ela se vira pra Matteo, e eu posso sentir seu olhar insistente sobre mim. Eu mantenho meus olhos em Antonella, evitando olhar para ele a todo custo – Eu estava preocupada com o meu irmão, mas vejo que ele está em boa companhia. Eu vou voltar lá pra dentro e deixar vocês dois à vontade. Eu não quero atrapalhar – O sorriso continuava lá, radiante. E eu só conseguia pensar no quanto Penny estava ferrada por causa da minha tão recente desenvoltura com as palavras. Mas isso não teria acontecido se ela tivesse me escutado. Eu aqui definitivamente não era uma boa ideia. E, minha nossa, eu ainda o chamei de arrogante que menospreza as pessoas, que merda eu estava pensando? Eles trocaram algumas palavras, mas eu não estava ouvindo. Consegui murmurar um até logo, quando ela saiu e enfiei o rosto entre as mãos.

- Dio mio! Eu quero morrer nesse momento.

- Giovanna...

- Oddio! Eu sinto muito. Eu... eu... eu... insultei a sua família e julguei você. Eu o chamei de arrogante e ... por favor, minha amiga não tem culpa. Não a demita, por favor. Ela só queria que eu saísse um pouco...

- Calma Giovanna. Tutto a posto (tudo bem). O emprego da sua amiga não está ameaçado.

- Você não é o Sr. Mazza?

- Sim, eu sou um dos Mazza. Sou o irmão mais velho de Anthony Mazza. Embora eu tenha algumas ações da Mazza Telecom, eu não trabalho com o meu irmão. É apenas um investimento. Eu estou em outro negócio e eu não pretendo comentar com ele essa nossa conversa. Não que eu ache que isso ameaçaria o emprego da sua amiga se ele soubesse.

- Ai. Graças ao meu bom Deus. Obrigada. Sr. Mazza, eu sinto muito. Eu não sei como agradecer.

- Matteo. Chame-me de Matteo, como você vinha chamando antes e de descobrir quem eu sou e eu não estou ofendido.

- Grazie. Agora eu acho melhor eu ir embora antes que eu fale mais alguma bobagem.

Ele segurou meu braço – Fique mais um pouco. Vamos terminar o nosso vinho. Termine pelo menos esta taça.

- Eu não acho que eu deva. Já fiz bobagem demais para uma noite só. Além disso, eu devo voltar pra casa sozinha. Penélope provavelmente ficará até mais tarde. O meu compromisso com ela foi ficar por duas horas na festa.

- Você não fez nenhuma bobagem. Além disso, quanto tempo ainda terá que permanecer até completar as duas horas prometidas.

Eu olhei o pequeno relógio prateado em meu braço. Um presente de formatura dos meus pais. – Quarenta minutos.

- Excelente. Ficaremos por mais quarenta minutos e depois eu a deixarei ir.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo