- Então, não vai dizer nada? - Me pergunta.
- Claro. Claro que eu quero ser sua filha. - Digo com um largo sorriso e me pondo a abraçá-lo.
Rugge me abraça fortemente e me dá um beijo no rosto. Eu estava tão feliz, finalmente eu sairia do abrigo e teria um lar e uma família novamente, e Rugge era tão bonzinho, ele tinha mesmo carinha de papai.
- Vamos sentir sua falta. - Diz Luka.
- Eu também vou sentir muita saudade de vocês. - Falo.
- Que sorte a sua de ser adotada. - Diz Hannah.
- E um dia vocês também serão. - Digo.
Abraço meus amigos, me despeço deles, pego minhas coisas e vou até a sala, onde Rugge me aguardava. Ele sorri ao me ver e eu sorrio também.
- Obrigada por tudo. - Digo à diretora.
- Vê se não esquece da gente e venha nos visitar sempre que quiser. - Ela me diz.
- Obrigada! - Falo com um imenso sorriso.
Ruggero e eu vamos embora. Eu ainda não conseguia acreditar que ele havia me adotado, e eu pensando que ele não queria ficar comigo, como eu estava enganada.
Rugge havia se mudado de casa, ele estava morando em uma bem maior e mais bonita, mas isso era o de menos. Ruggero havia me contado que resolveu se mudar para uma casa de dois quartos, para que eu pudesse ter um quarto só meu e ele também. Ele me mostrou todos os cômodos, deixando meu dormitório por último, e era o que eu estava mais ansiosa para ver. Depois de me mostrar tudo, ele abre a porta do meu quarto, e era lindo. Fico boquiaberta ao vê-lo. Tinha uma cama com um cobertor e travesseiro das princesas, o quarto era rosa bebê, e tinha uma cortina na janela que era azul claro, minha cor preferida e na parede tinha algumas prateleira cheias de bichinhos de pelúcia e bonecas, tinha também uma mesinha com cadeira, um roupeiro da lady bug e dentro tinha roupas muito lindas e em umas estantes tinha vários acessórios, era o quarto mais lindo que eu já havia visto na vida.
- O que você achou? - Pergunta Ruggero.
- Eu amei. É perfeito. Muito, muito obrigada. - Falo ao abraçá-lo.
- Durante esses meses em que você esteve no abrigo, eu fui comprando tudo isso e assim que eu me mudei, fiz questão de montar o seu quarto, escolhi cada detalhe, queria que ficasse tudo perfeito, porque eu sabia que um dia esse dia chegaria e eu te teria aqui comigo.
- Muito obrigada, tio. Eu amei. - Falei.
Ele sorri e me faz um cafuné. Desde que meus pais morreram, esse havia sido o melhor dia da minha vida.
- Vá tomar banho, vou separar uma roupa para você colocar. - Ele diz.
- Eu já tomei banho no abrigo. - Digo.
- Mas tome outro, hoje à noite teremos uma festa aqui em casa.
- Festa? - Questiono mega empolgada. - Por quê?
- Ué, hoje não é o seu aniversário? Tem que haver uma comemoração e assim a minha família e meus amigos poderão te conhecer.
Dou um enorme sorriso e corro para o banho. Enquanto isso, eu me questiono sobre a existência de Deus, pois eu havia perdido as duas pessoas que eu mais amei na minha vida, mas eu havia ganhado uma pessoa que eu estava aprendendo a amar e acho que com ele acontecia o mesmo. Eu não sabia se Deus existia ou não, muitas pessoas falavam que sim e algumas que não, e eu não sabia em quem acreditar.
- Você acredita em Deus? - Pergunto ao Rugge enquanto ele penteia o meu cabelo.
- Claro que sim. Por quê?
- Eu acreditava, mas aí meus pais… Você sabe.
