Mel e eu estávamos brincando de casinha. Adorávamos esses momentos mãe e filha, eu fazia de tudo para aproveitar o máximo de tempo junto dela, pois infelizmente os filhos crescem rápido demais, parece que foi ontem que ela era um bebezinho com poucas horas de vida, que precisava de mim para tudo, e hoje está uma menina linda, educada e muito inteligente, dava um banho em todos nós, Mel havia aprendido a ler e a escrever aos 3 anos, sei que muitas pessoas falam que isso não é legal, que criança tem que ser criança, mas ela nunca pulou nenhuma etapa da sua vida e nunca a obriguei a aprender, eu apenas havia comprado alguns jogos de juntar sílabas, jogo da memória onde tinha que achar a figura e o nome dela, essas coisas, e aos poucos ela foi aprendendo, Mel também faz contas básicas de subtração e adição e ainda fala espanhol, pois quando ela soube que dou aula desse idioma, ela me pediu para ensiná-la, aos poucos fui ensinando e hoje ela fala bastante coisas, é o meu orgulho.
Coloquei - a para dormir e depois fui para meu quarto. Lucas já estava deitado.
- Ela já dormiu? - Me pergunta.
- Recém pegou no sono. - Falo ao trancar a porta do quarto.
Troco de roupa e me deito ao lado de Lucas. Ele me abraça e me beija no pescoço, me causando arrepio.
- O que deu em você? - Pergunto esbanjando um enorme sorriso.
- Estou feliz.
- Bem que você podia estar feliz sempre.
- Ah, qual é Kimberly? - Pergunta bruscamente. - Vai começar?
- Desculpa, amor.
Ele sorri e me beija. Nem lembro quando foi a última vez que ele me beijou daquela forma, mas eu gostei e gostei bastante, fizemos amor a noite toda como a muito tempo não fazíamos. Foi incrível, queria que fosse sempre assim, por que não podia ser?
No dia seguinte, um acontecimento no meu serviço me intrigou bastante, Roberta não havia ido à aula, antes ela faltava muito, tipo umas 2 ou 3 vezes por semana, mas aí a diretora chamou os responsáveis na escola e as faltas diminuíram bastante, mas eu estava com um nó no peito, pois no dia anterior ela me falou que estava com medo de levar bronca do padrasto, acho que só me restava torcer para não ter acontecido nada, mas passei a tarde inteira pensando nisso.
Como Lucas não pôde buscar a Mel na escola nesse dia, eu fui, sai do meu serviço e fui direto para o colégio da minha pitoca, que abriu um enorme sorriso ao me ver
- Mamãe! - Ela fala ao correr e pular em meu colo, como adorava fazer.
- Oi meu amor.
- Você veio me buscar hoje?
- Sim, eu vim. - Respondi.
- E o papai?
- Ele não pôde vir, tinha compromisso. E como foi a aula?
- Boa.
A coloco na cadeirinha do carro, e vamos pra casa, enquanto ela vai me contando tudo o que aprendeu na escola naquele dia.
- E você sabia que os meninos fazem xixi em pé?
- A sua professora te ensinou isso? - Pergunto surpresa.
- Não, né… Eu vi.
- Como assim? - Pergunto não gostando muito daquela conversa.
- O Michel deixou a porta do banheiro aberta e eu vi. - Fala entre risos.
- Mas você não pode ver. - A repreendo.
- Foi sem querer, mamãe.
Dou um leve sorriso enquanto a observo pelo retrovisor. Ela percebe que eu a estou observando e me sorri. Como eu amo aquele sorriso.
- Coloca música? - Me pede.
Coloco o meu pen drive que era para momentos que a Mel estivesse comigo, e ela adorava. Seguimos o caminho cantando Super fantástico - Balão Mágico, era uma das músicas preferidas dela. Chegamos em casa antes do Lucas, e foi só colocarmos os pés dentro de casa para aquele pingo de gente já reclamar de fome, não sei como pode um ser tão pequeno estar sempre com fome e ainda não engordar de tanto comer.
- Vamos tomar banho, que depois eu preparo algo pra você comer. - Falo.
- Tá bem.
Dou banho em Mel, enquanto já aproveito para tomar o meu. A observo brincando com a espuma do shampoo, ela ri enquanto brinca. Não sei como podia existir um ser tão perfeito, ela era muito mais do que eu já imaginei, não estava nos meus planos ser mãe cedo, mas com certeza se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo de novo.
Nos arrumamos e logo preparo algo para ela comer, enquanto Mel come seu lanche pós aula, aproveito para ligar para meu pai, fazia alguns dias que não falava com ele.
- Como estão as coisas por aí? - Me pergunta.
- Muito bem. - Respondo. - O Lucas deu uma saída e a Melzinha está lanchando, essa menina tem uma fome de leão…
- Puxou à mãe. - Brinca.
- Saudade, pai. - Falo ao dar um leve sorriso.
- Saudade também, pequena. Por favor, venham me visitar.
