Sentada em uma mesa, Victoria encarava as janelas de madeira e o chão quadriculado da cafeteria que Damiano a levou. As paredes eram brancas e simples, havia um grande menu sobre a parede desenhado à mão, com opções o suficiente para deixar qualquer um confuso.As prateleiras sobre o balcão tinham muffins de diversos sabores, junto de cupcakes lindamente decorados. Embaixo, estavam os donuts e fatias de torta, que pareciam deliciosamente apetitosos.O atendente rechonchudo com um grande bigode em seu rosto não economizou nos olhares para a ruiva, que o encarou de forma nada simpática após notar seus olhares sobre ela. Porém, seus olhares cessaram ao ver Damiano se aproximar, deixando claro que o seu pedido era para a sua companheira, que por coincidência, era a mesma que o olhava furiosamente.Notando que estavam juntos, o homem recuou, envergonhado. Infelizmente, alguns homens só deixam de ser inconvenientes quando há outro homem para repreendê-los.Damiano voltou para a mesa onde Vi
Logo após falarem com Marina, Damiano e Victoria voltaram para finalizar o processo que deixava a matrícula da ruiva trancada por um tempo determinado. A secretária entregou alguns documentos para ela assinar, e enquanto estava ocupada tentando rubricar todas as páginas infinitas, reparou como a garota estava sendo simpática — até demais — com Damiano.Victoria não soube dizer se sua irritação se dava por estar trancando sua faculdade, ou pela audácia da morena ao se jogar em cima de um cara que obviamente estava acompanhado. Ela não sabia que eles não eram um casal de verdade, e esse era mais um dos motivos pelo qual ela deveria ter um pouco mais de cautela antes de ser tão oferecida.Ela finalizou as assinaturas rapidamente, e se aproximou do mais velho, que sorriu simpático para a de cabelos cacheados.Pelo visto, Damiano só era gentil com pessoas que não conhecia, e isso a deixava furiosa.— Pronto. Aqui estão todos. — Ela jogou os papéis sobre a bancada de forma rude, e o sorriso
Marina e Victoria se arrumaram ignorando completamente o frio estarrecedor que fazia do lado de fora do dormitório, focando somente em estarem preparadas para a festa que aconteceria.Marina podia dizer que tinha isso como objetivo, já Victoria, não poderia mentir para si mesma ao dizer que não estava se arrumando especialmente para Damiano. Com uma calça preta extremamente colada e com rasgos em toda sua perna, uma blusa preta bem decotada e uma bota de salto para completar o look. Para não congelar, pegou uma jaqueta de couro emprestada de Marina.Por sorte, grande parte de suas roupas havia ficado no campus, então pode se arrumar sem mais problemas.Não podia se dizer que ela estava animada ao ser obrigada a participar de mais uma festa da universidade, afinal, nunca foi seu programa favorito. Mas dessa vez, esperava tirar algum proveito da tortura coletiva da qual estava sendo obrigada a participar. Mesmo assim, se preocupa com o comportamento de Damiano em uma festa universitária
Marina insistia em uma tentativa falha de conversar com Damiano e Victoria, mas a música estrondosamente alta não facilitava o processo.Após alguns minutos, a ruiva se lembrou de todos os motivos que a faziam odiar festas. Pessoas bêbadas são extremamente irritantes. Clara, visivelmente amargurada pela rejeição, não tirava os olhos de Damiano. Ele parecia desinteressado, na verdade, Victoria sentiu que aquele também não era dos seus programas favoritos para se divertir.Pensou sobre o que ele gostaria de fazer em seu tempo livre, quais livros gostava de ler e que tipo de pinturas fazia ao estar inspirado. Infelizmente, não era o tipo de pensamento que desejava ter, já que todos os seus esforços para se livrar deles foram mal sucedidos durante a noite interminável.Por fim, se aproximou do mais velho, chegando próximo de seu ouvido para que ele a escutasse.— Espero que esteja se divertindo, senhor Mazzini. — Ela brincou, assistindo um sorriso malicioso surgir no canto de sua boca.—
