— Você é nova aqui, anjo? — O homem misterioso perguntou, passando para a frente de Victoria, olhando com curiosidade. Sua aparência não era nada agradável, assim como um sorriso malicioso que pareceu se formar em seu rosto assim que seus olhos pousaram sobre a jovem.— Quem é você? — ela retrucou sem filtrar suas palavras — Quer dizer, ainda não o conheci. Como se chama?Não poderia desperdiçar suas chances, qualquer pessoa ali poderia dar alguma pista sobre seus pais.— Me chamo Alfredo. É um prazer, bela. — ele se curvou para beijar sua mão, e a barba áspera roçando em sua pele a causou um incômodo desconhecido.— Igualmente. Me chamo Victoria, e sim, sou nova por aqui. — ela respondeu, antes de notar que Damiano se aproximava de ambos.— Alfredo, quanto tempo! Vi que já conheceu a Victoria. — o moreno passou seu braço através da cintura de Victoria, a puxando para perto.Ela ficou confusa, porém, receosa demais para agir. Seu braço a apertava firmemente, quase dolorosa, contornand
Depois da festa, a angústia que se instalou era notável. Dia após dia, Victoria ficou em seu quarto, esperando ser levada para algum lugar onde definitivamente não iria querer estar.Analisou todos os cantos do cômodo, ponderando encontrar algum objeto que servisse como arma.Conforme os dias foram passando, estranhou tudo estar tão calmo, já que eles parecem trabalhar em muitos projetos paralelos — para não dizer criminosos.Olhava pelo jardim todos os dias, vendo as flores colhidas em sua época favorita do ano: a primavera. Umas flores eram recolhidas, outras descartadas por estarem com algum defeito ou traças. Outras ainda nasciam. Victoria achou curioso o fato de que ao mesmo tempo que algumas vidas estavam sendo geradas, outras estavam sendo fincadas ou descartadas. E era como ela se sentia, como se fosse um objeto prestes a ser descartado.Tinha consciência de que estava viva por ter alguma utilidade para os Mazinni, porém, temia qual fosse essa qualidade ainda desconhecida.E p
Ao se soltar da estrutura que a segurava, a mantendo segura, Victoria espremeu seus olhos em uma expressão de agonia, torcendo para ser rápido. Não queria sentir dor, ou pior, permanecer viva e machucada aos cuidados de seja lá quem se colocasse à disposição naquela casa.A sensação foi de quase voo, se não fosse por algo que a segurou firmemente, tão firme que chegou a deslocar seu pulso.A próxima coisa que ela sentiu, após ter sido tirada de seu transe, impedindo o quase fim da sua vida, foi a barba cerrada de Damiano roçar em seu rosto, a segurando em seu colo, impedindo que terminasse a ação que tomou impulsivamente.Ele não entenderia, como poderia entender? Ele gritava, mas Victoria estava com seus sentidos tão perturbados, que ouvia tudo abafadamente, como se estivesse em uma caixa que a impedia de escutar todos os sons emitidos de forma clara e audível. Após deitá-la, ele sentou na ponta da cama, e aguardou até que seus sentidos se recuperassem completamente.Não demorou mui
Quando era apenas uma criança, o pai de Victoria permitiu que ela retirasse a flor mais bela do jardim, a soltando de sua raiz. Ansiosa, ela a cortou delicadamente com a ajuda de seu pai, que pediu para que ela observasse a flor durante os próximos dias.E assim fez, observou a linda rosa-branca em um pequeno vaso de água limpa, durante mais ou menos duas semanas.Nos últimos dias, ela se entristeceu ao perceber que a flor murchava cada vez mais, se tornando escura e ficando seca ao longo dos dias. Mesmo sendo bem cuidada, a flor morreu pouco tempo depois.Ao perceber, ela correu até seu pai, irritada e com lágrimas em seus olhos, esbravejando.Ele se aproximou calmamente, a abraçando, e tentou entender sua indignação.— O que houve, meu bem? — Ele se ajoelhou em sua frente, acariciando levemente suas bochechas úmidas pelas lágrimas que rolavam.— A flor morreu, papai — Ela disse, mostrando para ele as pétalas secas em sua mão. — Por que me disse para tirar ela do jardim? Agora ela es
