— Vamos para o quarto. — Caminhei devagar, sentindo a tensão no ar.
Peter veio logo atrás, seus passos hesitantes revelando a batalha interna entre felicidade e preocupação. Ele parecia estar medindo cada palavra que estava prestes a dizer. Quando chegamos, apontei para a cama, e ele se sentou. Puxei a cadeira onde costumo estudar e me posicionei de frente para ele, tentando manter a calma enquanto meu coração acelerava. — Cass, você sabe que estou quase me formando. — Ele começou devagar, com um tom cauteloso. — Até agora, recebi duas propostas. Ambas da NFL. Uma é de San Francisco e a outra de Kansas City. — Ele fez uma pausa, observando minha reação. — Sabíamos que isso poderia acontecer, mas... você ama N.Y. Acha que conseguiria se formar e... ir comigo? Fiquei paralisada por um momento, como se o mundo ao meu redor tivesse parado. Eu sabia que Peter era talentoso, um Quarterback incrível, e que a atenção dos grandes times era inevitável. Mas ouvir isso, sentir o peso da realidade se aproximando, foi como um choque. A ideia de vê-lo partir para outro estado, de talvez ficarmos distantes, me atingiu como um raio. — Pete... você sabe que eu te amo. Somos melhores amigos antes de qualquer coisa. — Minha voz saiu trêmula, enquanto eu tentava processar. — Mas eu... não sei o que dizer. Amo N.Y. Tanta coisa aconteceu aqui, tantas memórias... Eu nem consigo me imaginar morando em outro lugar. Nem mesmo em Denver eu pensei em voltar. — Confessei, sentindo um nó se formar em minha garganta. — Você já sabe com qual time vai assinar? — Ainda não. — Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos. — Estamos avaliando as possibilidades. Meu técnico acha que outros times ainda vão aparecer com propostas. Olhei para ele, e uma onda de emoções me invadiu. Orgulho, admiração, felicidade, preocupação. As lágrimas vieram antes que eu pudesse conter. — Peter, eu estou tão orgulhosa de você! Meu Deus, você merece isso tanto! — Minha voz se quebrou, e as palavras saíram entre soluços. — Você é incrível, incrível demais... Ele levantou-se imediatamente, atravessando a distância entre nós e me puxando para seus braços. — Ei, gatinha, não chora. — Sua voz era suave, mas firme, enquanto ele acariciava meu cabelo. — Eu estou tão feliz por você, caramba, você é mesmo bom, hein! — Sorri animada, tentando aliviar o peso da conversa. — Olha, não precisamos falar disso agora, mas você sabe que, independente de qualquer coisa, ainda seremos amigos, não é? — perguntei, com um toque de tensão na voz. — Cassidy, claro que sim. — Peter deu um sorriso suave. — Passamos anos juntos, foram ótimos. Se não conseguirmos seguir adiante como um casal, ainda assim eu vou te amar, mesmo que como amiga. — Ele riu e me puxou para um abraço reconfortante. — Mas exijo que você me visite e torça por mim, combinado? — Sempre serei sua fã número um, Pete. — Confessei, deixando meu tom mais leve. — Me acostumei com você. — Eu também. Mas, no fundo, sinto que não somos um para o outro, sabe? Não como casal. Nada errado conosco, apenas... sinto isso. — Eu também. — Suspirei, sentindo uma pontada de tristeza misturada com alívio. — O que é uma pena, porque você é tão incrível. Promete que ainda vai ser meu amigo? — Prometo, para sempre. Mas, enquanto isso, vamos continuar como estamos. Depois que eu assinar o contrato, decidimos de forma definitiva, o que acha? — Perfeito. — Sorri, tentando manter o bom humor. — Gosto de andar pelo campus e fazer inveja àquelas garotas que vivem dando em cima de você. — Eu sabia! Sua ciumenta. — Ele riu, tocando o meu nariz de leve. — Mas em todo esse tempo, fui só seu, Cass. No fundo, eu queria que meu coração amasse Peter da mesma forma que minha mente o admirava. Ele era tudo o que eu poderia desejar, mas, ainda assim, algo dentro de mim sabia que nosso caminho seria apenas como amigos, eventualmente. Nessa noite, seguimos como sempre. Dormimos juntos, e foi incrível, como sempre. Mas a sensação de que estávamos caminhando para um desfecho permaneceu entre nós, como uma sombra. Fingimos que não víamos, mas sabíamos que ela estava lá.* * * *
