POV: AVRIL
— Por que está fazendo isso comigo, Archer? — segurei seu punho, apertando com a cabeça baixa pensativa. — Eu não mereço isso.
— Não, realmente não merece..., mas não tenho escolhas — suspirou ele, soltando-se do meu aperto e saindo da cafeteria, deixando-me imersa em meus pensamentos diante daquela papelada ridícula. Lágrimas escorreram pelo meu rosto, lavando a raiva contida em meu peito.
Fiquei em silêncio, olhando a papelada e a pasta à minha frente, sem reação. Toda a proposta era ridícula, mas aquela cláusula em específico me tirou completamente o chão. Puxei para olhar, coçando os olhos pesados e vermelhos. Aquele idiota seguiu a vida sem olhar para trás, pouco se importando com os danos que havia me causado e agora isto? Aparece sugerindo que eu me passe como sua esposa substituta e seja a doadora principal de sua noiva!
— Vá para o inferno, Archer Stone, não terá nada de mim além de meu desprezo! — exclamei em meio ao silêncio rangendo os dentes furiosa. Quando ouvir barulhos na porta de entrada sendo forçada a abrir. Me assustei e aproximei lentamente, até me deparar com a cena à minha frente. — Papai.
Abri a porta rapidamente, vendo-o todo machucado e fedendo a bebida, algo que vinha se tornando comum desde o incidente com a minha mãe. Ele se perdeu, afundando em seus vícios e me sobrecarregando com as contas do hospital, tornando-se uma sombra do homem que um dia conheci.
— Pai, pelo amor de Deus, o que houve? — indaguei, ajudando-o a entrar e se sentar.
— Ah, eu tropecei por aí — respondeu ele, embriagado e gemendo ao se mover.
— De novo? Já conversamos sobre isso. — Olhei para suas feridas, correndo para pegar a caixa de curativos. Abri-a e comecei a limpar os machucados. — O senhor não pode continuar vivendo assim, pai, vai acabar se matando. Quando a mamãe voltar...
— Ela não vai voltar! — ele gritou, jogando a caixinha de primeiros socorros longe. — Você já deveria estar conformada assim como eu estou.
Suspirei, levantando-me e pegando os itens do chão. Ouvi o som de papel sendo puxado, e quando olhei, vi meu pai segurando a pasta com os documentos de Archer, tentando ler.
— O que é isto? Archer Stone? O que o nome daquele cretino está fazendo aqui? — Mesmo com os olhos pesados, ele se esforçava para ler e começou a gargalhar de forma esnobe. — Ah, então ele veio tentar comprá-la? Pelo menos está pagando bem por ter desgraçado nossas vidas.
— Não diga bobagens. Venha, vou te levar para cima. — O ajudei a se levantar. Ele parou, me olhando fixamente.
— Você está bem? — A pergunta de meu pai fez lágrimas brotarem nos meus olhos. Forcei um sorriso.
— Claro que estou, sou uma Fox! — Estufei o peito, fingindo uma coragem que eu não tinha. — Não se preocupe, não aceitarei essa proposta.
— Por que não? Ele nos tirou tudo. Arrancar alguns dólares dele me parece o mínimo. — Com esforço, consegui levá-lo até o segundo andar, acima da cafeteria onde ficava nossa casa. O joguei no sofá, tirando seus sapatos sujos, e fui à cozinha pegar água e alguns analgésicos.
— Nada que venha de Archer Stone compensa, pai. — Entreguei-lhe o copo e os medicamentos. — Agora descanse um pouco e, por favor, não se meta mais em confusões.
— Pare de se preocupar comigo. Não há sentido nesta vida! — O semblante apagado de meu pai apertou meu coração.
— E quem se preocuparia? — Sorri gentilmente, beijando sua testa e puxando a manta para cima de seu corpo. — É apenas uma fase ruim, pai. Não vou desistir do senhor, assim como não irei desistir da mamãe.
— Droga, fizemos um bom trabalho como pais. — Ele sorriu, começando a adormecer. — Me desculpe...
