POV: ARCHER
Suspirei ao ouvir a linha vazia do outro lado, olhando para o relógio. Era tarde da noite e a voz de Avril soava rouca e fria. Por que isto me incomodava? Sou o culpado por suas maiores dores, foi eu quem pedi para me odiar e dei motivos para isto.
Virei o copo de uísque, sentindo o calor da bebida descer pela garganta. Ainda trabalhava naquele maldito relatório, encontrando muitas brechas nas informações internas, o que me levava a crer que ele tinha ajuda interna e que minha equipe não era tão confiável quanto eu pensava. Suspirando, fui até o guarda-roupa e peguei roupas leves, algo casual para vê-la. Com as chaves nas mãos, saí apressado.
— Archer? — chamou minha sogra, saindo do quarto médico de minha noiva. — Vai sair?
— Tenho assuntos para resolver — respondi secamente, continuando a caminhar rapidamente.
— A essas horas? — Ela veio atrás de mim como uma sombra. — Nestas roupas?
Parei e me virei para encará-la, meus olhos faiscando de impaciência.
— Sra. Neandra, pelo que me lembro, não lhe devo satisfações sobre minha vida. Você está aqui como convidada por causa das condições de sua filha. Aconselho que retorne ao quarto e pare de ser um incômodo! — soltei, deixando-a boquiaberta. Saí da mansão, dirigindo minha Ferrari em direção ao deque.
A noite estava escura e as luzes da cidade passavam rapidamente enquanto eu acelerava pelas ruas quase desertas. Estacionei e vi o carro dela parado próximo. Caminhei pela areia lentamente, com as mãos nos bolsos, atravessando a ponte que ligava ao deque onde as ondas batiam levemente. Era uma visão linda de se ver naquela temporada, com o mar bioluminescente, onde qualquer movimento das ondas vibrava com cores sobre a água. Ao fundo, vi sua silhueta frente ao mar, mergulhada em seus pensamentos. Hesitei nos passos, parando para admirá-la. O lugar trazia boas lembranças de quando fugíamos no meio da madrugada para bebermos juntos como dois irresponsáveis, brincar com a deliciosa água do mar e falarmos sobre tudo, mesmo sem precisar dizer nada.
Ao final de cada encontro, eu acendia uma fogueira enquanto ela brincava com os pés na água, chutando os respingos em minha direção. Eu a puxava para os meus braços, trazendo-a mais para perto, e me deliciava com seu cheiro, sendo guiado por sua voz melodiosa enquanto ela compunha canções ao relento para nós, cantando com a leveza que somente Avril Fox tinha.
— Avy? — chamei ao perceber que ela não havia notado minha aproximação, perdida em seus próprios pensamentos.
O que me levou a cogitar: Estaria ela relembrando o nosso passado?
— Fico surpresa que ainda lembre deste lugar — respondeu Avril, sem me encarar. — Achei que havia esquecido, ignorado como o que fez comigo!
Abaixei o olhar pensativo, aproximando-me e parando ao seu lado, sem a olhar, seguindo seu olhar para o horizonte.
— Sabe que minha memória sempre foi boa — ponderei as palavras, esperando suas reações. — Está uma noite linda.
Avril permaneceu em silêncio por alguns momentos, permitindo que o som das ondas quebrando na praia preenchesse o espaço entre nós. Seus olhos fixos no mar pareciam refletir a bioluminescência, brilhando com uma intensidade quase mágica.
— Aqui era meu lugar favorito, o silêncio, apenas o som das ondas, a pureza do ar... — ela continuou, como se falasse mais para si mesma. — Incrível como a pessoa errada pode destruir tudo o que se ama!
— Avril... — virei para olhá-la. Quando encontrei seus olhos azuis brilhantes, rodeados de um vermelho inchado, vi seus lábios trêmulos presos em um aperto de sua mordida, tentando contê-los.
Instintivamente, estendi a mão para tocar seu queixo, desfazendo o nó de sua boca com uma leve carícia. Ela recuou bruscamente virando o rosto se afastando.
