Quando era apenas uma criança, o pai de Victoria permitiu que ela retirasse a flor mais bela do jardim, a soltando de sua raiz. Ansiosa, ela a cortou delicadamente com a ajuda de seu pai, que pediu para que ela observasse a flor durante os próximos dias.E assim fez, observou a linda rosa-branca em um pequeno vaso de água limpa, durante mais ou menos duas semanas.Nos últimos dias, ela se entristeceu ao perceber que a flor murchava cada vez mais, se tornando escura e ficando seca ao longo dos dias. Mesmo sendo bem cuidada, a flor morreu pouco tempo depois.Ao perceber, ela correu até seu pai, irritada e com lágrimas em seus olhos, esbravejando.Ele se aproximou calmamente, a abraçando, e tentou entender sua indignação.— O que houve, meu bem? — Ele se ajoelhou em sua frente, acariciando levemente suas bochechas úmidas pelas lágrimas que rolavam.— A flor morreu, papai — Ela disse, mostrando para ele as pétalas secas em sua mão. — Por que me disse para tirar ela do jardim? Agora ela es
Damiano e Victoria ficaram no restaurante por mais tempo do que imaginavam. Depois do episódio inusitado, a ruiva foi invadida por uma tensão que custou a se retirar. Completamente abalada pelas sensações que se instalaram, ela permaneceu em silêncio por um longo tempo. Todas as suas convicções, morais e ética, passaram a ser questionadas por si mesma, juntamente de sua sanidade mental, essa qual ela questionava desde o sequestro. Após um tempo, tudo se torna confuso, e é difícil separar a realidade das fantasias que surgem como forma de escape em sua mente. Mas nesse momento, pareceu real, real demais. Estar em um lugar fora daquele quarto agonizante, em um belo hotel, usando boas roupas e estando bem arrumada, tudo pareceu estar como era antes, e talvez, fosse o que ela precisava para despertar novamente as sensações que um dia já foram familiares. Apesar de confusa, foi bom se sentir assim novamente. Depois de um longo tempo, ela se sentiu viva. Percebeu que não se lembrava ma
Victoria acordou um tanto desorientada. Os efeitos sobre seu corpo refletiam certamente os excessos do álcool ingerido durante o jantar na noite passada.Sua cabeça estava pesada, sentia uma dor atrás de seus olhos que era repuxada até sua nuca. Ela passeou a mão sobre sua nunca dolorida, tentando abrir levemente os seus olhos, que pareciam pesados como sacos de areia. Todas as suas memórias da noite anterior parecem borradas em sua mente, e por um momento, custou a se lembrar onde estava. Encarou de maneira confusa as paredes bege e altas, com o teto iluminado por um lindo lustre, as janelas com persianas em tons pastéis e o carpete vermelho intenso como sangue. E conforme as informações foram sendo absorvidas por sua memória desorientada, ela se lembrou pouco a pouco de flashes que surgiam aleatoriamente.A memória mais intensa de que conseguia se recordar, era a sensação de calor súbito a invadindo de maneira repentina, como se um fogo fosse aceso em seu interior, se alastrando por
O dia anterior se arrastou tal qual um filme com 5 horas de duração. Um daqueles longos e monótonos, com poucos diálogos e uma filmagem estática em preto e branco.O clima era tranquilo, nada hostil ou agressivo, mas incômodo de certa forma. Damiano e Victoria trocaram poucas palavras um com o outro durante o dia que se passou, dizendo apenas o necessário para conseguirem conviver em paz. Nenhum dos dois comentou sobre o envolvimento que quase aconteceu, ou sobre os sentimentos que os atordoaram durante aquela noite.Nenhuma única palavra sequer.Permaneceram em silêncio — um silêncio embaraçoso e grosseiro — que decidiram manter até se tornar insuportável para ambos. E estavam resistentes até o momento.Victoria permaneceu atenta, embora suas tentativas de escutar as ligações do mais velho fossem fracassadas até o momento. Só conseguiu captar informações soltas como: está tudo bem, ela está sob controle.Sob controle. As palavras poderiam definir exatamente como ela se sentia no últi