- Claro, estou só esperando um feriadão pra ir praí. Mas o senhor também podia vir.
- Com o querido do seu marido aí? Você lembra como foi da última vez.
Seria impossível esquecer. Papai ficou dois meses na minha casa quando eu quebrei uma perna e tive que ficar 60 dias de repouso, nesse período, meu pai ficou em minha casa para me ajudar a cuidar da Mel e Lucas fez questão de demonstrar desconforto com isso e fez de tudo para insinuar que papai estava de favor em nossa casa, sendo que era ele que estava me fazendo um big favor. Os dois viviam se estranhando, mas sempre Lucas que provocava, eu tentava conversar com ele e pedia para ele deixar meu pai em paz, mas não adiantava muito.
Pouco após eu encerrar a ligação com o meu pai, Lucas chegou em casa. Estava furioso, chegou a assustar a Mel. Parecia bêbado, com certeza havia voltado a beber como antigamente.
- Mel, vá pro seu quarto! - Ordeno.
- Mas eu não terminei de comer.
- Come lá, mas vá logo. - Falei em tom autoriário.
Ela pega o prato e o copo e se dirige para seu quarto. Lucas vai para o nosso quarto, soltando fogo pelas ventas, eu sabia que não era uma boa ideia, mas resolvo ir atrás dele para saber o que tinha acontecido.
- O que houve? - Pergunto ao entrar no nosso quarto.
- Eu não consegui a porra da vaga que eu queria. - Fala alterado.
- Não fica assim, você conseguirá emprego melhor. - Digo tentando o confortar.
- Cala boca! Você não entende. - Grita.
Ele tranca a porta. Sinto medo. Eu sabia bem o que aconteceria em seguida, ele podia estar furioso com o que fosse, mas sempre era em mim que ele descontava.
- Lucas, não! - Peço.
Ele tira o cinto de sua calça e começa a me bater. Choro e grito.
- Cala boca! Cala boca! - Grita mais alto que eu.
- Para, por favor. - Peço aos prantos.
Mas ele não para, me bate cada vez com mais e mais força, fazia duas semanas que ele não me batia desse jeito. Mel vai até a porta de nosso quarto, a escuto chorar e chamar por mim.
- Vá pro seu quarto. - Peço, aos prantos.
- Mamãe! - Me chama chorando.
- Vá! - Ordeno.
Ouço o barulho dos passos dela se afastando. Choro e choro, enquanto ele segue me batendo.
Não dormi a noite toda, chorei e chorei sem parar. Lucas e eu dormimos cada um para um lado diferente, não queria olhar pra ele, estava com raiva, com nojo, com ódio, ódio dele e ódio de mim por gostar de um traste desses.Lucas levantou cerca de meia hora antes do seu horário, o que é estranho, já que ele não costuma levantar cedo. Continuo deitada na cama, tentando criar forças para ir trabalhar. Escuto passos entrando no quarto, penso ser Lucas novamente, alguém deita do meu lado, com medo de ser ele eu não me viro, e de repente eu vejo aquela pequena mãozinha em meu ombro. Me viro para o lado de Mel, ela não diz nada, ficamos nos olhando. Mel acaricia o meu rosto, fecho os olhos, enquanto sinto seu doce toque.- Tá doendo, né mamãe?- Doendo o quê? - Pergunto achando que ela não sabe de nada.- Por que vocês adultos
Chego em casa e vou direto pro banho. Me lembro das agressões, de tudo o que ele já me fez e choro sem parar. Pouco depois, escuto as vozes de Lucas e Mel, que haviam chegado em casa. Lavoo rosto para que não notem que eu havia chorado.- Mamãe! - Me chama Mel.- Tô no banho, amor. - Grito.Ela abre bruscamente a porta do banheiro.- Hoje eu cai no pátio da escola, olha aqui. - Fala ao me mostrar seu joelho ralado.- Ah, não foi nada.- Claro, não foi você que teve o joelho sangrando sem parar. Ainda, tá doendo, sabia?- Depois a gente coloca um remedinho, tá meu amor?- Tá bom. - Fala com um largo sorriso. - Ah, e não demora nesse banho.Ela sai do banheiro, e eu termino de me banhar. Ao passar pela sala, vejo Lucas vendo TV, ele nem olha pra mim, eu passo reto para o nosso quarto.Estava penteando meu cabelo quan
Papai, Mel e eu estávamos arrumando a mesa para o almoço quando Sabrina, Guillermo e Joaquim entraram em casa.- Sáh! - Falou Mel ao pular no colo da Sabrina.Sáh era a esposa do meu pai, eles estavam juntos há 15 anos, eu tinha 7 anos na época que eles se conheceram, mas lembro como se fosse ontem. Papai me contou todo empolgado, que havia conhecido a irmã de um amigo e que ela era encantadora, como até então sempre havia sido só nós dois, sempre fomos melhores amigos, bom, e ainda somos, sempre contamos tudo um para o outro. Pouco tempo depois disso, os dois já estavam namorando, e cerca de um ano depois, já estavam morando juntos. Meu pai dizia que ele não precisava de mulher para ser feliz, mas eu percebi que desde que ele começou a namorar a Sáh, ele mudou bastante, estava mais feliz, mais sorridente, não que antes ele não fosse, mas essa a
