— Vamos para o quarto. — Caminhei devagar, sentindo a tensão no ar.Peter veio logo atrás, seus passos hesitantes revelando a batalha interna entre felicidade e preocupação. Ele parecia estar medindo cada palavra que estava prestes a dizer. Quando chegamos, apontei para a cama, e ele se sentou. Puxei a cadeira onde costumo estudar e me posicionei de frente para ele, tentando manter a calma enquanto meu coração acelerava.— Cass, você sabe que estou quase me formando. — Ele começou devagar, com um tom cauteloso. — Até agora, recebi duas propostas. Ambas da NFL. Uma é de San Francisco e a outra de Kansas City. — Ele fez uma pausa, observando minha reação. — Sabíamos que isso poderia acontecer, mas... você ama N.Y. Acha que conseguiria se formar e... ir comigo?Fiquei paralisada por um momento, como se o mundo ao meu redor tivesse parado. Eu sabia que Peter era talentoso, um Quarterback incrível, e que a atenção dos grandes times era inevitável. Mas ouvir isso, sentir o peso da realidade
— Você já está bonita assim, Cass. — Peter falou.— Eu sei, mas é a sua família. Preciso pelo menos parecer apresentável. E se eles descobrirem? — indaguei.— Não vão descobrir. Somos melhores amigos, lembra? Todo mundo acha que somos apaixonados um pelo outro. — Ele riu. — Bom, eu me apaixonaria por você, se você deixasse...— Peter... — sorri. — Você não está apaixonado pelo seu colega de time, ou esqueceu?— Não, mas você sabe que eu gosto das duas coisas. — deu de ombros.Eu e Peter estamos "namorando" há anos. Pelo menos, é isso que as pessoas pensam. Nós tivemos muitos momentos maravilhosos, mas decidimos que não somos o amor da vida um do outro. Peter é a melhor pessoa que conheço: inteligente, estudioso, talentosíssimo, um verdadeiro cavalheiro. Porém, sua família ainda é bem fechada em relação a isso. Talvez aceitassem o fato de ele ser bi, mas jamais aceitariam um relacionamento com outro garoto. Por isso, mantemos essa fachada de casal. Não é tão ruim — somos amigos e div
Kai Não sei onde estou com a cabeça. Sempre fui um cara centrado, firme em minhas convicções, especialmente sobre mulheres. Nunca me permiti mudar de opinião, ainda mais sobre Cassidy. Quando a conheci, ela ainda era uma adolescente. Ingênua. Inofensiva. Mas depois daquele episódio entre nós e daquele idiota que ela apresentou como namorado, algo em mim mudou. Passei a observá-la com uma intensidade que me incomoda.Enquanto dirijo, a dúvida me consome. Por que estou mudando a rota? O que estou fazendo?— Cassidy — falei, tentando manter a voz firme, mas minha calma era um fio prestes a arrebentar. — Você é linda, é especial, eu... eu não...Queria dizer que me preocupo com ela porque somos família, mas não seria verdade. Não apenas isso. Não mais.— Já sei, Kai. Você não é homem para mim porque não gosta de garotinhas como eu. Eu já sei, porra! Então para de dar piti sobre o meu relacionamento. Peter não me vê como uma garotinha. Pelo contrário, ele me fode como uma...— CARALHO, CA
Acordei no meio da madrugada. O quarto estava escuro, e a cama, vazia. Um aperto estranho tomou conta do meu peito. De repente, me lembrei: não poderia demorar muito para chegar em casa. Papai acha que fui a uma boate com uma amiga, e aparecer só de manhã não estava nos planos. Levantei devagar, tentando não fazer barulho, e fui atrás da minha roupa.Milhões de pensamentos rodopiavam na minha mente. Onde estava Kai? O que ele estaria pensando? Como seria depois disso? Vesti-me rapidamente, peguei minha bolsa e me encaminhei para a porta.Ao chegar à sala, ouvi o som de um copo batendo atrás de mim. Parei, alarmada, e me virei devagar. Uma porta entreaberta chamou minha atenção. Lá dentro, pude ver Kai. Estava de pé, curvado sobre uma mesa, um copo ao lado, o semblante abatido. Ele parecia exausto, perdido em pensamentos que claramente pesavam sobre ele. Seus olhos estavam fechados, como se tentasse afastar uma dor insuportável.Sem querer, encostei na porta, que rangeu ao abrir mais.
