Cassidy
Anos atrás Hoje é o meu aniversário, e toda a família se reuniu para comemorar. Em poucos meses, eu vou me formar no high school e, então, começar a faculdade — um novo capítulo da minha vida que espero ansiosamente. Meu irmão Michael já deu esse passo no ano passado, e em breve eu o acompanharei em Nova York. Tenho uma esperança secreta: que ao me mudar, minha vida mude também. Ou melhor, que eu mude. Desde os meus quase dezesseis anos, carrego um segredo que me atormenta. Sou apaixonada pelo cunhado da minha irmã, um homem que tem o dobro da minha idade e um histórico de mulherengo assumido. Kai Hoke é o tipo de pessoa que jamais olharia para mim, e eu sei disso. Essa é a razão pela qual anseio por essa mudança. Quero me libertar desse sentimento, esquecê-lo e seguir em frente. Pelo menos, é o que eu digo para mim mesma. – Cassidy, você está linda, querida – disse Kai, com a voz calma que sempre me desconcerta. Respirei fundo antes de responder. – Obrigada, Kai – agradeci, chamando-o pelo nome, como sempre. Nunca me referi a ele como "tio", embora a família Hoke nos trate como sobrinhos desde que nos conheceu. Eu tinha apenas quinze anos na época, e eles nos acolheram de maneira calorosa. Mas chamar Kai de tio? Isso nunca aconteceu. Eu queria ser qualquer coisa, menos uma sobrinha para ele. – Está ansiosa para ir a Nova York? – ele perguntou, parecendo genuinamente interessado. – Muito – respondi, sincera. – Mamãe vai sentir muito a sua falta, querida – disse ele, tocando meu ombro de leve e sorrindo. Eu o odeio por fazer isso. Por me tocar dessa forma, por me sorrir assim, por ser tão atencioso. Odeio porque isso me faz imaginar como seria se ele me tratasse como trata suas namoradas. Odiá-lo é mais fácil do que admitir que estou presa a um sentimento que não deveria existir. – Ah, eu também vou sentir falta dela – falei, tentando disfarçar o turbilhão dentro de mim. – Mas vocês podem me visitar. – Claro, sempre que possível, eu irei vê-los – ele afirmou. Vê-los. Ele sempre inclui meu irmão e os outros na equação, nunca apenas eu. E por que ele viria só por mim? Eu sei que não deveria pensar assim, mas não consigo evitar. Talvez eu goste de sofrer. A festa continuou por horas. Minha irmã Olívia e seu marido, Joshua, foram os pilares da minha vida e da de Michael. Eles assumiram a responsabilidade por nós dois em um momento crítico, e serei eternamente grata. Joshua, além de ser governador do estado, é um homem incrível, e juntos eles formaram uma família linda com três filhos: os gêmeos Kaili e Keanu, e a pequena Ivanna, que carinhosamente chamamos de Nana. Observar a família perfeita que minha irmã construiu apenas intensifica meus sonhos. Sonhos que, por mais que eu negue, sempre terminam em uma vida com Kai. Quando a festa acabou e todos foram embora, aproveitei para passar um tempo com Michael. – Está ficando velha, tampinha – ele brincou, bagunçando meu cabelo. – Mas ainda é minha irmãzinha. – Mike, você só é um ano mais velho que eu, esquisito – retruquei, rindo. – Mas ainda sou o mais velho – ele riu. – Vai me contar por que esteve tão estranha durante a festa? Claro que ele perceberia. Sempre fomos nós dois contra o mundo. Crescemos juntos, dividimos alegrias e tristezas, mesmo antes de saber que Olívia estava viva e morava perto de nós. Michael sempre foi meu confidente, meu melhor amigo e o melhor irmão que eu poderia pedir. – Odeio como você me conhece tão bem – suspirei. – Não foi nada. Acho que estou ansiosa para me mudar e ficar mais perto de você – brinquei, tentando mudar de assunto. – Então, não fique ansiosa, tampinha. Logo você vai estar reclamando das minhas manias