AZRAEL ..Ela chorava.As lágrimas escorriam pelos olhos de Ayla como rios silenciosos, mas cada gota parecia atravessar o tecido da realidade e me atingir em cheio. Seu corpo ainda tremia sob os lençóis. A respiração acelerada, os olhos marejados... e mesmo assim, ela me olhava como se eu fosse o único capaz de curar a dor que eu mesmo, por destino, ajudei a provocar.Me aproximei dela, devagar, como segundo fosse um convite silencioso para algo que as palavras não sabiam descrever.— Ayla… Sussurrei seu nome como se fosse oração. — Não chore.Ela não disse nada. Apenas me olhou. E naquele olhar… havia tudo.Inclinei-me e a beijei. Um beijo diferente do primeiro. Mais profundo. Mais urgente. As lágrimas dela ainda estavam ali, mas agora se misturavam ao calor que se formava entre nós. Meu corpo sobre o dela, minhas mãos segurando seu rosto, como se eu temesse que, a qualquer momento, ela desaparecesse de novo.Ela correspondeu.Oh… como correspondeu.Seu corpo reagiu ao meu como
O céu estava carregado quando deixei o quarto de Ayla. O gosto do beijo dela ainda estava nos meus lábios. O calor do corpo dela… ainda impregnado em minha pele. Mas eu precisava sair. Respirar. Pensar. Me afastar antes que eu cruzasse a linha da qual talvez não pudesse mais voltar.Meus pés tocaram o chão por um segundo, e logo minhas asas se abriram. Em segundos, ganhei os ares, cortando nuvens como uma flecha. Meu destino: o refúgio de Ethan.Atravessar continentes nunca foi um obstáculo para mim, mas dessa vez, cada quilômetro parecia carregar o peso de tudo o que havia acontecido entre Ayla e eu. E tudo o que ainda estava por vir. Havia tanta coisa em jogo… e eu precisava de silêncio. Precisava do equilíbrio que só Ethan conseguia me trazer.Levei horas até chegar às florestas densas dos Estados Unidos. Planícies, lagos e montanhas passaram sob meus olhos, mas nada se comparava à força do lugar onde Ethan estava escondido.Quando me aproximei da região onde a cabana havia sido er
AYLA..Quando os lábios de Azrael tocaram os meus novamente, era como se o tempo se curvasse. Tudo ao meu redor desapareceu , a luz fraca do quarto, o som do meu coração descompassado, a respiração ofegante que escapava de mim sem controle. Era só ele. Só nós.Seu corpo estava sobre o meu, mas não havia medo. Havia calor. Um calor antigo, como se eu já o conhecesse há séculos. As mãos dele percorriam minha pele com reverência, como se eu fosse algo sagrado… e ainda assim, tão intensamente desejada. Eu sentia isso. Sentia seu desejo como uma onda, e meu corpo respondia, ainda que minha mente gritasse por limites.Mas foi quando ele parou que percebi algo diferente. O peito dele subia e descia, o olhar ardente e ofegante. Seus olhos encontraram os meus e, por um segundo, ele pareceu lutar contra ele mesmo. Como se estivesse se obrigando a parar, mesmo que não quisesse.Mas ele não podia, ele me explicou motivo.Senti meu rosto pegar fogo. A vergonha me atingiu como uma onda fria. Eu a
Eu pulei da cama em um pulo, o coração disparado, o suor frio escorrendo pelas minhas costas. Aquele… aquele monstro ainda estava ali. Hariel. O anjo das trevas. O mesmo do meu sonho.Tentei correr até a porta. Minhas mãos tremiam tanto que mal consegui segurar a maçaneta. Girei. Tentei puxar. Nada. A porta não abria. Tranquei e destranquei. Nada. Estava presa. Comecei a bater, a gritar:— SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA!Mas ele riu. Um riso cruel, zombeteiro, que ecoou pelas paredes como um trovão perverso.— Ninguém pode te ouvir, Ayla.Ele disse, com a voz baixa e venenosa. — Seus gritos são inúteis.Me encolhi ali, no chão frio, encostada à porta, o corpo inteiro tremendo. As lágrimas escorriam sem que eu pudesse conter. Eu estava com medo. Um medo real. Um medo que não me deixava respirar.— Azrael… Sussurrei desesperada. — Azrael, por favor…Hariel soltou um rugido que sacudiu o quarto, sua forma vibrando com fúria.— Azrael? Ele gritou, com os olhos ardendo como brasas. — Acha me