Damiano e Victoria ficaram no restaurante por mais tempo do que imaginavam. Depois do episódio inusitado, a ruiva foi invadida por uma tensão que custou a se retirar. Completamente abalada pelas sensações que se instalaram, ela permaneceu em silêncio por um longo tempo. Todas as suas convicções, morais e ética, passaram a ser questionadas por si mesma, juntamente de sua sanidade mental, essa qual ela questionava desde o sequestro. Após um tempo, tudo se torna confuso, e é difícil separar a realidade das fantasias que surgem como forma de escape em sua mente. Mas nesse momento, pareceu real, real demais. Estar em um lugar fora daquele quarto agonizante, em um belo hotel, usando boas roupas e estando bem arrumada, tudo pareceu estar como era antes, e talvez, fosse o que ela precisava para despertar novamente as sensações que um dia já foram familiares. Apesar de confusa, foi bom se sentir assim novamente. Depois de um longo tempo, ela se sentiu viva. Percebeu que não se lembrava ma
Victoria acordou um tanto desorientada. Os efeitos sobre seu corpo refletiam certamente os excessos do álcool ingerido durante o jantar na noite passada.Sua cabeça estava pesada, sentia uma dor atrás de seus olhos que era repuxada até sua nuca. Ela passeou a mão sobre sua nunca dolorida, tentando abrir levemente os seus olhos, que pareciam pesados como sacos de areia. Todas as suas memórias da noite anterior parecem borradas em sua mente, e por um momento, custou a se lembrar onde estava. Encarou de maneira confusa as paredes bege e altas, com o teto iluminado por um lindo lustre, as janelas com persianas em tons pastéis e o carpete vermelho intenso como sangue. E conforme as informações foram sendo absorvidas por sua memória desorientada, ela se lembrou pouco a pouco de flashes que surgiam aleatoriamente.A memória mais intensa de que conseguia se recordar, era a sensação de calor súbito a invadindo de maneira repentina, como se um fogo fosse aceso em seu interior, se alastrando por
O dia anterior se arrastou tal qual um filme com 5 horas de duração. Um daqueles longos e monótonos, com poucos diálogos e uma filmagem estática em preto e branco.O clima era tranquilo, nada hostil ou agressivo, mas incômodo de certa forma. Damiano e Victoria trocaram poucas palavras um com o outro durante o dia que se passou, dizendo apenas o necessário para conseguirem conviver em paz. Nenhum dos dois comentou sobre o envolvimento que quase aconteceu, ou sobre os sentimentos que os atordoaram durante aquela noite.Nenhuma única palavra sequer.Permaneceram em silêncio — um silêncio embaraçoso e grosseiro — que decidiram manter até se tornar insuportável para ambos. E estavam resistentes até o momento.Victoria permaneceu atenta, embora suas tentativas de escutar as ligações do mais velho fossem fracassadas até o momento. Só conseguiu captar informações soltas como: está tudo bem, ela está sob controle.Sob controle. As palavras poderiam definir exatamente como ela se sentia no últi
Sentada em uma mesa, Victoria encarava as janelas de madeira e o chão quadriculado da cafeteria que Damiano a levou. As paredes eram brancas e simples, havia um grande menu sobre a parede desenhado à mão, com opções o suficiente para deixar qualquer um confuso.As prateleiras sobre o balcão tinham muffins de diversos sabores, junto de cupcakes lindamente decorados. Embaixo, estavam os donuts e fatias de torta, que pareciam deliciosamente apetitosos.O atendente rechonchudo com um grande bigode em seu rosto não economizou nos olhares para a ruiva, que o encarou de forma nada simpática após notar seus olhares sobre ela. Porém, seus olhares cessaram ao ver Damiano se aproximar, deixando claro que o seu pedido era para a sua companheira, que por coincidência, era a mesma que o olhava furiosamente.Notando que estavam juntos, o homem recuou, envergonhado. Infelizmente, alguns homens só deixam de ser inconvenientes quando há outro homem para repreendê-los.Damiano voltou para a mesa onde Vi