- Hey, escuta aqui. - Ele diz me pondo de frente pra ele. - As vezes acontecem coisas que nos deixam muito tristes, que a gente não entende e por mais que busquemos respostas, não encontramos, mas nunca, nunca, nunca devemos culpar Deus. Eu também perdi duas pessoas importantes na minha vida, minha mulher e meu filho e nem por isso eu o culpei. Coisas ruins acontecem sem explicação, sem um porquê, talvez nós dois tenhamos perdido pessoas que amamos para nos encontrarmos.
- Você tem razão. - Falo. - Depois vou pedir desculpa pra Ele.
Rugge sorri e me dá um beijo na cabeça. Ele termina de pentear meu cabelo. Novamente me sinto cuidada e protegida.
Rugge e eu começamos os preparativos para a festa, enchemos vários balões, fizemos brigadeiro, beijinho, bem casado e os salgadinhos e bolo ele havia encomendado. Rugge havia comprado também pratinhos, copinhos, garfinhos, já estava com tudo planejado.
Uma vez eu havia comentado com ele que esse ano meu aniversário seria de Super Heróis se meus pais estivessem vivos. E acreditem que ele comprou toda a decoração dos super heróis e ainda me comprou uma roupa linda da Mulher Maravilha, que ele escondeu até o último segundo para ser uma surpresa e foi uma surpresa e tanto, fiquei tão feliz, não parava de agradecê-lo.
Rugger havia convidado muitas pessoas, sua família inteira e vários amigos, conheci um por um, ele fez questão de me apresentar todo mundo, e todos me elogiaram bastante, gostei demais dessa parte. Conheci alguns primos meus, o JP, de 7 anos, a Ayumi de 5 e a Babi de 8, além deles, tinham algumas crianças que eram filhos dos amigos do Rugge, todos tinham idade entre 4 e 9 anos. Fizemos a maior farra juntos, brincamos de várias brincadeiras diferentes, comemos de tudo, fazia muito tempo que eu não me divertia desse jeito.
- Muito obrigada, tio. - Digo após a festa. - Eu amei tudinho.
- Que bom, meu amor. - Ele diz. - Hey, o que você acha de rezarmos antes de dormir?
Penso por um instante, mas logo concordo. Nos ajoelhamos no chão, na frente de minha cama e então eu começo:
- Deus, eu não estou mais brava com o Senhor, fiquei muito triste pela morte dos meus pais, mas agora eu estou feliz por ter o Rugge, obrigada por ter feito eu conhecê-lo. Agora eu sei que minha vida mudará para melhor. Me desculpa, tá? Agora seremos amigos de novo.
Olho para Rugge e sorrio. Ele sorri também.
- Querido Deus, eu nunca consegui esquecer a Margarida e o Rick, a cada dia que passa a saudade só aumenta, mas hoje eu sinto como se minha vida tivesse recomeçado novamente, como se ela tivesse ganhado um novo sentido. Hoje estou extremamente feliz, pois ganhei uma filha linda, inteligente, meiga e educada. Obrigado, meu Deus!
- Amém. - Falamos.
A gente se olha e nos abraçamos. Ele me coloca para dormir e fica comigo até eu pegar no sono. Tenho pesadelo com a morte dos meus pais, eu sonhava com isso quase todas as noites. Acordo muito assustada e grito de medo. Logo vejo que tudo foi um terrível pesadelo.
- Droga! - Digo ao ver a cama toda molhada.
Não era a primeira vez que isso acontecia, aliás, desde que eu perdi meus pais, eu havia voltado a fazer xixi na cama, não era sempre, apenas quando eu tinha esses pesadelos.
- Hey, o que houve? - Pergunta Ruggero ao entrar em meu quarto e se pondo a acender a luz.
- Tive pesadelo. - Digo torcendo para ele não perceber a cama molhada.
- Calma, já passou. - Fala. - O que aconteceu aqui? Tivemos um acidente?
- Desculpa, desculpa, foi sem querer, escapou. Eu prometo que não vai acontecer de novo. Por favor, não me manda de volta pro abrigo, por favor. - Digo muito nervosa.
