POV: ARCHER
— Quais são as chances disso? — Exclamei indignado, pegando o papel que meu amigo de confiança havia me apresentado. — Tem certeza disso?
— Sim, senhor. Localizei apenas duas pessoas com a tipagem sanguínea compatível com a de sua noiva, mas somente uma é viável para a doação — respondeu ele, coçando o queixo. — E não é o idoso de 75 anos, isso posso garantir!
— Não estou com humor para suas piadas hoje, Jasper! — Joguei os papéis sobre a mesa, inclinando a cabeça para trás, sentindo a frustração se acumulando. — Só pode ser brincadeira.
— Qual o problema da jovem ser a doadora? Ela me parece saudável, além de ser extremamente linda — brincou ele, divertido. Soquei a mesa com força, provocando um tremor que percorreu seu corpo. Jasper ergueu uma sobrancelha, intrigado, inclinando-se para frente para sussurrar: — É alguma amante sua? Você a conhece?
— Ela é a mãe do meu filho! — Senti o peso de minhas palavras lembrando do pequeno altar memorial que havia criado, naquele dia, não apenas me despedir do meu filho como também, da mulher que amava, decidido a mergulhar no caos e descobrir a verdade por trás do mal que vinha acometendo a minha família.
— Meu Deus amigo... A dona do anel que você carrega sempre em seu bolso? — Jasper estava boquiaberto surpreso, apenas assenti seguindo o assunto.
— A condição de Willow piorou. Tivemos que colocá-la em coma induzido para não sobrecarregar o seu sistema. — Cocei as têmporas exausto com tantos problemas de uma vez.
— Por isso você mandou montar um quarto clínico para ela em sua mansão? — perguntou meu amigo, sutilmente preocupado. — A situação está tão ruim assim? Como sua megera... digo, sogra, tem reagido?
— Tem desempenhado bem o papel de sogra. Congelou as tratativas comerciais com a minha empresa, impedindo-nos de avançar na compra dos terrenos para iniciar a construção do investimento, o que está levando a uma queda nos lucros com o terreno parado — peguei o copo de uísque e virei-o de uma só vez, ponderando sobre a situação. — Obviamente, os investidores e acionistas não estão contentes com isso.
— Esta postura dela não quebra o contrato entre as partes? — perguntou Jasper, tombando a cabeça e me analisando minuciosamente. — Ethan...
— Sim, meu digníssimo pai fez questão de amarrar todos os pontos nas cláusulas. Ou seja, resolvo o problema de saúde de Willow ou afundo meu império. Aquele desgraçado! — Cerrei os punhos, mordendo o dedo enquanto pensava. — Me passe o endereço de onde ela está. Não comente com ninguém que encontramos a doadora. Irei pessoalmente tratar deste assunto.
— Tem certeza disso? Posso fazer isso por você, Archer, propor a sua ex-namorada a qual você pretendia se casar que seja doadora de sua atual noiva, é demais para qualquer homem lidar. Apenas me diga o que precisa constar no contrato e mandaremos um bom advogado redigir. Entramos em negociação com a senhorita — ofereceu Jasper, coçando o queixo e puxando o papel. Coloquei o dedo sobre ele, mantendo-o no lugar.
— Cuidarei disso pessoalmente — falei em um tom sério. — Reagende minhas viagens e reuniões. Já questionei o médico de minha noiva sobre o que precisam da doadora. Será incluído no contrato e partiremos daí.
— Claro. — Ele se levantou e saiu da sala, deixando-me sozinho com meus pensamentos. Puxei o papel pensativo, contornando com o dedo a pequena foto presa à ficha. Suspirei pesadamente, com uma leve curva nos lábios no final.
— Avril Fox, há quanto tempo. — murmurei, mordendo a boca por dentro.
