Chego em casa e vou direto pro banho. Me lembro das agressões, de tudo o que ele já me fez e choro sem parar. Pouco depois, escuto as vozes de Lucas e Mel, que haviam chegado em casa. Lavoo rosto para que não notem que eu havia chorado.
- Mamãe! - Me chama Mel.
- Tô no banho, amor. - Grito.
Ela abre bruscamente a porta do banheiro.
- Hoje eu cai no pátio da escola, olha aqui. - Fala ao me mostrar seu joelho ralado.
- Ah, não foi nada.
- Claro, não foi você que teve o joelho sangrando sem parar. Ainda, tá doendo, sabia?
- Depois a gente coloca um remedinho, tá meu amor?
- Tá bom. - Fala com um largo sorriso. - Ah, e não demora nesse banho.
Ela sai do banheiro, e eu termino de me banhar. Ao passar pela sala, vejo Lucas vendo TV, ele nem olha pra mim, eu passo reto para o nosso quarto.
Estava penteando meu cabelo quando Lucas entrou, noto que ele estava com as duas mãos para trás, mas evito de ficar o olhando, estava indignada com ele, havia me machucado muito.
- Pra você. - Diz ao me mostrar um buquê de flores, que ele estava escondendo atrás de suas costas. - Como meu pedido de desculpa por ontem.
Olho para o buquê, que era lindo e depois olho para ele. Lucas não tinha ideia do que eu precisava de verdade, eu não queria flores.
- Você tá brincando, né? - O questiono.
- Claro que não. O que foi? Não gostou? Se quiser, posso tentar trocar. Qual é sua flor preferida?
- Você me espanca e depois quer que eu aceite essas flores? Eu não quero seus presentes, eu quero amor, carinho e não ser seu saco de pancadas.
- Ah, para Kimberly, quanto drama.
- Drama? Fala sério, Lucas. Me faz um favor? Coloca essas flores no lixo, porque eu não quero merda nenhuma.
- Que porra, Kimberly! Eu te compro flores na maior boa vontade pra te pedir desculpas e é assim que você me trata? Faz o que você quiser com isso, são suas.
Ele coloca o buquê em cima da nossa cama e sai do nosso quarto. Continuo penteando meu cabelo enquanto choro sem parar tentando entender o porquê dele me tratar desse jeito, que vontade de pegar a minha filha e sumir, sumir pra nunca mais voltar, mas eu sabia que se eu fizesse isso seria pior, fora o fato que eu tinha medo dele querer se vingar de mim através da Mel, mesmo ele sendo apaixonado por ela, mas do Lucas eu não duvido de mais nada.
- Mamãe, não vai passar remédio no meu joelho? - Me pergunta Mel ao entrar no meu quarto. - Ainda tá doendo.
- Já vou, querida. - Digo sem conseguir lhe olhar nos olhos.
- Por que tá chorando, mamãe? Também se machucou?
- Não foi nada. - Falo. - Vem, vamos passar remedinho nesse joelho.
Cuido do machucado da Mel enquanto vejo Lucas se arrumando para sair, com certeza ele ia beber ou ver as quengas dele. Eu sabia que ele me traia, no começo ele até tentava esconder, mas depois que eu descobri após ver várias mensagens no celular dele, Lucas parou de mentir. Claro que eu ficava muito mal com tudo isso, ele podia me xingar, gritar comigo e até me bater, mas infelizmente eu o amava, acho que isso me torna mais culpada das agressões do que ele. Uma vez brigamos por contas das traições, depois disso nunca mais toquei no assunto, porque a surra que eu levei foi imensa, mas o que mais me doeu foi ver a Melzinha, na época com 2 anos, chorando desesperada enquanto ele me batia sem parar, depois disso, eu não consegui nem olhar direito pra minha filha, estava tão envergonhada. Até hoje me pergunto como poderei ensiná-la que os homens não podem bater nas mulheres, sendo que o Lucas me bate, e na frente dela.
No dia seguinte, eu já estava um pouco melhor, as dores estavam diminuindo e eu havia voltado a caminhar normalmente. Minha manhã no serviço foi tranquila, porém o que me preocupava era o serviço da tarde, não parava de pensar na Beta, queria chegar logo na escola para ver se ela iria à aula ou se faltaria novamente, mas para minha surpresa ela havia ido.
- Oi meu amor, como você está? - Pergunto assim que Roberta entra na sala.
- Tô bem sora. - Me responde.
- Seu padrasto disse que você estava doente. O que você teve?
- Hã… Era febre, mas já passou, agora estou bem.
- Que bom, meu amor. - Digo. - Senti sua falta.
- Eu também senti. Muita falta.
Ela sorri e vai para seu lugar, que bom saber que ela estava bem, eu já estava tão preocupada. Ah, Beta me contou que seu padrasto não brigou com ela pelo fato dela ter estragado o celular dele, sem querer. Fiquei tão feliz em saber disso.
- Mãe, o papai é mau? - Me questiona Mel assim que eu termino de arrumá-la após o banho.