- Hey, tá tudo bem, se acalma, respira… - Respiro fundo como ele havia dito. - E me escuta, não tem problema, a gente troca a roupa de cama e você põe outro pijama, acidentes acontecem. E aconteça o que acontecer, eu nunca vou te devolver, nós somos uma família e as famílias não são descartáveis.
Fico um pouco mais calma ao escutá-lo. Ruggero troca a roupa da minha cama e eu me troco, tinha muita dificuldade de colocar a camisa, mas eu me virava. Ele dorme comigo e fica me fazendo cafuné até eu pegar no sono. Não tive mais pesadelo naquela noite.
Os dias foram se passando. E cada dia que passava eu ficava mais e mais apegada em Ruggero e ele em mim. Era uma enorme mudança para ambos, mas aos poucos, um ia se adaptando as manias e costumes do outro. Sem que eu percebesse, ele conquistou minha confiança e meu amor.Minha rotina havia mudado bastante. Ele trabalhava quase o dia todo, pela manhã eu ficava com a babá (sim, ele havia contratado uma babá para ficar comigo quando ele não estivesse em casa). A Klara era um amor, era uma moça jovem e muito paciente, a gente se dava muito bem, viramos grandes amigas. À tarde, a Klara me levava para a escola e depois papai me buscava. Sim, eu havia começado a chamá-lo de pai, comecei poucas semanas depois e foi algo muito natural.- Pai, me dá banho? - Perguntei num certo dia à tarde.- Do que você me chamou? - Perguntou ao largar o jornal que ele estava lendo.- De pai.
- Então turma, teremos prova de Ciências daqui há duas semanas. Estudem bastante toda a matéria. - Digo.- Me lasquei! Eu sou péssimo em Ciências. - Fala Thiago, o mais engraçadinho da turma.- É só estudar. - Falo com um meio sorriso.O sinal da escola toca, as crianças pegam seus materiais, se despedem de mim com um abraço e um beijo no rosto e logosaem apressadamente, menos a Roberta, ela era a minha aluna mais quieta, não incomodava, quase não falava e não era de interagir com os colegas, eu só escutava sua voz quando era pra pedir pra ir ao banheiro ou beber água. Noto que ela estava cabisbaixa e resolvo me aproximar vagarosamente de sua mesa.- Está tudo bem, meu amor? - Pergunto.Sem dizer nada, elaconsente com a cabeça. Algo me diz que ela estava mentindo. Espero estar errada.- Você não
Era por volta de 10h, estávamos no recreio quando avisto uma cena que chamou minha atenção, me deixando chocada. Dois alunos meus do sétimo ano, o Juliano e o Fernando estavam tirando sarro de uma colega, a Catarina, pelo fato dela estar usando um aparelho extrabucal. Não consigo vê-los zombando da garota e vou até eles.- Posso saber o que está havendo aqui? - Pergunto.Percebo a cara de susto deles. Os dois se olham sem saber o que responder, mas com certeza já tinham percebido que eu havia visto tudo, e não permitiria que aquele absurdo continuasse.- Só estávamos conversando com a Cata. - Fala Juliano ao colocar o braço em volta do pescoço da garota.- Não, vocês estavam zombando dela. - Falo.- Tá tudo bem, prof. - Diz Catarina timidamente.- Não, não está nada bem. - Digo. - Vocês sabem como se
Mel e eu estávamos brincando de casinha. Adorávamos esses momentos mãe e filha, eu fazia de tudo para aproveitar o máximo de tempo junto dela, pois infelizmente os filhos crescem rápido demais, parece que foi ontem que ela era um bebezinho com poucas horas de vida, que precisava de mim para tudo, e hoje está uma menina linda, educada e muito inteligente, dava um banho em todos nós, Mel havia aprendido a ler e a escrever aos 3 anos, sei que muitas pessoas falam que isso não é legal, que criança tem que ser criança, mas ela nunca pulou nenhuma etapa da sua vida e nunca a obriguei a aprender, eu apenas havia comprado alguns jogos de juntar sílabas, jogo da memória onde tinha que achar a figura e o nome dela, essas coisas, e aos poucos ela foi aprendendo, Mel também faz contas básicas de subtração e adição e ainda fala espanhol, pois quando ela soube que d
