CAPÍTULO 3.1

- Oddio! Você quase nunca sai de casa, mas quando faz... Minha nossa! Posso imaginar por que você vive confinada – Penélope exclamou depois de espremer cada detalhe da noite passada – Eu tenho que fazer milagre apenas para conseguir que aquele carrasco do Antony Mazza me dê um bom dia e então você apenas aparece e ele lhe pede para que o chame pelo primeiro nome e tem um sorriso idiota pra você. O irmão dele simplesmente faz um exame de amídalas em você depois de você ter insultado ele, sua casa e a sua família e a irmã dele só te idolatra. O homem ainda te oferece uma limusine para deixá-la na porta de casa. Eu apenas tive que me contentar com o bom e velho táxi. Não que eu quisesse qualquer coisa daquele carrasco – ela diz. Em seguida toma um longo gole do seu café – Você tinha que ver a troca de olhares entre Antonella e Anthony depois que vocês saíram. Parecia que viam uma santa. Mama mia!

            Eu enchi uma xícara de café bem quente e me sentei do outro lado da mesa de cozinha – Você está exagerando. Antony e Antonella foram apenas educados. Além disso, eu te disse: ele praticamente surtou por ter me beijado. Foi constrangedor. Eu não quero vê-lo nunca mais. Felizmente nós somos de mundos completamente diferentes. E, por favor, não invente de me arrastar pra outros eventos como este.

- Você precisar sair mais. Você é linda e jovem tem que fazer mais da vida além de ficar confinada no meio de livros e na frente de um editor de texto. Pelo amor de Deus. A vida é uma só.

- Eu saio.

-Eu não estou me referindo a passeios matinais. Eu estou falando de sair à noite para dançar, jantar, ter encontros, conhecer caras. Quando foi a última vez que você foi pra cama com um cara.

Eu abri a minha boca pra responder, mas sabemos que eu não tinha uma data. Eu fechei a boca, mas então pensei que eu poderia dizer uma data qualquer. Quando os seus olhos se arregalaram e sua boca se abriu exageradamente, eu sabia que eu tinha sido pega – Puta merda! Você nunca... você é virgem? Deus você já tinha beijado com exceção de ontem?

- Sim. Eu já beijei! – Exclamei indignada.

- Ok! Mas você nunca transou, não é.

- Quase – eu disse mas não era bem verdade. Eu beijei apenas três caras e um deles foi Matteo. Um foi o meu primeiro e único namorado. Ele me beijou no colégio e depois disso começamos a namorar, mas a coisa toda não durou mais do que um mês. Se eu sou tímida hoje, você pode imaginar na adolescência. Eu mal conseguia dizer uma palavra pra qualquer pessoa. Era absurdo. A coisa toda não durou mais do que um mês, quando ele viu que eu era um caso perdido. Na faculdade eu tentei sair com um cara uma vez, mas quando eu disse a ele que era virgem, ele apenas me largou lá e foi embora. Então eu desisti de tentar e me dediquei a estudar. Depois da faculdade eu estava praticamente confinada. Dedicando-me a escrever os meus livros e à leitura. Ao estudo de História da Arte e outras coisas.

- A pergunta é: você tem um hímen na sua vagina ou não.

- Deus, você tem que falar assim?

- Eu estou apenas sendo direta. É uma pergunta objetiva, a resposta é sim ou não. Não tem quase ou talvez.

-Sim – eu disse baixo de mais, na esperança de que ela não ouvisse.

- Puta merda! Inacreditável.

Eu comi meu sanduíche em silêncio, tentando ignorar os olhares incrédulos de Penélope em minha direção. Agora eu era oficialmente uma aberração – Deus! Quer parar de me olhar assim.

- Eu sinto muito. É que você é apenas... linda. Eu não consigo imaginar como ninguém nunca tentou...

- Podemos esquecer esse assunto.

- Eu vou tentar. Juro. Mas vai ser difícil.

Eu terminei rapidamente o meu café e fui para o meu quarto para fugir dos olhares incrédulos de Penélope. Eu podia imaginar ela fazendo uma campanha para arrumar possíveis candidatos para me deflorar. Era bem a cara dela.

