Papai, Mel e eu estávamos arrumando a mesa para o almoço quando Sabrina, Guillermo e Joaquim entraram em casa.
- Sáh! - Falou Mel ao pular no colo da Sabrina.
Sáh era a esposa do meu pai, eles estavam juntos há 15 anos, eu tinha 7 anos na época que eles se conheceram, mas lembro como se fosse ontem. Papai me contou todo empolgado, que havia conhecido a irmã de um amigo e que ela era encantadora, como até então sempre havia sido só nós dois, sempre fomos melhores amigos, bom, e ainda somos, sempre contamos tudo um para o outro. Pouco tempo depois disso, os dois já estavam namorando, e cerca de um ano depois, já estavam morando juntos. Meu pai dizia que ele não precisava de mulher para ser feliz, mas eu percebi que desde que ele começou a namorar a Sáh, ele mudou bastante, estava mais feliz, mais sorridente, não que antes ele não fosse, mas essa alegria havia aumentado. Sabrina era como uma mãe para mim, sempre fomos muito amigas, as vezes brigávamos, mas era normal, qual família que não briga as vezes?
Joaquim era filho do primeiro casamento da Sabrina, ele é apenas três anos mais novo que eu, quando nossos pais começaram a namorar, ele tinha 4 anos, crescemos juntos, éramos como irmãos e o amor que sentíamos também era de irmãos, um vivia dando forças para o outro em todas suas decisões. Lembro que quando éramos pequenos, vivíamos aprontando juntos, estudávamos na mesma escola, claro que não estudávamos na mesma sala, por conta da diferença de idade, mas passávamos quase 24h juntos, se achávamos ruim? Nem um pouco, pelo contrário, adorávamos, pois era bagunça na certa. Só nos separamos um pouco quando eu fui viver com Lucas, mas sempre que dá nos falamos pelo telefone ou fazemos chamada de vídeo. Mel é louca pelo Joca, também não é pra menos, ele faz todas as vontades dela, enquanto eu tento educar, papai e Joaquim a estragam, assim fica difícil.
Já Guille é filho do meu pai com a Sabrina, ele é um garotinho de 6 anos, meio arteiro, vive aprontando e levando a Mel junto nas suas travessuras, mas também é adorável, de fato, ele é meu irmãozinho caçula. Quando Guille nasceu eu tinha 16 anos, a diferença de idade era meio grande, mas eu não me importava com isso, achava o máximo ter um irmãozinho e poder ajudar a cuidar dele. Lembro que quando meus pais eram vivos, eu vivia pedindo para eles me darem um irmão ou uma irmã, mas os dois falavam que já eram muito felizes só comigo e que não precisavam de mais um filho ou de uma filha, e quando Guillermo nasceu, eu senti como se fosse a realização de um sonho que eu tinha quando criança.
Mel e eu cumprimentamos os três, e a minha pequena e Guille já sairam correndo para brincarem um pouco até o almoço ficar pronto.
- Como estão as coisas? - Me pergunta Sabrina.
- Tudo bem. - Respondo.
- Ai, estava com tanta saudade. - Fala Joca ao me pegar no colo.
- Me solta, seu doido. - Brinco.
Ele me coloca no chão e me dá um forte abraço. Joca era uma das pessoas que eu mais amava, acho que ele ficava em terceiro lugar, perdia só para o meu pai e pra Mel.
Todos sabiam que eu era adotada, mas isso não mudou em nada, sempre me trataram como se eu fosse filha biológica do Rugge e ele fazia questão que fosse assim, e sabem, as vezes eu até esquecia disso, pois o amor que sentíamos um pelo outro era maior do que qualquer laço sanguíneo, e todo mundo dizia que eu parecia filha de sangue dele, pois sempre fomos muito parecidos, e eu amava quando falavam isso.
À tarde, Joca e eu resolvemos levar Guille e Mel para brincarem em uma praça que tinha perto da nossa casa, digo ''nossa casa'', pois eu morei ali durante anos até ir viver com Lucas, então para mim, aquela sempre seria minha casa também.
Mel e Guille estavam no balanço, enquanto Joca e eu estávamos sentados em um banco colocando os assuntos em dia. De repente…
- Kimberly?
Me viro e vejo uma jovem em pé atrás de mim. Não a reconheço, mas seu rosto era familiar, aqueles olhos… Parece que eu já os tinha visto antes, mas não me lembro da onde. A jovem era muito bonita e tinha um sorriso simpático, não lembro de a conhecer.
- Sim. Sou eu. - Falo tentando lembrar se eu a conheço.
- Não está lembrada de mim? - Me pergunta.
- Não, desculpa, eu não me lembro.
- Sou a Camila.
Camila? Não tinha ajudado muito, o nome não era estranho, mas da onde? Ai, meu Deus, da onde nos conhecíamos? Quem era aquela moça tão bonita e simpática?
