A festa, antes entediante, se tornou surpreendentemente divertida para Victoria. Não sabia se deveria agradecer ao álcool ou a Damiano que insistiu para que ela fosse para a pista de dança, mas desde que dançou a primeira música, não conseguiu mais sair.Seu corpo já estava suado, seus cabelos levemente úmidos e sua pele quente pelo calor fervoroso que fazia no meio da multidão igualmente animada. Marina já estava mais bêbada do que deveria em apenas algumas horas de festa, porém, ainda conseguia se manter de pé, sem causar danos. Ao contrário de Clara, que continuava se insinuando repetidamente para o mais velho, que ignorava na maioria das vezes.Ele não conseguia focar em outra pessoa, Victoria tinha sua completa devoção naquela noite. Seu olhar profundo não tinha outro destino, e ele odiava isso.Odiava se sentir preso à ideia de querer que ela pertencesse a ele, porque ela não pertencia, e nem deveria. Certas vezes, sentia falta dos dias em que Victoria somente o olhava com despr
As consequências para atos imprevisíveis podem ser nomeadas de muitas formas.Acontecimentos como o dessa noite podem ter diversas comparações, como, por exemplo, o cano removido de uma granada prestes a explodir; a eletricidade de uma luz acesa ao não notar que existe um vazamento de gás ou um pavio curto e recém-aceso de uma dinamite prestes a explodir.Todos podem ser resumidos a uma única frase: ação e reação.E foi exatamente o que causou a fúria inevitável e completamente entendível de Victoria, que correu desesperadamente ignorando o risco de cair dos infinitos degraus que a levaram até o segundo andar.A ação — premeditada — de Damiano, que alcançou perfeitamente o ponto frágil onde poderia atingi-la de forma mais intensa.E a reação de Victoria, completamente irracional, era movida pelo álcool em excesso que ingeriu, junto dos ciúmes que a consumia por dentro, como um vírus que toma conta de todo o sistema imunológico, o deteriorando pouco a pouco.Seu estômago queimava, se r
O sistema nervoso simpático é o responsável pelas alterações no corpo humano quando ocorrem situações de estresse ou perigo. Com isso, temos o que se estuda na psicologia como reações de luta ou fuga, necessárias para o corpo entrar em alerta, e assim, o cérebro libere a adrenalina. Em situações de medo, as pupilas se dilatam, a pele se torna pálida e o corpo passa a suar excessivamente. Os músculos se tornam rígidos e os batimentos cardíacos aumentam consideravelmente. No instante em que Victoria se sentiu paralisada pelo medo ao ver o homem em sua direção apertar o passo, ela automaticamente se lembrou da aula onde aprendeu todas essas informações. E em um estalo, ela decidiu agir rápido, e passou a correr na direção contrária a do dormitório. Mesmo sem olhar, ela sabia que ele corria atrás dela, e o desespero a fez pensar em maneiras que ela conseguiria fugir da situação desesperadora. Não tinha celular ou qualquer aparelho onde pudesse chamar por ajuda. Se gritasse, poderia moti
Uma vez que um ciclo se forma, é difícil rompê-lo de forma definitiva. É algo que tende a continuar e se repetir por um longo tempo, até que uma atitude drástica consiga interromper sua continuidade, formando outra realidade.Ao chegarem no hotel, Victoria se sentiu dessa maneira. Presa em um ciclo interminável, onde todo o seu esforço para conseguir algum tipo de informação era insuficiente. Se via novamente na estaca zero, e suas frustrações aniquilaram suas esperanças que se mantiveram firmes por tanto tempo.A última vez que sua fé inabalável foi interrompida, foi no momento em que quase tirou sua vida na mansão dos Mazzini. Felizmente, foi impedida por Damiano.Ou infelizmente, dependendo do quão desesperançosa estivesse de sair dessa situação com vida.Victoria pensou que seria melhor ter morrido ao se jogar da sacada, do que servir de cobaia para seja lá qual tipo de perversidade aquele homem deseje tentar com ela. Não seria uma morte tão impactante, poderia até soar poético.C