esquisitas de novo – ele disse, rindo. – Você é um idiota, Michael – respondi, rindo também. – Mas você me ama, não é? Fiz uma careta antes de cairmos na risada. Ele sabia que eu o amava, e isso nunca precisou ser dito. Passamos o resto da noite assistindo a filmes e comendo pipoca, um dos nossos rituais favoritos. Quando finalmente fui para a cama, peguei meu telefone e abri o I*******m. Um erro. Entre as muitas postagens, lá estava mais uma foto de Kai ao lado de uma mulher desconhecida. Já deveria estar acostumada a isso, mas ainda é desconfortável. Ele nunca repete suas acompanhantes, e os sites de fofoca não perdem a oportunidade de expô-lo. Desde que Joshua se tornou governador e passou por escândalos ao lado de Olívia, a família tem sido um prato cheio para a mídia. Dei zoom na foto, tentando identificar a mulher, mas ela não parecia familiar. Nem me dei ao trabalho de ler a legenda. Na próxima semana, haverá outra foto com outra mulher, e o ciclo se repetira. Parte de mim se sente aliviada porque ele não está preso a ninguém; outra parte se entristece porque eu sei que nunca estarei em uma dessas fotos. Enquanto olhava para o teto do meu quarto, me perguntei quantas vezes ainda deixarei que ele invada meus pensamentos. A mudança para Nova York é minha chance de um novo começo, de me reinventar. Longe dele, talvez eu encontre o espaço para respirar, para construir algo novo — algo que não o envolva. Mas, enquanto isso não acontece, ainda sou a garota que sonha com o inalcançável, que se apaixona pelo improvável e que espera que a vida lhe dê um caminho mais claro. Talvez essa seja apenas uma fase, uma parte do meu amadurecimento. Ou talvez Kai seja um capítulo que eu nunca consiga fechar.Kai Hoke— Kai, vamos precisar viajar em breve, tudo bem? — Dylan, meu irmão, entrou na minha sala e afirmou. — Para onde? — Nova York, irmão. Início da fiscalização das obras do empreendimento do hospital. Teremos que ir, porque o cliente quer os responsáveis diretos lá, e não apenas "algum encarregado". — Fez aspas com os dedos e revirou os olhos. — Insuportável — murmurei. — Concordo, mas assinamos o contrato. Temos que ir — enfatizou. — Quando? — Semana que vem. Podemos passar no apartamento e ver como os meninos estão — sugeriu. — Sim, pelo menos não vai ser uma viagem totalmente perdida — ri. Mike já está lá há quase dois anos, e Cassidy foi no início desse ano, os dois são irmãos da minha cunhada e eu gostei deles logo que os conheci. Faz bastante tempo que não vejo os dois. Aqueles irmãos são como sobrinhos de verdade. Eu os amo como se fossem parte da minha família. Ir visitá-los não será tão chato assim. Podemos ver se estão precisando de alguma co
Cassidy Algumas coisas não mudam. O tempo passa, eu tenho mais oportunidades de viver minha vida, mas continuo presa nos meus pensamentos, imaginando como deve ser estar no lugar das mulheres nas fotos ao lado de Kai. Minha última aula terminou e eu estava indo para casa quando senti uma mão em meu ombro. Parei e me virei. — Cass. — Oi, Peter. — sorri, surpresa. Peter e eu trocamos poucas palavras neste ano, e quase não tivemos interações além de olhares e, como Mike diria, "um clima". — Então, vai rolar uma festa hoje. Topa? — perguntou. Pisquei, surpresa com o convite. Nunca tivemos intimidade além de um simples "bom dia". — Ah, obrigada, mas não sei se vou conseguir, tenho muito o que estudar — respondi, sorrindo sem graça. — Tudo bem, se mudar de ideia, esse é meu número. Até mais. — Ele me entregou um papel e sorriu. Peter tocou meu ombro antes de se afastar. Fiquei alguns segundos tentando entender a situação, mas logo dei de ombros e segui meu caminho.
