POV: AVRIL
Os sons ao fundo eram um turbilhão confuso de ruídos. Forcei meus olhos a se abrirem, sentindo o sangue pulsando em minha cabeça e percebendo, com dificuldade, que estava de cabeça para baixo dentro do carro. Um líquido quente escorria pela minha testa, seu odor ferroso invadindo minhas narinas. Ao meu lado, o som do vidro sendo puxado bruscamente com as mãos chamou minha atenção. Olhei para o lado e lá estava o maldito responsável por minha dor e mágoa.
— Eu vou te tirar daqui Avril... Você vai ficar bem! — Ele disse, enquanto meus olhos se fechavam novamente.
Ao longe, ouvi alguém o repreendendo.
— Senhor, precisa se afastar para que possamos fazer nosso trabalho. Ela está presa nas ferragens e perdendo muito sangue. Vamos tirá-la rapidamente. — A voz masculina e profissional soou autoritária.
— Senhor Stone, precisamos tirá-lo daqui agora. Daqui a pouco os jornalistas estarão aqui, e não podemos permitir que se envolva em escândalos. — Alguém falou firmemente. — Ela ficará bem, os socorristas vão cuidar dela.
— Merda! — Aquela voz, aquela m*****a voz que tanto amei e adorei, agora se cravava em minha mente. Pela última vez, senti seu toque sutil em meu rosto junto a um sussurro: — Eu sinto muito, Avy.
Depois disso, tudo se tornou escuro e sombrio. Meu corpo pesava, minha mente latejava, e embora eu ouvisse os movimentos ao meu redor, meus olhos já não se abriam mais.
— Você vai ficar bem, Sra. Fox. Vamos levá-la ao hospital mais próximo. — A voz profissional ressoou novamente, um último eco antes de a escuridão me envolver completamente.
Despertei assustada, meus olhos fixos em um teto branco e estéril. Algo incomodava minha garganta, e ao levar as mãos à boca, arregalei os olhos ao perceber que um tubo estava inserido. Instintivamente tentei puxá-lo, mas pequenas mãos quentes e delicadas seguraram as minhas em um leve aperto.
— Filha, graças a Deus você despertou, minha menina. — Era minha mãe, seus olhos marejados e o semblante aliviado. — Não tente puxar o tubo, vou chamar o médico.
Ela saiu rapidamente e, em pouco tempo, retornou com uma equipe médica. Fui avaliada e o tubo cuidadosamente removido.
— Sra. Avril Fox, como se sente? Nos deu um grande susto. — O doutor, um homem de certa idade, sorria gentilmente em minha direção. — Você se lembra do que aconteceu?
Fiquei pensativa por um momento, olhando em volta do quarto, avistei um buquê de flores brancas, franzi o cenho quando flashbacks confusos passavam pela minha mente. Estralei os olhos e coloquei as mãos sobre minha barriga, sentindo um aperto no peito.
— Tive um acidente... — Indaguei aflita, com um nó formado em minha garganta seca. — E meu bebê?
O olhar do médico se tornou sério.
— Sinto muito, senhorita. No local do acidente, você sofreu uma ruptura da placenta. Infelizmente, o feto não sobreviveu.
Olhei para o médico com indignação e dor. Minha mãe se aproximou, pousando as mãos em meus ombros num gesto de consolo.
— Está tudo bem, minha menina. Lidaremos com isso juntas. — Murmurou ela, acariciando-me suavemente. — Eu sinto muito, filha.
— Isso tudo é culpa dele, daquele maldito... Como ele pôde fazer isso comigo, mamãe? — Voltei meus olhos para ela, permitindo que as lágrimas deslizassem livremente pelo meu rosto.
— Você se lembra de mais alguma coisa? — Uma voz masculina ecoou ao fundo do quarto. Só então reparei no homem de olhos castanhos claros e um sobretudo elegante. — Sabe o que a levou ao acidente?
— Senhor, já discutimos sobre os interrogatórios. Ela acabou de despertar de um coma de três semanas! — O médico interveio, desta vez mais rude e enfático. — Minha paciente precisa descansar!
— Estive dormindo por três semanas? — Minha voz saiu trêmula, enquanto eu levava a mão à boca, tampando-a em choque.
— O acidente... Você tentou usar os freios? — O homem se aproximou, insistente, ignorando completamente as palavras do médico.
— O carro... Eu estava correndo muito, precisava ir embora. Então, aquele caminhão apareceu e tudo saiu do controle. Eu girei na pista. — Minha voz falhou, e limpei as lágrimas que se acumulavam nos cantos dos olhos. Minha garganta estava seca e arranhava. Olhei para minha mãe, buscando alguma resposta em seu rosto. — Quem é você? Que tipo de perguntas são essas?
— Perdoe-me, Senhorita Fox. Sou Henry, investigador criminal, designado para o seu caso. — Ele explicou de forma casual, mas havia um peso nas suas palavras que não podia ser ignorado.
— Meu caso? Sofri um acidente, desde quando um investigador cuida disso? — Franzi o cenho, confusa, tentando entender a gravidade da situação.
