Kai
— Você já pode sair, querida, eu preciso trabalhar agora — falei. Observei a mulher saindo do banheiro usando um roupão de banho e me perguntei de onde ela tirou tanta intimidade para usar as minhas coisas. — Achei que passaria o dia com você — ela disse, sorrindo. Devo confessar: a mulher é linda. A noite de ontem foi intensa, para dizer o mínimo. Ela aceitou todos os meus desejos e topou tudo sem hesitar. Realmente foi uma experiência incrível, mas agora é hora de ir embora. — Infelizmente, não vai ser possível, Dania. Preciso trabalhar. Eu te vejo depois — falei com um sorriso, tentando não deixá-la desconfortável. — É Denise, seu idiota — reclamou, largando o roupão no chão. — Foi isso que eu disse, gata. — Você me chamou de Dania, imbecil — protestou, irritada. — É quase a mesma coisa — ri, debochado. Ela me fuzilou com o olhar antes de sair correndo do meu quarto. Suspirei, levantando da cama com preguiça, e caminhei até o banheiro. O dia na empresa prometia ser bem cheio. Eu sei que, fora do trabalho, sou o típico vagabundo que vive de festas e aventuras. Mas, ao atravessar as portas da empresa, eu me transformo em Kai Hoke, o empresário de sucesso que consegue tudo o que quer. Antes de morrer, meu velho me ensinou tudo o que sei. Segui cada um de seus conselhos... exceto o de encontrar uma boa mulher e me casar. Esse eu fiz questão de ignorar. Meu pai foi o melhor homem que já conheci. Ele era especial, tanto como pai quanto como marido. Mereceu todas as honras que recebeu. Nossa família nunca mais foi a mesma desde que ele se foi. Perdê-lo foi um golpe duro para mim. Eu realmente o amava. Balancei a cabeça para afastar esses pensamentos tristes e liguei o chuveiro, deixando a água quente escorrer pelo meu corpo. Tenho um dia bem produtivo pela frente. * * * * * * Cheguei no horário e fui direto para minha sala. Faz tempo que não vejo meu irmão mais velho por aqui. Desde que ele se tornou governador, todo o seu tempo tem sido dedicado ao trabalho pelo povo e aos cuidados com a família. Josh parece tão feliz que, às vezes, me pergunto se não é apenas uma fantasia deles. Não é possível que alguém ame outra pessoa tão intensamente a ponto de cometer todas as loucuras que Joshua e Olivia já fizeram um pelo outro. A primeira foi ter filhos. Caramba, eles realmente gostaram disso. Mas preciso admitir: eles são uma família bonita. Um barulho na porta me tirou de um devaneio bobo sobre a família do meu irmão. Autorizei a entrada, e Dylan atravessou o espaço. — Desde quando você b**e na porta? — perguntei, brincando. — Desde que entrei naquela quinta-feira e vi uma das recepcionistas praticamente esfregando os peitos na sua cara. Nus. — respondeu direto. — Aquilo foi... — suspirei. — Um erro enorme e do qual você se arrepende amargamente? — provocou, irônico. — Dylan, ela apareceu na minha casa usando apenas um sobretudo, porra! Nem sei como conseguiu passar pelo porteiro — cocei a cabeça, desconfortável. — Estou muito ferrado, não é? — Eu avisei para não se envolver com a garota — ele repreendeu. — Ela não vai largar o osso tão cedo. — Foi um vacilo. O único em toda a minha vida corporativa. Ela me pegou em um dia ruim — tentei me justificar. Naquele dia, eu estava saindo de uma boate e voltando para casa. O dia tinha sido péssimo; passamos por um estresse imenso com meu irmão sendo sequestrado. Quando ele retornou, eu estava exausto e só queria extravasar. Acabei indo beber e, consequentemente, transar. Mas, na verdade, eu nem estava no clima e quis ir embora. Foi então que ela apareceu. Me cumprimentou na saída e grudou em mim. Bom, eu não sou de ferro, e a noite acabou com ela na minha cama. O problema é que, depois disso, ela quis continuar... e eu não repito. Nunca. — Seja como for, dê seu jeito. Ah, não esquece do compromisso hoje à noite na casa do Josh — avisou, levantando da cadeira e saindo sem esperar minha resposta. — Ok. Até mais — murmurei. Se eu já estava com dor de cabeça por causa da recepcionista que me perseguia, piorou ao lembrar que hoje à noite temos um jantar na casa de Olivia para celebrar o feriado. Mike e Cassidy estarão lá. Estou feliz em rever Mike, mas Cassidy é... complicada. Ela é linda, o sonho de qualquer homem que queira ter uma família com uma mulher especial. Mas esse não sou eu. Quando ela me beijou, confesso que me senti tentado a continuar. Sua boca era surpreendentemente macia e doce. Mas tive que manter a postura e afastá-la. Cassidy não pode continuar sentindo nada por mim. É o melhor para todos nós. Eu vou continuar levando a vida que conheço. É assim que