Kai Hoke
— Kai, vamos precisar viajar em breve, tudo bem? — Dylan, meu irmão, entrou na minha sala e afirmou. — Para onde? — Nova York, irmão. Início da fiscalização das obras do empreendimento do hospital. Teremos que ir, porque o cliente quer os responsáveis diretos lá, e não apenas "algum encarregado". — Fez aspas com os dedos e revirou os olhos. — Insuportável — murmurei. — Concordo, mas assinamos o contrato. Temos que ir — enfatizou. — Quando? — Semana que vem. Podemos passar no apartamento e ver como os meninos estão — sugeriu. — Sim, pelo menos não vai ser uma viagem totalmente perdida — ri. Mike já está lá há quase dois anos, e Cassidy foi no início desse ano, os dois são irmãos da minha cunhada e eu gostei deles logo que os conheci. Faz bastante tempo que não vejo os dois. Aqueles irmãos são como sobrinhos de verdade. Eu os amo como se fossem parte da minha família. Ir visitá-los não será tão chato assim. Podemos ver se estão precisando de alguma coisa. — Vou voltar para minha sala. Ah, só um aviso, meu querido irmão: não vá ao setor de marketing, ok? — falou, fazendo uma careta como se estivesse prestes a gargalhar. — Por que não? — Apenas não vá — insistiu. — Dylan... — Até mais, irmão. — Sorriu e correu para fora da minha sala. Balancei a cabeça e voltei a analisar os contratos mais urgentes. Desde que Joshua virou governador, com todas as polêmicas envolvendo seu sequestro e os ataques que minha cunhada sofreu, praticamente triplicamos a quantidade de novos contratos em todas as empresas. Pelo menos, todo aquele estresse serviu para fazer mais dinheiro. E é exatamente disso que eu gosto: encerrar o dia com alguns milhões a mais. No meio da tarde, saí da sala para buscar uma bebida na máquina perto da recepção. Lembrei de Dylan me dizendo para não ir ao setor de marketing. Obviamente, fui. Sou um homem curioso. Parecia tudo normal: os funcionários trabalhavam em suas mesas. Cumprimentei todos e dei alguns passos, tentando descobrir o que aquele maluco estava falando. — Kai — ouvi uma voz muito animada, talvez até demais, atrás de mim. — Faz tempo que não nos vemos. — Oi, Sandra — falei ao me virar e ver a antiga recepcionista do meu andar. — É Suzy — corrigiu, estendendo a mão, que aceitei. — Achei que não viria me ver — Falou com a voz mais lenta, tentando soar manhosa. — Na verdade, só passei para dar uma olhada no setor. Já estou indo. Até mais! — Espera — segurou meu antebraço. — Você parece estressado. Não quer relaxar um pouco? — perguntou de forma sugestiva. — Olha, San... — Ela levantou a sobrancelha, e procurei o nome certo na memória. — Suzy — Falou irritada. — Suzy, olha, o que nós tivemos foi bom, mas acabou, ok? Este é nosso local de trabalho. Não vamos trazer esses assuntos para cá. Você não quer ter problemas, e nem eu — Falei de forma direta. — Ter problemas? Está me ameaçando? — Perguntou, cruzando os braços. — Não, eu jamais faria isso. Só quero que não tenhamos qualquer tipo de contato além do profissional aqui dentro, está bem? — Perguntei sério. — Aqui dentro... — murmurou, e respirei fundo para manter a paciência. — Tudo bem. Bom trabalho, Kai — disse, dando dois tapinhas no meu braço e saindo com um sorriso. Merda. Alguma coisa me diz que essa mulher vai ser uma pedra no meu sapato. Dylan estava certo. Ele me avisou para não me envolver com funcionárias, e, droga, eu trepei demais com essa. Saí dali rapidamente e voltei para minha sala. O resto do dia passou rápido, e corri para o estacionamento, querendo chegar em casa logo e descansar. Os últimos dias foram cheios de trabalho e reuniões intermináveis. Há ainda um projeto pessoal meu que venho desenvolvendo há bastante tempo. Eu gosto de ser Kai Hoke, herdeiro de Kaili Hoke, mas também quero fazer algo separado, algo que me coloque no mercado apenas como Kai. Talvez isso não aconteça facilmente, mas pelo menos é algo meu, criado