Dominique estava sentado em sua poltrona, como de costume, fumando o seu charuto favorito. Seu rosto ainda tinha hematomas do dia em que tudo aconteceu, e depois do fatídico momento, ele se sentia como um tolo. Seu ego ferido fez com que sua personalidade se tornasse dez vezes pior, descontando em todos os funcionários a sua frustração por ser traído e abandonado pelos próprios filhos, que por sorte, não queriam uma retaliação.
Apesar de ser o sucessor, Damiano não queria esse posto por vontade própria. Seu desejo em assumir era única e exclusivamente para se manter longe dos pedidos de seu pai, que tinham o terrível poder de fazer com que ele se sentisse a pior pessoa do mundo.
Agora, ele ansiava pelo mom
Damiano saiu da casa rapidamente, dirigindo como se fosse a última coisa que precisava fazer na sua vida.Ele nunca dirigiu tão rápido assim, e sentia que quanto mais o tempo passava, mais ele precisava chegar ao seu destino.Logo, a adrenalina diminuiu, e ele se manteve mais tranquilo enquanto segurava o volante com toda a firmeza.Era o fim. O fim de um ciclo que durou uma eternidade, onde ele serviu apenas como um fantoche sem qualquer utilidade maior do que cumprir as ordens de seu pai.Ele não se sentiu mal. Não havia tristeza, mágoa, nada.Somente alívio.Alívio em pensar que tudo estava encerrado, e que agora ele e sua irmã poderiam viver em paz, do jeito que mereciam desde que eram crianças.Ter a vida que sempre imaginavam.De todas as formas, essa realidade ainda parecia muito distante quando imaginada.
Sem imaginar o terror que acontecia na casa onde passou sua infância, Victoria estava sentada no banco da praça onde costumava ir acompanhada de seus pais quando criança.Já que seu voo decolou um pouco mais cedo, ela decidiu aproveitar um pouco do clima agradável antes de ir até a casa onde seus pais moravam.A falta de pressa não era sem explicação, já que chegando de surpresa em Luca, uma pequena cidade na Itália, Victoria sabia que a essa hora seus pais ainda estariam na fábrica de tecidos onde trabalhavam.Com calma, ela percorreu pelas ruas onde cresceu, sentindo as memórias a visitarem de forma vívida mesmo após tanto tempo. Apenas quando suas pernas se cansaram, ela decidiu ir até a casa de seus pais para descansar das longas horas em que passou apertada no assento do avião.Tudo parecia normal. Os vizinhos continuavam silenciosos, e as flores do jardim em frente a casa onde cresceu continuavam bonitas e aparentes, exibindo o extremo cuidado que seu pai tinha com as suas preci
Antes O cheiro de formol, as paredes exageradamente brancas, e a luz forte iluminando o local, pareciam a fórmula perfeita para causar uma baita dor de cabeça em qualquer um que estivesse presente. Os alunos assistiam atentos enquanto a professora de anatomia retirava o fígado do cadáver em decomposição, deitado na mesa fria de metal, exposto como se fosse uma mercadoria. Ainda que a experiência servisse para fins educativos, era difícil não imaginar que esse corpo era uma pessoa. Que tinha sonhos, objetivos e até uma família.As reflexões profundas de Victoria a fizeram perder completamente a concentração, tornando difícil a tarefa de prestar atenção na aula extremamente importante. A maioria dos alunos tinha um olhar vago, prestando atenção em qualquer ação que acontecia através da janela que dava para o campus. Porém, Victoria não poderia se dar a esse luxo.Como bolsista em uma universidade de renome, é necessário se esforçar pelo menos três vezes mais do que a maioria. E, sincer
Sempre que aceitava sair de casa, Victoria se arrependia momentos após chegar no local. Dessa vez não foi diferente. Olhando rapidamente ao redor, era possível ver mais de dez infrações cometidas em um curto espaço de tempo.Por sorte, Liz era filha de uma das maiores contribuintes em doações da universidade.Ela tinha pele negra, tranças vermelhas que iam até sua cintura, roupa preta de tecido semelhante a couro, a tornando a atração da festa. E não seria por menos, Liz estava estonteante.Victoria tentava conter suas risadas ao ouvir por diversas vezes Marina afirmar que tinha certeza de sua heterossexualidade, até conhecer a anfitriã da festa.Clara, por outro lado, estava distraída beijando algum desconhecido que estava parado ao lado das bebidas. Não podia perder tempo, queria aproveitar a noite da melhor forma possível.Aproveitar é um termo muito particular de cada pessoa. Para Clara, era beijar o máximo de bocas possível. Já para Marina, era aproveitar o tempo de maneira agrad
