Cassidy
Entre todas as vantagens de ser uma boa aluna, conseguir um estágio em uma renomada revista de moda em Nova York foi a cereja do bolo. Minha rotina se tornou mais corrida e apertada, mas é incrível; eu amo o que faço. Não tenho mais a disponibilidade de visitar a família como o Mike faz quase todos os finais de semana. Por um lado, isso é ruim, porque morro de saudades de todos. Por outro, fico tranquila por saber que não encontrarei Kai e não precisarei lidar com o mesmo clima de merda de sempre. — Cassidy, você conseguiu publicar a matéria sobre... — Sim, a Imperial Men’s. Aqui está. — Entreguei o tablet em sua mão. Minha chefe, Eveline, me olhou surpresa, mas logo abriu um sorriso orgulhoso. Ela passou os olhos pelo texto. Não foi escrito por mim, claro, mas eu revisei e publiquei na revista online. — Você é ouro, mulher! — Ela riu e agradeceu. — Vou te pagar um café, prometo. Ela saiu rapidamente, pois alguém a chamou, e eu voltei a olhar para o computador, suspirando. Imperial Men’s, a marca criada exclusivamente por Kai. Fico feliz que tenha sido tão bem aceita. Quase todos os comentários das pessoas que compraram foram positivos e, além disso, ele conseguiu esgotar toda a coleção de apresentação. Quando meu horário terminou, Eveline apareceu com um copo de café e me agradeceu mais uma vez. Eu me sinto muito realizada aqui e espero ser contratada definitivamente. Caminhei até o estacionamento devagar, saboreando o café. Quando entrei no carro, recebi uma mensagem de Peter pedindo para conversar comigo assim que possível. Eu e Peter continuamos sendo os melhores amigos do mundo. Ele é o homem mais incrível que já conheci. Como namorados, talvez não sejamos perfeitos, mas até hoje não tivemos nenhum problema sério. Minha primeira vez foi com ele, e foi muito especial. Ele foi um verdadeiro cavalheiro, sempre se certificando de que eu realmente queria aquele momento. Peter está quase se formando, e eu não queria que ele sentisse que perdeu tempo comigo. Por outro lado, eu também precisava me desprender da sensação de estar esperando por algo ou alguém. Então, tivemos uma noite maravilhosa, cheia de cumplicidade. Quando cheguei à faculdade, caminhei diretamente até o campo onde o time estava treinando. Alguém tocou no ombro de Peter e apontou na minha direção. Ele virou, me viu e abriu aquele sorriso característico. Sem pensar duas vezes, veio correndo até mim. — Ei, Cass. — Ele me beijou com carinho. — Oi, Pete. Tudo bem no treino? — perguntei, desviando o olhar para o campo por um instante. — Sim. O que você vai fazer mais tarde, amor? — Ele perguntou com um tom ligeiramente cauteloso. — Acho que nada. Por quê? — retruquei, curiosa. — Quero ir à sua casa para conversar com você. Tudo bem? — Ele tocou minha bochecha com delicadeza. — Aconteceu alguma coisa? — perguntei, franzindo a testa. — Não, nada ruim. Eu prometo. — Ele sorriu, tentando me tranquilizar. — Preciso voltar agora. Me avisa quando chegar em casa, tá? Ele me beijou novamente e correu de volta para o campo, deixando-me ali com os pensamentos vagando. Voltei para minha sala, onde passei a maior parte do dia entre as aulas. Quando fui dispensada, avisei ao Mike que estava indo para casa. Meu irmão não apareceu hoje porque chegou de viagem de madrugada. O time dele foi jogar em outra cidade, venceram, é claro, mas chegaram tarde, e ele precisava descansar. A cada dia que passa, Mike ganha mais dinheiro e fica mais famoso, o que atrai muitos olhares no campus, embora ele ignore tudo isso. — E aí. — Ele me cumprimentou quando entrei na sala. — Seu preguiçoso! — brinquei. — Vou contar para o papai que você está faltando aula porque jogou até tarde. — Ele já sabe. Coloquei cinco mil dólares na conta dele hoje de manhã. — Mike deu de ombros e riu. — Comprei um presente para você. Vi numa loja que você mencionou uma vez. — Ele apontou para a sacola no sofá. — Espera, quanto você ganhou? — perguntei, surpresa e curiosa. — Vencemos o campeonato estadual e conseguimos dois patrocinadores novos. — Falou como se fosse algo comum. — Mike, você está me dizendo que viajou para disputar o estadual? E ainda conseguiu dois patrocinadores? Mike! — comecei a chorar. — Ei, por que está chorando? — perguntou, confuso. — Michael Hawkings, você venceu o estadual desse seu jogo, conseguiu patrocínio e ainda mandou cinco mil para o papai! — Sequei as lágrimas, emocionada. — Mike, estou tão orgulhosa de você! Prometo que vou aprender mais sobre essa sua profissão e que vou assistir sempre agora. — Me joguei nos braços dele. — Estou feliz, Cass. Agora posso ajudar o papai e você, sem depender tanto da Olívia e do Joshua. — Ele me abraçou apertado. — Guardei o resto do dinheiro. Agora vá ver seu presente e me diga se eu acertei. Peguei a sacola no sofá e abri. Lá dentro havia um kit de costura profissional com tudo o que eu precisava para criar minhas peças, além de uma nova máquina de costura. Encarei Mike, boquiaberta, e as lágrimas voltaram a cair. Joguei-me novamente em seus braços. — Você está muito chorona hoje. — Ele