Não dormi a noite toda, chorei e chorei sem parar. Lucas e eu dormimos cada um para um lado diferente, não queria olhar pra ele, estava com raiva, com nojo, com ódio, ódio dele e ódio de mim por gostar de um traste desses.Lucas levantou cerca de meia hora antes do seu horário, o que é estranho, já que ele não costuma levantar cedo. Continuo deitada na cama, tentando criar forças para ir trabalhar. Escuto passos entrando no quarto, penso ser Lucas novamente, alguém deita do meu lado, com medo de ser ele eu não me viro, e de repente eu vejo aquela pequena mãozinha em meu ombro. Me viro para o lado de Mel, ela não diz nada, ficamos nos olhando. Mel acaricia o meu rosto, fecho os olhos, enquanto sinto seu doce toque.- Tá doendo, né mamãe?- Doendo o quê? - Pergunto achando que ela não sabe de nada.- Por que vocês adultos
Chego em casa e vou direto pro banho. Me lembro das agressões, de tudo o que ele já me fez e choro sem parar. Pouco depois, escuto as vozes de Lucas e Mel, que haviam chegado em casa. Lavoo rosto para que não notem que eu havia chorado.- Mamãe! - Me chama Mel.- Tô no banho, amor. - Grito.Ela abre bruscamente a porta do banheiro.- Hoje eu cai no pátio da escola, olha aqui. - Fala ao me mostrar seu joelho ralado.- Ah, não foi nada.- Claro, não foi você que teve o joelho sangrando sem parar. Ainda, tá doendo, sabia?- Depois a gente coloca um remedinho, tá meu amor?- Tá bom. - Fala com um largo sorriso. - Ah, e não demora nesse banho.Ela sai do banheiro, e eu termino de me banhar. Ao passar pela sala, vejo Lucas vendo TV, ele nem olha pra mim, eu passo reto para o nosso quarto.Estava penteando meu cabelo quan
Papai, Mel e eu estávamos arrumando a mesa para o almoço quando Sabrina, Guillermo e Joaquim entraram em casa.- Sáh! - Falou Mel ao pular no colo da Sabrina.Sáh era a esposa do meu pai, eles estavam juntos há 15 anos, eu tinha 7 anos na época que eles se conheceram, mas lembro como se fosse ontem. Papai me contou todo empolgado, que havia conhecido a irmã de um amigo e que ela era encantadora, como até então sempre havia sido só nós dois, sempre fomos melhores amigos, bom, e ainda somos, sempre contamos tudo um para o outro. Pouco tempo depois disso, os dois já estavam namorando, e cerca de um ano depois, já estavam morando juntos. Meu pai dizia que ele não precisava de mulher para ser feliz, mas eu percebi que desde que ele começou a namorar a Sáh, ele mudou bastante, estava mais feliz, mais sorridente, não que antes ele não fosse, mas essa a
Convidei Mila e Becky para irem em minha casa para tomar um café conosco, Mila não pensou duas vezes e aceitou na hora, papai ficou muito feliz ao vê-la, pois ele sempre soube da nossa amizade. Uns dois meses depois que eu fui adotada, pedi para meu pai me levar ao abrigo para visitar meus amigos, mas Mila já não estava, por um lado fiquei muito feliz quando soube que ela havia sido adotada, mas por outro, havia ficado triste por pensar que nunca mais a veria, ainda bem que esse mundo é pequeno e que conseguimos nos reencontrar.Mel, Guille e Becky não pararam de brincar um momento sequer, a filhinha de Mila havia se dado muito bem com a minha pitoca e o meu irmãozinho, legal como criança faz amizades tão rápido, ah, era tão legal ver os três brincando juntos.- E o que você faz da vida? - Me pergunta Mila.- Dou aula de espanhol para os anos finais e também sou