Eu despertei de repente, como se tivesse sido puxada de volta para o meu corpo. O meu peito subia e descia rapidamente, minha respiração estava pesada, e gotas de suor frio escorriam pela minha testa. Meu coração parecia um tambor, batendo tão forte que eu podia ouvi-lo nos ouvidos. Abri os olhos e dei de cara com Eliza, que me observava com uma preocupação evidente.— Ayla?Ela chamou meu nome suavemente, mas sua voz tremia. — Você está bem?Eu tentei responder, mas minha garganta estava seca. A sensação da tempestade, a voz, o vazio... tudo parecia tão real que eu demorei um instante para me situar.— O que... o que aconteceu?Consegui perguntar, ainda tentando processar.Eliza se ajoelhou ao meu lado, pousando uma mão leve no meu ombro.— Você simplesmente apagou, querida. Estávamos conversando, e de repente, você ficou pálida e caiu. Tentei te acordar, mas parecia que estava em outro lugar.Me sentei lentamente, ainda sentindo o peso daquele sonho ou visão? Olhei ao redor. Estav
AZRAEL ..A madrugada parecia interminável. Eu me sentei em um canto qualquer, encostado em uma parede velha e úmida, sentindo o mundo ao meu redor se apagar lentamente. As ruas, antes repletas de passos apressados e murmúrios, foram sendo tomadas por um silêncio quase opressor. Era como se o mundo inteiro tivesse se recolhido para o conforto de suas casas, enquanto eu permanecia sozinho, em um lugar que não reconhecia, lutando contra uma fome que parecia ser a única coisa que me conectava à realidade, fome essa que não passou com o pão e a maçã.Os poucos transeuntes que ainda vagavam pela noite me ignoravam completamente. Meu estômago roncava, mas não era apenas a fome física que me consumia; era algo maior, uma ausência que eu não conseguia nomear. A sensação de perda me sufocava, como se houvesse um vazio em minha alma que eu não sabia como preencher.Olhei para o céu, esperando encontrar algum tipo de resposta nas estrelas, mas elas brilhavam indiferentes, distantes, inalcanç
Eu não sabia o que seria de mim, nem o que eu iria fazer em meio ao desconhecido, minha última lembrança, era de dormir em uma calçada fria, e receber comida de um desconhecido que sumiu como fumaça, tudo antes disso era um enorme fundo branco.Eu não sabia quanto tempo eu iria precisar esperar pra ter um norte da própria polícia, bem como eu iria conseguir me manter inteiro até lá.Ao ver a minha situação, Ethan me ofereceu o inesperado.A oferta dele foi como um farol na escuridão que me consumia. Ele percebeu meu estado, o olhar perdido, a fome que nenhuma comida parecia saciar, o vazio que me fazia esquecer até de respirar corretamente. Quando o oficial nos deixou sozinhos por alguns minutos, Ethan se virou para mim, cruzando os braços enquanto pensava em algo.— Olha, rapaz.Começou ele, com a voz séria, mas gentil. — Você claramente não tem pra onde ir. E, bem, eu não sou rico, mas também não sou pobre. Se você quiser, pode ficar na minha casa por um tempo.Eu o encarei, surpre
O som de batidas firmes na porta me despertou, interrompendo um sonho que já começava a se esvair da minha memória. A voz de Ethan veio logo em seguida, baixa, mas decidida.— Ei, rapaz, está na hora. Levanta logo, temos um longo dia.Abri os olhos lentamente, piscando contra os primeiros raios de sol que escapavam pela janela entreaberta. O quarto era modesto, mas aconchegante. Pela primeira vez, talvez na minha vida inteira, eu tinha um teto sobre a cabeça e uma cama quente.— Já estou indo. Murmurei, tentando afastar o sono enquanto me sentava na cama.Ao abrir a porta, Ethan estava lá, esperando. Ele segurava uma pequena sacola branca que me entregou sem cerimônias.— Aqui, use isso. Ele apontou para o corredor. — O banheiro é ali. Quero você pronto e com a cara lavada antes do café.Peguei a sacola e olhei o conteúdo: Uma escova de dentes nova, outra de cabelo, pasta, sabonete e uma muda de roupas simples, mas limpas. Eu estava acostumado a ser tratado com desconfiança ou ind