Peguei meu carro e fui para o subúrbio de Bremerton, em Seattle. Fazia anos que não ia para aquela região, desde a época da faculdade onde fugíamos para o café de sua mãe para estudarmos, bem, para ela estudar enquanto eu roubava beijos de seus lábios macios e afundava o nariz em seu pescoço absorvendo seu doce aroma. Estacionei do outro lado da rua, abaixando um pouco o vidro para olhar para dentro da cafeteria da família Fox. Vi sua silhueta caminhando de um lado para o outro freneticamente. Esperei pacientemente até que o local estivesse vazio. Quando o sino na porta denunciou minha entrada, ela estava de costas para o balcão de atendimento, organizando o ambiente.
— Um segundo, já vou atendê-lo. Por favor, sente-se e fique à vontade... — Suas palavras morreram quando ela girou sobre os calcanhares e encontrou meus olhos. O pano em sua mão caiu ao chão. — Você!
— Há quanto tempo, Avy! — Coloquei as mãos nos bolsos, erguendo o queixo enquanto a avaliava. Avril continuava linda, com seus cabelos castanhos com luzes loiras nas pontas presos em um coque, alguns fios teimosos escapando e caindo em ondas suaves. Seus olhos azuis brilhavam intensamente. A pele clara contrastava com os lábios carnudos e avermelhados, dando um toque de sensualidade à sua aparência angelical.
— O que você faz aqui? — Ela gritou, e percebi que tremores percorriam seu corpo. Suas mãos estavam fechadas em punhos tão apertados que estavam pálidas. — Você não tem o direito de estar aqui!
— Precisamos conversar — falei calmamente.
— Não tenho nada para tratar com você! Veio até aqui terminar o que começou? — explodiu Avril, socando o balcão, ofegante.
— Não estou aqui para brigar, Avril. Vim lhe fazer uma proposta do seu interesse — disse, tentando suavizar meu tom.
Ela cruzou os braços, tentando manter uma postura firme, mas seus olhos denunciavam a raiva que ela continha para não voar em cima de mim.
— Nada que venha de você seria de meu interesse, Archer Stone, este é o meu estabelecimento e você não tem o direito de aparecer aqui depois de tanto tempo e exigir uma conversa. Não depois de tudo o que aconteceu — sua voz tremia, os olhos azuis faiscando de raiva e mágoa. — Não tenho nada a tratar com você. Vá para o inferno com a sua m*****a proposta!
— Ao menos escute o que tenho a propor... Sei que o café não anda bem financeiramente... — comecei sendo interrompido por ela, que jogou algo em meu rosto. — Sério? Grãos de café?
— Tem sorte de não ter sido o café que acabei de passar, seu babaca idiota. Você não tem o direito de me investigar ou vigiar. Não quero saber de qualquer proposta que tenha a me oferecer... Aliás... — Avril deu a volta no balcão, parando à minha frente. Sua cabeça batia na altura do meu pescoço, e ela apontava o dedo em meu peito, cutucando com força. — Nada que venha de você eu quero saber. Saia da minha cafeteria e volte para o buraco infernal de onde vocês bilionários vivem!
— Lá é bem quentinho, diferente da frieza deste lugar! — retruquei com sarcasmo dando um passo à frente quase colando nossos corpos, mantendo meus olhos fixos nos dela. — Vou reformular: você vai ouvir o que eu tenho a dizer.
— Ou o quê? — desafiou ela, sem ceder, o queixo erguido de forma provocante.
— Ou contato o banco que financiou este lugar, assumo a dívida da cafeteria da sua família! — ameacei sendo justamente o babaca que ela estava certa de que eu era, observando a perplexidade se formar em seus olhos.
— O que mais pretende arrancar de mim, Archer Stone? — murmurou Avril, com os olhos marejados. — O que mais quer de mim?
