POV: AVRIL
Fechei a cafeteira com um suspirando, mantendo as mãos na persiana enquanto tentava acalmar minha mente, meu peito queimava com a raiva intensa que carregava desde aquele dia. O dia em que disse ao meu namorado que tanto amava que estava grávida, o dia que tudo virou de cabeça para baixo, o término, o acidente levando a perca do meu bebê. Eu o amaldiçoei desde aquele dia, praguejei ao vento desejando que ele sofresse toda dor que me causou!
Caminhei até a mesa onde ele estava sentado, aguardando-me em silêncio com as mãos cruzadas e o corpo relaxado no banco. Sentia seus olhos acompanhando cada movimento meu. Sentei-me à sua frente, encarando-o com o semblante fechado, desejando voar em seu pescoço! Notei sua feição séria; Archer parecia mais rígido e tenso do que da última vez que nos vimos. Seu corpo estava mais volumoso, os músculos delineados sob o terno caro. Seus cabelos castanhos claros estavam penteados com elegância, e seus olhos azuis profundos e enigmáticos não perdiam um movimento meu, transmitindo uma intensidade. O maxilar marcado complementava seu perfil de CEO arrogante. Archer possuía uma postura poderosa e dominante, reflexo de sua posição de liderança no império. Ou, como gostava de pensar, o perfil do próprio diabo!
— Terminou de contemplar? — indagou ele em um tom levemente divertido.
— Não seja estúpido. Estou me perguntando o que o poderoso CEO do império Stone faz em meu humilde café depois de tudo? — Esbocei um sorriso forçado, revirando os olhos com desdém em sua direção.
— Não revire os olhos para mim, Avy! — Ressoou Archer com a voz rouca e autoritária com os olhos semicerrados.
— Não me chame de Avy! — Fechei os punhos franzido o cenho e mostrando o dedo para ele. — E reviro os olhos quantas vezes eu quiser, tem sorte de ainda poder estar sentado confortável aí e não saindo a base da vassourada.
— Deve estar sendo uma tortura se controlar. — Dando de ombros, ele olhou em volta de forma relaxada. — Aqui continuar igual, sempre gostei deste lugar.
— O que você quer aqui? Não basta o que você e sua família me fez? — O cortei ríspida e direta.
— Você não respondeu minhas mensagens, não me deixou... — ele começou a dizer, mas ergui a mão, silenciando-o.
— O que você quer? — Cruzei os braços, mantendo uma expressão desafiadora. Um sorriso brincou em seus lábios.
— Vejo que sua personalidade também continua a mesma — disse Archer, olhando para a porta trancada. Ele caminhou até ela, abriu-a, e um homem entrou, entregando-lhe uma pasta antes de sair, nos deixando a sós novamente.
— E você me parece o mesmo babaca idiota com quem tive o desprazer de me envolver — repliquei, franzindo a boca e inclinando o queixo em direção às suas mãos. — O que é isso?
— Na época, você não pensava assim — provocou Stone, voltando a sentar-se à minha frente e empurrando o contrato em minha direção. — Como disse, Avril, tenho uma proposta para você.
Puxei os papéis, lendo o título atípico, e franzi ainda mais o cenho, confusa.
— Contrato de doadora do Sangue Dourado? — murmurei, intrigada, virando a página e lendo o início do contrato. — Você só pode estar de brincadeira, é sério? Onde estão as câmeras?
— Não sou conhecido pelo meu humor — respondeu ele com desdém, ereto em uma postura rígida. — Por favor, continue lendo.
Olhei para o contrato, incrédula, e então de volta para Archer. A seriedade em seus olhos era inegável. Continuei a leitura, cada linha revelando a profundidade da situação e o quão desesperado ele estava.
— Espera, deixei-me ver se eu entendi bem... Você aparece aqui após anos, depois de nosso término conturbado para dizer o mínimo, propondo que eu seja uma doadora para salvar essa tal de Willow? Quem é ela? — perguntei torcendo o nariz com uma careta confusa sem o fitar.