sei viver; é assim que sou. Saí dos meus pensamentos quando o telefone tocou. Era Joshua. — A que devo a honra, governador? — atendi, brincando. — Kai, preciso de um favor. Ivanna não está se sentindo bem, e eu vou ajudar Olivia com ela. Ivan já chegou e está cuidando do jantar. Dylan tem um compromisso, e Morg... bom, você sabe. Consegue buscar os meninos no aeroporto? Ou mando um motorista, se preferir. Desde que descobrimos que Ivan, pai de Olivia, estava vivo e procurando por ela, Joshua o contratou como motorista. Além de ser mecânico, Ivan ama os netos. Meu irmão quis ajudá-lo oferecendo um salário maior e a oportunidade de ficar perto da família. — Não, não precisa. Eu vou sim — confirmei. — Me envie os dados do voo. — Certo, obrigado. Até mais — desligou. Logo depois, recebi por mensagem os detalhes e o horário de desembarque. Aproveitei o dia como pude, gerenciando as empresas e marcando uma reunião com a equipe que trabalha em um projeto pessoal meu. Estou muito animado e confiante de que vai dar certo. Quando finalizei tudo, fui ao aeroporto buscá-los. A primeira coisa que reparei foi que Cassidy estava diferente. A segunda foi a forma como ela veio até mim, fingindo que nada havia acontecido.Cassidy Meses depois Olivia me convidou com bastante antecedência para o aniversário de dois anos de Ivanna. Eu amo minha sobrinha e, claro, não poderia faltar. Peter, ao meu lado, estava visivelmente nervoso, já que seria a primeira vez que eu o apresentaria como meu namorado para toda a família. Desde aquele dia em que saímos juntos à noite, nossa relação foi se tornando mais próxima. Aos poucos, ele conquistou meu coração, embora tenhamos decidido, no início, ser apenas amigos e deixar as coisas acontecerem naturalmente. Peter me falou sobre sua sexualidade desde o começo. Ele foi o melhor amigo que já tive, e mesmo sendo bissexual, decidimos namorar e ver até onde isso nos levaria. Para mim, era também uma tentativa de viver minha juventude plenamente e, quem sabe, esquecer a vergonha que já passei no passado. — Tem certeza de que eles vão gostar de mim? — perguntou novamente, ansioso. — E se alguém descobrir? — Peter, calma. Ninguém vai descobrir nada. E, se descobrirem, nin
Kai Hoke Criar uma marca não é fácil. É como entrar em um campo de batalha lotado, onde cada novo concorrente surge carregando a promessa de algo inovador. Foi nesse cenário que nasceu a Imperial Men’s, uma marca pensada para homens como eu: seguros de quem são e do que desejam. Relógios, peças íntimas e óculos escuros são os pilares da coleção. Eu queria criar algo que fosse um reflexo genuíno de mim mesmo, e essas são exatamente as coisas que adoro adquirir das melhores marcas possíveis. — Uau... — Dylan murmurou, com os olhos fixos nas peças. Joshua, por outro lado, me olhava com uma expressão de surpresa escancarada. — Isso é sério? — ele perguntou, ainda tentando processar a informação. — Kai, por que não disse nada? — Morgana me encarou, como se eu tivesse cometido um crime imperdoável. Alexander, sempre mais contido, apenas observava as peças em silêncio, analisando cada detalhe com uma atenção quase intimidante. Respirei fundo antes de responder. Por muito tempo, eu qu
Cassidy Entre todas as vantagens de ser uma boa aluna, conseguir um estágio em uma renomada revista de moda em Nova York foi a cereja do bolo. Minha rotina se tornou mais corrida e apertada, mas é incrível; eu amo o que faço. Não tenho mais a disponibilidade de visitar a família como o Mike faz quase todos os finais de semana. Por um lado, isso é ruim, porque morro de saudades de todos. Por outro, fico tranquila por saber que não encontrarei Kai e não precisarei lidar com o mesmo clima de merda de sempre.— Cassidy, você conseguiu publicar a matéria sobre...— Sim, a Imperial Men’s. Aqui está. — Entreguei o tablet em sua mão.Minha chefe, Eveline, me olhou surpresa, mas logo abriu um sorriso orgulhoso. Ela passou os olhos pelo texto. Não foi escrito por mim, claro, mas eu revisei e publiquei na revista online.— Você é ouro, mulher! — Ela riu e agradeceu. — Vou te pagar um café, prometo.Ela saiu rapidamente, pois alguém a chamou, e eu voltei a olhar para o computador, suspirando. Im