- Hey, por que você está perguntando isso? - A questiono.
- Por que ele te machuca e te faz chorar. Eu não gosto quando você fica triste.
- Oh, meu amorzinho... Ele não é bom pra você? Ele não te cuida? Não te busca e leva na escola? Não te ajuda com os trabalhos da escola?
Ela acena a cabeça positivamente.
- Então, é isso que importa. Não se preocupa mais com essas coisas de gente grande. - Falo.
Jantamos nós três à mesa, porém ninguém disse nada durante todo o jantar, até Mel que não parava de falar um minuto, estava quieta.
Lucas e eu dormimos um de costas para o outro, ele até tentou me abraçar, mas eu não quis, ele ainda se achou no direito de ficar chateado, como se estivesse certo.
Duas semanas haviam se passado. Era feriadão. Eu não trabalharia quinta, nem sexta, era tudo o que eu queria, seria a oportunidade perfeita. Peguei a Mel e fomos pra casa do meu pai. Avisei o Lucas, que não se importou muito, ele até gostava quando a gente saia, mas eu era obrigada a voltar no dia marcado, como aqueles jovens que saem e tem que voltar no horário que os pais mandam, mas não me importei com isso, só por ficar quatro dias com meu pai e longe do Lucas, já estava bom.
Mel sabia que não podia falar nada para meu pai, eu havia lhe pedido para guardar segredo, pois se papai soubesse o que Lucas fazia comigo, na certa eu ficaria viúva, e eu não queria isso, até porque temos uma filha juntos.
- Vovô! - Diz Melanie ao vê-lo.
Ela pula no colo do meu pai, que a enche de beijos e abraços.
- Hey, deixem um pouco pra mim. - Brinco. - Oi pai.
- Oi meu amor. - Fala meu pai ao me cumprimentar.
- Estávamos morrendo de saudade. - Falo. - Né minha princesa?
- É, estávamos com muita saudade. - Ela diz.
- E eu de vocês meus amores. - Fala papai.
Eu gostava tanto de estar em sua casa, me passava uma segurança, um conforto, uma liberdade imensa, como se eu fosse livre, porque eu não me sentia assim quando eu estava com Lucas, sempre me senti propriedade dele, porque na cabeça do Lucas, ele podia falar com todas as mulheres que ele quisesse e até me trair, mas eu não podia nem ter um amigo sequer.
Na casa do meu pai era tudo tão diferente, eu amava estar com ele, era outra energia, e ele me tratava com tanto amor, carinho e cuidado, como eu sentia falta disso, ah, se eu pudesse voltar a morar com ele...
Papai, Mel e eu estávamos arrumando a mesa para o almoço quando Sabrina, Guillermo e Joaquim entraram em casa.- Sáh! - Falou Mel ao pular no colo da Sabrina.Sáh era a esposa do meu pai, eles estavam juntos há 15 anos, eu tinha 7 anos na época que eles se conheceram, mas lembro como se fosse ontem. Papai me contou todo empolgado, que havia conhecido a irmã de um amigo e que ela era encantadora, como até então sempre havia sido só nós dois, sempre fomos melhores amigos, bom, e ainda somos, sempre contamos tudo um para o outro. Pouco tempo depois disso, os dois já estavam namorando, e cerca de um ano depois, já estavam morando juntos. Meu pai dizia que ele não precisava de mulher para ser feliz, mas eu percebi que desde que ele começou a namorar a Sáh, ele mudou bastante, estava mais feliz, mais sorridente, não que antes ele não fosse, mas essa a
Convidei Mila e Becky para irem em minha casa para tomar um café conosco, Mila não pensou duas vezes e aceitou na hora, papai ficou muito feliz ao vê-la, pois ele sempre soube da nossa amizade. Uns dois meses depois que eu fui adotada, pedi para meu pai me levar ao abrigo para visitar meus amigos, mas Mila já não estava, por um lado fiquei muito feliz quando soube que ela havia sido adotada, mas por outro, havia ficado triste por pensar que nunca mais a veria, ainda bem que esse mundo é pequeno e que conseguimos nos reencontrar.Mel, Guille e Becky não pararam de brincar um momento sequer, a filhinha de Mila havia se dado muito bem com a minha pitoca e o meu irmãozinho, legal como criança faz amizades tão rápido, ah, era tão legal ver os três brincando juntos.- E o que você faz da vida? - Me pergunta Mila.- Dou aula de espanhol para os anos finais e também sou
Assim que chegamos em casa, Lucas foi correndo até a gente e me deu um beijão de cinema. A gente termina de se beijar e eu olho surpresa para ele, não esperava essa recepção, pelo contrário, pensei que ele fosse me receber com gritos e xingamentos como era de costume.- Já deu? - Pergunta Mel com as mãos cobrindo os olhos.- Já, meu amor. - Digo.Ela tira as mãos dos olhos. Lucas e eu ficamos nos olhando, eu estava sem reação. Ele sorri e eu faço o mesmo.- Hey, eu também estou aqui. - Diz Mel para Lucas.- Oi, desculpa meu amor. - Fala Lucas ao pegar Mel no colo.Sabe, eu estava reparando que ultimamente Lucas estava bem mais carinhoso e mais presente com a nossa filha, ele não era assim antes, estava demonstrando mais que a ama, e isso me deixa tão feliz, se bem que a Melzinha é um encanto de criança, não tem
