Cassidy
Meses depois Olivia me convidou com bastante antecedência para o aniversário de dois anos de Ivanna. Eu amo minha sobrinha e, claro, não poderia faltar. Peter, ao meu lado, estava visivelmente nervoso, já que seria a primeira vez que eu o apresentaria como meu namorado para toda a família. Desde aquele dia em que saímos juntos à noite, nossa relação foi se tornando mais próxima. Aos poucos, ele conquistou meu coração, embora tenhamos decidido, no início, ser apenas amigos e deixar as coisas acontecerem naturalmente, já que eu aparentemente ainda estava confusa sobre Kai. Peter me falou sobre sua sexualidade desde o começo. Ele foi o melhor amigo que já tive, e mesmo sendo bissexual, decidimos namorar e ver até onde isso nos levaria. Para mim, era também uma tentativa de viver minha juventude plenamente e, quem sabe, esquecer a vergonha que já passei no passado. — Tem certeza de que eles vão gostar de mim? — perguntou novamente, ansioso. — E se alguém descobrir? — Peter, calma. Ninguém vai descobrir nada. E, se descobrirem, ninguém tem nada a ver com isso — respondi com um sorriso, tentando tranquilizá-lo. — Fique tranquilo, eles vão te adorar. Michael decidiu ir antes, e como eu e Peter chegaríamos mais tarde, resolvi ir diretamente com ele. Quando chegamos à festa, o local estava todo decorado, com muitas cores. Só a família e alguns amigos estavam presentes. Segurei a mão de Peter e juntos caminhamos até a mesa dos Hoke. — Cassidy, você está atrasada! — Olivia falou ao me ver e veio, animada, me abraçar. — Desculpe — respondi enquanto a abraçava. — Aqui está. Eu mesma fiz tudo. — Entreguei a sacola com o presente. Tinha desenhado um vestido amarelo lindo para Ivanna. Fiz tudo à mão, com muito carinho. Olivia ficou emocionada e disse que era o vestido mais bonito que Ivanna já teve. — Peter! — Michael veio nos cumprimentar, com Ivanna no colo. Ele apertou a mão de Peter, animado. — Mike, assisti sua partida. Cara, você é muito bom! — Peter disse, estendendo a mão para cumprimentá-lo. — Cass, não vai apresentar seu amigo? — perguntou meu pai, curioso. Eu ainda não havia contado a ele sobre Peter, mas depois de tudo o que passamos e com nossa relação ficando mais séria, achei que era o momento certo para oficializar. Além disso, seria importante para a família de Peter, que rejeitaria sua sexualidade, suspeitar menos. — Ah, claro! — respondi animada e confiante. — Pai, família, esse é o Peter, meu namorado. Amor, essa é minha família. — Toquei seu antebraço com carinho. — Olá, é um prazer conhecê-los — Peter disse com calma. — Senhor Ivan, será que podemos conversar um instante? — completou, me surpreendendo com sua atitude. Meu pai pareceu igualmente curioso e o seguiu. Os dois começaram a conversar enquanto se afastavam da mesa. Por um momento, o silêncio tomou conta. Olivia, Morgana e a mãe de Joshua estavam sorridentes, mas os homens… — Cassidy, esse cara é confiável? Como vocês se conheceram? Tem certeza de que quer namorar agora? — Dylan perguntou, desconfiado. — Ora, deixe de ser idiota. O rapaz parece um bom partido — Morgana riu. — Olha só os braços dele! Ele é atleta? — Futebol americano — respondi, orgulhosa. — Espero que vocês o tratem bem. Peter é muito importante para mim. — Falei seriamente. — Ele cuida de você? Se cuidar e te respeitar, vamos tratá-lo bem — Alexander respondeu, embora estivesse de cara fechada. — Ele é incrível, Alex… — suspirei, feliz. — Parece estar apaixonada — Kai murmurou, chamando minha atenção. — Espero que ele realmente cuide de você. Antes que eu pudesse responder, ouvi a voz de Peter atrás de mim. — Eu vou. Meu namoro com ela é pra valer. — E isso quer dizer que…? — Kai perguntou, com um tom de leve arrogância. — Que só a Cassidy pode me afastar