Já faz uma semana que cometi a maior burrada da minha vida. O que eu tinha na cabeça para achar que Kai simplesmente iria sorrir para mim e me beijar apaixonadamente? Claro que ele fez o completo oposto. Estou exausta de sentir isso, de ficar olhando as notícias dele e vê-lo saindo com mulheres diferentes a cada fim de semana. Preciso acabar com esse sentimento de uma vez por todas. Mike percebeu minha tristeza nos últimos dias, mas disfarcei e disse que era apenas preocupação com as matérias difíceis. — Você parece muito triste, quer fazer algo? Olha, sei que não curto essas coisas, mas... — ele respirou fundo. — Vai ter uma festa amanhã à noite. Vai querer ir? — Quem é você e o que fez com meu irmão recluso? — sorri. — Está tudo bem, Mike. Não quero ir, vamos em outro lugar. Talvez ao shopping? — Você é a melhor irmã. Eu odiaria ficar mais de trinta minutos com aquele bando de idiotas se esfregando uns nos outros, suados e bêbados. — Falando assim, parece nojento — gargalhei.
Kai — Você já pode sair, querida, eu preciso trabalhar agora — falei.Observei a mulher saindo do banheiro usando um roupão de banho e me perguntei de onde ela tirou tanta intimidade para usar as minhas coisas.— Achei que passaria o dia com você — ela disse, sorrindo.Devo confessar: a mulher é linda. A noite de ontem foi intensa, para dizer o mínimo. Ela aceitou todos os meus desejos e topou tudo sem hesitar. Realmente foi uma experiência incrível, mas agora é hora de ir embora.— Infelizmente, não vai ser possível, Dania. Preciso trabalhar. Eu te vejo depois — falei com um sorriso, tentando não deixá-la desconfortável.— É Denise, seu idiota — reclamou, largando o roupão no chão.— Foi isso que eu disse, gata.— Você me chamou de Dania, imbecil — protestou, irritada.— É quase a mesma coisa — ri, debochado.Ela me fuzilou com o olhar antes de sair correndo do meu quarto. Suspirei, levantando da cama com preguiça, e caminhei até o banheiro. O dia na empresa prometia ser bem cheio.
Cassidy Meses depois Olivia me convidou com bastante antecedência para o aniversário de dois anos de Ivanna. Eu amo minha sobrinha e, claro, não poderia faltar. Peter, ao meu lado, estava visivelmente nervoso, já que seria a primeira vez que eu o apresentaria como meu namorado para toda a família. Desde aquele dia em que saímos juntos à noite, nossa relação foi se tornando mais próxima. Aos poucos, ele conquistou meu coração, embora tenhamos decidido, no início, ser apenas amigos e deixar as coisas acontecerem naturalmente. Peter me falou sobre sua sexualidade desde o começo. Ele foi o melhor amigo que já tive, e mesmo sendo bissexual, decidimos namorar e ver até onde isso nos levaria. Para mim, era também uma tentativa de viver minha juventude plenamente e, quem sabe, esquecer a vergonha que já passei no passado. — Tem certeza de que eles vão gostar de mim? — perguntou novamente, ansioso. — E se alguém descobrir? — Peter, calma. Ninguém vai descobrir nada. E, se descobrirem, nin
Kai Hoke Criar uma marca não é fácil. É como entrar em um campo de batalha lotado, onde cada novo concorrente surge carregando a promessa de algo inovador. Foi nesse cenário que nasceu a Imperial Men’s, uma marca pensada para homens como eu: seguros de quem são e do que desejam. Relógios, peças íntimas e óculos escuros são os pilares da coleção. Eu queria criar algo que fosse um reflexo genuíno de mim mesmo, e essas são exatamente as coisas que adoro adquirir das melhores marcas possíveis. — Uau... — Dylan murmurou, com os olhos fixos nas peças. Joshua, por outro lado, me olhava com uma expressão de surpresa escancarada. — Isso é sério? — ele perguntou, ainda tentando processar a informação. — Kai, por que não disse nada? — Morgana me encarou, como se eu tivesse cometido um crime imperdoável. Alexander, sempre mais contido, apenas observava as peças em silêncio, analisando cada detalhe com uma atenção quase intimidante. Respirei fundo antes de responder. Por muito tempo, eu qu