— Está tudo bem — murmurei, saindo da sala e voltando a mesa onde a pasta estava.
Abri o envelope e peguei o contrato. Havia um clipe anexado a um cartão com o número pessoal de Archer. Uma flor branca chamou minha atenção; era a mesma espécie rara que havia sido deixada no hospital naquele dia horrível. Mesmo três anos depois, eu ainda recebia essas flores anonimamente.
— Seria possível aquele babaca estar me enviando as flores desde aquele acidente? — sussurrei para mim mesma, balançando a cabeça em negativa logo em seguida. — Não, Archer Stone pensa única e exclusivamente nele!
Suspirei e peguei a papelada das contas da minha família. As coisas não estavam fáceis. Sem minha mãe para tocar o café, eu não podia me dedicar ao meu sonho de ser cantora. Com meu pai viciado, boa parte dos meus ganhos ia para pagar as dívidas dele e as contas médicas. No final, tudo pesava. Olhei a parte dos valores ofertados pelo CEO arrogante e não podia negar o quanto isso ajudaria a resolver boa parte dos problemas atuais.
— Mas a que preço? — Reforcei em voz alta, jogando a cabeça para trás pesadamente, olhando para o teto que precisava de uma pintura. — Mamãe, a senhora saberia o que fazer nessas horas, sempre soube.
Minha mãe sempre dizia que devemos ouvir nosso coração, mas também ser racionais. Eu estava presa entre a necessidade financeira desesperadora e o desprezo absoluto por Archer. Fechei os olhos por um momento, tentando acalmar a mente esgotada.
Voltei a abrir os olhos e encarei o contrato mais uma vez. As palavras pareciam dançar na minha frente, oferecendo uma solução temporária para meus problemas. No entanto, o custo de envolver-me novamente com Archer pesava em minha mente.
Meu celular começou a tocar. Ao olhar o identificador, senti o sangue congelar e um frio subir pela minha espinha. Com as mãos suadas, atendi apressadamente:
— Alô? — Saiu quase como um sussurro.
— Sra. Avril Fox? Aqui quem fala é do hospital. Receio não termos boas notícias... — dizia aquela voz quase robótica. As lágrimas desciam enquanto eu me mantinha estática no lugar, em silêncio. — Senhorita Fox, está me ouvindo? Como expliquei, será necessário um tratamento intensivo, e isso aumentará os custos. Precisamos que venha até o hospital para deixar o cheque, entendeu?
— Sim... Claro... — murmurei, sentindo o mundo desabar enquanto encarava o grandioso número daquela proposta. — Estarei aí dentro do prazo com os valores. Apenas forneçam o melhor conforto para ela, obrigada!
Ao desligar, minhas mãos tremiam e as pernas bambeavam. Cocei os cabelos em desespero, tampando a boca com o braço para abafar o grito que explodia da minha garganta. Joguei os papéis ao chão com ódio, a raiva me consumindo. Lentamente, o cartão pousou para cima, diretamente exibindo o número de Archer.
— Não será tão fácil assim, babaca! — resmunguei, discando o número e aguardando a chamada. No segundo toque, ouvi sua voz rouca.
— Alô?
— Precisamos conversar. Sabe onde me encontrar. Esteja lá em trinta minutos e vá sozinho. Você me deve isso, Archer Stone — interrompi a ligação na sua cara sem aguardar sua resposta. Peguei o casaco e as chaves do carro. Estava na hora de confrontar o meu passado.