dela. Estou aqui para valer. Ainda é cedo, mas eu já sei que teremos um futuro juntos: casamento, filhos, tudo mais. — Peter falou firme. Sorri. Ele não tinha medo de ser intenso ou de correr riscos; apenas se jogava e vivia tudo da melhor forma. — Ai, caramba, já gostei de você! — Olivia riu. — Que partidão, hein, Cassidy — Morgana completou. Sorri abertamente. Por um instante, tive esperanças de que Peter pudesse me fazer esquecer a paixão platônica e unilateral que eu sentia por Kai. Sentamos e começamos a interagir com a família. Papai engatou uma conversa sobre jogos com Peter, que parecia relaxar rapidamente. Kai, no entanto, saiu da mesa e desapareceu pelo salão. Brinquei bastante com Ivanna e os gêmeos. Enquanto Peter ganhava a atenção de todos, levei a garotinha para brincar nos escorregadores junto com os irmãos. A monitora da brinquedoteca assumiu o cuidado deles. De longe, assistia à animação das crianças e gravava tudo quando senti uma mão no meu ombro. — Achei que saberia disso antes de todo mundo — papai falou. Não parecia chateado, apenas surpreso. — Pai, desculpe. Eu só… tive medo? Não sei, talvez fiquei nervosa demais para falar antes. — confessei. — Medo de quê? Sempre fomos amigos. Você sempre pode confiar em mim. Baixei o olhar, envergonhada. Era verdade. Meu pai sempre foi meu maior apoio e me ensinou a ser sincera, apesar de tudo. — Eu não sabia como falar. Nunca namorei antes e… achei que seria mais fácil contar aqui — suspirei. — Tudo bem. Gostei dele. Parece ser um bom homem. — Ele sorriu e acenou para os netos, que gritavam por ele. Conversamos um pouco mais sobre meus planos em Nova York e com Peter. Quando voltamos à mesa, Kai já estava lá, mas evitou contato visual comigo. Ele mantinha um olhar pensativo, como se analisasse a situação de longe, tratou Peter com certa antipatia, sem motivos, já que meu namorado foi um cavalheiro e gentil com todos. Aquilo reforçava minha certeza de que era hora de seguir em frente. Me afastei das mesas por um momento para ir ao banheiro. Ao sair, caminhava por um corredor vazio quando ouvi uma voz levemente zombeteira:— É o mesmo cara de quem você falou no carro? — era Kai. — Foi um pouco... repentino esse namoro de vocês, não acha?
— Não, não acho. — Rebati. — Eu e Peter saímos, e aconteceu. — Dei de ombros.
— Saíram logo depois que você invadiu meu quarto e disse que me queria? — questionou, sua voz em tom provocador.
E então, eu entendi. Kai estava com o ego ferido. Percebeu que eu não correria atrás dele e agora estava aqui, me questionando sobre minha vida pessoal.
— Esqueça aquilo. Foi o maior erro que já cometi, Kai. — Falei, olhando para os lados, me certificando de que ninguém estava ouvindo. — Não sinto mais nada por você.
— Tem certeza? — Ele se aproximou e me olhou nos olhos.
Senti minhas pernas quase enfraquecerem, mas mantive a calma. Kai estava muito próximo, e tive que olhar para cima para encará-lo.
— Vai mudar alguma coisa se eu disser que sim? — indaguei.
O olhar dele mudou para algo que não consegui decifrar. Seus ombros pareceram ceder, e então ele disse o que eu não queria ouvir:
— Não. Nada vai mudar. Continuarei como sempre fui. — afirmou, sério.
Senti meu lábio querer tremer, mas respirei fundo e dei alguns passos para trás. Abri um sorriso sarcástico e respondi no mesmo tom:
— Então cuide da sua vida e não me questione sobre a minha.
Saí dali e não olhei para trás. Tentei me concentrar no restante da festa. Peter, ao meu lado, só recebeu elogios por sua educação e pelos cuidados comigo. Kai, que voltou logo depois, agiu como se nada tivesse acontecido. Ainda que meu coração se sentisse ansioso por Kai, naquele dia percebi que tinha encontrado algo verdadeiro com Peter, mesmo que fosse somente amizade.