— Minha noiva! — respondeu ele. Ergui os olhos em choque com a revelação.
— Sua noiva? — Exclamei alto impactada. Archer apenas assentiu, avaliando-me em silêncio.
Baixei os olhos para percorrer o restante das cláusulas absurdas daquele documento:
Cláusula 1.º: Tornar-se doadora de sangue, medula óssea e órgãos regenerativos para a Sra. Willow Collen, sempre que necessário, sem recusar.
Cláusula 2.º: Manter-se saudável com uma dieta rigorosa estabelecida pela equipe médica responsável pelo caso.
Cláusula 3.º: Realizar check-ups frequentes conforme necessidade estipulada pelos médicos do caso ou exigências do Sr. Archer Stone.
— Você só pode ter enlouquecido com esta proposta ridícula, além de vir me procurar. —ponderei enquanto lia o restante dos parágrafos, passando pelos termos de confidencialidade e cláusulas uma mais absurda que a outra. — Aqui diz que além de doadora, teria que me passar por sua noiva em público durante sua recuperação, como substituta...
Explodir em gargalhadas com seu nível de cara de pau e audácia, Archer continuou sério sem ceder a compostura.
— Qual a graça? — Indagou ele friamente.
— Qual graça não seria? Anos atrás planejávamos nosso casamento, nos preparamos para o nosso noivado e hoje você aparece aqui todo engravatado e sério, com um contrato ridículo desses. — Sequei os cantos dos olhos que haviam marejado pelas risadas. — Ah, carma é realmente uma merda, não é?
Suspirando, ele se inclinou para frente apontando para ponta do contrato.
— Vá para a página de valores, Avril. Cobrirei todos os seus custos, além de pagar uma remuneração pelas suas doações e prestações de serviços — disse ele, com frieza, seu olhar vazio era um choque.
— Você está me pagando para ser o seu fantoche e o de sua noiva, é isso? — gritei, sentindo a raiva pulsar em minhas veias quando parei na pior cláusula de todas. — Você só pode ter enlouquecido para me propor algo tão absurdo, sem um pingo de consideração pelo que já tivemos...
Archer permaneceu em silêncio por um momento, seu olhar fixo no meu, sem demonstrar nenhuma emoção.
— Avril, sei que isso parece insensível, mas é a única forma que encontrei para salvar a vida da minha noiva. Não te procuraria se... — disse ele, interrompendo a frase quando ergui o documento em sua direção, mostrando a cláusula.
— Sr. Stone? — Chamei sua atenção com a voz calma, levantando-me lentamente, rasgando o contrato na sua frente e jogando os pedaços em seu rosto. — Você se tornou um homem pior que o seu pai, quero que você se dane e enfie a sua proposta onde o sol não b**e!
Archer permaneceu em silêncio por um momento, os pedaços de papel caindo lentamente ao seu redor. Seus olhos azuis estavam intensos enquanto puxava uma pasta ao seu lado. Ele estendeu a papelada do banco, revelando vários débitos no nome da minha família, incluindo os problemas de meu pai com jogos e dívidas exorbitantes. Mordi os lábios por dentro, tentando conter o nó que se formava na minha garganta.
— Onde conseguiu tudo isto? — indaguei em um sussurro.
— Sou um babaca idiota com muito poder, Avril Fox. Recomendo que leia a cópia do contrato que está dentro desta pasta, leve um tempo para considerar o acordo e então entrarei em contato — respondeu Archer, levantando-se e ajeitando a gravata. Ao passar ao meu lado, ele parou. — Apesar de tudo, fico feliz em ver que esteja bem.