POV: ARCHERSuspirei ao ouvir a linha vazia do outro lado, olhando para o relógio. Era tarde da noite e a voz de Avril soava rouca e fria. Por que isto me incomodava? Sou o culpado por suas maiores dores, foi eu quem pedi para me odiar e dei motivos para isto.Virei o copo de uísque, sentindo o calor da bebida descer pela garganta. Ainda trabalhava naquele maldito relatório, encontrando muitas brechas nas informações internas, o que me levava a crer que ele tinha ajuda interna e que minha equipe não era tão confiável quanto eu pensava. Suspirando, fui até o guarda-roupa e peguei roupas leves, algo casual para vê-la. Com as chaves nas mãos, saí apressado.— Archer? — chamou minha sogra, saindo do quarto médico de minha noiva. — Vai sair?— Tenho assuntos para resolver — respondi secamente, continuando a caminhar rapidamente.— A essas horas? — Ela veio atrás de mim como uma sombra. — Nestas roupas?Parei e me virei para encará-la, meus olhos faiscando de impaciência.— Sra. Neandra, pel
POV: AVRIL— Por que eu assinaria este maldito contrato e salvaria sua adorável noiva? — torci o nariz ofegante, abrindo e fechando as mãos nervosa. — Ela teria sorte de se livrar de você.— Morrendo? — questionou ele, frio, sem tirar as mãos dos bolsos. Arregalei os olhos, surpresa. — Porque é o que vai acontecer se você não aceitar ser doadora dela.— E a culpa seria de quem? — gritei, dando um soco em seu peito rígido como rocha, sem que ele se movesse. — Não é uma responsabilidade minha, não vou aceitar aqueles termos, não dessa forma... Não te pedir para voltar, estou indo bem sem você.— Não, você não está. Estão afogados em dívidas! — retrucou Archer, ignorando meu segundo soco em seu peito como se não provocasse nada nele. — O dinheiro vai ajudar sua família.— Ah, então está sendo benevolente por ter sido um grande imbecil comigo? Falha minha, grande CEO Stone! — gesticulei dramaticamente, colocando a mão sobre o peito. — Muito obrigada por sua caridade financeira, mesmo após
POV: AVRILMadrugada adentro, revisava o contrato, rasurando algumas cláusulas e acrescentando as minhas próprias. A cada termo alterado, sentia uma sensação de poder crescente. Quando finalmente terminei, ergui o papel, folheando pela última vez o contrato. Suspirei e deixei escapar um leve sorriso vitorioso:— Se for para conviver com o diabo, que seja sob minhas regras! — murmurei para mim mesma. O relógio ao lado da cabeceira da cama despertou, chamando minha atenção para o novo dia. Esfreguei os olhos cansados e fui tomar um longo banho.A água quente ajudou a aliviar a tensão acumulada. Após o banho, passei maquiagem suficiente para esconder as olheiras da noite em claro. Vesti minha melhor roupa social e saltos médios, querendo estar apresentável para enfrentar o império Stone.Com uma última conferida no espelho, forcei um sorriso nos lábios sofridos que haviam sido mordidos enquanto eu revisava cada página do contrato. O batom vermelho aveludado escondia as feridas que os infl
POV: ARCHERA reunião estava no início, e levei o relatório, questionando cada déficit de informações que pessoalmente havia verificado.— Senhor Archer, este é o departamento do Sr. Jasper. Já interfonamos em sua sala para que pudesse participar da reunião — respondeu uma das acionistas do comitê.— E por que ele não foi comunicado sobre a reunião mais cedo? Meu tempo é precioso e não deve ser desperdiçado por incompetência de funcionários — esbravejei, vendo-os tremer receosos.— Eu... Senhor... Sinto muito, senhor... — gaguejou ela, nervosa.— Prossiga o adendo enquanto ele não chega — ordenei, ignorando-a e abaixando os olhos para repassar mais uma página. Quando a porta se abriu e se demorou aberta, ergui os olhos, paralisando nos dela, ali parada, me encarando com audácia.Avril estava elegantemente vestida, em um conjunto social casual que exalava sofisticação e charme. A camisa branca de tecido fino tinha alguns botões abertos, revelando sutilmente um decote em V, que realçava
