Kai Hoke
Dias depois Criar uma marca não é fácil. É como entrar em um campo de batalha lotado, onde cada novo concorrente surge carregando a promessa de algo inovador. Foi nesse cenário que nasceu a Imperial Men’s, uma marca pensada para homens como eu: seguros de quem são e do que desejam. Relógios, peças íntimas e óculos escuros são os pilares da coleção. Eu queria criar algo que fosse um reflexo genuíno de mim mesmo, e essas são exatamente as coisas que adoro adquirir das melhores marcas possíveis. — Uau... — Dylan murmurou, com os olhos fixos nas peças. Joshua, por outro lado, me olhava com uma expressão de surpresa escancarada. — Isso é sério? — ele perguntou, ainda tentando processar a informação. — Kai, por que não disse nada? — Morgana me encarou, como se eu tivesse cometido um crime imperdoável. Alexander, sempre mais contido, apenas observava as peças em silêncio, analisando cada detalhe com uma atenção quase intimidante. Respirei fundo antes de responder. Por muito tempo, eu quis contar e até mesmo pedir conselhos a Joshua. Ele sempre foi o mais sério e centrado de todos nós. Praticamente sozinho, ele triplicou nossa fortuna, e agora, como governador, tornou-se ainda mais imponente. Mas eu queria fazer algo sozinho, queria me desafiar a realizar algo útil, não apenas por mim, mas também pela família. — Eu queria ter certeza de que tudo daria certo primeiro. Mas... a questão é: vocês gostaram? — Minha voz saiu ansiosa, quase insegura. Eu precisava da aprovação deles. Não era apenas sobre o que eu sentia, mas sobre o que isso poderia representar para a nossa família. Sucesso ou fracasso, as repercussões seriam compartilhadas. — Eu amei! — Morgana exclamou, apontando para um dos relógios. — Esse aqui é a sua cara, amor. — Ela mostrou a imagem para o marido, que acenou com um sorriso discreto. — Estou surpreso, mas isso é incrível, Kai. — Joshua finalmente relaxou, e sua expressão se transformou em um sorriso genuíno. — Sei que vai ser um sucesso. — E você podia me dar esse aqui de presente! — Dylan virou o catálogo em minha direção, rindo. A conversa se desenrolou, e a tensão em meu peito começou a diminuir. A data da apresentação das peças estava marcada para breve. Havia planos ambiciosos para o futuro: desfiles, eventos exclusivos, novas coleções. Por ora, o foco era lançar as peças iniciais, com a promessa de que, mais adiante, cada criação seria personalizada para os clientes. Mais tarde, já menos ansioso, liguei para mamãe para compartilhar a novidade. Como esperado, ela não ficou nada satisfeita por ter sido informada depois de todos. Reclamou, exigiu compensação e me intimou a passar uma tarde inteira com ela. Como sempre, eu cedi. Depois da última reunião do dia, voltei para casa, exausto. Enquanto comia, minha mente vagou para Cassidy. Fazia meses desde o incidente que nos afastou, e alguns dias desde nossa pequena discussão, mas eu andava sentindo falta das conversas cheias de suas maluquices e ideias inesperadas, como antigamente. Ela cursava Moda, e uma parte de mim queria mostrar as peças da coleção e ouvir sua opinião. No entanto, nossa amizade pertencia ao passado. Além disso, ela tinha um namoradinho agora. Quis rir, aquele garoto não seria o suficiente para ela, mas isso não era um problema meu. Minha vida está ótima como está. O interfone tocou, quebrando meus pensamentos. Pelo horário, já sabia o que esperar. — É ela? — perguntei ao atender. — Sim, tudo bem, senhora Hoke, obrigada. — A resposta foi breve, usando o nosso código habitual, antes de desligar. Suzana, Soraia, ou seja lá qual fosse o nome dela, parecia incapaz de desistir. Quase todas as noites, a cena se repetia. O porteiro fazia questão de avisar que ela tinha aparecido, apenas para garantir que eu soubesse. Pensei, por um momento, em deixar esse estilo de vida para trás. Mas a lembrança da última vez que fui a uma balada no centro rapidamente dissipou essa ideia. Eu amava minha vida exatamente como ela era. Voltei para o sofá, tentando me concentrar no filme que nem me dei ao trabalho de decorar o nome. Enquanto navegava pelas redes sociais, uma foto de Cassidy apareceu na tela. Ela estava em um estádio, usando uma blusa apertada com o número do namoradinho estampado. Sorri, mas não de admiração. Ele não era nem de longe tão bonito quanto minha mãe, Morgana ou Olívia pareciam achar. Eu era mais bonito e mais homem. Cassidy só pode estar carente. — Eu que não quero me prender. — murmurei para mim mesmo, dando de ombros. A monotonia da noite finalmente me venceu. Levantei, tomei um banho e me preparei para a única coisa que sempre