POV: AVRIL— Por que está fazendo isso comigo, Archer? — segurei seu punho, apertando com a cabeça baixa pensativa. — Eu não mereço isso.— Não, realmente não merece..., mas não tenho escolhas — suspirou ele, soltando-se do meu aperto e saindo da cafeteria, deixando-me imersa em meus pensamentos diante daquela papelada ridícula. Lágrimas escorreram pelo meu rosto, lavando a raiva contida em meu peito.Fiquei em silêncio, olhando a papelada e a pasta à minha frente, sem reação. Toda a proposta era ridícula, mas aquela cláusula em específico me tirou completamente o chão. Puxei para olhar, coçando os olhos pesados e vermelhos. Aquele idiota seguiu a vida sem olhar para trás, pouco se importando com os danos que havia me causado e agora isto? Aparece sugerindo que eu me passe como sua esposa substituta e seja a doadora principal de sua noiva!— Vá para o inferno, Archer Stone, não terá nada de mim além de meu desprezo! — exclamei em meio ao silêncio rangendo os dentes furiosa. Quando ouvi
POV: ARCHERSuspirei ao ouvir a linha vazia do outro lado, olhando para o relógio. Era tarde da noite e a voz de Avril soava rouca e fria. Por que isto me incomodava? Sou o culpado por suas maiores dores, foi eu quem pedi para me odiar e dei motivos para isto.Virei o copo de uísque, sentindo o calor da bebida descer pela garganta. Ainda trabalhava naquele maldito relatório, encontrando muitas brechas nas informações internas, o que me levava a crer que ele tinha ajuda interna e que minha equipe não era tão confiável quanto eu pensava. Suspirando, fui até o guarda-roupa e peguei roupas leves, algo casual para vê-la. Com as chaves nas mãos, saí apressado.— Archer? — chamou minha sogra, saindo do quarto médico de minha noiva. — Vai sair?— Tenho assuntos para resolver — respondi secamente, continuando a caminhar rapidamente.— A essas horas? — Ela veio atrás de mim como uma sombra. — Nestas roupas?Parei e me virei para encará-la, meus olhos faiscando de impaciência.— Sra. Neandra, pel
POV: AVRIL— Por que eu assinaria este maldito contrato e salvaria sua adorável noiva? — torci o nariz ofegante, abrindo e fechando as mãos nervosa. — Ela teria sorte de se livrar de você.— Morrendo? — questionou ele, frio, sem tirar as mãos dos bolsos. Arregalei os olhos, surpresa. — Porque é o que vai acontecer se você não aceitar ser doadora dela.— E a culpa seria de quem? — gritei, dando um soco em seu peito rígido como rocha, sem que ele se movesse. — Não é uma responsabilidade minha, não vou aceitar aqueles termos, não dessa forma... Não te pedir para voltar, estou indo bem sem você.— Não, você não está. Estão afogados em dívidas! — retrucou Archer, ignorando meu segundo soco em seu peito como se não provocasse nada nele. — O dinheiro vai ajudar sua família.— Ah, então está sendo benevolente por ter sido um grande imbecil comigo? Falha minha, grande CEO Stone! — gesticulei dramaticamente, colocando a mão sobre o peito. — Muito obrigada por sua caridade financeira, mesmo após
POV: AVRILMadrugada adentro, revisava o contrato, rasurando algumas cláusulas e acrescentando as minhas próprias. A cada termo alterado, sentia uma sensação de poder crescente. Quando finalmente terminei, ergui o papel, folheando pela última vez o contrato. Suspirei e deixei escapar um leve sorriso vitorioso:— Se for para conviver com o diabo, que seja sob minhas regras! — murmurei para mim mesma. O relógio ao lado da cabeceira da cama despertou, chamando minha atenção para o novo dia. Esfreguei os olhos cansados e fui tomar um longo banho.A água quente ajudou a aliviar a tensão acumulada. Após o banho, passei maquiagem suficiente para esconder as olheiras da noite em claro. Vesti minha melhor roupa social e saltos médios, querendo estar apresentável para enfrentar o império Stone.Com uma última conferida no espelho, forcei um sorriso nos lábios sofridos que haviam sido mordidos enquanto eu revisava cada página do contrato. O batom vermelho aveludado escondia as feridas que os infl