— Avril... Eu... — murmurei, mas fui interrompido por seu olhar profundo.
— Não houve uma explicação. — Disse ela ajustando o casaco sobre o corpo. — Por que fez aquilo comigo?
Mantive o silêncio, tombando a cabeça para o lado, analisando suas reações. Suspirando pesadamente, ela virou o rosto caminhando de um lado para o outro.
— Nenhuma explicação, um motivo? — gritou, passando o dorso das mãos trêmulas pelos cabelos que flutuavam com a brisa vinda do mar. — Não mereço nenhuma palavra depois de tudo? Uma razão?
— Nada do que eu disser irá mudar o que aconteceu — mantive o tom firme e baixo.
Avril parou, os olhos arregalados em choque. Seus passos se tornaram mais firmes enquanto avançava em minha direção, o dedo apontado para o meu peito, cutucando com força.
— Tem razão, Sr. Stone, nada que disser irá mudar o que houve, porém, quero que me olhe nos olhos e diga o que te motivou a fazer o que fez? Me responda, ao menos se deu o trabalho de saber se eu estava viva? — Apertando mais o dedo em meu peito, ela fechou as mãos em punhos. — Responda!
Senti o peso das suas palavras e a intensidade de ódio por mim. Seus olhos brilhavam, apesar de sua postura tensa, um relance de mágoa transpareceu sutilmente.
— O que espera que eu lhe diga, Avril? — indaguei, sem me mover.
— Meu Deus... — Ela se afastou, colocando a mão na cabeça e passando os dedos freneticamente entre os fios. — Não se dará ao trabalho de me dar uma desculpa? Qual o problema Archer, isto não vale o seu precioso tempo?
— Por que estou aqui, Avril? — Dei um passo à frente, obrigando-a a recuar dois passos. — Por que me ligou, pretende aceitar a proposta?
— Quero que me dê um bom motivo para aceitar esta proposta estúpida e não me diga que é porque eu preciso. Francamente, você está tão na merda quanto eu! — Cerrando os punhos, ela voltou a se aproximar, ficando cara a cara comigo.
— Tem razão. — Suspirei, e antes que pudesse reagir, ela deferiu um tapa em minha face. Ergui os olhos com a expressão incrédula, toquei o local marcado. — Não vim aqui por isso. Tome uma decisão sábia e me ligue quando estiver equilibrada.
Virei as costas, pronto para sair, quando ela gritou:
— Você me deve isso! — berrou Avril lembrando-me. Parei, voltando a ficar de frente para ela. — Eu tenho o direito de ser desequilibrada aqui e agora. Eu tenho o direito de te odiar, de gritar com você, de desejar que você morra... Eu tenho o direito por todos esses anos em que me detestei por tê-lo conhecido.
— Tem razão, Avril Fox, não vou me opor a isso. Desconte sua raiva em mim! — Nossos olhares se encontraram, e dei alguns passos mais próximos, minha presença intensa. — Me bata se é o que deseja, grite comigo, me xingue. Faça o que precisa fazer para se livrar do seu ódio por mim e depois...
— E depois? — Seu tom saiu feroz, curvei meus lábios ligeiramente em um sorriso deprimente.
— Depois, conversamos sobre o contrato — completei sério, meu olhar fixo no dela. — Se você ainda tiver outras opções.