conseguia distrair minha mente: sair. Chegar à boate era um ritual que eu dominava. Nunca enfrentava filas. Bastava dizer meu nome, e o segurança abria caminho. Meu lugar estava reservado, uma mesa pessoal na área VIP, afastada da multidão. Na pista, duas mulheres dançavam juntas, atraindo olhares por onde passavam. Uma loira em um vestido que parecia ter sido feito para provocar e uma morena deslumbrante que exalava confiança. Acenei para elas, que rapidamente subiram as escadas, sussurrando algo entre si. — Kai. — A loira cantarolou, parando diante de mim. — Fico feliz em saber que já sabem o meu nome. — Respondi, apontando para o sofá à minha frente. — Todo mundo sabe. Você é famoso aqui. — Disse a morena, com um sorriso malicioso. — Sou mesmo? — Perguntei, fingindo desinteresse. — Você é Kai Hoke, irmão do governador, presença VIP neste lugar, CEO de uma das empresas da família e... — Ela fez uma pausa dramática. — Dizem que nunca repete ninguém. É verdade? Sorri, bebendo o restante do uísque. — É verdade. Nunca repito. Mas hoje, parece que dei sorte. A loira inclinou-se para mim, mordendo o lábio. — Por quê? — Porque estou aqui, entediado, e agora tenho duas mulheres incríveis na minha frente. Se forem como imagino, vamos aproveitar até o amanhecer. A noite, como tantas outras, prometia ser intensa. E eu, como sempre, estava disposto a aproveitá-la ao máximo. Enquanto pagava a conta da bebida, avisei que estava indo para os fundos e mandei que ninguém me incomodasse. Quando cheguei ao quarto, as duas estavam exatamente como eu gosto: sem roupa e prontas para a melhor noite de suas vidas.Cassidy Entre todas as vantagens de ser uma boa aluna, conseguir um estágio em uma renomada revista de moda em Nova York foi a cereja do bolo. Minha rotina se tornou mais corrida e apertada, mas é incrível; eu amo o que faço. Não tenho mais a disponibilidade de visitar a família como o Mike faz quase todos os finais de semana. Por um lado, isso é ruim, porque morro de saudades de todos. Por outro, fico tranquila por saber que não encontrarei Kai e não precisarei lidar com o mesmo clima de merda de sempre. — Cassidy, você conseguiu publicar a matéria sobre... — Sim, a Imperial Men’s. Aqui está. — Entreguei o tablet em sua mão. Minha chefe, Eveline, me olhou surpresa, mas logo abriu um sorriso orgulhoso. Ela passou os olhos pelo texto. Não foi escrito por mim, claro, mas eu revisei e publiquei na revista online. — Você é ouro, mulher! — Ela riu e agradeceu. — Vou te pagar um café, prometo. Ela saiu rapidamente, pois alguém a chamou, e eu voltei a olhar para o computador, suspirand
— Vamos para o quarto. — Caminhei devagar, sentindo a tensão no ar. Peter veio logo atrás, seus passos hesitantes revelando a batalha interna entre felicidade e preocupação. Ele parecia estar medindo cada palavra que estava prestes a dizer. Quando chegamos, apontei para a cama, e ele se sentou. Puxei a cadeira onde costumo estudar e me posicionei de frente para ele, tentando manter a calma enquanto meu coração acelerava. — Cass, você sabe que estou quase me formando. — Ele começou devagar, com um tom cauteloso. — Até agora, recebi duas propostas. Ambas da NFL. Uma é de San Francisco e a outra de Kansas City. — Ele fez uma pausa, observando minha reação. — Sabíamos que isso poderia acontecer, mas... você ama N.Y. Acha que conseguiria se formar e... ir comigo? Fiquei paralisada por um momento, como se o mundo ao meu redor tivesse parado. Eu sabia que Peter era talentoso, um Quarterback incrível, e que a atenção dos grandes times era inevitável. Mas ouvir isso, sentir o peso da realida
— Cassidy — a voz de Olívia chamou da casa, cortando o momento.Kai piscou, como se despertasse de um transe, e deu um passo para trás. — Parece que você está esperando — disse ele, com um sorriso torto que parecia carregar mil significados.Eu me afastei rapidamente, sentindo o rosto queimar, e caminhei de volta para a casa sem olhar para trás.O momento tinha acabado, mas a eletricidade entre nós ainda pairava no ar, uma lembrança viva do que poderia ter acontecido. E do que, talvez, um dia ainda pudesse acontecer. Mesmo nervosa com o que aconteceu entre nós, consegui disfarçar e aproveitar o momento, embora, no final do dia, minha mente tenha sido bombardeada por possíveis desfechos para o que parecíamos ter começado naquela manhã. * * * * * Tentei seguir minha vida sem pensar muito no que aconteceu naquele dia entre Kai e eu, mas era difícil. Agora que Peter e eu somos apenas amigos, tornou-se ainda mais complicado bloquear alguns pensamentos e desejos que foram reprimidos.