- Desculpe, mas eu ainda não estou lembrada. - Digo meio envergonhada com a situação de não a reconhecer.
- A Mila, do abrigo. - Ela diz.
Quando eu escuto ela dizer isso, eu não tive mais dúvida de quem se tratava e um flashback veio na hora na minha cabeça. Era ela, era a minha melhor amiga do abrigo, a menina que sempre me ajudou e esteve ao meu lado nos bons e maus momentos, ela que sempre me defendia e tinha alguma palavra de conforto para me dar.
- Ai, meu Deus! - Digo ao abraçá-la. - Como eu pude não lembrar de você? Quanto tempo! Meu Deus! Olha pra você, está tão linda.
- Obrigada. - Fala sorridente. - Você também está tão linda. Como você está?
- Bem. Ah, deixe - me te apresentar, esse é o Joaquim, meu irmão.
Os dois se cumprimentaram, e Mila sentou conosco. Ela me conta que alguns meses depois que eu sai do abrigo, ela foi adotada por um casal, mas era usada sexualmente, os dois abusavam dela e gravavam os abusos para venderem, Mila ficou cerca de um ano com eles, até ter coragem de contar tudo, assim, ela voltou para o abrigo, e pouco depois foi adotada por outro casal, que ela descreveu como pessoas maravilhosas, que sempre a cuidaram e a trataram com muito amor, como se ela realmente fosse filha deles. Mila ainda me disse que namorou por anos um rapaz, com quem ela teve uma filha, mas ao saber que seria pai, ele desapareceu e ela nunca mais soube dele.
Mila aponta para sua filha nos mostrando quem é, e por coincidência ou não, ela estava brincando com Guille e Mel.
Eu contei que morava há anos com meu namorado e que tinha uma filha com ele, e apontei pra Mel. Nós duas chamamos as garotas, que vieram correndo até a gente. Eu apresentei Melanie para Mila e ela me apresentou a sua filha, a Rebeca, ou como ela gostava de ser chamada, a Becky, ela era uma menina linda, parecia muito com a mãe quando era pequena.
Ah, estava tão feliz de ter reencontrado a Mila, volta e meia eu lembrava dela, sempre quis saber como a minha amiga de infância estava, onde estava morando, essas coisas, mas nunca tive resposta, até então. E eu tinha certeza de que retomaríamos a nossa amizade.
Convidei Mila e Becky para irem em minha casa para tomar um café conosco, Mila não pensou duas vezes e aceitou na hora, papai ficou muito feliz ao vê-la, pois ele sempre soube da nossa amizade. Uns dois meses depois que eu fui adotada, pedi para meu pai me levar ao abrigo para visitar meus amigos, mas Mila já não estava, por um lado fiquei muito feliz quando soube que ela havia sido adotada, mas por outro, havia ficado triste por pensar que nunca mais a veria, ainda bem que esse mundo é pequeno e que conseguimos nos reencontrar.Mel, Guille e Becky não pararam de brincar um momento sequer, a filhinha de Mila havia se dado muito bem com a minha pitoca e o meu irmãozinho, legal como criança faz amizades tão rápido, ah, era tão legal ver os três brincando juntos.- E o que você faz da vida? - Me pergunta Mila.- Dou aula de espanhol para os anos finais e também sou
Assim que chegamos em casa, Lucas foi correndo até a gente e me deu um beijão de cinema. A gente termina de se beijar e eu olho surpresa para ele, não esperava essa recepção, pelo contrário, pensei que ele fosse me receber com gritos e xingamentos como era de costume.- Já deu? - Pergunta Mel com as mãos cobrindo os olhos.- Já, meu amor. - Digo.Ela tira as mãos dos olhos. Lucas e eu ficamos nos olhando, eu estava sem reação. Ele sorri e eu faço o mesmo.- Hey, eu também estou aqui. - Diz Mel para Lucas.- Oi, desculpa meu amor. - Fala Lucas ao pegar Mel no colo.Sabe, eu estava reparando que ultimamente Lucas estava bem mais carinhoso e mais presente com a nossa filha, ele não era assim antes, estava demonstrando mais que a ama, e isso me deixa tão feliz, se bem que a Melzinha é um encanto de criança, não tem
Coloquei Mel na cadeirinha do meu carro, e assim que ela entrou, já foi logo me perguntando:- Quem é, mamãe?- Essa é a Roberta, minha aluna, ela ficará uns dias em nossa casa. - Respondo.- Por quê?- Porque a mãe dela está viajando.- E o pai dela? - Pergunta Melanie.- Meu pai morreu quando eu tinha mais ou menos a sua idade. - Fala Roberta tristemente.- Ah… - Diz Mel cabisbaixa. - Pausa. - Você gosta de brincar de boneca?- Gosto. - Responde Roberta.- Legal, eu tenho várias bonecas, você pode brincar com todas, se quiser. - Fala minha filha.- Tá bem.Observei as duas pelo retrovisor do carro, e dei um leve sorriso. Achei que Mel pudesse ter um pouco de ciúmes, já que além do Guille, eu não costumava conviver com outras crianças na presença da minha filha, mas para minha s