— Sra. Fox, é perfeitamente normal que as condições do carro sejam avaliadas para determinar a causa do acidente. Foi descoberto que os freios do seu carro estavam suspeitosamente cortados, não rompidos. — O investigador analisava-me de cima a baixo, seus olhos atentos a qualquer reação que eu pudesse demonstrar.
Coloquei as mãos na cabeça, sentindo o peso esmagador das palavras dele. Era como se um apito intenso ecoasse dentro do meu crânio, causando uma pressão insuportável. Meu peito ardia, subindo e descendo de forma ofegante. O suor começou a escorrer por minha testa, enquanto minhas mãos, frias e úmidas, tremiam incontrolavelmente.
— Eu disse que era muito cedo, investigador! Ela acabou de despertar de um coma, precisa ir com calma! — O médico mexeu no soro em minha veia e pegou a máscara de oxigênio, tentando colocá-la em meu rosto. — Se acalme, senhorita. Respire com calma, assim.
Empurrei a máscara de oxigênio bruscamente, mantendo os olhos fixos no investigador. A incredulidade em minha voz era palpável.
— Está me dizendo que Archer Stone não apenas terminou comigo e tentou me arrastar para uma clínica, mas também provocou meu acidente e tentou me matar? — Explodi, ofegante, com um soluço no final da frase. Meus lábios tremiam incontrolavelmente. Minha mãe se aproximou e eu encostei a cabeça em seu peito, chorando intensamente. — Eu o odeio tanto! Como pude me enganar tanto com alguém?
Não havia percebido o celular ao lado da maca, quando vibrou em alerta de recebimento de uma mensagem, dele, do homem que tanto amei: “Sua vida será melhor sem mim, eu sinto muito por tê-la ferido tanto, Avy, não mereço o seu amor ou lágrimas, me odeie com todas as suas forças!”
POV: ARCHER— Senhoras e senhores, é com imenso prazer que recebemos a todos os convidados aqui esta noite em nossa empresa. Este é um marco muito importante para o nosso império Stone, e somos gratos por cada um de vocês fazerem parte dessa história. Chamaremos ao palco o homem por trás do nosso sucesso, que não só elevou nosso faturamento, mas também trouxe prestígio ao nosso legado. Aplausos para o renomado CEO, senhor Archer Stone.O salão se encheu com os sons dos aplausos frenéticos. Subi ao palco com uma postura ereta, aproximando-me do microfone. Os convidados estavam eufóricos, aguardando o pronunciamento que faria naquela noite, o motivo pelo qual havíamos organizado a maior festa já vista em Seattle, enchendo as manchetes dos jornais.— Boa noite! — Ressoei firme, com o tom gélido ao qual estavam acostumados. — Obrigado a todos por estarem presentes. Como mencionamos no convite, esta festa vai além das comemorações por nossos grandes ganhos financeiros.Todos riram animados.
POV: ARCHER— Tirem o investigador daqui! — Ordenei aos seguranças com raiva, caminhando a passos largos até Willow em meio ao salão. — Chamem uma ambulância, rápido! — Ordenei, mantendo a compostura, embora por dentro soubesse que está confusão estaria estampada em todos os jornais e após a especulação do detetive, teria uma enxurrada de conspiração em meu nome. Os seguranças arrastaram Henry para fora, enquanto eu me ajoelhava ao lado de Willow, tentando reanimá-la. Seu rosto estava pálido, ela não respondia, sua mãe se aproximou ajoelhando-se do outro lado.— Filha? O que houve? Acorde. — Dizia Neandra Collen, a renomada cofundadora da indústria Collen. — Archer, sabe o que houve?— Willow, querida, acorde! — Murmurei, segurando sua mão fria. O médico da festa se aproximou rapidamente, verificando seus sinais vitais.— Ela vai ficar bem, mas precisamos levá-la ao hospital para exames mais detalhados. — Disse o médico, levantando-se e sinalizando para os paramédicos que acabavam de c
POV: ARCHER— Quais são as chances disso? — Exclamei indignado, pegando o papel que meu amigo de confiança havia me apresentado. — Tem certeza disso?— Sim, senhor. Localizei apenas duas pessoas com a tipagem sanguínea compatível com a de sua noiva, mas somente uma é viável para a doação — respondeu ele, coçando o queixo. — E não é o idoso de 75 anos, isso posso garantir!— Não estou com humor para suas piadas hoje, Jasper! — Joguei os papéis sobre a mesa, inclinando a cabeça para trás, sentindo a frustração se acumulando. — Só pode ser brincadeira.— Qual o problema da jovem ser a doadora? Ela me parece saudável, além de ser extremamente linda — brincou ele, divertido. Soquei a mesa com força, provocando um tremor que percorreu seu corpo. Jasper ergueu uma sobrancelha, intrigado, inclinando-se para frente para sussurrar: — É alguma amante sua? Você a conhece?— Ela é a mãe do meu filho! — Senti o peso de minhas palavras lembrando do pequeno altar memorial que havia criado, naquele dia