e desenvolvido por mim. Quando cheguei em casa, fui direto tomar um banho. Precisava relaxar com um bom whisky e um filme de ação com bastante tiro e sangue. Mamãe me ligou logo que cheguei à cozinha e coloquei a pizza para descongelar. Amo comida rápida. Com tanto trabalho e pouco tempo no dia, é o que me salva. — Senhora Hoke — falei sorrindo. — Kai, como você está? Dylan saiu daqui agora. Vocês vão viajar? — É a trabalho, mãe — expliquei. — Eu sei, querido. Só liguei para confirmar e saber como você está. Você nunca me liga — reclamou. — Estou bem, mãe. Vou visitar a senhora em breve, antes de viajar. Prometo. — E eu deveria ir mesmo, depois que papai morreu, sinto que mamãe precisa de mais atenção dos filhos. Principalmente eu. — Acho bom. Mike e Cassidy vinham com frequência. Aqueles, sim, são bons meninos. Estou pensando... Acho que vou mandar presentes para eles. Eu acho que... Ela continuou falando, e eu apenas concordando. O apito da pizza me salvou. Despedi-me dela e desliguei. Agora que mamãe está viúva, tem tempo de sobra para tagarelar no telefone sobre qualquer coisa que lhe agrade. Amo minha mãe, e agora só tenho ela. É como guardar um item precioso que você sabe que pode se quebrar a qualquer momento. Sentei-me no sofá com o prato de pizza descongelada e minha bebida. Estava uma paz tão boa... Pena que algum sem noção decidiu atrapalhar meu momento. Levei o prato e o copo até a pia e segui para a porta da frente. Arregalei os olhos ao ver a recepcionista. — O que... Quem deixou você subir? — indaguei, assustado. — O porteiro é um senhor muito legal. Percebi que você estava bem estressado hoje mais cedo. Vim para te deixar relaxado — sorriu e abriu o laço do sobretudo que usava. A mulher, completamente maluca, deixou a peça cair, ficando apenas de calcinha. Dava para ver tudo. Fechei os olhos com força. Droga. Eu sabia que isso ia dar merda. Daquelas bem grandes.Cassidy Algumas coisas não mudam. O tempo passa, eu tenho mais oportunidades de viver minha vida, mas continuo presa nos meus pensamentos, imaginando como deve ser estar no lugar das mulheres nas fotos ao lado de Kai. Minha última aula terminou e eu estava indo para casa quando senti uma mão em meu ombro. Parei e me virei. — Cass. — Oi, Peter. — sorri, surpresa. Peter e eu trocamos poucas palavras neste ano, e quase não tivemos interações além de olhares e, como Mike diria, "um clima". — Então, vai rolar uma festa hoje. Topa? — perguntou. Pisquei, surpresa com o convite. Nunca tivemos intimidade além de um simples "bom dia". — Ah, obrigada, mas não sei se vou conseguir, tenho muito o que estudar — respondi, sorrindo sem graça. — Tudo bem, se mudar de ideia, esse é meu número. Até mais. — Ele me entregou um papel e sorriu. Peter tocou meu ombro antes de se afastar. Fiquei alguns segundos tentando entender a situação, mas logo dei de ombros e segui meu caminho.
Já faz uma semana que cometi a maior burrada da minha vida. O que eu tinha na cabeça para achar que Kai simplesmente iria sorrir para mim e me beijar apaixonadamente? Claro que ele fez o completo oposto. Estou exausta de sentir isso, de ficar olhando as notícias dele e vê-lo saindo com mulheres diferentes a cada fim de semana. Preciso acabar com esse sentimento de uma vez por todas. Mike percebeu minha tristeza nos últimos dias, mas disfarcei e disse que era apenas preocupação com as matérias difíceis. — Você parece muito triste, quer fazer algo? Olha, sei que não curto essas coisas, mas... — ele respirou fundo. — Vai ter uma festa amanhã à noite. Vai querer ir? — Quem é você e o que fez com meu irmão recluso? — sorri. — Está tudo bem, Mike. Não quero ir, vamos em outro lugar. Talvez ao shopping? — Você é a melhor irmã. Eu odiaria ficar mais de trinta minutos com aquele bando de idiotas se esfregando uns nos outros, suados e bêbados. — Falando assim, parece nojento — gargalhei.