POV: ARCHERA reunião estava no início, e levei o relatório, questionando cada déficit de informações que pessoalmente havia verificado.— Senhor Archer, este é o departamento do Sr. Jasper. Já interfonamos em sua sala para que pudesse participar da reunião — respondeu uma das acionistas do comitê.— E por que ele não foi comunicado sobre a reunião mais cedo? Meu tempo é precioso e não deve ser desperdiçado por incompetência de funcionários — esbravejei, vendo-os tremer receosos.— Eu... Senhor... Sinto muito, senhor... — gaguejou ela, nervosa.— Prossiga o adendo enquanto ele não chega — ordenei, ignorando-a e abaixando os olhos para repassar mais uma página. Quando a porta se abriu e se demorou aberta, ergui os olhos, paralisando nos dela, ali parada, me encarando com audácia.Avril estava elegantemente vestida, em um conjunto social casual que exalava sofisticação e charme. A camisa branca de tecido fino tinha alguns botões abertos, revelando sutilmente um decote em V, que realçava
POV: ARCHERAo final da reunião, reuni a papelada espalhada sobre a mesa, enquanto os acionistas e parte do comitê saíam da sala. Jasper permaneceu, com um sorriso divertido estampado em seu rosto e olhos brilhando de curiosidade.— Diga logo. — Exclamei, erguendo os olhos para ele com impaciência.— Ela é mais intensa pessoalmente do que por foto, devo confessar. Porque, de todos que conheço, ela foi a única corajosa o suficiente para jogar papéis na sua cara! — Seu sorriso se alargou ainda mais, evidenciando sua diversão. — Agora sei por que se apaixonou por ela.— Você a conduziu até aqui, sabia quem ela era, por que fez isto? — Cerrei os punhos me aproximando de Jasper ameaçadoramente, ele parecia pequeno ao meu tamanho.— Pensei que a havia convidado para vir aqui, nunca imaginei que era uma invasão. — Respondeu ele revirando os olhos. — As pessoas vão perguntar quem é ela.— Diga que é uma prima distante. — Respondi, dando de ombros enquanto me levantava para sair. Jasper correu
POV: AVRILHesitei por um momento antes de responder. O som ambiente estava movimentado e agitado dentro do hospital enquanto eu aguardava a assistente social me chamar para conversarmos.— Não é da sua conta onde estou. — Retruquei rispidamente. — Se quer falar sobre as cláusulas, pode fazer isso agora.— Prefiro discutir isso pessoalmente. — Insistiu ele, tentando manter a calma em sua voz. — Precisamos ajustar alguns pontos, e é melhor fazermos isso cara a cara.Soltei um suspiro audível antes de concordar relutantemente.— Te envio o endereço do local do próximo encontro! — Respondi bruscamente, sendo chamada para a sala, desligando na cara dele antes que pudesse refutar.Segundos depois, enviei a mensagem, determinada a fazê-lo me encarar naquele local. Queria obrigá-lo a enfrentar o que me fez passar, quer o poderoso CEO quisesse ou não.— Sra. Fox, fico feliz que tenha vindo. Por favor, sente-se. — Disse Magda, a assistente social que conhecia há um longo período e que vinha me
POV: ARCHERParei o carro na lateral do acostamento, na área destinada a veículos com problemas. Desci caminhando lentamente em direção ao local onde Avril estava. Ela estava de costas, olhando fixamente para o ponto onde seu carro havia perdido o controle e descido o barranco, sendo detido por uma árvore de raízes grossas.— Estou aqui, Avril! — disse com uma voz grave e imponente. Ela se virou lentamente em minha direção, não pude deixar de notar o seu semblante triste e abatido. — Por que me fez vir até aqui?— Te traz memórias? — Provou ela, dando de ombros e torcendo as mãos nervosamente. Seus dedos entrelaçavam-se e desenlaçavam-se, mostrando sua inquietação. Meu olhar desceu sutilmente, avaliando-a de cima a baixo, captando cada detalhe de sua postura e expressão.— Analisei seus termos. Há algo mais que queira acrescentar? — arqueei uma sobrancelha, desviando o olhar para o barranco novamente. A lembrança do acidente era vívida, impossível de esquecer.— Sim, quero que dobre o