Kai Hoke Dias depois Criar uma marca não é fácil. É como entrar em um campo de batalha lotado, onde cada novo concorrente surge carregando a promessa de algo inovador. Foi nesse cenário que nasceu a Imperial Men’s, uma marca pensada para homens como eu: seguros de quem são e do que desejam. Relógios, peças íntimas e óculos escuros são os pilares da coleção. Eu queria criar algo que fosse um reflexo genuíno de mim mesmo, e essas são exatamente as coisas que adoro adquirir das melhores marcas possíveis. — Uau... — Dylan murmurou, com os olhos fixos nas peças. Joshua, por outro lado, me olhava com uma expressão de surpresa escancarada. — Isso é sério? — ele perguntou, ainda tentando processar a informação. — Kai, por que não disse nada? — Morgana me encarou, como se eu tivesse cometido um crime imperdoável. Alexander, sempre mais contido, apenas observava as peças em silêncio, analisando cada detalhe com uma atenção quase intimidante. Respirei fundo antes de responder. Por muito
Cassidy Entre todas as vantagens de ser uma boa aluna, conseguir um estágio em uma renomada revista de moda em Nova York foi a cereja do bolo. Minha rotina se tornou mais corrida e apertada, mas é incrível; eu amo o que faço. Não tenho mais a disponibilidade de visitar a família como o Mike faz quase todos os finais de semana. Por um lado, isso é ruim, porque morro de saudades de todos. Por outro, fico tranquila por saber que não encontrarei Kai e não precisarei lidar com o mesmo clima de merda de sempre. — Cassidy, você conseguiu publicar a matéria sobre... — Sim, a Imperial Men’s. Aqui está. — Entreguei o tablet em sua mão. Minha chefe, Eveline, me olhou surpresa, mas logo abriu um sorriso orgulhoso. Ela passou os olhos pelo texto. Não foi escrito por mim, claro, mas eu revisei e publiquei na revista online. — Você é ouro, mulher! — Ela riu e agradeceu. — Vou te pagar um café, prometo. Ela saiu rapidamente, pois alguém a chamou, e eu voltei a olhar para o computador, suspirand
— Vamos para o quarto. — Caminhei devagar, sentindo a tensão no ar. Peter veio logo atrás, seus passos hesitantes revelando a batalha interna entre felicidade e preocupação. Ele parecia estar medindo cada palavra que estava prestes a dizer. Quando chegamos, apontei para a cama, e ele se sentou. Puxei a cadeira onde costumo estudar e me posicionei de frente para ele, tentando manter a calma enquanto meu coração acelerava. — Cass, você sabe que estou quase me formando. — Ele começou devagar, com um tom cauteloso. — Até agora, recebi duas propostas. Ambas da NFL. Uma é de San Francisco e a outra de Kansas City. — Ele fez uma pausa, observando minha reação. — Sabíamos que isso poderia acontecer, mas... você ama N.Y. Acha que conseguiria se formar e... ir comigo? Fiquei paralisada por um momento, como se o mundo ao meu redor tivesse parado. Eu sabia que Peter era talentoso, um Quarterback incrível, e que a atenção dos grandes times era inevitável. Mas ouvir isso, sentir o peso da realida
— Cassidy — a voz de Olívia chamou da casa, cortando o momento.Kai piscou, como se despertasse de um transe, e deu um passo para trás. — Parece que você está esperando — disse ele, com um sorriso torto que parecia carregar mil significados.Eu me afastei rapidamente, sentindo o rosto queimar, e caminhei de volta para a casa sem olhar para trás.O momento tinha acabado, mas a eletricidade entre nós ainda pairava no ar, uma lembrança viva do que poderia ter acontecido. E do que, talvez, um dia ainda pudesse acontecer. Mesmo nervosa com o que aconteceu entre nós, consegui disfarçar e aproveitar o momento, embora, no final do dia, minha mente tenha sido bombardeada por possíveis desfechos para o que parecíamos ter começado naquela manhã. * * * * * Tentei seguir minha vida sem pensar muito no que aconteceu naquele dia entre Kai e eu, mas era difícil. Agora que Peter e eu somos apenas amigos, tornou-se ainda mais complicado bloquear alguns pensamentos e desejos que foram reprimidos.