Sozinha em meu quarto, eu decidi retomar o contato com as pessoas sobre o meu livro. Eu me estive distante na última semana e era importante manter o contato frequentemente. Eu não havia recebido mais nenhuma notícia do “estranho do f******k” como eu o chamava agora. Mas me vi extremamente temerosa e ao mesmo tempo excitada ao receber uma mensagem dele no final da tarde. Eu fiquei cerca de meia-hora tentando decidir se eu deveria abrir ou não a janela da mensagem. Eu poderia simplesmente ignorá-lo de agora em diante e deixar que ele pensasse o que quisesse sobre mim. Mas, de repente, era importante que eu conseguisse mostrar-lhe o meu ponto de vista. Minhas boas intenções. Incomodava-me o fato de que alguém pensasse tão mal de mim. Eu queria mudar isso. Queria convencê-lo. Então eu abri a sua mensagem:

“Eu sinto muito” Foi como ele começou e eu não pude deixar de me lembrar de Matteo. Eu acho que pelo resto da minha vida eu irei associar essa expressão a ele. Não importa quanto tempo passe. Três beijos incríveis, três manifestações de arrependimento. Afastei sua imagem da minha mente e continuei a ler “Não quero que me odeie. Pelo menos, não quero dar-lhe motivos para isso. A vida não tem sido tão generosa comigo. Talvez ela tenha sido pra você. Talvez seja por isso que você se sente tão à vontade para falar sobre as coisas boas da vida. Eu não me sinto assim. Sinto como se em algum momento, o chão tenha sido tirado debaixo dos meus pés e no lugar do chão, apenas um vazio ficou, como uma ameaça constante de queda. Imagine cair em um grande abismo e se manter continuamente em queda. Inicialmente você vai gritar, se debater, chorar, desesperar-se, mas quando isso for tudo o que acontece, você vai parar de lutar e apenas cair. Esperar que um dia o chão chegue e acabe com a incerteza eterna. Recentemente, tive a sensação de parar de cair, mas foi apenas uma sensação. Foi tão rápido. Tão efêmero. Foi-se. E, a certeza de que eu continuava caindo fez doer ainda mais. Antes eu não tivesse me permitido sonhar com o chão. Porque, a constatação de que ele não é real, apenas dói mais. Eu sinto muito por ter magoado você. Eu tenho feito isso com as pessoas a minha volta. Elas simplesmente não sabem como lidar com a minha dor. Eu tampouco. Espero que possa me perdoar. Queria ouvir você. Qualquer coisa.”

Eu fiquei lendo e relendo o seu texto por alguns minutos e pensando sobre ele. Outra mensagem sua chegou:

“Sei que você está aí. Por favor, fale comigo.”

“Oi” eu digitei e pensei sobre o que eu poderia escrever mais “eu não odeio você. Bem, talvez eu tenha odiado um pouco. Mas eu não guardo rancor por muito tempo. Entendo que as pessoas podem pensar de modo diferente de mim. Mas, magoou-me o fato de você me julgar sem me conhecer. Apenas baseado em uma das minhas histórias. A história de Meg e Ryan, fala de amor, de superação, de dificuldade e também de conquistas. Como você disse: A vida não tem sido generosa com você, mas belas histórias de amor existem na vida real, mas mesmo as histórias de amor dos livros falam de dificuldades, inseguranças, incertezas e dores. Mas isso não muda o que as pessoas sentem umas pelas outras nem nos livros, nem na vida real e, quando mudam, simplesmente não era amor. Eu sou uma boa observadora. Nem sempre eu falo do que eu vivo. Mas falo do que eu vejo, do que eu consigo captar das pessoas a minha volta ou sobre o que eu desejaria de bom para elas. Talvez a vida não tenha sido generosa pra mim também, mas ainda assim eu continuo tentando colher o melhor dela. Eu não sou uma mentira. Sou apenas alguém que escolheu não ser uma vítima, mesmo que eu tenha algum motivo pra isso. Tem uma diferença. Desejo que você escolha um papel melhor pra você. Eu gostaria de escrever coisas boas sobre a sua vida. Gostaria de mudar o seu nome pra começar. Mas se esse é o papel que escolheu para si, ou, mesmo que não tenha escolhido, mas o aceitou, então que seja, Pain.

Ele não respondeu de imediato e eu também decidi trabalhar um pouco e deixar de lado o estranho do f******k e a imagem dos beijos de Matteo. O primeiro foi fácil, mas o segundo foi uma luta. Eu ainda podia sentir o toque dos seus lábios sobre os meus, o calor da sua mão na base das minhas costas, o aperto firme dos seus dedos no meu cabelo. Uma hora diante do computador e eu não consegui digitar uma linha. Fechei o meu notebook e resolvi ler um pouco e esquecer os três: Pain, Matteo e o trabalho.

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