POV: AVRIL— Por que eu assinaria este maldito contrato e salvaria sua adorável noiva? — torci o nariz ofegante, abrindo e fechando as mãos nervosa. — Ela teria sorte de se livrar de você.— Morrendo? — questionou ele, frio, sem tirar as mãos dos bolsos. Arregalei os olhos, surpresa. — Porque é o que vai acontecer se você não aceitar ser doadora dela.— E a culpa seria de quem? — gritei, dando um soco em seu peito rígido como rocha, sem que ele se movesse. — Não é uma responsabilidade minha, não vou aceitar aqueles termos, não dessa forma... Não te pedir para voltar, estou indo bem sem você.— Não, você não está. Estão afogados em dívidas! — retrucou Archer, ignorando meu segundo soco em seu peito como se não provocasse nada nele. — O dinheiro vai ajudar sua família.— Ah, então está sendo benevolente por ter sido um grande imbecil comigo? Falha minha, grande CEO Stone! — gesticulei dramaticamente, colocando a mão sobre o peito. — Muito obrigada por sua caridade financeira, mesmo após
POV: AVRILMadrugada adentro, revisava o contrato, rasurando algumas cláusulas e acrescentando as minhas próprias. A cada termo alterado, sentia uma sensação de poder crescente. Quando finalmente terminei, ergui o papel, folheando pela última vez o contrato. Suspirei e deixei escapar um leve sorriso vitorioso:— Se for para conviver com o diabo, que seja sob minhas regras! — murmurei para mim mesma. O relógio ao lado da cabeceira da cama despertou, chamando minha atenção para o novo dia. Esfreguei os olhos cansados e fui tomar um longo banho.A água quente ajudou a aliviar a tensão acumulada. Após o banho, passei maquiagem suficiente para esconder as olheiras da noite em claro. Vesti minha melhor roupa social e saltos médios, querendo estar apresentável para enfrentar o império Stone.Com uma última conferida no espelho, forcei um sorriso nos lábios sofridos que haviam sido mordidos enquanto eu revisava cada página do contrato. O batom vermelho aveludado escondia as feridas que os infl
POV: ARCHERA reunião estava no início, e levei o relatório, questionando cada déficit de informações que pessoalmente havia verificado.— Senhor Archer, este é o departamento do Sr. Jasper. Já interfonamos em sua sala para que pudesse participar da reunião — respondeu uma das acionistas do comitê.— E por que ele não foi comunicado sobre a reunião mais cedo? Meu tempo é precioso e não deve ser desperdiçado por incompetência de funcionários — esbravejei, vendo-os tremer receosos.— Eu... Senhor... Sinto muito, senhor... — gaguejou ela, nervosa.— Prossiga o adendo enquanto ele não chega — ordenei, ignorando-a e abaixando os olhos para repassar mais uma página. Quando a porta se abriu e se demorou aberta, ergui os olhos, paralisando nos dela, ali parada, me encarando com audácia.Avril estava elegantemente vestida, em um conjunto social casual que exalava sofisticação e charme. A camisa branca de tecido fino tinha alguns botões abertos, revelando sutilmente um decote em V, que realçava
POV: ARCHERAo final da reunião, reuni a papelada espalhada sobre a mesa, enquanto os acionistas e parte do comitê saíam da sala. Jasper permaneceu, com um sorriso divertido estampado em seu rosto e olhos brilhando de curiosidade.— Diga logo. — Exclamei, erguendo os olhos para ele com impaciência.— Ela é mais intensa pessoalmente do que por foto, devo confessar. Porque, de todos que conheço, ela foi a única corajosa o suficiente para jogar papéis na sua cara! — Seu sorriso se alargou ainda mais, evidenciando sua diversão. — Agora sei por que se apaixonou por ela.— Você a conduziu até aqui, sabia quem ela era, por que fez isto? — Cerrei os punhos me aproximando de Jasper ameaçadoramente, ele parecia pequeno ao meu tamanho.— Pensei que a havia convidado para vir aqui, nunca imaginei que era uma invasão. — Respondeu ele revirando os olhos. — As pessoas vão perguntar quem é ela.— Diga que é uma prima distante. — Respondi, dando de ombros enquanto me levantava para sair. Jasper correu