Cassidy Anos atrásHoje é o meu aniversário, e toda a família se reuniu para comemorar. Em poucos meses, eu vou me formar no high school e, então, começar a faculdade — um novo capítulo da minha vida que espero ansiosamente. Meu irmão Michael já deu esse passo no ano passado, e em breve eu o acompanharei em Nova York. Tenho uma esperança secreta: que ao me mudar, minha vida mude também. Ou melhor, que eu mude.Desde os meus quase dezesseis anos, carrego um segredo que me atormenta. Sou apaixonada pelo cunhado da minha irmã, um homem que tem o dobro da minha idade e um histórico de mulherengo assumido. Kai Hoke é o tipo de pessoa que jamais olharia para mim, e eu sei disso. Essa é a razão pela qual anseio por essa mudança. Quero me libertar desse sentimento, esquecê-lo e seguir em frente. Pelo menos, é o que eu digo para mim mesma.– Cassidy, você está linda, querida – disse Kai, com a voz calma que sempre me desconcerta.Respirei fundo antes de responder.– Obrigada, Kai – agradeci,
Kai Hoke— Kai, vamos precisar viajar em breve, tudo bem? — Dylan, meu irmão, entrou na minha sala e afirmou. — Para onde? — Nova York, irmão. Início da fiscalização das obras do empreendimento do hospital. Teremos que ir, porque o cliente quer os responsáveis diretos lá, e não apenas "algum encarregado". — Fez aspas com os dedos e revirou os olhos. — Insuportável — murmurei. — Concordo, mas assinamos o contrato. Temos que ir — enfatizou. — Quando? — Semana que vem. Podemos passar no apartamento e ver como os meninos estão — sugeriu. — Sim, pelo menos não vai ser uma viagem totalmente perdida — ri. Mike já está lá há quase dois anos, e Cassidy foi no início desse ano, os dois são irmãos da minha cunhada e eu gostei deles logo que os conheci. Faz bastante tempo que não vejo os dois. Aqueles irmãos são como sobrinhos de verdade. Eu os amo como se fossem parte da minha família. Ir visitá-los não será tão chato assim. Podemos ver se estão precisando de alguma co
Cassidy Algumas coisas não mudam. O tempo passa, eu tenho mais oportunidades de viver minha vida, mas continuo presa nos meus pensamentos, imaginando como deve ser estar no lugar das mulheres nas fotos ao lado de Kai. Minha última aula terminou e eu estava indo para casa quando senti uma mão em meu ombro. Parei e me virei. — Cass. — Oi, Peter. — sorri, surpresa. Peter e eu trocamos poucas palavras neste ano, e quase não tivemos interações além de olhares e, como Mike diria, "um clima". — Então, vai rolar uma festa hoje. Topa? — perguntou. Pisquei, surpresa com o convite. Nunca tivemos intimidade além de um simples "bom dia". — Ah, obrigada, mas não sei se vou conseguir, tenho muito o que estudar — respondi, sorrindo sem graça. — Tudo bem, se mudar de ideia, esse é meu número. Até mais. — Ele me entregou um papel e sorriu. Peter tocou meu ombro antes de se afastar. Fiquei alguns segundos tentando entender a situação, mas logo dei de ombros e segui meu caminho.
Já faz uma semana que cometi a maior burrada da minha vida. O que eu tinha na cabeça para achar que Kai simplesmente iria sorrir para mim e me beijar apaixonadamente? Claro que ele fez o completo oposto. Estou exausta de sentir isso, de ficar olhando as notícias dele e vê-lo saindo com mulheres diferentes a cada fim de semana. Preciso acabar com esse sentimento de uma vez por todas. Mike percebeu minha tristeza nos últimos dias, mas disfarcei e disse que era apenas preocupação com as matérias difíceis. — Você parece muito triste, quer fazer algo? Olha, sei que não curto essas coisas, mas... — ele respirou fundo. — Vai ter uma festa amanhã à noite. Vai querer ir? — Quem é você e o que fez com meu irmão recluso? — sorri. — Está tudo bem, Mike. Não quero ir, vamos em outro lugar. Talvez ao shopping? — Você é a melhor irmã. Eu odiaria ficar mais de trinta minutos com aquele bando de idiotas se esfregando uns nos outros, suados e bêbados. — Falando assim, parece nojento — gargalhei.