Coloquei Mel na cadeirinha do meu carro, e assim que ela entrou, já foi logo me perguntando:- Quem é, mamãe?- Essa é a Roberta, minha aluna, ela ficará uns dias em nossa casa. - Respondo.- Por quê?- Porque a mãe dela está viajando.- E o pai dela? - Pergunta Melanie.- Meu pai morreu quando eu tinha mais ou menos a sua idade. - Fala Roberta tristemente.- Ah… - Diz Mel cabisbaixa. - Pausa. - Você gosta de brincar de boneca?- Gosto. - Responde Roberta.- Legal, eu tenho várias bonecas, você pode brincar com todas, se quiser. - Fala minha filha.- Tá bem.Observei as duas pelo retrovisor do carro, e dei um leve sorriso. Achei que Mel pudesse ter um pouco de ciúmes, já que além do Guille, eu não costumava conviver com outras crianças na presença da minha filha, mas para minha s
Mel e Roberta estavam se dando muito bem, estavam super amigas, eram quase irmãs, ficava tão feliz em vê-las juntas.Uns quatro dias depois, a mãe da Roberta voltou de viagem, nós não tivemos como conversar com ela antes disso porque ela estava em outro país e também não quisemos atrapalhar a viagem. Quando ela chegou, foi direto à escola, pois chegou na sua casa e não encontrou ninguém.A diretora conversou com a dona Carla, mãe da Roberta e explicou a situação. Eu estava presente na diretoria nesse momento, pois como eu estava cuidando da menina, dona Carmem achou bom eu estar junto. Assim que a Carla soube do ocorrido, ela começou a chorar desacreditada da situação, infelizmente eu acho que ela estava chorando pelo marido e não pela filha, o que me deixou completamente revoltada.Roberta foi embora com a mãe, mas ela
Já estava dirigindo a quase 3h. Havia deixado o celular desligado para Lucas não me ligar, com certeza a essas horas ele já devia ter percebido que nós fugimos e devia estar feito louco atrás da gente, estava com muito medo dele nos encontrar, mas tentava não cogitar essa hipótese.Olhei pelo retrovisor do carro e vi Mel dormindo. Senti tanta vontade de chorar, mas tentei conter as lágrimas. Eu não sabia o que fazer e nem pra onde ir, estava completamente perdida, sem rumo. Queria ir pra casa do meu pai, mas seria óbvio demais, certamente seria o primeiro lugar que Lucas iria me procurar.Depois de viajar de Búzios a Nova Friburgo, eu resolvi parar, já estava cansada e com um pouco de sono. Parei em um hotel, deixei meu carro no estacionamento, peguei a Mel no colo e pedi um quarto pra gente, ainda bem que estávamos em baixa temporada, pois senão eu não conseguiria
Mel dormiu com a Becky no quarto dela, as duas já eram melhores amigas, o que não me surpreendeu em nada, pois Melanie fazia amizade com todo mundo, era muito comunicativa, podia falar com uma criança menor ou até mesmo com uma pessoa da terceira idade, o que me deixava meio aborrecida, pois nunca gosti que ela falasse com qualquer pessoa e sempre a orientei a não conversar com estranhos na minha ausência e a não aceitar nada de estranhos.Mila tinha duas camas em seu quarto, pois as vezes alguma amiga dormia em sua casa, e ela achou melhor ter uma cama a mais, sendo assim, dormimos no mesmo quarto.Eu estava deitada, mas o sono não vinha, só pensava em tudo o que havia acontecido, tinha tanto medo de Lucas encontrar a gente. Droga! Tinha esquecido que eu havia trocado de número e não havia avisado o meu pai, ele devia ter tentado me ligar e talvez estivesse preocupado comigo, precisava avis&aa
Na segunda - feira, eu liguei pra diretora da escola e lhe falei o que havia acontecido, contei inclusive sobre as agressões.- Meu Deus! - Diz dona Carmen surpresa. - Por que você nunca me contou isso antes, querida?- Por medo. - Respondi. - Ele sempre me ameaçou, caso eu contasse a alguém. E por isso eu fugi com a minha filha. Desculpa, eu sei que eu me comprometi com a escola e eu não queria ter que deixar a escola na mão e nem os meus alunos que eu tanto amo.- Kimberly, claro que teus alunos sentirão a tua falta, mas não se preocupe em nos deixar na mão, eu me viro, dou um jeito, contrato outra professora, isso é o de menos, o que importa é você ficar bem.- Obrigada. - Digo.Desligo a ligação, e com a ajuda da Mila, eu tento pensar o que farei de agora em diante, ela estava sendo muito legal comigo em deixar a gente ficar em sua casa, mas eu n&ati