Já faz uma semana que cometi a maior burrada da minha vida. O que eu tinha na cabeça para achar que Kai simplesmente iria sorrir para mim e me beijar apaixonadamente? Claro que ele fez o completo oposto.
Estou exausta de sentir isso, de ficar olhando as notícias dele e vê-lo saindo com mulheres diferentes a cada fim de semana. Preciso acabar com esse sentimento de uma vez por todas. Mike percebeu minha tristeza nos últimos dias, mas disfarcei e disse que era apenas preocupação com as matérias difíceis. — Você parece muito triste, quer fazer algo? Olha, sei que não curto essas coisas, mas... — ele respirou fundo. — Vai ter uma festa amanhã à noite. Vai querer ir? — Quem é você e o que fez com meu irmão recluso? — sorri. — Está tudo bem, Mike. Não quero ir, vamos em outro lugar. Talvez ao shopping? — Você é a melhor irmã. Eu odiaria ficar mais de trinta minutos com aquele bando de idiotas se esfregando uns nos outros, suados e bêbados. — Falando assim, parece nojento — gargalhei. — Porque é. Enfim, quando voltar hoje à tarde, vamos ao shopping. — Ele falou, decidido. Como moramos muito perto do campus, sempre almoçamos em casa e depois voltamos para o restante das aulas. Voltei para a faculdade logo após o almoço. Mike seguiu para o seu bloco, e eu para o meu. Estava distraída quando esbarrei em um corpo forte e firme. — Desculpe. — falei sinceramente. — Oi, Cassidy. — Peter falou. — Ah, oi, Peter. — Sorri ao levantar a cabeça e vê-lo me encarando. Peter está no auge da juventude: ombros largos, braços fortes, olhos verdes e uma pele bronzeada que... caramba, como nunca reparei que ele é tão atraente assim? — Você está bem? — perguntou. — Sim, e você? — Também. Então, não vou te convidar para a festa, porque sei que você não vai, mas... gostaria de sair comigo amanhã? — ele perguntou. Vi que ele parecia realmente ansioso. Já faz um tempo que ele tem sido atencioso, gentil, e agora me convida para sair amanhã. Ou seja, ele está abrindo mão da festa para passar tempo comigo. Interessante. Olhei ao redor e vi algumas pessoas nos observando. — Eu... — respirei fundo. — Está bem, vamos sair amanhã. — Concedi, criando coragem. Ele sorriu e me deu um beijo na bochecha. — Eu te pego amanhã às oito. Vou te mandar uma mensagem. Até mais, Cassidy. Acenei e saí dali. Ouvi alguns murmúrios, olhei para o lado e vi algumas líderes de torcida me encarando com raiva, ou ciúmes. Peter é bonito, não, ele é lindo, e eu imagino que não sou a única que percebe isso. Mas ainda não entendo o motivo de ele estar tão interessado em mim. Não faz sentido, ele pode escolher qualquer uma. Entrei na sala de aula e, pelas próximas horas, esqueci qualquer questionamento. Eu e Mike saímos para jantar no shopping logo depois da faculdade. Brincamos um pouco no playground, eu comprei algumas coisas, tecidos para fazer minhas roupas, e ele comprou eletrônicos. Sentamos na praça de alimentação e fizemos nossos pedidos. — Então, vai mesmo sair com ele? — perguntou. — Sim, preciso entender o que ele quer, entende? É meio estranho, não acha? — questionei. — Não, não acho estranho. Você é linda. — deu de ombros. — Mas é estranho esse interesse todo, Mike. — insisti. — Ouvi dizer que ele está assim desde que te viu. — disse, como se fosse uma fofoca. — O quê? — arregalei os olhos. — Não falamos muito, e ele nem parece interessado assim. Eu não me acho feia, mas também não acredito que alguém vá se apaixonar de repente por mim. Nossos pratos chegaram e começamos a comer. Meu telefone vibrou e peguei para ver quem havia me mandado mensagem. Era Peter confirmando o horário e relembrando sobre o encontro. — E você? — perguntei, de repente. — Eu o quê? — Não está interessado em ninguém? — Não, por que eu estaria? — perguntou, confuso. — Porque você é conhecido como o nerd gostoso. — sorri, lembrando do apelido que ouvi outro dia. Uma garota comentou com outra sobre o "nerd gostoso" que jogava um "joguinho de computador". Se Mike soubesse... — De onde diabos você tirou esse apelido? — perguntou, fazendo cara feia. — Eu e metade do campus. — gargalhei. — Se liga, Mike, você só é estranho, mas é atraente. — Enfim, não estou interessado em ninguém por enquanto. — comentou. — Vou observar você e seu "jogador". — debochou. — Bem, tem uma fila de garotas atrás de você. — comentei sorrindo. — E ele não é nada meu. — rebati. Ele balançou a cabeça em negação e eu ri. Michael é inteligente, tem todas as qualidades em um homem, mas