O café da manhã transcorreu em meio a provocações e risos. Laila não parecia se conter, lançando olhares e comentários que, a cada instante, testavam minha compostura. Ela era uma força da natureza: Confiante, sagaz, e absurdamente bela. Era impossível ignorar sua presença.Quando ela terminou de comer, levantou-se com um movimento ágil, pegando a bolsa que estava pendurada na cadeira. Antes de ir, inclinou-se ligeiramente na minha direção, com aquele mesmo sorriso provocativo que me desarmava.— Bem, Gabriel...Ela pronunciou meu nome com uma familiaridade que me incomodava e atraía ao mesmo tempo. — Tenho que ir, mas não se preocupe. Hoje à noite, vamos terminar nossa conversa em um lugar mais... reservado.A sugestão implícita na voz dela fez algo dentro de mim se agitar de forma inesperada. Meu corpo reagiu de um jeito que eu não compreendia. Eu não sabia se já havia estado com uma mulher, mas, se tinha, não me lembrava de nada que me fizesse sentir assim.Recuperando o control
AYLA ..O sol estava alto quando me despedi de Eliza, deixando para trás não apenas sua casa, mas também tudo o que conhecia. A mochila pesada nas costas, cheia de dinheiro que minha mãe me deu, parecia carregar não só meu sustento, mas também o peso das decisões que precisavam ser tomadas. Meu destino era incerto, mas a certeza de que precisava partir me movia.Minha casa ficava em um vilarejo escondido no interior de Belize, cercado por plantações de milho, feijão e mandioca. A vida ali era regida pelo ritmo da terra e das estações. Meus pais, agricultores dedicados, acreditavam que o trabalho duro e a tradição nos protegiam das influências externas. Mas, para mim, aquele paraíso verdejante era também uma prisão. A floresta que nos rodeava parecia um muro intransponível, uma barreira que mantinha o mundo distante.Minha jornada começou com passos hesitantes pela trilha que cortava a floresta densa. O cheiro de terra molhada e a sombra das árvores altas me acompanhavam, mas també
Meus pés pareciam presos ao chão. A lógica gritava para que eu me escondesse, para fingir que nunca vi nada e proteger a mim mesma. Mas, enquanto o som de suas súplicas ficava mais alto, algo dentro de mim explodiu.— Ei! Solte-a agora! Minha voz saiu mais firme do que eu esperava, mas o tremor em minhas mãos denunciava meu medo.O homem parou, virando lentamente o rosto para mim. Ele era enorme, com uma barba espessa e olhos escuros que brilhavam de malícia. A mulher aproveitou a distração e, como um relâmpago, se desvencilhou dele, correndo em disparada pelo corredor até desaparecer da minha vista.Agora, era só eu e ele.— Ora, ora... que cena heroica. Ele deu um passo em minha direção, rindo com desprezo.— E o que você vai fazer agora, princesinha? Agora eu fiquei sem minha comida. Será você a me satisfazer?Minha garganta estava seca, e minhas pernas ameaçavam ceder, nem mesmo Azrael, no início de suas aparições, me causou tanto medo.— Não vou deixar você fazer isso com ningu
AZRAEL ..O cheiro quente de óleo e especiarias enchia o ar, tornando o pequeno espaço da banca de lanches mais abafado do que deveria ser. Ethan estava ao meu lado, movendo-se com a familiaridade de quem sabia exatamente onde cada ferramenta e ingrediente estavam. Eu, por outro lado, ainda me adaptava ao ritmo frenético.— Passa o pão, Gabriel! Ethan gritou acima do som da chapa chiando.Eu obedeci, entregando o pão que ele precisava para o próximo lanche. Ele trabalhava rápido, mãos hábeis transformando ingredientes simples em algo que fazia as pessoas voltarem todas as manhãs. Eu observava os rostos que vinham até a banca. Risos, conversas casuais, algumas histórias trocadas em voz alta enquanto aguardavam seus pedidos.Parte de mim se perguntava o que eu estava fazendo ali, entre pessoas tão comuns e tão complicados ao mesmo tempo. No entanto, outra parte, mais silenciosa, sentia-se estranhamente... satisfeita.Enquanto cortava os ingredientes, lembrei-me da promessa de Laila.