Os dias passaram, e eu e Peter seguimos na mesma. Ninguém sabia de nada, e isso nos dava algum conforto. Porém, eu sentia que precisava de um tempo com minha família, então fui para a casa dos pais de Joshua passar o fim de semana. Fazia tempo que não os visitava, e a saudade do papai e da Olívia estava apertando. Quando cheguei, a casa estava cheia. A família toda reunida, inclusive Kai, que me cumprimentou com um sorriso educado, mas contido. Parabenizei-o pelo sucesso de sua marca, genuinamente feliz por ele. Depois de matar um pouco da saudade, nos sentamos para almoçar. — E então, Cass, conseguiu o estágio? — perguntou a mãe de Joshua. — Sim, tia! Estou tão feliz. — Respondi, animada. — Você vai se sair bem. Depois, vou te contratar para desenhar alguns modelos para mim. — Ela sorriu confiante. — Sim, senhora, farei tudo ao seu gosto. — Respondi alegremente. — Por que o Peter não veio? — Mike perguntou. — A mãe dele está doente, e ele foi passar o fim de semana com ela. — Expliquei. — Ele vai seguir carreira no futebol? — Joshua perguntou. — Se tudo der certo, sim. Ele já tem alguns contratos em vista. Estou na torcida. — Respondi, orgulhosa. — Vamos mudar de assunto? É um momento em família. — A voz de Kai cortou o ar, chamando minha atenção. Olhei para ele, surpresa. Mesmo que eu e Peter não estivéssemos no melhor momento como casal, aquela intervenção me irritou. Levantei o queixo e respondi, petulante: — Ele também é minha família. Em breve, será meu marido. — Não está muito nova para pensar nisso? — Ele rebateu, num tom desafiador. — E você? Não está velho demais para viver pulando de cama em cama? — Retruquei no impulso. A mesa mergulhou em um silêncio mortal. Mike olhava para mim como se tivesse visto um fantasma, enquanto Kai me encarava, os olhos arregalados de surpresa. Para aliviar a tensão, forcei um sorriso e completei: — Estou brincando. Não se preocupe, tio Kai. Vou aproveitar bastante com ele antes de casar. Fiz questão de enfatizar a palavra "tio", deixando claro o recado. Depois do almoço, saí para o jardim, tentando esfriar a cabeça. Não demorou muito até que senti a presença de alguém se aproximando. Quando me virei, lá estava Kai, suas mãos nos bolsos e o olhar fixo em mim. — Você realmente não tem filtro, não é? — Ele disse, a voz baixa e carregada de algo que não consegui decifrar. — Apenas quando acho necessário. — Respondi, cruzando os braços, tentando esconder como ele me deixava nervosa. Kai deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. — Você gosta de provocar, não é? — Ele perguntou, sua voz agora um pouco mais suave, mas ainda intensa. — Talvez. — Murmurei, sentindo minha respiração acelerar. Ele se aproximou mais, e dessa vez, não recuei. O ar ao nosso redor parecia pesado, como se carregasse todos os sentimentos não ditos e as palavras engolidas ao longo dos anos. — Cass... — Ele sussurrou, sua mão subindo lentamente até o meu rosto. Seus dedos roçaram minha pele, enviando uma onda de calor pelo meu corpo. Meu coração batia tão forte que parecia ecoar no silêncio do jardim. Kai inclinou-se mais, seu rosto a poucos centímetros do meu. Seus olhos desceram para meus lábios, estava com a boca quase colada na minha. E por um instante, tive certeza de que ele iria me beijar.— Cassidy — a voz de Olívia chamou da casa, cortando o momento.Kai piscou, como se despertasse de um transe, e deu um passo para trás. — Parece que você está esperando — disse ele, com um sorriso torto que parecia carregar mil significados.Eu me afastei rapidamente, sentindo o rosto queimar, e caminhei de volta para a casa sem olhar para trás.O momento tinha acabado, mas a eletricidade entre nós ainda pairava no ar, uma lembrança viva do que poderia ter acontecido. E do que, talvez, um dia ainda pudesse acontecer. Mesmo nervosa com o que aconteceu entre nós, consegui disfarçar e aproveitar o momento, embora, no final do dia, minha mente tenha sido bombardeada por possíveis desfechos para o que parecíamos ter começado naquela manhã. * * * * * Tentei seguir minha vida sem pensar muito no que aconteceu naquele dia entre Kai e eu, mas era difícil. Agora que Peter e eu somos apenas amigos, tornou-se ainda mais complicado bloquear alguns pensamentos e desejos que foram reprimidos.