é tímido demais e recluso. Sei que, um dia, alguém vai conseguir romper as barreiras que ele ergueu ao redor de si. Passamos um tempo conversando sobre a faculdade, decidimos assistir a um filme no cinema e encerrar a noite com algumas guloseimas. Quando chegamos em casa, Mike foi direto para o quarto e eu para o meu. Respondi às mensagens de Peter e fui tomar um banho antes de dormir. Todas as noites, tenho uma rotina fixa: mexer nos desenhos e espiar as redes de fofoca, procurando por novidades sobre Kai Hoke, que sempre me deixam melancólica por dias. Ultimamente, não tem saído muito sobre ele, o que realmente me deixa mais... tranquila, quase feliz. Afinal, o que os olhos não veem, o coração não sente. Não demorei muito para adormecer, pensando no meu encontro no dia seguinte e me perguntando se deveria dar uma chance a mim mesma. Talvez seja hora de deixar para trás essa paixão platônica que só me envergonhou e me fez infeliz.Kai — Você já pode sair, querida, eu preciso trabalhar agora — falei.Observei a mulher saindo do banheiro usando um roupão de banho e me perguntei de onde ela tirou tanta intimidade para usar as minhas coisas.— Achei que passaria o dia com você — ela disse, sorrindo.Devo confessar: a mulher é linda. A noite de ontem foi intensa, para dizer o mínimo. Ela aceitou todos os meus desejos e topou tudo sem hesitar. Realmente foi uma experiência incrível, mas agora é hora de ir embora.— Infelizmente, não vai ser possível, Dania. Preciso trabalhar. Eu te vejo depois — falei com um sorriso, tentando não deixá-la desconfortável.— É Denise, seu idiota — reclamou, largando o roupão no chão.— Foi isso que eu disse, gata.— Você me chamou de Dania, imbecil — protestou, irritada.— É quase a mesma coisa — ri, debochado.Ela me fuzilou com o olhar antes de sair correndo do meu quarto. Suspirei, levantando da cama com preguiça, e caminhei até o banheiro. O dia na empresa prometia ser bem cheio.
Cassidy Meses depois Olivia me convidou com bastante antecedência para o aniversário de dois anos de Ivanna. Eu amo minha sobrinha e, claro, não poderia faltar. Peter, ao meu lado, estava visivelmente nervoso, já que seria a primeira vez que eu o apresentaria como meu namorado para toda a família. Desde aquele dia em que saímos juntos à noite, nossa relação foi se tornando mais próxima. Aos poucos, ele conquistou meu coração, embora tenhamos decidido, no início, ser apenas amigos e deixar as coisas acontecerem naturalmente. Peter me falou sobre sua sexualidade desde o começo. Ele foi o melhor amigo que já tive, e mesmo sendo bissexual, decidimos namorar e ver até onde isso nos levaria. Para mim, era também uma tentativa de viver minha juventude plenamente e, quem sabe, esquecer a vergonha que já passei no passado. — Tem certeza de que eles vão gostar de mim? — perguntou novamente, ansioso. — E se alguém descobrir? — Peter, calma. Ninguém vai descobrir nada. E, se descobrirem, nin
Kai Hoke Criar uma marca não é fácil. É como entrar em um campo de batalha lotado, onde cada novo concorrente surge carregando a promessa de algo inovador. Foi nesse cenário que nasceu a Imperial Men’s, uma marca pensada para homens como eu: seguros de quem são e do que desejam. Relógios, peças íntimas e óculos escuros são os pilares da coleção. Eu queria criar algo que fosse um reflexo genuíno de mim mesmo, e essas são exatamente as coisas que adoro adquirir das melhores marcas possíveis. — Uau... — Dylan murmurou, com os olhos fixos nas peças. Joshua, por outro lado, me olhava com uma expressão de surpresa escancarada. — Isso é sério? — ele perguntou, ainda tentando processar a informação. — Kai, por que não disse nada? — Morgana me encarou, como se eu tivesse cometido um crime imperdoável. Alexander, sempre mais contido, apenas observava as peças em silêncio, analisando cada detalhe com uma atenção quase intimidante. Respirei fundo antes de responder. Por muito tempo, eu qu
Cassidy Entre todas as vantagens de ser uma boa aluna, conseguir um estágio em uma renomada revista de moda em Nova York foi a cereja do bolo. Minha rotina se tornou mais corrida e apertada, mas é incrível; eu amo o que faço. Não tenho mais a disponibilidade de visitar a família como o Mike faz quase todos os finais de semana. Por um lado, isso é ruim, porque morro de saudades de todos. Por outro, fico tranquila por saber que não encontrarei Kai e não precisarei lidar com o mesmo clima de merda de sempre.— Cassidy, você conseguiu publicar a matéria sobre...— Sim, a Imperial Men’s. Aqui está. — Entreguei o tablet em sua mão.Minha chefe, Eveline, me olhou surpresa, mas logo abriu um sorriso orgulhoso. Ela passou os olhos pelo texto. Não foi escrito por mim, claro, mas eu revisei e publiquei na revista online.— Você é ouro, mulher! — Ela riu e agradeceu. — Vou te pagar um café, prometo.Ela saiu rapidamente, pois alguém a chamou, e eu voltei a olhar para o computador, suspirando. Im