Convidei Mila e Becky para irem em minha casa para tomar um café conosco, Mila não pensou duas vezes e aceitou na hora, papai ficou muito feliz ao vê-la, pois ele sempre soube da nossa amizade. Uns dois meses depois que eu fui adotada, pedi para meu pai me levar ao abrigo para visitar meus amigos, mas Mila já não estava, por um lado fiquei muito feliz quando soube que ela havia sido adotada, mas por outro, havia ficado triste por pensar que nunca mais a veria, ainda bem que esse mundo é pequeno e que conseguimos nos reencontrar.Mel, Guille e Becky não pararam de brincar um momento sequer, a filhinha de Mila havia se dado muito bem com a minha pitoca e o meu irmãozinho, legal como criança faz amizades tão rápido, ah, era tão legal ver os três brincando juntos.- E o que você faz da vida? - Me pergunta Mila.- Dou aula de espanhol para os anos finais e também sou
Assim que chegamos em casa, Lucas foi correndo até a gente e me deu um beijão de cinema. A gente termina de se beijar e eu olho surpresa para ele, não esperava essa recepção, pelo contrário, pensei que ele fosse me receber com gritos e xingamentos como era de costume.- Já deu? - Pergunta Mel com as mãos cobrindo os olhos.- Já, meu amor. - Digo.Ela tira as mãos dos olhos. Lucas e eu ficamos nos olhando, eu estava sem reação. Ele sorri e eu faço o mesmo.- Hey, eu também estou aqui. - Diz Mel para Lucas.- Oi, desculpa meu amor. - Fala Lucas ao pegar Mel no colo.Sabe, eu estava reparando que ultimamente Lucas estava bem mais carinhoso e mais presente com a nossa filha, ele não era assim antes, estava demonstrando mais que a ama, e isso me deixa tão feliz, se bem que a Melzinha é um encanto de criança, não tem
Coloquei Mel na cadeirinha do meu carro, e assim que ela entrou, já foi logo me perguntando:- Quem é, mamãe?- Essa é a Roberta, minha aluna, ela ficará uns dias em nossa casa. - Respondo.- Por quê?- Porque a mãe dela está viajando.- E o pai dela? - Pergunta Melanie.- Meu pai morreu quando eu tinha mais ou menos a sua idade. - Fala Roberta tristemente.- Ah… - Diz Mel cabisbaixa. - Pausa. - Você gosta de brincar de boneca?- Gosto. - Responde Roberta.- Legal, eu tenho várias bonecas, você pode brincar com todas, se quiser. - Fala minha filha.- Tá bem.Observei as duas pelo retrovisor do carro, e dei um leve sorriso. Achei que Mel pudesse ter um pouco de ciúmes, já que além do Guille, eu não costumava conviver com outras crianças na presença da minha filha, mas para minha s
Mel e Roberta estavam se dando muito bem, estavam super amigas, eram quase irmãs, ficava tão feliz em vê-las juntas.Uns quatro dias depois, a mãe da Roberta voltou de viagem, nós não tivemos como conversar com ela antes disso porque ela estava em outro país e também não quisemos atrapalhar a viagem. Quando ela chegou, foi direto à escola, pois chegou na sua casa e não encontrou ninguém.A diretora conversou com a dona Carla, mãe da Roberta e explicou a situação. Eu estava presente na diretoria nesse momento, pois como eu estava cuidando da menina, dona Carmem achou bom eu estar junto. Assim que a Carla soube do ocorrido, ela começou a chorar desacreditada da situação, infelizmente eu acho que ela estava chorando pelo marido e não pela filha, o que me deixou completamente revoltada.Roberta foi embora com a mãe, mas ela
Já estava dirigindo a quase 3h. Havia deixado o celular desligado para Lucas não me ligar, com certeza a essas horas ele já devia ter percebido que nós fugimos e devia estar feito louco atrás da gente, estava com muito medo dele nos encontrar, mas tentava não cogitar essa hipótese.Olhei pelo retrovisor do carro e vi Mel dormindo. Senti tanta vontade de chorar, mas tentei conter as lágrimas. Eu não sabia o que fazer e nem pra onde ir, estava completamente perdida, sem rumo. Queria ir pra casa do meu pai, mas seria óbvio demais, certamente seria o primeiro lugar que Lucas iria me procurar.Depois de viajar de Búzios a Nova Friburgo, eu resolvi parar, já estava cansada e com um pouco de sono. Parei em um hotel, deixei meu carro no estacionamento, peguei a Mel no colo e pedi um quarto pra gente, ainda bem que estávamos em baixa temporada, pois senão eu não conseguiria