POV: AVRILFechei a cafeteira com um suspirando, mantendo as mãos na persiana enquanto tentava acalmar minha mente, meu peito queimava com a raiva intensa que carregava desde aquele dia. O dia em que disse ao meu namorado que tanto amava que estava grávida, o dia que tudo virou de cabeça para baixo, o término, o acidente levando a perca do meu bebê. Eu o amaldiçoei desde aquele dia, praguejei ao vento desejando que ele sofresse toda dor que me causou!Caminhei até a mesa onde ele estava sentado, aguardando-me em silêncio com as mãos cruzadas e o corpo relaxado no banco. Sentia seus olhos acompanhando cada movimento meu. Sentei-me à sua frente, encarando-o com o semblante fechado, desejando voar em seu pescoço! Notei sua feição séria; Archer parecia mais rígido e tenso do que da última vez que nos vimos. Seu corpo estava mais volumoso, os músculos delineados sob o terno caro. Seus cabelos castanhos claros estavam penteados com elegância, e seus olhos azuis profundos e enigmáticos não pe
POV: AVRIL— Por que está fazendo isso comigo, Archer? — segurei seu punho, apertando com a cabeça baixa pensativa. — Eu não mereço isso.— Não, realmente não merece..., mas não tenho escolhas — suspirou ele, soltando-se do meu aperto e saindo da cafeteria, deixando-me imersa em meus pensamentos diante daquela papelada ridícula. Lágrimas escorreram pelo meu rosto, lavando a raiva contida em meu peito.Fiquei em silêncio, olhando a papelada e a pasta à minha frente, sem reação. Toda a proposta era ridícula, mas aquela cláusula em específico me tirou completamente o chão. Puxei para olhar, coçando os olhos pesados e vermelhos. Aquele idiota seguiu a vida sem olhar para trás, pouco se importando com os danos que havia me causado e agora isto? Aparece sugerindo que eu me passe como sua esposa substituta e seja a doadora principal de sua noiva!— Vá para o inferno, Archer Stone, não terá nada de mim além de meu desprezo! — exclamei em meio ao silêncio rangendo os dentes furiosa. Quando ouvi
POV: ARCHERSuspirei ao ouvir a linha vazia do outro lado, olhando para o relógio. Era tarde da noite e a voz de Avril soava rouca e fria. Por que isto me incomodava? Sou o culpado por suas maiores dores, foi eu quem pedi para me odiar e dei motivos para isto.Virei o copo de uísque, sentindo o calor da bebida descer pela garganta. Ainda trabalhava naquele maldito relatório, encontrando muitas brechas nas informações internas, o que me levava a crer que ele tinha ajuda interna e que minha equipe não era tão confiável quanto eu pensava. Suspirando, fui até o guarda-roupa e peguei roupas leves, algo casual para vê-la. Com as chaves nas mãos, saí apressado.— Archer? — chamou minha sogra, saindo do quarto médico de minha noiva. — Vai sair?— Tenho assuntos para resolver — respondi secamente, continuando a caminhar rapidamente.— A essas horas? — Ela veio atrás de mim como uma sombra. — Nestas roupas?Parei e me virei para encará-la, meus olhos faiscando de impaciência.— Sra. Neandra, pel
POV: AVRIL— Por que eu assinaria este maldito contrato e salvaria sua adorável noiva? — torci o nariz ofegante, abrindo e fechando as mãos nervosa. — Ela teria sorte de se livrar de você.— Morrendo? — questionou ele, frio, sem tirar as mãos dos bolsos. Arregalei os olhos, surpresa. — Porque é o que vai acontecer se você não aceitar ser doadora dela.— E a culpa seria de quem? — gritei, dando um soco em seu peito rígido como rocha, sem que ele se movesse. — Não é uma responsabilidade minha, não vou aceitar aqueles termos, não dessa forma... Não te pedir para voltar, estou indo bem sem você.— Não, você não está. Estão afogados em dívidas! — retrucou Archer, ignorando meu segundo soco em seu peito como se não provocasse nada nele. — O dinheiro vai ajudar sua família.— Ah, então está sendo benevolente por ter sido um grande imbecil comigo? Falha minha, grande CEO Stone! — gesticulei dramaticamente, colocando a mão sobre o peito. — Muito obrigada por sua caridade financeira, mesmo após