POV: ARCHERAo final da reunião, reuni a papelada espalhada sobre a mesa, enquanto os acionistas e parte do comitê saíam da sala. Jasper permaneceu, com um sorriso divertido estampado em seu rosto e olhos brilhando de curiosidade.— Diga logo. — Exclamei, erguendo os olhos para ele com impaciência.— Ela é mais intensa pessoalmente do que por foto, devo confessar. Porque, de todos que conheço, ela foi a única corajosa o suficiente para jogar papéis na sua cara! — Seu sorriso se alargou ainda mais, evidenciando sua diversão. — Agora sei por que se apaixonou por ela.— Você a conduziu até aqui, sabia quem ela era, por que fez isto? — Cerrei os punhos me aproximando de Jasper ameaçadoramente, ele parecia pequeno ao meu tamanho.— Pensei que a havia convidado para vir aqui, nunca imaginei que era uma invasão. — Respondeu ele revirando os olhos. — As pessoas vão perguntar quem é ela.— Diga que é uma prima distante. — Respondi, dando de ombros enquanto me levantava para sair. Jasper correu
POV: AVRILHesitei por um momento antes de responder. O som ambiente estava movimentado e agitado dentro do hospital enquanto eu aguardava a assistente social me chamar para conversarmos.— Não é da sua conta onde estou. — Retruquei rispidamente. — Se quer falar sobre as cláusulas, pode fazer isso agora.— Prefiro discutir isso pessoalmente. — Insistiu ele, tentando manter a calma em sua voz. — Precisamos ajustar alguns pontos, e é melhor fazermos isso cara a cara.Soltei um suspiro audível antes de concordar relutantemente.— Te envio o endereço do local do próximo encontro! — Respondi bruscamente, sendo chamada para a sala, desligando na cara dele antes que pudesse refutar.Segundos depois, enviei a mensagem, determinada a fazê-lo me encarar naquele local. Queria obrigá-lo a enfrentar o que me fez passar, quer o poderoso CEO quisesse ou não.— Sra. Fox, fico feliz que tenha vindo. Por favor, sente-se. — Disse Magda, a assistente social que conhecia há um longo período e que vinha me
POV: ARCHERParei o carro na lateral do acostamento, na área destinada a veículos com problemas. Desci caminhando lentamente em direção ao local onde Avril estava. Ela estava de costas, olhando fixamente para o ponto onde seu carro havia perdido o controle e descido o barranco, sendo detido por uma árvore de raízes grossas.— Estou aqui, Avril! — disse com uma voz grave e imponente. Ela se virou lentamente em minha direção, não pude deixar de notar o seu semblante triste e abatido. — Por que me fez vir até aqui?— Te traz memórias? — Provou ela, dando de ombros e torcendo as mãos nervosamente. Seus dedos entrelaçavam-se e desenlaçavam-se, mostrando sua inquietação. Meu olhar desceu sutilmente, avaliando-a de cima a baixo, captando cada detalhe de sua postura e expressão.— Analisei seus termos. Há algo mais que queira acrescentar? — arqueei uma sobrancelha, desviando o olhar para o barranco novamente. A lembrança do acidente era vívida, impossível de esquecer.— Sim, quero que dobre o
POV: AVRIL— Vamos, por aqui. — disse ele, passando por mim com a postura arrogante e séria, guiando-me pela varanda da casa até umas cadeiras de madeira dispostas ao redor de uma pequena mesa de centro feita do tronco de uma árvore. — Sente-se, eu já volto.— Mas... — resmunguei, cruzando os braços emburrada, enquanto o via desaparecer para dentro da casa. Em minutos, Archer retornou com um bule e xícaras, colocando-os sobre a mesa e servindo-se calmamente.— Você quer? — perguntou o CEO, olhando-me de canto.— Não, obrigada. Não quero correr o risco de ser envenenada! — respondi com sarcasmo, apesar de sentir um fio de verdade em minhas palavras. — Que lugar é este? Estamos sozinhos?— Era a casa de verão do meu avô. Um local isolado onde ele trazia Luka e eu para fugirmos um pouco da pressão do império. — Archer colocou o contrato sobre a mesa e empurrou-o em minha direção. — Aqui está a contraproposta.Puxei os papéis, suspirando, e olhei em volta. Uma brisa gostosa acariciou meu r