POV: AVRILHesitei por um momento antes de responder. O som ambiente estava movimentado e agitado dentro do hospital enquanto eu aguardava a assistente social me chamar para conversarmos.— Não é da sua conta onde estou. — Retruquei rispidamente. — Se quer falar sobre as cláusulas, pode fazer isso agora.— Prefiro discutir isso pessoalmente. — Insistiu ele, tentando manter a calma em sua voz. — Precisamos ajustar alguns pontos, e é melhor fazermos isso cara a cara.Soltei um suspiro audível antes de concordar relutantemente.— Te envio o endereço do local do próximo encontro! — Respondi bruscamente, sendo chamada para a sala, desligando na cara dele antes que pudesse refutar.Segundos depois, enviei a mensagem, determinada a fazê-lo me encarar naquele local. Queria obrigá-lo a enfrentar o que me fez passar, quer o poderoso CEO quisesse ou não.— Sra. Fox, fico feliz que tenha vindo. Por favor, sente-se. — Disse Magda, a assistente social que conhecia há um longo período e que vinha me
POV: ARCHERParei o carro na lateral do acostamento, na área destinada a veículos com problemas. Desci caminhando lentamente em direção ao local onde Avril estava. Ela estava de costas, olhando fixamente para o ponto onde seu carro havia perdido o controle e descido o barranco, sendo detido por uma árvore de raízes grossas.— Estou aqui, Avril! — disse com uma voz grave e imponente. Ela se virou lentamente em minha direção, não pude deixar de notar o seu semblante triste e abatido. — Por que me fez vir até aqui?— Te traz memórias? — Provou ela, dando de ombros e torcendo as mãos nervosamente. Seus dedos entrelaçavam-se e desenlaçavam-se, mostrando sua inquietação. Meu olhar desceu sutilmente, avaliando-a de cima a baixo, captando cada detalhe de sua postura e expressão.— Analisei seus termos. Há algo mais que queira acrescentar? — arqueei uma sobrancelha, desviando o olhar para o barranco novamente. A lembrança do acidente era vívida, impossível de esquecer.— Sim, quero que dobre o
POV: AVRIL— Vamos, por aqui. — disse ele, passando por mim com a postura arrogante e séria, guiando-me pela varanda da casa até umas cadeiras de madeira dispostas ao redor de uma pequena mesa de centro feita do tronco de uma árvore. — Sente-se, eu já volto.— Mas... — resmunguei, cruzando os braços emburrada, enquanto o via desaparecer para dentro da casa. Em minutos, Archer retornou com um bule e xícaras, colocando-os sobre a mesa e servindo-se calmamente.— Você quer? — perguntou o CEO, olhando-me de canto.— Não, obrigada. Não quero correr o risco de ser envenenada! — respondi com sarcasmo, apesar de sentir um fio de verdade em minhas palavras. — Que lugar é este? Estamos sozinhos?— Era a casa de verão do meu avô. Um local isolado onde ele trazia Luka e eu para fugirmos um pouco da pressão do império. — Archer colocou o contrato sobre a mesa e empurrou-o em minha direção. — Aqui está a contraproposta.Puxei os papéis, suspirando, e olhei em volta. Uma brisa gostosa acariciou meu r
POV: AVRIL— Isto é inaceitável, Archer! Você não pode estar falando sério. Já estou doando tudo o que precisam! — Passei as mãos freneticamente pelos cabelos, agitada. — Não vou envolver um inocente nesta transação.— Avril, é necessário. O bebê poderá salvar de vez a vida de Willow. Usarão as células-tronco do cordão umbilical dele. Com a tipagem sanguínea rara, ela terá mais chances de recuperação. — refutou Archer, caminhando de um lado para o outro. Não havíamos percebido o tempo passar, e agora já estava escuro. Estávamos na varanda, em um debate caloroso sobre cláusula por cláusula. — Eu sei que isso soa doloroso. — continuou ele.— Não, isso soa absurdo! — gritei, batendo na mesa e se levantando de repente, apontando o dedo para ele. — Tem ideia do que está me pedindo? Acha mesmo que eu entregaria um filho meu a você?— O filho não será seu, Avril. Você apenas será uma barriga de aluguel! — gritou ele de volta, socando a coluna da varanda. — O óvulo será de Willow e o esperma..