POV: AVRILMadrugada adentro, revisava o contrato, rasurando algumas cláusulas e acrescentando as minhas próprias. A cada termo alterado, sentia uma sensação de poder crescente. Quando finalmente terminei, ergui o papel, folheando pela última vez o contrato. Suspirei e deixei escapar um leve sorriso vitorioso:— Se for para conviver com o diabo, que seja sob minhas regras! — murmurei para mim mesma. O relógio ao lado da cabeceira da cama despertou, chamando minha atenção para o novo dia. Esfreguei os olhos cansados e fui tomar um longo banho.A água quente ajudou a aliviar a tensão acumulada. Após o banho, passei maquiagem suficiente para esconder as olheiras da noite em claro. Vesti minha melhor roupa social e saltos médios, querendo estar apresentável para enfrentar o império Stone.Com uma última conferida no espelho, forcei um sorriso nos lábios sofridos que haviam sido mordidos enquanto eu revisava cada página do contrato. O batom vermelho aveludado escondia as feridas que os infl
POV: ARCHERA reunião estava no início, e levei o relatório, questionando cada déficit de informações que pessoalmente havia verificado.— Senhor Archer, este é o departamento do Sr. Jasper. Já interfonamos em sua sala para que pudesse participar da reunião — respondeu uma das acionistas do comitê.— E por que ele não foi comunicado sobre a reunião mais cedo? Meu tempo é precioso e não deve ser desperdiçado por incompetência de funcionários — esbravejei, vendo-os tremer receosos.— Eu... Senhor... Sinto muito, senhor... — gaguejou ela, nervosa.— Prossiga o adendo enquanto ele não chega — ordenei, ignorando-a e abaixando os olhos para repassar mais uma página. Quando a porta se abriu e se demorou aberta, ergui os olhos, paralisando nos dela, ali parada, me encarando com audácia.Avril estava elegantemente vestida, em um conjunto social casual que exalava sofisticação e charme. A camisa branca de tecido fino tinha alguns botões abertos, revelando sutilmente um decote em V, que realçava
POV: ARCHERAo final da reunião, reuni a papelada espalhada sobre a mesa, enquanto os acionistas e parte do comitê saíam da sala. Jasper permaneceu, com um sorriso divertido estampado em seu rosto e olhos brilhando de curiosidade.— Diga logo. — Exclamei, erguendo os olhos para ele com impaciência.— Ela é mais intensa pessoalmente do que por foto, devo confessar. Porque, de todos que conheço, ela foi a única corajosa o suficiente para jogar papéis na sua cara! — Seu sorriso se alargou ainda mais, evidenciando sua diversão. — Agora sei por que se apaixonou por ela.— Você a conduziu até aqui, sabia quem ela era, por que fez isto? — Cerrei os punhos me aproximando de Jasper ameaçadoramente, ele parecia pequeno ao meu tamanho.— Pensei que a havia convidado para vir aqui, nunca imaginei que era uma invasão. — Respondeu ele revirando os olhos. — As pessoas vão perguntar quem é ela.— Diga que é uma prima distante. — Respondi, dando de ombros enquanto me levantava para sair. Jasper correu
POV: AVRILHesitei por um momento antes de responder. O som ambiente estava movimentado e agitado dentro do hospital enquanto eu aguardava a assistente social me chamar para conversarmos.— Não é da sua conta onde estou. — Retruquei rispidamente. — Se quer falar sobre as cláusulas, pode fazer isso agora.— Prefiro discutir isso pessoalmente. — Insistiu ele, tentando manter a calma em sua voz. — Precisamos ajustar alguns pontos, e é melhor fazermos isso cara a cara.Soltei um suspiro audível antes de concordar relutantemente.— Te envio o endereço do local do próximo encontro! — Respondi bruscamente, sendo chamada para a sala, desligando na cara dele antes que pudesse refutar.Segundos depois, enviei a mensagem, determinada a fazê-lo me encarar naquele local. Queria obrigá-lo a enfrentar o que me fez passar, quer o poderoso CEO quisesse ou não.— Sra. Fox, fico feliz que tenha vindo. Por favor, sente-se. — Disse Magda, a assistente social que conhecia há um longo período e que vinha me