Capítulo 5- Esse Não Sou Eu

Kai

— Você já pode sair, querida, eu preciso trabalhar agora — falei.

Observei a mulher saindo do banheiro usando um roupão de banho e me perguntei de onde ela tirou tanta intimidade para usar as minhas coisas.

— Achei que passaria o dia com você — ela disse, sorrindo.

Devo confessar: a mulher é linda. A noite de ontem foi intensa, para dizer o mínimo. Ela aceitou todos os meus desejos e topou tudo sem hesitar. Realmente foi uma experiência incrível, mas agora é hora de ir embora.

— Infelizmente, não vai ser possível, Dania. Preciso trabalhar. Eu te vejo depois — falei com um sorriso, tentando não deixá-la desconfortável.

— É Denise, seu idiota — reclamou, largando o roupão no chão.

— Foi isso que eu disse, gata.

— Você me chamou de Dania, imbecil — protestou, irritada.

— É quase a mesma coisa — ri, debochado.

Ela me fuzilou com o olhar antes de sair correndo do meu quarto. Suspirei, levantando da cama com preguiça, e caminhei até o banheiro. O dia na empresa prometia ser bem cheio.

Eu sei que, fora do trabalho, sou o típico vagabundo que vive de festas e aventuras. Mas, ao atravessar as portas da empresa, eu me transformo em Kai Hoke, o empresário de sucesso que consegue tudo o que quer.

Antes de morrer, meu velho me ensinou tudo o que sei. Segui cada um de seus conselhos... exceto o de encontrar uma boa mulher e me casar. Esse eu fiz questão de ignorar.

Meu pai foi o melhor homem que já conheci. Ele era especial, tanto como pai quanto como marido. Mereceu todas as honras que recebeu. Nossa família nunca mais foi a mesma desde que ele se foi. Perdê-lo foi um golpe duro para mim. Eu realmente o amava.

Balancei a cabeça para afastar esses pensamentos tristes e liguei o chuveiro, deixando a água quente escorrer pelo meu corpo. Tenho um dia bem produtivo pela frente.

* * * * * *

Cheguei no horário e fui direto para minha sala. Faz tempo que não vejo meu irmão mais velho por aqui. Desde que ele se tornou governador, todo o seu tempo tem sido dedicado ao trabalho pelo povo e aos cuidados com a família.

Josh parece tão feliz que, às vezes, me pergunto se não é apenas uma fantasia deles. Não é possível que alguém ame outra pessoa tão intensamente a ponto de cometer todas as loucuras que Joshua e Olivia já fizeram um pelo outro.

A primeira foi ter filhos. Caramba, eles realmente gostaram disso. Mas preciso admitir: eles são uma família bonita.

Um barulho na porta me tirou de um devaneio bobo sobre a família do meu irmão. Autorizei a entrada, e Dylan atravessou o espaço.

— Desde quando você b**e na porta? — perguntei, brincando.

— Desde que entrei naquela quinta-feira e vi uma das recepcionistas praticamente esfregando os peitos na sua cara. Nus. — respondeu direto.

— Aquilo foi... — suspirei.

— Um erro enorme e do qual você se arrepende amargamente? — provocou, irônico.

— Dylan, ela apareceu na minha casa usando apenas um sobretudo, porra! Nem sei como conseguiu passar pelo porteiro — cocei a cabeça, desconfortável. — Estou muito ferrado, não é?

— Eu avisei para não se envolver com a garota — ele repreendeu. — Ela não vai largar o osso tão cedo.

— Foi um vacilo. O único em toda a minha vida corporativa. Ela me pegou em um dia ruim — tentei me justificar.

Naquele dia, eu estava saindo de uma boate e voltando para casa. O dia tinha sido péssimo; passamos por um estresse imenso com meu irmão sendo sequestrado. Quando ele retornou, eu estava exausto e só queria extravasar. Acabei indo beber e, consequentemente, transar. Mas, na verdade, eu nem estava no clima e quis ir embora. Foi então que ela apareceu. Me cumprimentou na saída e grudou em mim. Bom, eu não sou de ferro, e a noite acabou com ela na minha cama. O problema é que, depois disso, ela quis continuar... e eu não repito. Nunca.