Diferente dos dias anteriores, o dia amanheceu limpo, com o sol brilhando ao seu centro, rodeado por nuvens brancas e claras que o contornam como uma bela moldura no céu azul.Damiano e Victoria foram para um hotel discreto, que mais parecia uma casa de veraneio luxuosa. Por fora, as paredes são acinzentadas com tijolos compondo sua estrutura, junto de grandes pilastras em frente a porta de madeira e um telhado triangular.Após uma longa noite de insônia, Victoria estava sentada sobre a cama com as pernas cruzadas, encarando a linda luz do sol que entrava pela janela, tornando a cor de seus cabelos acobreadas ainda mais intensa. A parte do quarto onde estava era pequena, porém o suficiente, já que acreditavam que ficariam apenas mais um ou dois dias. Pelo menos é o que Victoria esperava, não sabia o que iriam decidir e qual seria o seu destino.Todos os dias, vivia como se esperasse que fosse o último. Não por vontade ou desejo de que sua vida chegasse ao fim, e sim porque simplesment
Victoria se levantou para fechar as cortinas amarelas após Damiano reclamar que a claridade fazia seus olhos doerem. Antes de fechar as janelas completamente, ela observou as famílias aproveitando enquanto caminhavam no campo onde fica o hotel. Uma em especial, com um casal e sua filha que aparentava ter uns cinco anos. Era um lindo dia de domingo, perfeito para um programa como esse.Porém, para a ruiva, sua programação estava resumida a cuidar de Damiano, mesmo contra sua vontade, já que ele ardia em febre. Ele não estava completamente consciente, e somente vez ou outra tinha lapsos de lucidez onde conseguia se comunicar de forma clara.As únicas vezes em que conseguiu se comunicar com Victoria, pediu um copo de água, um remédio para dor, e se desculpou. Não especificou exatamente os motivos, mas não era necessário. Seu comportamento desde que chegaram nesse novo lugar demonstrou todo o remorso que sentia, e o desespero em agradar Victoria através de suas ações deixou claro que não
Durante a vida, é comum se deparar com situações extremamente familiares; como o cheiro de um perfume que costumava a usar, tocar uma música antiga que seus avós escutavam pelas manhãs, ou até mesmo o cheiro de bolo recém-assado que se espalha por toda a casa.São sensações que estão no nosso subconsciente, mas ainda assim, perdidas no meio de muitas outras memórias que não são acessadas com frequência. De qualquer forma, qualquer uma dessas emoções que despertam uma sensação familiar, são sentidas de maneira reconfortante, como um abraço direto na alma.Diferente de sensações novas, completamente inexploradas, que causam um frio que ultrapassa a barriga, congelando a espinha.Sentimentos novos tendem a ser empolgantes, mas são igualmente assustadores. O medo do desconhecido está acoplado em nós de maneira inconsciente, e permitir que esses sentimentos sejam explorados, se assemelha a experiência de colocar a mão em uma caixa completamente fechada, onde não se sabe o conteúdo que tem
Existem noites intermináveis, horas que se tornam infinitas, e conversas longas que despertam um sentimento reconfortante de que tudo ficará bem.Momentos que dão um pico de alegria momentânea, e uma sensação esperançosa de que a vida vale a pena ser vivida da maneira mais intensa possível. Memórias eternizadas em nossa mente, que dificilmente serão apagadas pelo tempo. Aquele tipo de lembrança especial, que surge em momentos que precisamos de um carinho na alma.De maneira inimaginável, Victoria e Damiano viveram juntos uma dessas noites. Mesmo após discussões, desentendimentos fúteis e um começo tortuoso. Da tragédia, nasceu algo difícil de ser contido, quase impossível de ser controlado. Inevitável.Toda a raiva e angústia ainda estava lá de alguma forma. Não é simples se livrar de tais sentimentos que permanecem enraizados por tanto tempo. Mas, de alguma forma, estavam sendo equilibrados junto de todos os sentimentos positivos e novos vindos do laço que se formava entre eles dia a