Kai Não sei onde estou com a cabeça. Sempre fui um cara centrado, firme em minhas convicções, especialmente sobre mulheres. Nunca me permiti mudar de opinião, ainda mais sobre Cassidy. Quando a conheci, ela ainda era uma adolescente. Ingênua. Inofensiva. Mas depois daquele episódio entre nós e daquele idiota que ela apresentou como namorado, algo em mim mudou. Passei a observá-la com uma intensidade que me incomoda.Enquanto dirijo, a dúvida me consome. Por que estou mudando a rota? O que estou fazendo?— Cassidy — falei, tentando manter a voz firme, mas minha calma era um fio prestes a arrebentar. — Você é linda, é especial, eu... eu não...Queria dizer que me preocupo com ela porque somos família, mas não seria verdade. Não apenas isso. Não mais.— Já sei, Kai. Você não é homem para mim porque não gosta de garotinhas como eu. Eu já sei, porra! Então para de dar piti sobre o meu relacionamento. Peter não me vê como uma garotinha. Pelo contrário, ele me fode como uma...— CARALHO, CA
Acordei no meio da madrugada. O quarto estava escuro, e a cama, vazia. Um aperto estranho tomou conta do meu peito. De repente, me lembrei: não poderia demorar muito para chegar em casa. Papai acha que fui a uma boate com uma amiga, e aparecer só de manhã não estava nos planos. Levantei devagar, tentando não fazer barulho, e fui atrás da minha roupa.Milhões de pensamentos rodopiavam na minha mente. Onde estava Kai? O que ele estaria pensando? Como seria depois disso? Vesti-me rapidamente, peguei minha bolsa e me encaminhei para a porta.Ao chegar à sala, ouvi o som de um copo batendo atrás de mim. Parei, alarmada, e me virei devagar. Uma porta entreaberta chamou minha atenção. Lá dentro, pude ver Kai. Estava de pé, curvado sobre uma mesa, um copo ao lado, o semblante abatido. Ele parecia exausto, perdido em pensamentos que claramente pesavam sobre ele. Seus olhos estavam fechados, como se tentasse afastar uma dor insuportável.Sem querer, encostei na porta, que rangeu ao abrir mais.
— Você fez o quê?! — Peter gritou ao telefone.— Eu te contei tudo, Pete! Não posso falar sobre isso com mais ninguém, você é meu melhor amigo... O Mike não pode saber. Eu acho que vou surtar. — desabafei, a voz embargada. O nó na garganta apertava tanto que parecia que eu só conseguia pensar em chorar.Pela primeira vez desde que tudo aconteceu no mês passado, tive coragem de conversar sobre isso com alguém. E o único em quem eu confiava o bastante para ouvir essa história era ele.— Eu... eu nem sei o que dizer. — Ele fez uma pausa, hesitando. — Bom, somos amigos, mas a gente namorou, Cass. E eu gostava mesmo de você, gata. É estranho pensar nisso agora. — Ele suspirou, confuso. — Que merda de situação você se meteu... Tô preocupado com você, de verdade.Os olhos de Peter estavam carregados de preocupação e curiosidade. Tanto que, após um instante, ele perguntou:— Mas... você pelo menos gostou?Fiquei sem reação. Apertei os olhos, sentindo o rosto esquentar.— Eu não quero entrar e
