CAPÍTULO 04 – SUA RARIDADE

POV: ARCHER

— Quais são as chances disso? — Exclamei indignado, pegando o papel que meu amigo de confiança havia me apresentado. — Tem certeza disso?

— Sim, senhor. Localizei apenas duas pessoas com a tipagem sanguínea compatível com a de sua noiva, mas somente uma é viável para a doação — respondeu ele, coçando o queixo. — E não é o idoso de 75 anos, isso posso garantir!

— Não estou com humor para suas piadas hoje, Jasper! — Joguei os papéis sobre a mesa, inclinando a cabeça para trás, sentindo a frustração se acumulando. — Só pode ser brincadeira.

— Qual o problema da jovem ser a doadora? Ela me parece saudável, além de ser extremamente linda — brincou ele, divertido. Soquei a mesa com força, provocando um tremor que percorreu seu corpo. Jasper ergueu uma sobrancelha, intrigado, inclinando-se para frente para sussurrar: — É alguma amante sua? Você a conhece?

— Ela é a mãe do meu filho! — Senti o peso de minhas palavras lembrando do pequeno altar memorial que havia criado, naquele dia, não apenas me despedir do meu filho como também, da mulher que amava, decidido a mergulhar no caos e descobrir a verdade por trás do mal que vinha acometendo a minha família.

— Meu Deus amigo... A dona do anel que você carrega sempre em seu bolso? — Jasper estava boquiaberto surpreso, apenas assenti seguindo o assunto.

— A condição de Willow piorou. Tivemos que colocá-la em coma induzido para não sobrecarregar o seu sistema. — Cocei as têmporas exausto com tantos problemas de uma vez.

— Por isso você mandou montar um quarto clínico para ela em sua mansão? — perguntou meu amigo, sutilmente preocupado. — A situação está tão ruim assim? Como sua megera... digo, sogra, tem reagido?

— Tem desempenhado bem o papel de sogra. Congelou as tratativas comerciais com a minha empresa, impedindo-nos de avançar na compra dos terrenos para iniciar a construção do investimento, o que está levando a uma queda nos lucros com o terreno parado — peguei o copo de uísque e virei-o de uma só vez, ponderando sobre a situação. — Obviamente, os investidores e acionistas não estão contentes com isso.

— Esta postura dela não quebra o contrato entre as partes? — perguntou Jasper, tombando a cabeça e me analisando minuciosamente. — Ethan...

— Sim, meu digníssimo pai fez questão de amarrar todos os pontos nas cláusulas. Ou seja, resolvo o problema de saúde de Willow ou afundo meu império. Aquele desgraçado! — Cerrei os punhos, mordendo o dedo enquanto pensava. — Me passe o endereço de onde ela está. Não comente com ninguém que encontramos a doadora. Irei pessoalmente tratar deste assunto.

— Tem certeza disso? Posso fazer isso por você, Archer, propor a sua ex-namorada a qual você pretendia se casar que seja doadora de sua atual noiva, é demais para qualquer homem lidar. Apenas me diga o que precisa constar no contrato e mandaremos um bom advogado redigir. Entramos em negociação com a senhorita — ofereceu Jasper, coçando o queixo e puxando o papel. Coloquei o dedo sobre ele, mantendo-o no lugar.

— Cuidarei disso pessoalmente — falei em um tom sério. — Reagende minhas viagens e reuniões. Já questionei o médico de minha noiva sobre o que precisam da doadora. Será incluído no contrato e partiremos daí.

— Claro. — Ele se levantou e saiu da sala, deixando-me sozinho com meus pensamentos. Puxei o papel pensativo, contornando com o dedo a pequena foto presa à ficha. Suspirei pesadamente, com uma leve curva nos lábios no final.

— Avril Fox, há quanto tempo. — murmurei, mordendo a boca por dentro.

Peguei meu carro e fui para o subúrbio de Bremerton, em Seattle. Fazia anos que não ia para aquela região, desde a época da faculdade onde fugíamos para o café de sua mãe para estudarmos, bem, para ela estudar enquanto eu roubava beijos de seus lábios macios e afundava o nariz em seu pescoço absorvendo seu doce aroma. Estacionei do outro lado da rua, abaixando um pouco o vidro para olhar para dentro da cafeteria da família Fox. Vi sua silhueta caminhando de um lado para o outro freneticamente. Esperei pacientemente até que o local estivesse vazio. Quando o sino na porta denunciou minha entrada, ela estava de costas para o balcão de atendimento, organizando o ambiente.

— Um segundo, já vou atendê-lo. Por favor, sente-se e fique à vontade... — Suas palavras morreram quando ela girou sobre os calcanhares e encontrou meus olhos. O pano em sua mão caiu ao chão. — Você!

— Há quanto tempo, Avy! — Coloquei as mãos nos bolsos, erguendo o queixo enquanto a avaliava. Avril continuava linda, com seus cabelos castanhos com luzes loiras nas pontas presos em um coque, alguns fios teimosos escapando e caindo em ondas suaves. Seus olhos azuis brilhavam intensamente. A pele clara contrastava com os lábios carnudos e avermelhados, dando um toque de sensualidade à sua aparência angelical.

— O que você faz aqui? — Ela gritou, e percebi que tremores percorriam seu corpo. Suas mãos estavam fechadas em punhos tão apertados que estavam pálidas. — Você não tem o direito de estar aqui!

— Precisamos conversar — falei calmamente.

— Não tenho nada para tratar com você! Veio até aqui terminar o que começou? — explodiu Avril, socando o balcão, ofegante.

— Não estou aqui para brigar, Avril. Vim lhe fazer uma proposta do seu interesse — disse, tentando suavizar meu tom.

Ela cruzou os braços, tentando manter uma postura firme, mas seus olhos denunciavam a raiva que ela continha para não voar em cima de mim.

— Nada que venha de você seria de meu interesse, Archer Stone, este é o meu estabelecimento e você não tem o direito de aparecer aqui depois de tanto tempo e exigir uma conversa. Não depois de tudo o que aconteceu — sua voz tremia, os olhos azuis faiscando de raiva e mágoa. — Não tenho nada a tratar com você. Vá para o inferno com a sua m*****a proposta!

— Ao menos escute o que tenho a propor... Sei que o café não anda bem financeiramente... — comecei sendo interrompido por ela, que jogou algo em meu rosto. — Sério? Grãos de café?

— Tem sorte de não ter sido o café que acabei de passar, seu babaca idiota. Você não tem o direito de me investigar ou vigiar. Não quero saber de qualquer proposta que tenha a me oferecer... Aliás... — Avril deu a volta no balcão, parando à minha frente. Sua cabeça batia na altura do meu pescoço, e ela apontava o dedo em meu peito, cutucando com força. — Nada que venha de você eu quero saber. Saia da minha cafeteria e volte para o buraco infernal de onde vocês bilionários vivem!

— Lá é bem quentinho, diferente da frieza deste lugar! — retruquei com sarcasmo dando um passo à frente quase colando nossos corpos, mantendo meus olhos fixos nos dela. — Vou reformular: você vai ouvir o que eu tenho a dizer.

— Ou o quê? — desafiou ela, sem ceder, o queixo erguido de forma provocante.

— Ou contato o banco que financiou este lugar, assumo a dívida da cafeteria da sua família! — ameacei sendo justamente o babaca que ela estava certa de que eu era, observando a perplexidade se formar em seus olhos.

— O que mais pretende arrancar de mim, Archer Stone? — murmurou Avril, com os olhos marejados. — O que mais quer de mim?

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