riu. — Obrigada! Prometo que vou parar de te chamar de nerd esquisito. — Mentira. — Ele debochou, divertido. — É, não vou parar. Mas você sabe que eu te amo, Mike. — Abracei-o novamente com força. A campainha tocou, e fui atender. Peter estava parado na porta e arregalou os olhos ao me ver chorando. Ele correu para me amparar, segurando meu rosto com cuidado. — O que aconteceu? — perguntou, preocupado. — Mike vai te contar. — Falei rindo. Entramos, e eu pedi pizzas para comemorar com Mike. Os dois conversaram bastante enquanto eu guardava meus presentes. Passei minutos admirando meu kit de costura e minha nova máquina. É por isso que Mike é o melhor irmão do mundo. Quando as pizzas chegaram, comemos animados e conversamos até tarde. — Vai dormir aqui hoje? — perguntei a Peter, depois que Mike quase adormeceu no sofá e foi para o quarto. — Preciso te falar uma coisa antes. — Ele me encarou com seriedade. Peter nunca fala assim se não for algo importante, então tentei preparar minha mente e meu coração para o que quer que fosse. E eu sentia que não era algo bom.— Vamos para o quarto. — Caminhei devagar, sentindo a tensão no ar. Peter veio logo atrás, seus passos hesitantes revelando a batalha interna entre felicidade e preocupação. Ele parecia estar medindo cada palavra que estava prestes a dizer. Quando chegamos, apontei para a cama, e ele se sentou. Puxei a cadeira onde costumo estudar e me posicionei de frente para ele, tentando manter a calma enquanto meu coração acelerava. — Cass, você sabe que estou quase me formando. — Ele começou devagar, com um tom cauteloso. — Até agora, recebi duas propostas. Ambas da NFL. Uma é de San Francisco e a outra de Kansas City. — Ele fez uma pausa, observando minha reação. — Sabíamos que isso poderia acontecer, mas... você ama N.Y. Acha que conseguiria se formar e... ir comigo? Fiquei paralisada por um momento, como se o mundo ao meu redor tivesse parado. Eu sabia que Peter era talentoso, um Quarterback incrível, e que a atenção dos grandes times era inevitável. Mas ouvir isso, sentir o peso da realida
— Cassidy — a voz de Olívia chamou da casa, cortando o momento.Kai piscou, como se despertasse de um transe, e deu um passo para trás. — Parece que você está esperando — disse ele, com um sorriso torto que parecia carregar mil significados.Eu me afastei rapidamente, sentindo o rosto queimar, e caminhei de volta para a casa sem olhar para trás.O momento tinha acabado, mas a eletricidade entre nós ainda pairava no ar, uma lembrança viva do que poderia ter acontecido. E do que, talvez, um dia ainda pudesse acontecer. Mesmo nervosa com o que aconteceu entre nós, consegui disfarçar e aproveitar o momento, embora, no final do dia, minha mente tenha sido bombardeada por possíveis desfechos para o que parecíamos ter começado naquela manhã. * * * * * Tentei seguir minha vida sem pensar muito no que aconteceu naquele dia entre Kai e eu, mas era difícil. Agora que Peter e eu somos apenas amigos, tornou-se ainda mais complicado bloquear alguns pensamentos e desejos que foram reprimidos.
Kai Não sei onde estou com a cabeça. Sempre fui um cara centrado, firme em minhas convicções, especialmente sobre mulheres. Nunca me permiti mudar de opinião, ainda mais sobre Cassidy. Quando a conheci, ela ainda era uma adolescente. Ingênua. Inofensiva. Mas depois daquele episódio entre nós e daquele idiota que ela apresentou como namorado, algo em mim mudou. Passei a observá-la com uma intensidade que me incomoda.Enquanto dirijo, a dúvida me consome. Por que estou mudando a rota? O que estou fazendo?— Cassidy — falei, tentando manter a voz firme, mas minha calma era um fio prestes a arrebentar. — Você é linda, é especial, eu... eu não...Queria dizer que me preocupo com ela porque somos família, mas não seria verdade. Não apenas isso. Não mais.— Já sei, Kai. Você não é homem para mim porque não gosta de garotinhas como eu. Eu já sei, porra! Então para de dar piti sobre o meu relacionamento. Peter não me vê como uma garotinha. Pelo contrário, ele me fode como uma...— CARALHO, CA
Acordei no meio da madrugada. O quarto estava escuro, e a cama, vazia. Um aperto estranho tomou conta do meu peito. De repente, me lembrei: não poderia demorar muito para chegar em casa. Papai acha que fui a uma boate com uma amiga, e aparecer só de manhã não estava nos planos. Levantei devagar, tentando não fazer barulho, e fui atrás da minha roupa.Milhões de pensamentos rodopiavam na minha mente. Onde estava Kai? O que ele estaria pensando? Como seria depois disso? Vesti-me rapidamente, peguei minha bolsa e me encaminhei para a porta.Ao chegar à sala, ouvi o som de um copo batendo atrás de mim. Parei, alarmada, e me virei devagar. Uma porta entreaberta chamou minha atenção. Lá dentro, pude ver Kai. Estava de pé, curvado sobre uma mesa, um copo ao lado, o semblante abatido. Ele parecia exausto, perdido em pensamentos que claramente pesavam sobre ele. Seus olhos estavam fechados, como se tentasse afastar uma dor insuportável.Sem querer, encostei na porta, que rangeu ao abrir mais.