Kai Não sei onde estou com a cabeça. Sempre fui um cara centrado, firme em minhas convicções, especialmente sobre mulheres. Nunca me permiti mudar de opinião, ainda mais sobre Cassidy. Quando a conheci, ela ainda era uma adolescente. Ingênua. Inofensiva. Mas depois daquele episódio entre nós e daquele idiota que ela apresentou como namorado, algo em mim mudou. Passei a observá-la com uma intensidade que me incomoda.Enquanto dirijo, a dúvida me consome. Por que estou mudando a rota? O que estou fazendo?— Cassidy — falei, tentando manter a voz firme, mas minha calma era um fio prestes a arrebentar. — Você é linda, é especial, eu... eu não...Queria dizer que me preocupo com ela porque somos família, mas não seria verdade. Não apenas isso. Não mais.— Já sei, Kai. Você não é homem para mim porque não gosta de garotinhas como eu. Eu já sei, porra! Então para de dar piti sobre o meu relacionamento. Peter não me vê como uma garotinha. Pelo contrário, ele me fode como uma...— CARALHO, CA
Acordei no meio da madrugada. O quarto estava escuro, e a cama, vazia. Um aperto estranho tomou conta do meu peito. De repente, me lembrei: não poderia demorar muito para chegar em casa. Papai acha que fui a uma boate com uma amiga, e aparecer só de manhã não estava nos planos. Levantei devagar, tentando não fazer barulho, e fui atrás da minha roupa.Milhões de pensamentos rodopiavam na minha mente. Onde estava Kai? O que ele estaria pensando? Como seria depois disso? Vesti-me rapidamente, peguei minha bolsa e me encaminhei para a porta.Ao chegar à sala, ouvi o som de um copo batendo atrás de mim. Parei, alarmada, e me virei devagar. Uma porta entreaberta chamou minha atenção. Lá dentro, pude ver Kai. Estava de pé, curvado sobre uma mesa, um copo ao lado, o semblante abatido. Ele parecia exausto, perdido em pensamentos que claramente pesavam sobre ele. Seus olhos estavam fechados, como se tentasse afastar uma dor insuportável.Sem querer, encostei na porta, que rangeu ao abrir mais.
— Você fez o quê?! — Peter gritou ao telefone.— Eu te contei tudo, Pete! Não posso falar sobre isso com mais ninguém, você é meu melhor amigo... O Mike não pode saber. Eu acho que vou surtar. — desabafei, a voz embargada. O nó na garganta apertava tanto que parecia que eu só conseguia pensar em chorar.Pela primeira vez desde que tudo aconteceu no mês passado, tive coragem de conversar sobre isso com alguém. E o único em quem eu confiava o bastante para ouvir essa história era ele.— Eu... eu nem sei o que dizer. — Ele fez uma pausa, hesitando. — Bom, somos amigos, mas a gente namorou, Cass. E eu gostava mesmo de você, gata. É estranho pensar nisso agora. — Ele suspirou, confuso. — Que merda de situação você se meteu... Tô preocupado com você, de verdade.Os olhos de Peter estavam carregados de preocupação e curiosidade. Tanto que, após um instante, ele perguntou:— Mas... você pelo menos gostou?Fiquei sem reação. Apertei os olhos, sentindo o rosto esquentar.— Eu não quero entrar e
Nas últimas semanas, me afastei do estágio duas vezes. Tenho me sentido péssima: náuseas, fraqueza e, às vezes, uma ansiedade que parece não ter explicação. Eu tento manter Kai fora da minha mente, mas, de um jeito ou de outro, ele sempre encontra uma forma de reaparecer na minha vida. — Cassidy, você sabe que eu não costumo misturar trabalho com assuntos pessoais, sou profissional. Mas acabamos de enviar um convite para uma entrevista com Kai Hoke. Ele é cunhado da sua irmã... seria ótimo se você conseguisse convencê-lo a aceitar — pediu minha chefe, com um tom gentil, porém firme. Ainda bem que eu estava de costas naquele momento, porque não consegui evitar a revirada de olhos. Respirei fundo antes de me virar, forçando um sorriso educado. — Tudo bem, eu posso tentar falar com ele — respondi, mantendo o tom neutro. — Obrigada. Você está se sentindo bem? Precisa de mais uns dias para descansar? Por que não marca uma consulta? Está um pouco pálida — disse ela, tocando de leve
Acordei me sentindo surpreendentemente bem, sem nenhum vestígio do mal-estar dos últimos dias. Tomei isso como um bom sinal, como se meu corpo estivesse finalmente voltando ao normal. Queria acreditar que tudo estava sob controle agora.Ao chegar no prédio da revista, percebi uma movimentação incomum. As pessoas pareciam agitadas, apressadas. Minha chefe entrou logo atrás de mim, e, pelo seu olhar ansioso, soube imediatamente que algo estava acontecendo.— Por que está todo mundo tão... — comecei a perguntar, mas ela me interrompeu antes que eu terminasse.— Cassidy, preciso da sua ajuda agora. Kai Hoke aceitou a entrevista, mas disse que tem que ser hoje.— O QUÊ?! — Minha reação foi automática, quase um grito.— Exatamente isso. Ele chega em duas horas. A equipe está organizando a sala neste momento. Vamos, precisamos ajustar o roteiro das perguntas.Fiquei paralisada por alguns segundos, processando a informação. Só então saí correndo até o banheiro. Me encarei no espelho, o coraçã