A festa, antes entediante, se tornou surpreendentemente divertida para Victoria. Não sabia se deveria agradecer ao álcool ou a Damiano que insistiu para que ela fosse para a pista de dança, mas desde que dançou a primeira música, não conseguiu mais sair.Seu corpo já estava suado, seus cabelos levemente úmidos e sua pele quente pelo calor fervoroso que fazia no meio da multidão igualmente animada. Marina já estava mais bêbada do que deveria em apenas algumas horas de festa, porém, ainda conseguia se manter de pé, sem causar danos. Ao contrário de Clara, que continuava se insinuando repetidamente para o mais velho, que ignorava na maioria das vezes.Ele não conseguia focar em outra pessoa, Victoria tinha sua completa devoção naquela noite. Seu olhar profundo não tinha outro destino, e ele odiava isso.Odiava se sentir preso à ideia de querer que ela pertencesse a ele, porque ela não pertencia, e nem deveria. Certas vezes, sentia falta dos dias em que Victoria somente o olhava com despr
As consequências para atos imprevisíveis podem ser nomeadas de muitas formas.Acontecimentos como o dessa noite podem ter diversas comparações, como, por exemplo, o cano removido de uma granada prestes a explodir; a eletricidade de uma luz acesa ao não notar que existe um vazamento de gás ou um pavio curto e recém-aceso de uma dinamite prestes a explodir.Todos podem ser resumidos a uma única frase: ação e reação.E foi exatamente o que causou a fúria inevitável e completamente entendível de Victoria, que correu desesperadamente ignorando o risco de cair dos infinitos degraus que a levaram até o segundo andar.A ação — premeditada — de Damiano, que alcançou perfeitamente o ponto frágil onde poderia atingi-la de forma mais intensa.E a reação de Victoria, completamente irracional, era movida pelo álcool em excesso que ingeriu, junto dos ciúmes que a consumia por dentro, como um vírus que toma conta de todo o sistema imunológico, o deteriorando pouco a pouco.Seu estômago queimava, se r
O sistema nervoso simpático é o responsável pelas alterações no corpo humano quando ocorrem situações de estresse ou perigo. Com isso, temos o que se estuda na psicologia como reações de luta ou fuga, necessárias para o corpo entrar em alerta, e assim, o cérebro libere a adrenalina. Em situações de medo, as pupilas se dilatam, a pele se torna pálida e o corpo passa a suar excessivamente. Os músculos se tornam rígidos e os batimentos cardíacos aumentam consideravelmente. No instante em que Victoria se sentiu paralisada pelo medo ao ver o homem em sua direção apertar o passo, ela automaticamente se lembrou da aula onde aprendeu todas essas informações. E em um estalo, ela decidiu agir rápido, e passou a correr na direção contrária a do dormitório. Mesmo sem olhar, ela sabia que ele corria atrás dela, e o desespero a fez pensar em maneiras que ela conseguiria fugir da situação desesperadora. Não tinha celular ou qualquer aparelho onde pudesse chamar por ajuda. Se gritasse, poderia moti
Uma vez que um ciclo se forma, é difícil rompê-lo de forma definitiva. É algo que tende a continuar e se repetir por um longo tempo, até que uma atitude drástica consiga interromper sua continuidade, formando outra realidade.Ao chegarem no hotel, Victoria se sentiu dessa maneira. Presa em um ciclo interminável, onde todo o seu esforço para conseguir algum tipo de informação era insuficiente. Se via novamente na estaca zero, e suas frustrações aniquilaram suas esperanças que se mantiveram firmes por tanto tempo.A última vez que sua fé inabalável foi interrompida, foi no momento em que quase tirou sua vida na mansão dos Mazzini. Felizmente, foi impedida por Damiano.Ou infelizmente, dependendo do quão desesperançosa estivesse de sair dessa situação com vida.Victoria pensou que seria melhor ter morrido ao se jogar da sacada, do que servir de cobaia para seja lá qual tipo de perversidade aquele homem deseje tentar com ela. Não seria uma morte tão impactante, poderia até soar poético.C