Kai — Você já pode sair, querida, eu preciso trabalhar agora — falei.Observei a mulher saindo do banheiro usando um roupão de banho e me perguntei de onde ela tirou tanta intimidade para usar as minhas coisas.— Achei que passaria o dia com você — ela disse, sorrindo.Devo confessar: a mulher é linda. A noite de ontem foi intensa, para dizer o mínimo. Ela aceitou todos os meus desejos e topou tudo sem hesitar. Realmente foi uma experiência incrível, mas agora é hora de ir embora.— Infelizmente, não vai ser possível, Dania. Preciso trabalhar. Eu te vejo depois — falei com um sorriso, tentando não deixá-la desconfortável.— É Denise, seu idiota — reclamou, largando o roupão no chão.— Foi isso que eu disse, gata.— Você me chamou de Dania, imbecil — protestou, irritada.— É quase a mesma coisa — ri, debochado.Ela me fuzilou com o olhar antes de sair correndo do meu quarto. Suspirei, levantando da cama com preguiça, e caminhei até o banheiro. O dia na empresa prometia ser bem cheio.
Cassidy Meses depois Olivia me convidou com bastante antecedência para o aniversário de dois anos de Ivanna. Eu amo minha sobrinha e, claro, não poderia faltar. Peter, ao meu lado, estava visivelmente nervoso, já que seria a primeira vez que eu o apresentaria como meu namorado para toda a família. Desde aquele dia em que saímos juntos à noite, nossa relação foi se tornando mais próxima. Aos poucos, ele conquistou meu coração, embora tenhamos decidido, no início, ser apenas amigos e deixar as coisas acontecerem naturalmente. Peter me falou sobre sua sexualidade desde o começo. Ele foi o melhor amigo que já tive, e mesmo sendo bissexual, decidimos namorar e ver até onde isso nos levaria. Para mim, era também uma tentativa de viver minha juventude plenamente e, quem sabe, esquecer a vergonha que já passei no passado. — Tem certeza de que eles vão gostar de mim? — perguntou novamente, ansioso. — E se alguém descobrir? — Peter, calma. Ninguém vai descobrir nada. E, se descobrirem, nin
Kai Hoke Criar uma marca não é fácil. É como entrar em um campo de batalha lotado, onde cada novo concorrente surge carregando a promessa de algo inovador. Foi nesse cenário que nasceu a Imperial Men’s, uma marca pensada para homens como eu: seguros de quem são e do que desejam. Relógios, peças íntimas e óculos escuros são os pilares da coleção. Eu queria criar algo que fosse um reflexo genuíno de mim mesmo, e essas são exatamente as coisas que adoro adquirir das melhores marcas possíveis. — Uau... — Dylan murmurou, com os olhos fixos nas peças. Joshua, por outro lado, me olhava com uma expressão de surpresa escancarada. — Isso é sério? — ele perguntou, ainda tentando processar a informação. — Kai, por que não disse nada? — Morgana me encarou, como se eu tivesse cometido um crime imperdoável. Alexander, sempre mais contido, apenas observava as peças em silêncio, analisando cada detalhe com uma atenção quase intimidante. Respirei fundo antes de responder. Por muito tempo, eu qu
Cassidy Anos atrásHoje é o meu aniversário, e toda a família se reuniu para comemorar. Em poucos meses, eu vou me formar no high school e, então, começar a faculdade — um novo capítulo da minha vida que espero ansiosamente. Meu irmão Michael já deu esse passo no ano passado, e em breve eu o acompanharei em Nova York. Tenho uma esperança secreta: que ao me mudar, minha vida mude também. Ou melhor, que eu mude.Desde os meus quase dezesseis anos, carrego um segredo que me atormenta. Sou apaixonada pelo cunhado da minha irmã, um homem que tem o dobro da minha idade e um histórico de mulherengo assumido. Kai Hoke é o tipo de pessoa que jamais olharia para mim, e eu sei disso. Essa é a razão pela qual anseio por essa mudança. Quero me libertar desse sentimento, esquecê-lo e seguir em frente. Pelo menos, é o que eu digo para mim mesma.– Cassidy, você está linda, querida – disse Kai, com a voz calma que sempre me desconcerta.Respirei fundo antes de responder.– Obrigada, Kai – agradeci,