— Seja como for, dê seu jeito. Ah, não esquece do compromisso hoje à noite na casa do Josh — avisou, levantando da cadeira e saindo sem esperar minha resposta.

— Ok. Até mais — murmurei.

Se eu já estava com dor de cabeça por causa da recepcionista que me perseguia, piorou ao lembrar que hoje à noite temos um jantar na casa de Olivia para celebrar o feriado. Mike e Cassidy estarão lá. Estou feliz em rever Mike, mas Cassidy é... complicada.

Ela é linda, o sonho de qualquer homem que queira ter uma família com uma mulher especial. Mas esse não sou eu. Quando ela me beijou, confesso que me senti tentado a continuar. Sua boca era surpreendentemente macia e doce. Mas tive que manter a postura e afastá-la.

Cassidy não pode continuar sentindo nada por mim. É o melhor para todos nós. Eu vou continuar levando a vida que conheço. É assim que sei viver; é assim que sou.

Saí dos meus pensamentos quando o telefone tocou. Era Joshua.

— A que devo a honra, governador? — atendi, brincando.

— Kai, preciso de um favor. Ivanna não está se sentindo bem, e eu vou ajudar Olivia com ela. Ivan já chegou e está cuidando do jantar. Dylan tem um compromisso, e Morg... bom, você sabe. Consegue buscar os meninos no aeroporto? Ou mando um motorista, se preferir.

Desde que descobrimos que Ivan, pai de Olivia, estava vivo e procurando por ela, Joshua o contratou como motorista. Além de ser mecânico, Ivan ama os netos. Meu irmão quis ajudá-lo oferecendo um salário maior e a oportunidade de ficar perto da família.

— Não, não precisa. Eu vou sim — confirmei. — Me envie os dados do voo.

— Certo, obrigado. Até mais — desligou.

Logo depois, recebi por mensagem os detalhes e o horário de desembarque.

Aproveitei o dia como pude, gerenciando as empresas e marcando uma reunião com a equipe que trabalha em um projeto pessoal meu. Estou muito animado e confiante de que vai dar certo.

Quando finalizei tudo, fui ao aeroporto buscá-los. A primeira coisa que reparei foi que Cassidy estava diferente. A segunda foi a forma como ela veio até mim, fingindo que nada havia acontecido.

— Olá, meninos — saudei, tentando não olhar diretamente em seus olhos.

— Olá, Kai — Mike estendeu a mão.

— Kai, que bom ver você — Cassidy disse.

Isso me pegou de surpresa. Depois do que aconteceu entre nós naquele dia... estranho, para dizer o mínimo, ela nunca mais apareceu. Achei que estivesse com vergonha de mim ou algo parecido.

— Bom te ver também, Cassidy — afirmei, tentando não transparecer o clima diferente entre nós. — Então, vamos lá?

No carro, Cassidy estava no banco de trás. De vez em quando, nossos olhares se cruzavam pelo espelho, como se estivéssemos avaliando o comportamento um do outro ou tentando decifrar o que estava acontecendo.

— Eu ainda não te contei, não é, Mike? Deu tudo certo. Peter é um cavalheiro — falou, sorridente.

Franzi o cenho, estranhando aquela conversa. Mike abriu um pequeno sorriso e disse:

— Eu sabia, ele realmente está muito a fim de você.

Pigarreei. Como assim a fim? Cassidy não havia ido estudar? Não era cedo demais para se envolver com outros caras?

— E eu também. Ele é incrível — acrescentou ela.

Encarei Cassidy pelo espelho e perguntei:

— Quem é esse?

Cassidy deu um sorrisinho danado e virou o rosto para a janela. Percebi que não ia responder, então Mike falou em seu lugar:

— Peter, um jogador de futebol americano. Está apaixonado pela Cass — afirmou.

Bom, não dá para negar que Cassidy é realmente linda. Mas outro dia ela estava invadindo meu quarto e dizendo que sempre me quis, e agora está saindo com outro cara? Fiquei confuso.

Nenhum de nós falou pelo resto da viagem, e eu tentei não pensar muito sobre isso. Se ela quiser namorar, o problema é dela. Eu sei quem sou e a vida que quero, e não é nada parecido com isso. Estou bem exatamente como estou. Sozinho.

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