O grito dela me atravessou como uma lança.Estava muito longe, voando em meio às sombras do céu, quando senti. Era mais do que um pedido de socorro. Era um eco da alma. Uma dor tão profunda que parecia arrancar meu peito do lugar.Eu parei. No mesmo instante, parei de voar. Meu corpo pairou no ar, suspenso pelo desespero. A dor dela era a minha. O medo dela era o meu inferno.Subi o mais alto que pude, atravessando o véu da terra, deixando tudo para trás: tempo, espaço, limites. Eu precisava alcançá-la. Mas não podia. Eu não tinha esse poder. Ainda não. A magia me havia devolvido muito, mas não o dom de atravessar distâncias num piscar.Fechei os olhos.E ali, no silêncio mais profundo, onde só os deuses ouvem, clamei.— Seres da luz que regem os destinos da terra... Minha voz tremia, algo que nunca imaginei acontecer, eu sei quem sou. Sei o que represento. Meu povo não é bem-vindo entre vocês. Mas tudo o que fiz... tudo... foi por ela.Minha garganta se apertou. Continuei.— Não peço
Fui imediatamente para o hospital, sentindo uma energia forte passar por todo o meu corpo, como se fosse o universo trabalhando a meu favor.Quando alcancei o hospital, ninguém me viu passar. Corri pelos corredores como vento, atravessando portas, cortinas, pessoas. Meu coração batia num ritmo que eu nunca havia conhecido antes. O medo da perda ainda martelava dentro de mim, mesmo sabendo que ela estava viva.Eu precisava vê-la.E então a encontrei.Ali estava ela…Deitada em uma maca, conectada ao oxigênio, as pálpebras pesadas, a pele pálida. Seu braço repousava ao lado do corpo, e notei uma pequena queimadura em sua mão, provavelmente na tentativa de sobreviver. Meu sangue ferveu de dor.Meu corpo inteiro paralisou por um instante. A sala estava tranquila, havia uma única enfermeira ao lado dela, ajustando os aparelhos. Ayla… mesmo naquela fraqueza… me viu.Seus olhos, cansados, me encontraram no silêncio.Ela era a única que podia me ver.Levei o dedo aos lábios, pedindo silêncio.
O sol já havia nascido quando deixei para trás os destroços do hospital. Os primeiros raios da manhã desenhavam sombras suaves no céu, como se o mundo tentasse fingir que nada havia acontecido. Mas eu sabia. Ayla sabia. O inferno havia passado por nós.Carregava seu corpo frágil em meus braços, envolta em meu manto, protegida do vento cortante da altitude. Ela ainda tremia, mesmo com o calor do dia tentando aquecer sua pele. A queimadura na mão era visível, mas nada comparado ao vazio em seus olhos.A cada minuto de voo, meu coração pesava mais.Eu voava em direção ao único lugar onde ela estaria segura: A cabana de Ethan, escondida na floresta esquecida da civilização, no norte dos Estados Unidos. Era um abrigo de proteção antiga, um refúgio entre mundos. Só ali, talvez, conseguiríamos pensar, respirar... sobreviver.— Está com frio? Perguntei, tentando aquecê-la com a asa boa.Ela assentiu levemente. Seu rosto descansava contra meu peito, os olhos vermelhos de tanto chorar, mas sem
AYLA..Eu me lembro do cheiro primeiro. Um cheiro acre, pesado, queimando o fundo da garganta. Depois, o calor. Um calor sufocante que se espalhou pela casa antes mesmo que eu pudesse ter uma chance. Quando pensei em fazer algo, tudo já estava tomado.Chamas lambiam as paredes. A madeira rangia como se chorasse, implorando para não ruir. A fumaça entrava pelos meus pulmões como se quisesse me arrancar a alma. Ouvi gritos. Gritos da minha mãe. Do meu pai. Mas eu não os via.— Mãe! Eu tentei gritar. — Pai!Mas minha voz se perdeu entre o estalar do fogo.Corri, tropeçando em cacos, tentando encontrar alguma saída, alguma luz. Meus pés descalços ardiam com o calor do chão. Meu corpo tremia inteiro. Cada segundo parecia uma eternidade. Eu queria voltar no tempo. Voltar para quando tudo estava intacto. Para quando minha família ainda existia.Foi quando meus pais pararam de responder.A dor que senti não tinha nome. Gritei como nunca antes. Gritei até minha garganta se ferir. O mundo p