Kai Não sei onde estou com a cabeça. Sempre fui um cara centrado, firme em minhas convicções, especialmente sobre mulheres. Nunca me permiti mudar de opinião, ainda mais sobre Cassidy. Quando a conheci, ela ainda era uma adolescente. Ingênua. Inofensiva. Mas depois daquele episódio entre nós e daquele idiota que ela apresentou como namorado, algo em mim mudou. Passei a observá-la com uma intensidade que me incomoda.Enquanto dirijo, a dúvida me consome. Por que estou mudando a rota? O que estou fazendo?— Cassidy — falei, tentando manter a voz firme, mas minha calma era um fio prestes a arrebentar. — Você é linda, é especial, eu... eu não...Queria dizer que me preocupo com ela porque somos família, mas não seria verdade. Não apenas isso. Não mais.— Já sei, Kai. Você não é homem para mim porque não gosta de garotinhas como eu. Eu já sei, porra! Então para de dar piti sobre o meu relacionamento. Peter não me vê como uma garotinha. Pelo contrário, ele me fode como uma...— CARALHO, CA
Acordei no meio da madrugada. O quarto estava escuro, e a cama, vazia. Um aperto estranho tomou conta do meu peito. De repente, me lembrei: não poderia demorar muito para chegar em casa. Papai acha que fui a uma boate com uma amiga, e aparecer só de manhã não estava nos planos. Levantei devagar, tentando não fazer barulho, e fui atrás da minha roupa.Milhões de pensamentos rodopiavam na minha mente. Onde estava Kai? O que ele estaria pensando? Como seria depois disso? Vesti-me rapidamente, peguei minha bolsa e me encaminhei para a porta.Ao chegar à sala, ouvi o som de um copo batendo atrás de mim. Parei, alarmada, e me virei devagar. Uma porta entreaberta chamou minha atenção. Lá dentro, pude ver Kai. Estava de pé, curvado sobre uma mesa, um copo ao lado, o semblante abatido. Ele parecia exausto, perdido em pensamentos que claramente pesavam sobre ele. Seus olhos estavam fechados, como se tentasse afastar uma dor insuportável.Sem querer, encostei na porta, que rangeu ao abrir mais.
— Você fez o quê?! — Peter gritou ao telefone.— Eu te contei tudo, Pete! Não posso falar sobre isso com mais ninguém, você é meu melhor amigo... O Mike não pode saber. Eu acho que vou surtar. — desabafei, a voz embargada. O nó na garganta apertava tanto que parecia que eu só conseguia pensar em chorar.Pela primeira vez desde que tudo aconteceu no mês passado, tive coragem de conversar sobre isso com alguém. E o único em quem eu confiava o bastante para ouvir essa história era ele.— Eu... eu nem sei o que dizer. — Ele fez uma pausa, hesitando. — Bom, somos amigos, mas a gente namorou, Cass. E eu gostava mesmo de você, gata. É estranho pensar nisso agora. — Ele suspirou, confuso. — Que merda de situação você se meteu... Tô preocupado com você, de verdade.Os olhos de Peter estavam carregados de preocupação e curiosidade. Tanto que, após um instante, ele perguntou:— Mas... você pelo menos gostou?Fiquei sem reação. Apertei os olhos, sentindo o rosto esquentar.— Eu não quero entrar e
Nas últimas semanas, me afastei do estágio duas vezes. Tenho me sentido péssima: náuseas, fraqueza e, às vezes, uma ansiedade que parece não ter explicação. Eu tento manter Kai fora da minha mente, mas, de um jeito ou de outro, ele sempre encontra uma forma de reaparecer na minha vida. — Cassidy, você sabe que eu não costumo misturar trabalho com assuntos pessoais, sou profissional. Mas acabamos de enviar um convite para uma entrevista com Kai Hoke. Ele é cunhado da sua irmã... seria ótimo se você conseguisse convencê-lo a aceitar — pediu minha chefe, com um tom gentil, porém firme. Ainda bem que eu estava de costas naquele momento, porque não consegui evitar a revirada de olhos. Respirei fundo antes de me virar, forçando um sorriso educado. — Tudo bem, eu posso tentar falar com ele — respondi, mantendo o tom neutro. — Obrigada. Você está se sentindo bem? Precisa de mais uns dias para descansar? Por que não marca uma consulta? Está um pouco pálida — disse ela, tocando de leve