DepoisO cérebro tem o poder de desenvolver modos de defesa quando estamos em alguma situação de perigo ou medo extremo. No caso de Victoria, envolvia ambos.Primeiro, ficou em negação. Acreditava que tudo não passava de um mal-entendido que logo seria resolvido. Porém, após 3 dias, suas esperanças estavam se esgotando.Sua sensação, se for algo que puder ser descrito, era como estar um pesadelo vivido. Em toda sua vida, nunca imaginou passar por algo do tipo. Ficou a todo momento trancada em um quarto sem luz, comida ou qualquer tipo de coisa básica necessária para qualquer ser humano viver.Além do medo de sofrer algum tipo de violência, que por sorte não ocorreu, estava aterrorizada com a possibilidade de seus pais estarem mortos, já que os homens que a sequestraram não pareciam dispostos a negociar.No primeiro dia, tinha forças para gritar e se debater contra a porta, porém, sua força foi diminuindo ao mesmo tempo que sua energia se esgotava pouco a pouco. Quando finalmente acred
Tentando ser sutil, a loira sondou Victoria da melhor forma que pôde. O que foi frustrante para ela, considerando que a Victoria não sabia de nada relevante. Mesmo assim, a ruiva explicou tudo pacientemente, com esperança de conseguir encontrar seus pais novamente. Porém, ao ouvir sobre a fábrica de tecidos, Catarina exibiu um olhar que parecia revelar que sabia algo a mais.Antes que pudesse perguntar sobre, Victoria ouviu batidas na porta, e seu coração acelerou novamente. Em um momento de desespero, se encostou no canto da cama, receosa de a levarem novamente.Catarina se levantou, e ao abrir a porta, a ruiva viu que era um dos homens que a sequestrou.Victoria gritou, implorando para que não deixasse ele levá-la. Porém, Catarina sabia que suas ordens não eram acatadas. Infelizmente, seu pai dava voz apenas ao seu irmão.— Ele quer falar com ela, senhora. — o homem disse brevemente.— Certo. Vou levá-la, só me deixa arrumar algo para ela vestir — Catarina respondeu, fechando a por
Três dias. Fazia absolutamente três dias que Victoria estava trancada em um mesmo quarto. Durante esse tempo, todos os dias uma mulher entrava, colocava uma bandeja sobre a mesa que ficava próximo à cama e saía sem dizer palavra alguma. Não importa o quanto a ruiva gritasse implorando por qualquer tipo de ajuda, nenhum único som era emitido pela funcionária, que sequer olhava em sua direção. Certamente, já deveria estar acostumada com situações desse tipo. Havia livros espalhados por todo o chão do quarto. Victoria os escolhia aleatoriamente, lia algumas páginas e se cansava em seguida. Por fim, exausta e com tédio, se rendeu a uma das obras, a lendo por completo. Em três dias, já teria lido cerca de três ou quatro livros em um curto espaço de tempo. Porém, tinha plena consciência de que não havia absorvido conteúdo algum das grandes obras literárias. Era difícil se concentrar quando sua mente está em um estado de alerta constante, que te prepara para ser trancafiada em um quarto e
Durante a tarde, Victoria ouviu novamente uma movimentação diferente na casa. Olhando pela brecha da porta, conseguiu ver mesas e objetos de decoração sendo carregados pelos capangas de Dominique. As pontas soltas das conversas que escutava através da porta não eram o suficiente, precisava estar no meio daquelas pessoas. Conviver com eles, e entender todo o esquema que envolve essa família. Como tudo indicava que seria feita uma recepção na casa, Victoria pensou que seria a oportunidade perfeita para descobrir o máximo de informação que pudesse. Arrumaria um jeito de entrar em contato com essas pessoas, de uma maneira ou de outra. Olhando através da janela que dava em direção a uma parte do jardim, conseguiu ver carros chegando com grandes objetos de decoração, flores e bebidas. Ali, ela percebeu que não seria uma simples recepção, seria uma grande festa de família. Ansiosa, tentou bolar em sua cabeça um plano que a levasse até o local, e sem pudor algum, Victoria saiu de seu quarto