Sentada em uma mesa, Victoria encarava as janelas de madeira e o chão quadriculado da cafeteria que Damiano a levou. As paredes eram brancas e simples, havia um grande menu sobre a parede desenhado à mão, com opções o suficiente para deixar qualquer um confuso.As prateleiras sobre o balcão tinham muffins de diversos sabores, junto de cupcakes lindamente decorados. Embaixo, estavam os donuts e fatias de torta, que pareciam deliciosamente apetitosos.O atendente rechonchudo com um grande bigode em seu rosto não economizou nos olhares para a ruiva, que o encarou de forma nada simpática após notar seus olhares sobre ela. Porém, seus olhares cessaram ao ver Damiano se aproximar, deixando claro que o seu pedido era para a sua companheira, que por coincidência, era a mesma que o olhava furiosamente.Notando que estavam juntos, o homem recuou, envergonhado. Infelizmente, alguns homens só deixam de ser inconvenientes quando há outro homem para repreendê-los.Damiano voltou para a mesa onde Vi
Logo após falarem com Marina, Damiano e Victoria voltaram para finalizar o processo que deixava a matrícula da ruiva trancada por um tempo determinado. A secretária entregou alguns documentos para ela assinar, e enquanto estava ocupada tentando rubricar todas as páginas infinitas, reparou como a garota estava sendo simpática — até demais — com Damiano.Victoria não soube dizer se sua irritação se dava por estar trancando sua faculdade, ou pela audácia da morena ao se jogar em cima de um cara que obviamente estava acompanhado. Ela não sabia que eles não eram um casal de verdade, e esse era mais um dos motivos pelo qual ela deveria ter um pouco mais de cautela antes de ser tão oferecida.Ela finalizou as assinaturas rapidamente, e se aproximou do mais velho, que sorriu simpático para a de cabelos cacheados.Pelo visto, Damiano só era gentil com pessoas que não conhecia, e isso a deixava furiosa.— Pronto. Aqui estão todos. — Ela jogou os papéis sobre a bancada de forma rude, e o sorriso
Marina e Victoria se arrumaram ignorando completamente o frio estarrecedor que fazia do lado de fora do dormitório, focando somente em estarem preparadas para a festa que aconteceria.Marina podia dizer que tinha isso como objetivo, já Victoria, não poderia mentir para si mesma ao dizer que não estava se arrumando especialmente para Damiano. Com uma calça preta extremamente colada e com rasgos em toda sua perna, uma blusa preta bem decotada e uma bota de salto para completar o look. Para não congelar, pegou uma jaqueta de couro emprestada de Marina.Por sorte, grande parte de suas roupas havia ficado no campus, então pode se arrumar sem mais problemas.Não podia se dizer que ela estava animada ao ser obrigada a participar de mais uma festa da universidade, afinal, nunca foi seu programa favorito. Mas dessa vez, esperava tirar algum proveito da tortura coletiva da qual estava sendo obrigada a participar. Mesmo assim, se preocupa com o comportamento de Damiano em uma festa universitária
Marina insistia em uma tentativa falha de conversar com Damiano e Victoria, mas a música estrondosamente alta não facilitava o processo.Após alguns minutos, a ruiva se lembrou de todos os motivos que a faziam odiar festas. Pessoas bêbadas são extremamente irritantes. Clara, visivelmente amargurada pela rejeição, não tirava os olhos de Damiano. Ele parecia desinteressado, na verdade, Victoria sentiu que aquele também não era dos seus programas favoritos para se divertir.Pensou sobre o que ele gostaria de fazer em seu tempo livre, quais livros gostava de ler e que tipo de pinturas fazia ao estar inspirado. Infelizmente, não era o tipo de pensamento que desejava ter, já que todos os seus esforços para se livrar deles foram mal sucedidos durante a noite interminável.Por fim, se aproximou do mais velho, chegando próximo de seu ouvido para que ele a escutasse.— Espero que esteja se divertindo, senhor Mazzini. — Ela brincou, assistindo um sorriso malicioso surgir no canto de sua boca.—