Anos Depois...

Os dias foram se passando. E cada dia que passava eu ficava mais e mais apegada em Ruggero e ele em mim. Era uma enorme mudança para ambos, mas aos poucos, um ia se adaptando as manias e costumes do outro. Sem que eu percebesse, ele conquistou minha confiança e meu amor.

Minha rotina havia mudado bastante. Ele trabalhava quase o dia todo, pela manhã eu ficava com a babá (sim, ele havia contratado uma babá para ficar comigo quando ele não estivesse em casa). A Klara era um amor, era uma moça jovem e muito paciente, a gente se dava muito bem, viramos grandes amigas. À tarde, a Klara me levava para a escola e depois papai me buscava. Sim, eu havia começado a chamá-lo de pai, comecei poucas semanas depois e foi algo muito natural.

- Pai, me dá banho? - Perguntei num certo dia à tarde.

- Do que você me chamou? - Perguntou ao largar o jornal que ele estava lendo.

- De pai. Você se incomoda se eu te chamar assim?

- Quê? Claro que não, meu amor. Pelo contrário, eu fico muito feliz ao ouvir isso. - Diz ao me abraçar.

Sorrio e retribuo o abraço.

- Então, você me dá banho?

- E aquele papo que eu não posso te dar banho porque sou homem?

- Meus pais sempre diziam que nenhum homem pode me ver, mas você não é um homem qualquer, agora você é meu pai. - Digo. - E acho que eu ainda preciso de ajuda para tomar banho, sempre derrubo shampoo nos meus olhos e arde muito. Você me ajuda?

- Claro. - Ele diz.

Lembro que meus pais falavam que há muitos homens ruins, que fazem coisas feias com as crianças. Lembrei disso quando vi aqueles garotos machucando a Ágatha e o Maurício. Mas eu sabia que Rugge, quer dizer, que o meu novo pai era bonzinho e não me machucaria, e eu estava certa.

Embora eu ainda lembrasse muito dos meus pais e daquela cena horrível que eu vi, eu ainda conseguia ser uma criança feliz e normal. Com o passar do tempo, os pesadelos foram diminuindo até o momento que eles desapareceram de vez, também parei de fazer xixi na cama.

As coisas estavam se ajeitando e eu estava gostando de ter Ruggero como pai e ele também dizia o quão abençoado era por me ter como filha. Apesar de tudo, eu estava conseguindo levar uma vida normal. Ia pra escola, estudava, brincava, tinha amigos, era uma criança muito esperta e agitada. Eu era muito querida por toda nossa família, os meus avós me adoravam, me mimavam muito, mas sempre com limite, meus tios também gostavam muito de mim, sempre que dava eu ia para casa deles, me revezava entre todas as casas e fazia a maior festa com meus primos, era a maior bagunça.

Os anos foram se passando. Papai e eu viramos melhores amigos, cúmplices e confidentes, ele sabia praticamente tudo da minha vida, lhe contei até quando eu perdi a virgindade, eu tinha recém feito dezessete anos, não era nenhuma garota imatura, ao saber, papai até que reagiu bem, foi tipo ''hum… Legal… Bacana, filha… Interessante isso... '' mas eu sabia que por dentro ele estava ''como assim? Como que o meu bebê virou mulher? Não, a minha menininha não'', eu esperava mais essa reação do que a que ele teve, mas acho que meu pai sabia que não adiantaria ele falar nada porque já havia acontecido, e ele sempre foi bem aberto comigo, sempre falou que era pra eu me cuidar e me prevenir, uma vez eu esqueci desse conselho do meu pai, na verdade foi culpa do Lucas (meu namorado), ele não gostava de transar com camisinha, falava que era ruim e tal, um dia resolvi fazer sem, foi a melhor transa da minha vida, nunca me arrependi dessa noite. Mas garotas, não façam isso, por favor. Claro que antes disso nós dois tínhamos feito exames para saber se estava tudo ok, e claro que o resultado foi positivo para ambos.

Lucas foi meu primeiro namorado. Foi com ele que eu dei meu primeiro beijo (aos 16 anos, no dia que ele me pediu em namoro) e ele que havia tirado a minha virgindade. Ele também foi meu primeiro amor, amor esse que me cegou de um jeito absurdo, que não deixava eu ver quem estava bem diante de mim.

Quando Lucas e eu apenas namorávamos, mas ainda não morávamos juntos, ele era uma pessoa completamente diferente, era carinhoso, me elogiava, saíamos bastante, me tratava como uma princesa. Mas uns três ou quatro meses depois que eu me mudei para a casa dele, as coisas mudaram, ele se tornou um homem frio e agressivo, só queria saber de tomar uma cervejinhas e ver futebol ou telejornais, não ligava mais pra gente, não ajudava com nada e ai de mim se reclamasse, e o pior é que eu me culpava por isso, já que apesar de tudo eu era apaixonada por ele. Eu pensava ''ele é novo ainda, ele vai mudar, vai amadurecer, se ele não gostasse de mim, não estaríamos juntos''. Mas os dias se passavam e as coisas não mudavam, pelo contrário, acho que só pioravam. Eu chorava e chorava, pedindo à Deus que Ele me ajudasse, que fizesse o Lucas mudar, mas ele não mudava, não para melhor.

Papai obviamente não sabia disso, nem sei o que ele faria se soubesse o que Lucas fazia comigo, meu pai sempre dizia ''aí de quem encostar um dedo na minha filha, se não for para lhe dar carinho''. Ah, que saudade do meu pai…

Quando eu me mudei para viver com Lucas, tive que me distanciar do meu pai, já que antes eu vivia em SP, e Lucas só conseguiu comprar uma casa no Rio. Morria de saudade do papai, já fazia 4 anos que eu não estava mais morando com ele, mas a falta que ele me fazia era constante, nos falávamos diariamente pelo telefone, ou por chamada de vídeo, mas não era a mesma coisa.

Aos 22 anos, eu estava formada em Letras (Português/Espanhol) e em Pedagogia, de manhã eu dava aula de espanhol para sexto e sétimo ano em uma escola particular e à tarde dava aula para turmas de quarto ano do ensino fundamental em um colégio público. Muitas coisas haviam mudado na minha vida, umas mudaram pra melhor e outras pra pior. Mas eu tinha esperança de que as coisas ainda se ajeitariam.

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