— Você fez o quê?! — Peter gritou ao telefone.— Eu te contei tudo, Pete! Não posso falar sobre isso com mais ninguém, você é meu melhor amigo... O Mike não pode saber. Eu acho que vou surtar. — desabafei, a voz embargada. O nó na garganta apertava tanto que parecia que eu só conseguia pensar em chorar.Pela primeira vez desde que tudo aconteceu no mês passado, tive coragem de conversar sobre isso com alguém. E o único em quem eu confiava o bastante para ouvir essa história era ele.— Eu... eu nem sei o que dizer. — Ele fez uma pausa, hesitando. — Bom, somos amigos, mas a gente namorou, Cass. E eu gostava mesmo de você, gata. É estranho pensar nisso agora. — Ele suspirou, confuso. — Que merda de situação você se meteu... Tô preocupado com você, de verdade.Os olhos de Peter estavam carregados de preocupação e curiosidade. Tanto que, após um instante, ele perguntou:— Mas... você pelo menos gostou?Fiquei sem reação. Apertei os olhos, sentindo o rosto esquentar.— Eu não quero entrar e
Nas últimas semanas, me afastei do estágio duas vezes. Tenho me sentido péssima: náuseas, fraqueza e, às vezes, uma ansiedade que parece não ter explicação. Eu tento manter Kai fora da minha mente, mas, de um jeito ou de outro, ele sempre encontra uma forma de reaparecer na minha vida. — Cassidy, você sabe que eu não costumo misturar trabalho com assuntos pessoais, sou profissional. Mas acabamos de enviar um convite para uma entrevista com Kai Hoke. Ele é cunhado da sua irmã... seria ótimo se você conseguisse convencê-lo a aceitar — pediu minha chefe, com um tom gentil, porém firme. Ainda bem que eu estava de costas naquele momento, porque não consegui evitar a revirada de olhos. Respirei fundo antes de me virar, forçando um sorriso educado. — Tudo bem, eu posso tentar falar com ele — respondi, mantendo o tom neutro. — Obrigada. Você está se sentindo bem? Precisa de mais uns dias para descansar? Por que não marca uma consulta? Está um pouco pálida — disse ela, tocando de leve
Acordei me sentindo surpreendentemente bem, sem nenhum vestígio do mal-estar dos últimos dias. Tomei isso como um bom sinal, como se meu corpo estivesse finalmente voltando ao normal. Queria acreditar que tudo estava sob controle agora.Ao chegar no prédio da revista, percebi uma movimentação incomum. As pessoas pareciam agitadas, apressadas. Minha chefe entrou logo atrás de mim, e, pelo seu olhar ansioso, soube imediatamente que algo estava acontecendo.— Por que está todo mundo tão... — comecei a perguntar, mas ela me interrompeu antes que eu terminasse.— Cassidy, preciso da sua ajuda agora. Kai Hoke aceitou a entrevista, mas disse que tem que ser hoje.— O QUÊ?! — Minha reação foi automática, quase um grito.— Exatamente isso. Ele chega em duas horas. A equipe está organizando a sala neste momento. Vamos, precisamos ajustar o roteiro das perguntas.Fiquei paralisada por alguns segundos, processando a informação. Só então saí correndo até o banheiro. Me encarei no espelho, o coraçã
Meus sobrinhos quase não me deixaram passar pela porta. Os três vieram correndo em minha direção, pulando em mim e em Mike com tanta energia que mal consegui me equilibrar. Nós os abraçamos com força, rindo, e só depois conseguimos cumprimentar o restante das pessoas. — Feliz aniversário, Joshua! — Abracei meu cunhado com carinho e entreguei a sacola com o presente dele. — Obrigado, Cassidy, você não precisava trazer nada. — Ele sorriu, meio sem jeito. — Ah, não é nada tão grandioso quanto você merece, governador. — Brinquei, rindo. — Agora eu sou só o Joshua, pai de três crianças e marido da mulher mais bonita deste mundo. — Respondeu descontraído, lançando um olhar apaixonado para minha irmã. — Olívia tem mesmo muita sorte, você ouviu isso? — Retruquei, gargalhando e apontando para ela. — Hoje ele está muito romântico... — Olívia abraçou o marido com um sorriso apaixonado, e eu me derreti um pouco ao ver aquele gesto tão sincero de amor. Enquanto Mike seguia conversando