— Vamos para o quarto. — Caminhei devagar, sentindo a tensão no ar.Peter veio logo atrás, seus passos hesitantes revelando a batalha interna entre felicidade e preocupação. Ele parecia estar medindo cada palavra que estava prestes a dizer. Quando chegamos, apontei para a cama, e ele se sentou. Puxei a cadeira onde costumo estudar e me posicionei de frente para ele, tentando manter a calma enquanto meu coração acelerava.— Cass, você sabe que estou quase me formando. — Ele começou devagar, com um tom cauteloso. — Até agora, recebi duas propostas. Ambas da NFL. Uma é de San Francisco e a outra de Kansas City. — Ele fez uma pausa, observando minha reação. — Sabíamos que isso poderia acontecer, mas... você ama N.Y. Acha que conseguiria se formar e... ir comigo?Fiquei paralisada por um momento, como se o mundo ao meu redor tivesse parado. Eu sabia que Peter era talentoso, um Quarterback incrível, e que a atenção dos grandes times era inevitável. Mas ouvir isso, sentir o peso da realidade
— Você já está bonita assim, Cass. — Peter falou.— Eu sei, mas é a sua família. Preciso pelo menos parecer apresentável. E se eles descobrirem? — indaguei.— Não vão descobrir. Somos melhores amigos, lembra? Todo mundo acha que somos apaixonados um pelo outro. — Ele riu. — Bom, eu me apaixonaria por você, se você deixasse...— Peter... — sorri. — Você não está apaixonado pelo seu colega de time, ou esqueceu?— Não, mas você sabe que eu gosto das duas coisas. — deu de ombros.Eu e Peter estamos "namorando" há anos. Pelo menos, é isso que as pessoas pensam. Nós tivemos muitos momentos maravilhosos, mas decidimos que não somos o amor da vida um do outro. Peter é a melhor pessoa que conheço: inteligente, estudioso, talentosíssimo, um verdadeiro cavalheiro. Porém, sua família ainda é bem fechada em relação a isso. Talvez aceitassem o fato de ele ser bi, mas jamais aceitariam um relacionamento com outro garoto. Por isso, mantemos essa fachada de casal. Não é tão ruim — somos amigos e div
Kai Não sei onde estou com a cabeça. Sempre fui um cara centrado, firme em minhas convicções, especialmente sobre mulheres. Nunca me permiti mudar de opinião, ainda mais sobre Cassidy. Quando a conheci, ela ainda era uma adolescente. Ingênua. Inofensiva. Mas depois daquele episódio entre nós e daquele idiota que ela apresentou como namorado, algo em mim mudou. Passei a observá-la com uma intensidade que me incomoda.Enquanto dirijo, a dúvida me consome. Por que estou mudando a rota? O que estou fazendo?— Cassidy — falei, tentando manter a voz firme, mas minha calma era um fio prestes a arrebentar. — Você é linda, é especial, eu... eu não...Queria dizer que me preocupo com ela porque somos família, mas não seria verdade. Não apenas isso. Não mais.— Já sei, Kai. Você não é homem para mim porque não gosta de garotinhas como eu. Eu já sei, porra! Então para de dar piti sobre o meu relacionamento. Peter não me vê como uma garotinha. Pelo contrário, ele me fode como uma...— CARALHO, CA
Acordei no meio da madrugada. O quarto estava escuro, e a cama, vazia. Um aperto estranho tomou conta do meu peito. De repente, me lembrei: não poderia demorar muito para chegar em casa. Papai acha que fui a uma boate com uma amiga, e aparecer só de manhã não estava nos planos. Levantei devagar, tentando não fazer barulho, e fui atrás da minha roupa.Milhões de pensamentos rodopiavam na minha mente. Onde estava Kai? O que ele estaria pensando? Como seria depois disso? Vesti-me rapidamente, peguei minha bolsa e me encaminhei para a porta.Ao chegar à sala, ouvi o som de um copo batendo atrás de mim. Parei, alarmada, e me virei devagar. Uma porta entreaberta chamou minha atenção. Lá dentro, pude ver Kai. Estava de pé, curvado sobre uma mesa, um copo ao lado, o semblante abatido. Ele parecia exausto, perdido em pensamentos que claramente pesavam sobre ele. Seus olhos estavam fechados, como se tentasse afastar uma dor insuportável.Sem querer, encostei na porta, que rangeu ao abrir mais.
— Você fez o quê?! — Peter gritou ao telefone.— Eu te contei tudo, Pete! Não posso falar sobre isso com mais ninguém, você é meu melhor amigo... O Mike não pode saber. Eu acho que vou surtar. — desabafei, a voz embargada. O nó na garganta apertava tanto que parecia que eu só conseguia pensar em chorar.Pela primeira vez desde que tudo aconteceu no mês passado, tive coragem de conversar sobre isso com alguém. E o único em quem eu confiava o bastante para ouvir essa história era ele.— Eu... eu nem sei o que dizer. — Ele fez uma pausa, hesitando. — Bom, somos amigos, mas a gente namorou, Cass. E eu gostava mesmo de você, gata. É estranho pensar nisso agora. — Ele suspirou, confuso. — Que merda de situação você se meteu... Tô preocupado com você, de verdade.Os olhos de Peter estavam carregados de preocupação e curiosidade. Tanto que, após um instante, ele perguntou:— Mas... você pelo menos gostou?Fiquei sem reação. Apertei os olhos, sentindo o rosto esquentar.— Eu não quero entrar e