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Um Amor Chamado Melanie

- Então turma, teremos prova de Ciências daqui há duas semanas. Estudem bastante toda a matéria. - Digo.

- Me lasquei! Eu sou péssimo em Ciências. - Fala Thiago, o mais engraçadinho da turma.

- É só estudar. - Falo com um meio sorriso.

O sinal da escola toca, as crianças pegam seus materiais, se despedem de mim com um abraço e um beijo no rosto e logo saem apressadamente, menos a Roberta, ela era a minha aluna mais quieta, não incomodava, quase não falava e não era de interagir com os colegas, eu só escutava sua voz quando era pra pedir pra ir ao banheiro ou beber água. Noto que ela estava cabisbaixa e resolvo me aproximar vagarosamente de sua mesa.

- Está tudo bem, meu amor? - Pergunto.

Sem dizer nada, ela consente com a cabeça. Algo me diz que ela estava mentindo. Espero estar errada.

- Você não vai? - Pergunto.

Ela olha pra porta. Meu olhar segue o dela, noto a presença de seu padrasto a chamando. Ela me abraça fortemente e vai embora com ele. Roberta tinha o olhar tão triste para sua idade, era de dar pena e ela sempre me abraçava como se não quisesse ir, achava tudo isso tão estranho. 

Apago a lousa, pego meu material e vou embora. Assim que chego em casa já começo a planejar a aula da próxima semana, gostava de estar sempre adiantada, e poder me programar com antecedência. Queria ser a melhor professora que aquelas crianças já tiveram. A escola era de comunidade, uma escola muito pobre, muitas crianças iam apenas com o caderno e um lápis, e iam contando os minutos para a hora do lanche, pois para muitos era a única refeição do dia, queria tanto poder ajudá-los, dar alguns materiais, lanches de qualidade, eu tinha condições para isso, porém não era permitido pela diretora. Algumas daquelas crianças eram parentes de traficantes, assassinos, muitos com pais ou parentes presos, eu até tinha um aluno que viu o pai matar a mãe e a avó materna, o pai acabou preso e ele passou a viver com uma tia.

Estou planejando minha aula quando escuto um barulho de porta abrindo e então ouço duas vozes.

- Cheguei! - Fala Melanie ao abrir bruscamente a porta do meu quarto.

- Oi razão do meu viver. - Digo ao abrir os braços.

Ela corre e pula em mim me dando um forte e gostoso abraço. Mel foi o resultado da noite que Lucas e eu transamos sem camisinha, o resultado mais lindo que poderia existir. Ela era a criança mais doce, educada, carinhosa, gentil, inteligente e linda que existia, era a razão do meu viver, era por ela que eu não pensava em desistir de tudo, era Mel que fazia eu seguir adiante apesar das dificuldades.

Eu engravidei com 17 anos, e ganhei com 18. Eu era muito nova, foi uma surpresa para todo mundo, não havíamos planejado e não estava nos nossos planos. Lucas por diversas vezes pediu para eu abortar, mas eu não era uma assassina, não mataria uma vida, não importava se eram dois dias, dois meses ou oito meses de gestação, eu jamais faria um absurdo desses, e fui bem clara com o Lucas a respeito disse, e falei que se ele quisesse sumir e esquecer que tinha uma filha que o fizesse, mas eu não abortaria, a decisão deles vocês já devem imaginar. 

Quanto ao meu pai, ele ficou extremamente surpreso quando eu contei sobre a gravidez, mas quando eu lhe falei sobre, ele apenas me abraçou e disse ''conta comigo'', eu sempre soube que podia contar com ele. Papai me ajudou muito na criação da Mel, sempre que podia ele vinha pro Rio pra ficar perto da gente e me ajudar, ele é louco por ela e esse amor é muito recíproco, dá pra ver nos olhinhos dela o quanto ela o ama. Acho lindo vê-los juntos.

Bom, Lucas nunca foi um pai muito amoroso, de demonstrar muito afeto, carinho, mas sempre foi prestativo, sempre me ajudou a cuidar da Mel, comprava as coisas necessárias, quando eu não podia ele a levava/buscava da escola, fazia o básico, mas eu nem reclamava, sei que tem pais que não fazem nem isso. E eu sabia que apesar de tudo, mesmo não falando sempre, ele a amava.