POV: AVRILFechei a cafeteira com um suspirando, mantendo as mãos na persiana enquanto tentava acalmar minha mente, meu peito queimava com a raiva intensa que carregava desde aquele dia. O dia em que disse ao meu namorado que tanto amava que estava grávida, o dia que tudo virou de cabeça para baixo, o término, o acidente levando a perca do meu bebê. Eu o amaldiçoei desde aquele dia, praguejei ao vento desejando que ele sofresse toda dor que me causou!Caminhei até a mesa onde ele estava sentado, aguardando-me em silêncio com as mãos cruzadas e o corpo relaxado no banco. Sentia seus olhos acompanhando cada movimento meu. Sentei-me à sua frente, encarando-o com o semblante fechado, desejando voar em seu pescoço! Notei sua feição séria; Archer parecia mais rígido e tenso do que da última vez que nos vimos. Seu corpo estava mais volumoso, os músculos delineados sob o terno caro. Seus cabelos castanhos claros estavam penteados com elegância, e seus olhos azuis profundos e enigmáticos não pe
POV: AVRIL— Por que está fazendo isso comigo, Archer? — segurei seu punho, apertando com a cabeça baixa pensativa. — Eu não mereço isso.— Não, realmente não merece..., mas não tenho escolhas — suspirou ele, soltando-se do meu aperto e saindo da cafeteria, deixando-me imersa em meus pensamentos diante daquela papelada ridícula. Lágrimas escorreram pelo meu rosto, lavando a raiva contida em meu peito.Fiquei em silêncio, olhando a papelada e a pasta à minha frente, sem reação. Toda a proposta era ridícula, mas aquela cláusula em específico me tirou completamente o chão. Puxei para olhar, coçando os olhos pesados e vermelhos. Aquele idiota seguiu a vida sem olhar para trás, pouco se importando com os danos que havia me causado e agora isto? Aparece sugerindo que eu me passe como sua esposa substituta e seja a doadora principal de sua noiva!— Vá para o inferno, Archer Stone, não terá nada de mim além de meu desprezo! — exclamei em meio ao silêncio rangendo os dentes furiosa. Quando ouvi
POV: ARCHERSuspirei ao ouvir a linha vazia do outro lado, olhando para o relógio. Era tarde da noite e a voz de Avril soava rouca e fria. Por que isto me incomodava? Sou o culpado por suas maiores dores, foi eu quem pedi para me odiar e dei motivos para isto.Virei o copo de uísque, sentindo o calor da bebida descer pela garganta. Ainda trabalhava naquele maldito relatório, encontrando muitas brechas nas informações internas, o que me levava a crer que ele tinha ajuda interna e que minha equipe não era tão confiável quanto eu pensava. Suspirando, fui até o guarda-roupa e peguei roupas leves, algo casual para vê-la. Com as chaves nas mãos, saí apressado.— Archer? — chamou minha sogra, saindo do quarto médico de minha noiva. — Vai sair?— Tenho assuntos para resolver — respondi secamente, continuando a caminhar rapidamente.— A essas horas? — Ela veio atrás de mim como uma sombra. — Nestas roupas?Parei e me virei para encará-la, meus olhos faiscando de impaciência.— Sra. Neandra, pel
POV: AVRIL— Por que eu assinaria este maldito contrato e salvaria sua adorável noiva? — torci o nariz ofegante, abrindo e fechando as mãos nervosa. — Ela teria sorte de se livrar de você.— Morrendo? — questionou ele, frio, sem tirar as mãos dos bolsos. Arregalei os olhos, surpresa. — Porque é o que vai acontecer se você não aceitar ser doadora dela.— E a culpa seria de quem? — gritei, dando um soco em seu peito rígido como rocha, sem que ele se movesse. — Não é uma responsabilidade minha, não vou aceitar aqueles termos, não dessa forma... Não te pedir para voltar, estou indo bem sem você.— Não, você não está. Estão afogados em dívidas! — retrucou Archer, ignorando meu segundo soco em seu peito como se não provocasse nada nele. — O dinheiro vai ajudar sua família.— Ah, então está sendo benevolente por ter sido um grande imbecil comigo? Falha minha, grande CEO Stone! — gesticulei dramaticamente, colocando a mão sobre o peito. — Muito obrigada por sua caridade financeira, mesmo após
POV: AVRILMadrugada adentro, revisava o contrato, rasurando algumas cláusulas e acrescentando as minhas próprias. A cada termo alterado, sentia uma sensação de poder crescente. Quando finalmente terminei, ergui o papel, folheando pela última vez o contrato. Suspirei e deixei escapar um leve sorriso vitorioso:— Se for para conviver com o diabo, que seja sob minhas regras! — murmurei para mim mesma. O relógio ao lado da cabeceira da cama despertou, chamando minha atenção para o novo dia. Esfreguei os olhos cansados e fui tomar um longo banho.A água quente ajudou a aliviar a tensão acumulada. Após o banho, passei maquiagem suficiente para esconder as olheiras da noite em claro. Vesti minha melhor roupa social e saltos médios, querendo estar apresentável para enfrentar o império Stone.Com uma última conferida no espelho, forcei um sorriso nos lábios sofridos que haviam sido mordidos enquanto eu revisava cada página do contrato. O batom vermelho aveludado escondia as feridas que os infl