Mel e Roberta estavam se dando muito bem, estavam super amigas, eram quase irmãs, ficava tão feliz em vê-las juntas.Uns quatro dias depois, a mãe da Roberta voltou de viagem, nós não tivemos como conversar com ela antes disso porque ela estava em outro país e também não quisemos atrapalhar a viagem. Quando ela chegou, foi direto à escola, pois chegou na sua casa e não encontrou ninguém.A diretora conversou com a dona Carla, mãe da Roberta e explicou a situação. Eu estava presente na diretoria nesse momento, pois como eu estava cuidando da menina, dona Carmem achou bom eu estar junto. Assim que a Carla soube do ocorrido, ela começou a chorar desacreditada da situação, infelizmente eu acho que ela estava chorando pelo marido e não pela filha, o que me deixou completamente revoltada.Roberta foi embora com a mãe, mas ela
Já estava dirigindo a quase 3h. Havia deixado o celular desligado para Lucas não me ligar, com certeza a essas horas ele já devia ter percebido que nós fugimos e devia estar feito louco atrás da gente, estava com muito medo dele nos encontrar, mas tentava não cogitar essa hipótese.Olhei pelo retrovisor do carro e vi Mel dormindo. Senti tanta vontade de chorar, mas tentei conter as lágrimas. Eu não sabia o que fazer e nem pra onde ir, estava completamente perdida, sem rumo. Queria ir pra casa do meu pai, mas seria óbvio demais, certamente seria o primeiro lugar que Lucas iria me procurar.Depois de viajar de Búzios a Nova Friburgo, eu resolvi parar, já estava cansada e com um pouco de sono. Parei em um hotel, deixei meu carro no estacionamento, peguei a Mel no colo e pedi um quarto pra gente, ainda bem que estávamos em baixa temporada, pois senão eu não conseguiria
Mel dormiu com a Becky no quarto dela, as duas já eram melhores amigas, o que não me surpreendeu em nada, pois Melanie fazia amizade com todo mundo, era muito comunicativa, podia falar com uma criança menor ou até mesmo com uma pessoa da terceira idade, o que me deixava meio aborrecida, pois nunca gosti que ela falasse com qualquer pessoa e sempre a orientei a não conversar com estranhos na minha ausência e a não aceitar nada de estranhos.Mila tinha duas camas em seu quarto, pois as vezes alguma amiga dormia em sua casa, e ela achou melhor ter uma cama a mais, sendo assim, dormimos no mesmo quarto.Eu estava deitada, mas o sono não vinha, só pensava em tudo o que havia acontecido, tinha tanto medo de Lucas encontrar a gente. Droga! Tinha esquecido que eu havia trocado de número e não havia avisado o meu pai, ele devia ter tentado me ligar e talvez estivesse preocupado comigo, precisava avis&aa
Na segunda - feira, eu liguei pra diretora da escola e lhe falei o que havia acontecido, contei inclusive sobre as agressões.- Meu Deus! - Diz dona Carmen surpresa. - Por que você nunca me contou isso antes, querida?- Por medo. - Respondi. - Ele sempre me ameaçou, caso eu contasse a alguém. E por isso eu fugi com a minha filha. Desculpa, eu sei que eu me comprometi com a escola e eu não queria ter que deixar a escola na mão e nem os meus alunos que eu tanto amo.- Kimberly, claro que teus alunos sentirão a tua falta, mas não se preocupe em nos deixar na mão, eu me viro, dou um jeito, contrato outra professora, isso é o de menos, o que importa é você ficar bem.- Obrigada. - Digo.Desligo a ligação, e com a ajuda da Mila, eu tento pensar o que farei de agora em diante, ela estava sendo muito legal comigo em deixar a gente ficar em sua casa, mas eu n&ati
Matteo já havia ido embora. Mel e eu arrumamos as nossas poucas coisas, ela me ajudou super empolgada, estava feliz.- Como será a nossa vida agora, mamãe? - Perguntou Mel assim que nos deitamos para dormir.- Não sei, meu amor. - Falo. - Bom, assim que as coisas derem uma acalmada eu quero tentar conseguir um emprego e uma escola pra você.- Tomara que não demore muito, né mamãe?- É sim, meu amor.Lhe dei um beijo na testa e dormimos abraçadinhas naquela noite.No dia seguinte, pela parte da tarde, levei Mel no playground do condomínio, ela adorou essa parte. De repente um rapaz sentou do meu lado. Ele era um homem alto, cabelo castanho e crespo, olhos esverdeados e tinha barba, era mais velho que eu.- Desculpa, mas você não é daqui, é? - Ele me pergunta.- Eu me mudei ontem. - Falei.- Qual seu bloco?- H&ati