— Vamos para o quarto. — Caminhei devagar, sentindo a tensão no ar.Peter veio logo atrás, seus passos hesitantes revelando a batalha interna entre felicidade e preocupação. Ele parecia estar medindo cada palavra que estava prestes a dizer. Quando chegamos, apontei para a cama, e ele se sentou. Puxei a cadeira onde costumo estudar e me posicionei de frente para ele, tentando manter a calma enquanto meu coração acelerava.— Cass, você sabe que estou quase me formando. — Ele começou devagar, com um tom cauteloso. — Até agora, recebi duas propostas. Ambas da NFL. Uma é de San Francisco e a outra de Kansas City. — Ele fez uma pausa, observando minha reação. — Sabíamos que isso poderia acontecer, mas... você ama N.Y. Acha que conseguiria se formar e... ir comigo?Fiquei paralisada por um momento, como se o mundo ao meu redor tivesse parado. Eu sabia que Peter era talentoso, um Quarterback incrível, e que a atenção dos grandes times era inevitável. Mas ouvir isso, sentir o peso da realidade
— Você já está bonita assim, Cass. — Peter falou.— Eu sei, mas é a sua família. Preciso pelo menos parecer apresentável. E se eles descobrirem? — indaguei.— Não vão descobrir. Somos melhores amigos, lembra? Todo mundo acha que somos apaixonados um pelo outro. — Ele riu. — Bom, eu me apaixonaria por você, se você deixasse...— Peter... — sorri. — Você não está apaixonado pelo seu colega de time, ou esqueceu?— Não, mas você sabe que eu gosto das duas coisas. — deu de ombros.Eu e Peter estamos "namorando" há anos. Pelo menos, é isso que as pessoas pensam. Nós tivemos muitos momentos maravilhosos, mas decidimos que não somos o amor da vida um do outro. Peter é a melhor pessoa que conheço: inteligente, estudioso, talentosíssimo, um verdadeiro cavalheiro. Porém, sua família ainda é bem fechada em relação a isso. Talvez aceitassem o fato de ele ser bi, mas jamais aceitariam um relacionamento com outro garoto. Por isso, mantemos essa fachada de casal. Não é tão ruim — somos amigos e div
Kai Não sei onde estou com a cabeça. Sempre fui um cara centrado, firme em minhas convicções, especialmente sobre mulheres. Nunca me permiti mudar de opinião, ainda mais sobre Cassidy. Quando a conheci, ela ainda era uma adolescente. Ingênua. Inofensiva. Mas depois daquele episódio entre nós e daquele idiota que ela apresentou como namorado, algo em mim mudou. Passei a observá-la com uma intensidade que me incomoda.Enquanto dirijo, a dúvida me consome. Por que estou mudando a rota? O que estou fazendo?— Cassidy — falei, tentando manter a voz firme, mas minha calma era um fio prestes a arrebentar. — Você é linda, é especial, eu... eu não...Queria dizer que me preocupo com ela porque somos família, mas não seria verdade. Não apenas isso. Não mais.— Já sei, Kai. Você não é homem para mim porque não gosta de garotinhas como eu. Eu já sei, porra! Então para de dar piti sobre o meu relacionamento. Peter não me vê como uma garotinha. Pelo contrário, ele me fode como uma...— CARALHO, CA
Acordei no meio da madrugada. O quarto estava escuro, e a cama, vazia. Um aperto estranho tomou conta do meu peito. De repente, me lembrei: não poderia demorar muito para chegar em casa. Papai acha que fui a uma boate com uma amiga, e aparecer só de manhã não estava nos planos. Levantei devagar, tentando não fazer barulho, e fui atrás da minha roupa.Milhões de pensamentos rodopiavam na minha mente. Onde estava Kai? O que ele estaria pensando? Como seria depois disso? Vesti-me rapidamente, peguei minha bolsa e me encaminhei para a porta.Ao chegar à sala, ouvi o som de um copo batendo atrás de mim. Parei, alarmada, e me virei devagar. Uma porta entreaberta chamou minha atenção. Lá dentro, pude ver Kai. Estava de pé, curvado sobre uma mesa, um copo ao lado, o semblante abatido. Ele parecia exausto, perdido em pensamentos que claramente pesavam sobre ele. Seus olhos estavam fechados, como se tentasse afastar uma dor insuportável.Sem querer, encostei na porta, que rangeu ao abrir mais.