- Brincou bastante hoje na escola? - Perguntei.

- Muito! - Diz Mel.

Salvo todo meu planejamento de aula para continuar mais tarde. Quando a Mel estava acordada, minha atenção era toda pra ela, era ''Mel faz isso'', ''Mel faz aquilo'', ''larga isso, menina'', a bichinha parecia eu quando pequena, não parava quieta um minuto e eu buscava estar sempre de olho em tudo o que ela fazia para que não se machucasse, pois criança para se machucar é num piscar de olhos.

Lucas estava vendo o noticiário, detestava quando ele via essas coisas na sala, não curtia o fato dele ver tantas tragédias com uma criança pequena em casa.

- Por que o papai vê essas coisas feias? - Pergunta Mel enquanto me observa preparar seu sanduíche.

- Porque ele gosta de saber as coisas que estão acontecendo no mundo para se cuidar e cuidar da gente. - Respondo.

- Eu não gosto de ver essas coisas. - Ela fala.

- Nem eu. - Sussurro.

Ela sorri, o sorriso mais lindo que existia. Dou o sanduíche para ela acompanhado de uma caneca de nescau, ela lancha com muita vontade, chegava sempre com fome da escola, pois como ela dizia, a escola tomava todas suas energias.

Em seguida, papai me ligou para saber como estavam as coisas, assim que ela percebeu quem era na ligação, já foi logo pedindo para falar com o vovô, porque era assim, eu falava 5 minutos com o meu pai e ela falava uma hora com ele, já estava até ficando meio enciumada.

- Amor, você dá banho nela, por favor?

- Espera acabar o noticiário. - Ele diz com os olhos vidrados na TV.

Cinco minutos depois e aquele poço de desgraças termina.

- Partiu banho? - Pergunta Lucas para Mel.

- Partiu. - Fala com um enorme sorriso.

Ela sai correndo para o banheiro e Lucas corre atrás dela. Fico observando a cena. Eu sabia que Lucas gostava muito da Mel, só ficava triste com o fato dele não ser mais carinhoso com ela, não lhe abraçava quase, não lhe beijava, nem falava ''eu te amo'', talvez ele a amasse, só não soubesse demonstrar isso. Escuto os dois rindo e esbanjo um sorriso, as vezes nem ligava pro fato dele me tratar mal, ele sendo bom para a nossa filha, era isso que importava para mim, pois ela seria sempre em primeiro lugar.

Aproveito para ligar para meu pai e falar com ele, já que antes não consegui fazer isso. Sentia tanta saudade dele, nos falávamos todos os dias por telefone, mas não era a mesma coisa, por telefone eu não podia lhe abraçar, sentir seu cheiro, era tudo tão diferente. Ah, como queria poder estar mais perto dele.

- E eles foram felizes para sempre. - Digo ao terminar de ler um livro para Mel dormir. - Gostou?

- Aham. 

- Boa noite, meu amor.

- Boa noite, mamãe.

Mel e eu damos um selinho, eu apago a luz do quarto dela e vou para meu quarto. Lucas já estava dormindo, deito do lado dele e o abraço. Ele se esquiva e eu viro para outro lado. Fazia um mês que a gente não transava, até o começo do nosso casamento a gente fazia amor no mínimo umas três vezes por semana, mas nas últimas semanas não havia acontecido nada, eu até tentava, mas ele não demonstrava interesse, o que era muito estranho, já que ele parecia estar sempre com fogo. E depois de um tempo, passei a nem me importar mais, também não fazia tanta questão assim.

No dia seguinte sou acordada com um mini serzinho pulando em cima de mim. Me acordo no susto.

- Bom dia, mamãe. 

- O que você está fazendo aqui? - A questiono.

- Ué, não vai trabalhar, não?

- Oh, sua coisinha…

A pego e a jogo na cama levemente, lhe enchendo de cócegas, ela ri sem parar, como eu amava essa risada gostosa.

E mais um dia se iniciava, Mel e eu tomamos banho, depois café da manhã, a deixo vendo desenho enquanto Lucas lê seu jornal como fazia todas as manhãs, dou um beijo nos dois e vou para o trabalho. Hora de começar tudo de novo…

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