CAPÍTULO 01 - O ACIDENTE

POV: AVRIL

Os sons ao fundo eram um turbilhão confuso de ruídos. Forcei meus olhos a se abrirem, sentindo o sangue pulsando em minha cabeça e percebendo, com dificuldade, que estava de cabeça para baixo dentro do carro. Um líquido quente escorria pela minha testa, seu odor ferroso invadindo minhas narinas. Ao meu lado, o som do vidro sendo puxado bruscamente com as mãos chamou minha atenção. Olhei para o lado e lá estava o maldito responsável por minha dor e mágoa.

— Eu vou te tirar daqui Avril... Você vai ficar bem! — Ele disse, enquanto meus olhos se fechavam novamente.

Ao longe, ouvi alguém o repreendendo.

— Senhor, precisa se afastar para que possamos fazer nosso trabalho. Ela está presa nas ferragens e perdendo muito sangue. Vamos tirá-la rapidamente. — A voz masculina e profissional soou autoritária.

— Senhor Stone, precisamos tirá-lo daqui agora. Daqui a pouco os jornalistas estarão aqui, e não podemos permitir que se envolva em escândalos. — Alguém falou firmemente. — Ela ficará bem, os socorristas vão cuidar dela.

— Merda! — Aquela voz, aquela m*****a voz que tanto amei e adorei, agora se cravava em minha mente. Pela última vez, senti seu toque sutil em meu rosto junto a um sussurro: — Eu sinto muito, Avy.

Depois disso, tudo se tornou escuro e sombrio. Meu corpo pesava, minha mente latejava, e embora eu ouvisse os movimentos ao meu redor, meus olhos já não se abriam mais.

— Você vai ficar bem, Sra. Fox. Vamos levá-la ao hospital mais próximo. — A voz profissional ressoou novamente, um último eco antes de a escuridão me envolver completamente.

Despertei assustada, meus olhos fixos em um teto branco e estéril. Algo incomodava minha garganta, e ao levar as mãos à boca, arregalei os olhos ao perceber que um tubo estava inserido. Instintivamente tentei puxá-lo, mas pequenas mãos quentes e delicadas seguraram as minhas em um leve aperto.

— Filha, graças a Deus você despertou, minha menina. — Era minha mãe, seus olhos marejados e o semblante aliviado. — Não tente puxar o tubo, vou chamar o médico.

Ela saiu rapidamente e, em pouco tempo, retornou com uma equipe médica. Fui avaliada e o tubo cuidadosamente removido.

— Sra. Avril Fox, como se sente? Nos deu um grande susto. — O doutor, um homem de certa idade, sorria gentilmente em minha direção. — Você se lembra do que aconteceu?

Fiquei pensativa por um momento, olhando em volta do quarto, avistei um buquê de flores brancas, franzi o cenho quando flashbacks confusos passavam pela minha mente. Estralei os olhos e coloquei as mãos sobre minha barriga, sentindo um aperto no peito.

— Tive um acidente... — Indaguei aflita, com um nó formado em minha garganta seca. — E meu bebê?

O olhar do médico se tornou sério.

— Sinto muito, senhorita. No local do acidente, você sofreu uma ruptura da placenta. Infelizmente, o feto não sobreviveu.

Olhei para o médico com indignação e dor. Minha mãe se aproximou, pousando as mãos em meus ombros num gesto de consolo.

— Está tudo bem, minha menina. Lidaremos com isso juntas. — Murmurou ela, acariciando-me suavemente. — Eu sinto muito, filha.

— Isso tudo é culpa dele, daquele maldito... Como ele pôde fazer isso comigo, mamãe? — Voltei meus olhos para ela, permitindo que as lágrimas deslizassem livremente pelo meu rosto.

— Você se lembra de mais alguma coisa? — Uma voz masculina ecoou ao fundo do quarto. Só então reparei no homem de olhos castanhos claros e um sobretudo elegante. — Sabe o que a levou ao acidente?

— Senhor, já discutimos sobre os interrogatórios. Ela acabou de despertar de um coma de três semanas! — O médico interveio, desta vez mais rude e enfático. — Minha paciente precisa descansar!

— Estive dormindo por três semanas? — Minha voz saiu trêmula, enquanto eu levava a mão à boca, tampando-a em choque.

— O acidente... Você tentou usar os freios? — O homem se aproximou, insistente, ignorando completamente as palavras do médico.

— O carro... Eu estava correndo muito, precisava ir embora. Então, aquele caminhão apareceu e tudo saiu do controle. Eu girei na pista. — Minha voz falhou, e limpei as lágrimas que se acumulavam nos cantos dos olhos. Minha garganta estava seca e arranhava. Olhei para minha mãe, buscando alguma resposta em seu rosto. — Quem é você? Que tipo de perguntas são essas?

— Perdoe-me, Senhorita Fox. Sou Henry, investigador criminal, designado para o seu caso. — Ele explicou de forma casual, mas havia um peso nas suas palavras que não podia ser ignorado.

— Meu caso? Sofri um acidente, desde quando um investigador cuida disso? — Franzi o cenho, confusa, tentando entender a gravidade da situação.

— Sra. Fox, é perfeitamente normal que as condições do carro sejam avaliadas para determinar a causa do acidente. Foi descoberto que os freios do seu carro estavam suspeitosamente cortados, não rompidos. — O investigador analisava-me de cima a baixo, seus olhos atentos a qualquer reação que eu pudesse demonstrar.

Coloquei as mãos na cabeça, sentindo o peso esmagador das palavras dele. Era como se um apito intenso ecoasse dentro do meu crânio, causando uma pressão insuportável. Meu peito ardia, subindo e descendo de forma ofegante. O suor começou a escorrer por minha testa, enquanto minhas mãos, frias e úmidas, tremiam incontrolavelmente.

— Eu disse que era muito cedo, investigador! Ela acabou de despertar de um coma, precisa ir com calma! — O médico mexeu no soro em minha veia e pegou a máscara de oxigênio, tentando colocá-la em meu rosto. — Se acalme, senhorita. Respire com calma, assim.

Empurrei a máscara de oxigênio bruscamente, mantendo os olhos fixos no investigador. A incredulidade em minha voz era palpável.

— Está me dizendo que Archer Stone não apenas terminou comigo e tentou me arrastar para uma clínica, mas também provocou meu acidente e tentou me matar? — Explodi, ofegante, com um soluço no final da frase. Meus lábios tremiam incontrolavelmente. Minha mãe se aproximou e eu encostei a cabeça em seu peito, chorando intensamente. — Eu o odeio tanto! Como pude me enganar tanto com alguém?

Não havia percebido o celular ao lado da maca, quando vibrou em alerta de recebimento de uma mensagem, dele, do homem que tanto amei: “Sua vida será melhor sem mim, eu sinto muito por tê-la ferido tanto, Avy, não mereço o seu amor ou lágrimas, me odeie com todas as suas forças!”

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