Nas últimas semanas, me afastei do estágio duas vezes. Tenho me sentido péssima: náuseas, fraqueza e, às vezes, uma ansiedade que parece não ter explicação. Eu tento manter Kai fora da minha mente, mas, de um jeito ou de outro, ele sempre encontra uma forma de reaparecer na minha vida. — Cassidy, você sabe que eu não costumo misturar trabalho com assuntos pessoais, sou profissional. Mas acabamos de enviar um convite para uma entrevista com Kai Hoke. Ele é cunhado da sua irmã... seria ótimo se você conseguisse convencê-lo a aceitar — pediu minha chefe, com um tom gentil, porém firme. Ainda bem que eu estava de costas naquele momento, porque não consegui evitar a revirada de olhos. Respirei fundo antes de me virar, forçando um sorriso educado. — Tudo bem, eu posso tentar falar com ele — respondi, mantendo o tom neutro. — Obrigada. Você está se sentindo bem? Precisa de mais uns dias para descansar? Por que não marca uma consulta? Está um pouco pálida — disse ela, tocando de leve
Acordei me sentindo surpreendentemente bem, sem nenhum vestígio do mal-estar dos últimos dias. Tomei isso como um bom sinal, como se meu corpo estivesse finalmente voltando ao normal. Queria acreditar que tudo estava sob controle agora.Ao chegar no prédio da revista, percebi uma movimentação incomum. As pessoas pareciam agitadas, apressadas. Minha chefe entrou logo atrás de mim, e, pelo seu olhar ansioso, soube imediatamente que algo estava acontecendo.— Por que está todo mundo tão... — comecei a perguntar, mas ela me interrompeu antes que eu terminasse.— Cassidy, preciso da sua ajuda agora. Kai Hoke aceitou a entrevista, mas disse que tem que ser hoje.— O QUÊ?! — Minha reação foi automática, quase um grito.— Exatamente isso. Ele chega em duas horas. A equipe está organizando a sala neste momento. Vamos, precisamos ajustar o roteiro das perguntas.Fiquei paralisada por alguns segundos, processando a informação. Só então saí correndo até o banheiro. Me encarei no espelho, o coraçã
Meus sobrinhos quase não me deixaram passar pela porta. Os três vieram correndo em minha direção, pulando em mim e em Mike com tanta energia que mal consegui me equilibrar. Nós os abraçamos com força, rindo, e só depois conseguimos cumprimentar o restante das pessoas. — Feliz aniversário, Joshua! — Abracei meu cunhado com carinho e entreguei a sacola com o presente dele. — Obrigado, Cassidy, você não precisava trazer nada. — Ele sorriu, meio sem jeito. — Ah, não é nada tão grandioso quanto você merece, governador. — Brinquei, rindo. — Agora eu sou só o Joshua, pai de três crianças e marido da mulher mais bonita deste mundo. — Respondeu descontraído, lançando um olhar apaixonado para minha irmã. — Olívia tem mesmo muita sorte, você ouviu isso? — Retruquei, gargalhando e apontando para ela. — Hoje ele está muito romântico... — Olívia abraçou o marido com um sorriso apaixonado, e eu me derreti um pouco ao ver aquele gesto tão sincero de amor. Enquanto Mike seguia conversando
Cheguei para o aniversário de Joshua, minha cunhada Olívia sempre comemora e mesmo que ele não goste de festas, acaba aceitando tudo que a esposa faz. O pensamento de que ele tem sorte atravessou minha mente assim que estacionei, a casa dele é enorme, com um gramado bonito, parecida com a casa onde fomos criados. Depois da noite que eu tive com Cassidy, algo mudou em mim. Pelo menos no mais profundo canto da minha mente, algo mudou. A casa estava toda feliz, meus sobrinhos que são a coisa mais linda da vida, brincavam juntos no jardim, Ivanna, sendo a única menina até então, tentava acompanhar o ritmo dos irmãos e do primo. — Mike, e aí, cara. — falei com Michael. Mike agora é um homem, cresceu muito nos últimos quatro anos, saiu da adolescência e virou um jovem rapaz muito bonito, mas ainda continua o mesmo de sempre, tímido e um nerd assumido. — Kai, e aí. — Tudo certo com seu projeto? — perguntei. — Sim, tudo perfeito, depois vou te contar umas coisas que estamos