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Capítulo 2- Não Deveria ter Feito Isso

Kai Hoke

— Kai, vamos precisar viajar em breve, tudo bem? — Dylan, meu irmão, entrou na minha sala e afirmou.

— Para onde?

— Nova York, irmão. Início da fiscalização das obras do empreendimento do hospital. Teremos que ir, porque o cliente quer os responsáveis diretos lá, e não apenas "algum encarregado". — Fez aspas com os dedos e revirou os olhos.

— Insuportável — murmurei.

— Concordo, mas assinamos o contrato. Temos que ir — enfatizou.

— Quando?

— Semana que vem. Podemos passar no apartamento e ver como os meninos estão — sugeriu.

— Sim, pelo menos não vai ser uma viagem totalmente perdida — ri.

Mike já está lá há quase dois anos, e Cassidy foi no início desse ano, os dois são irmãos da minha cunhada e eu gostei deles logo que os conheci. Faz bastante tempo que não vejo os dois. Aqueles irmãos são como sobrinhos de verdade. Eu os amo como se fossem parte da minha família.

Ir visitá-los não será tão chato assim. Podemos ver se estão precisando de alguma coisa.

— Vou voltar para minha sala. Ah, só um aviso, meu querido irmão: não vá ao setor de marketing, ok? — falou, fazendo uma careta como se estivesse prestes a gargalhar.

— Por que não?

— Apenas não vá — insistiu.

— Dylan...

— Até mais, irmão. — Sorriu e correu para fora da minha sala.

Balancei a cabeça e voltei a analisar os contratos mais urgentes. Desde que Joshua virou governador, com todas as polêmicas envolvendo seu sequestro e os ataques que minha cunhada sofreu, praticamente triplicamos a quantidade de novos contratos em todas as empresas. Pelo menos, todo aquele estresse serviu para fazer mais dinheiro.

E é exatamente disso que eu gosto: encerrar o dia com alguns milhões a mais.

No meio da tarde, saí da sala para buscar uma bebida na máquina perto da recepção. Lembrei de Dylan me dizendo para não ir ao setor de marketing. Obviamente, fui. Sou um homem curioso.

Parecia tudo normal: os funcionários trabalhavam em suas mesas. Cumprimentei todos e dei alguns passos, tentando descobrir o que aquele maluco estava falando.

— Kai — ouvi uma voz muito animada, talvez até demais, atrás de mim. — Faz tempo que não nos vemos.

— Oi, Sandra — falei ao me virar e ver a antiga recepcionista do meu andar.

— É Suzy — corrigiu, estendendo a mão, que aceitei. — Achei que não viria me ver — Falou com a voz mais lenta, tentando soar manhosa.

— Na verdade, só passei para dar uma olhada no setor. Já estou indo. Até mais!

— Espera — segurou meu antebraço. — Você parece estressado. Não quer relaxar um pouco? — perguntou de forma sugestiva.

— Olha, San... — Ela levantou a sobrancelha, e procurei o nome certo na memória.

— Suzy — Falou irritada.

— Suzy, olha, o que nós tivemos foi bom, mas acabou, ok? Este é nosso local de trabalho. Não vamos trazer esses assuntos para cá. Você não quer ter problemas, e nem eu — Falei de forma direta.

— Ter problemas? Está me ameaçando? — Perguntou, cruzando os braços.

— Não, eu jamais faria isso. Só quero que não tenhamos qualquer tipo de contato além do profissional aqui dentro, está bem? — Perguntei sério.

— Aqui dentro... — murmurou, e respirei fundo para manter a paciência.

— Tudo bem. Bom trabalho, Kai — disse, dando dois tapinhas no meu braço e saindo com um sorriso.

Merda. Alguma coisa me diz que essa mulher vai ser uma pedra no meu sapato. Dylan estava certo. Ele me avisou para não me envolver com funcionárias, e, droga, eu trepei demais com essa.

Saí dali rapidamente e voltei para minha sala.

O resto do dia passou rápido, e corri para o estacionamento, querendo chegar em casa logo e descansar. Os últimos dias foram cheios de trabalho e reuniões intermináveis.

Há ainda um projeto pessoal meu que venho desenvolvendo há bastante tempo. Eu gosto de ser Kai Hoke, herdeiro de Kaili Hoke, mas também quero fazer algo separado, algo que me coloque no mercado apenas como Kai. Talvez isso não aconteça facilmente, mas pelo menos é algo meu, criado e desenvolvido por mim.

Quando cheguei em casa, fui direto tomar um banho. Precisava relaxar com um bom whisky e um filme de ação com bastante tiro e sangue.

Mamãe me ligou logo que cheguei à cozinha e coloquei a pizza para descongelar. Amo comida rápida. Com tanto trabalho e pouco tempo no dia, é o que me salva.

— Senhora Hoke — falei sorrindo.

— Kai, como você está? Dylan saiu daqui agora. Vocês vão viajar?

— É a trabalho, mãe — expliquei.

— Eu sei, querido. Só liguei para confirmar e saber como você está. Você nunca me liga — reclamou.

— Estou bem, mãe. Vou visitar a senhora em breve, antes de viajar. Prometo. — E eu deveria ir mesmo, depois que papai morreu, sinto que mamãe precisa de mais atenção dos filhos. Principalmente eu.

— Acho bom. Mike e Cassidy vinham com frequência. Aqueles, sim, são bons meninos. Estou pensando... Acho que vou mandar presentes para eles. Eu acho que...

Ela continuou falando, e eu apenas concordando. O apito da pizza me salvou. Despedi-me dela e desliguei. Agora que mamãe está viúva, tem tempo de sobra para tagarelar no telefone sobre qualquer coisa que lhe agrade.

Amo minha mãe, e agora só tenho ela. É como guardar um item precioso que você sabe que pode se quebrar a qualquer momento.

Sentei-me no sofá com o prato de pizza descongelada e minha bebida.

Estava uma paz tão boa... Pena que algum sem noção decidiu atrapalhar meu momento. Levei o prato e o copo até a pia e segui para a porta da frente. Arregalei os olhos ao ver a recepcionista.

— O que... Quem deixou você subir? — indaguei, assustado.

— O porteiro é um senhor muito legal. Percebi que você estava bem estressado hoje mais cedo. Vim para te deixar relaxado — sorriu e abriu o laço do sobretudo que usava.

A mulher, completamente maluca, deixou a peça cair, ficando apenas de calcinha. Dava para ver tudo.

Fechei os olhos com força. Droga. Eu sabia que isso ia dar merda. Daquelas bem grandes.

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