Acordo cedo e nem tomo café. Depois do banho, coloco roupas que não são muito chamativas, pois nunca gostei de chamar a atenção para o meu corpo. Saio na rua e ando até o metrô com uma pequena caixa na mão. Dentro dela, está o celular. Descobrirei quem é o Ian antes do almoço e lhe entregarei o aparelho depois.
A única pessoa naquela empresa que sabe até os segredos mais sujos dos chefões, é Ágatha. Ela é uma das secretárias dos executivos que ficam no topo do prédio. Se há alguém que sabe quem é o bonitão arrogante, é ela.
Após sair do metrô, ando algumas quadras até o trabalho. Hoje ele não veio me derrubar. Que pena! Eu poderia xingá-lo pessoalmente. Terei apenas que imaginar sua reação ao ver o que fiz no seu celular. Além da capa de glitter rosa com enfeites que coloquei nele, baguncei os contatos e editei as fotos.
Poxa! Será uma boa cena.
Passo pela recepção, vou para o meu armário e coloco a caixa no fundo do espaço, com medo de que alguém me veja e me denuncie quando o telefone estiver nas mãos dele. Em seguida, sigo para a cantina e peço um café expresso.
Logo avisto Ágatha, que está sentada com outras duas secretárias, tendo uma conversa bem animada. Não sou amiga delas. Na verdade, a quantidade de amigos que tenho, posso contar nos dedos. Para todas essas pessoas, sou a garota estranha, igual era no ensino médio.
Embora esteja em boa forma, não tenho roupas chamativas ou sexies e opto por não usar brincos ou colares. Contudo, faço algumas tatuagens quando sinto vontade.
Ágatha, por outro lado, é uma mulher linda, de trinta e dois anos, que veste roupas chiques e está sempre de saltos. Ela mexe no seu cabelo liso de cor escura como se estivesse em um comercial e eu fico só adimirando sua beleza enquanto ando até elas.
— Emma, como vai? — perguntou de forma simpática.
Ainda por cima, a mulher tem simpatia.
— Estou muito bem, Ágatha. Obrigada! — Dou um sorriso tímido. — Como vocês estão? — falei com as outras só para não parecer rude ou fofoqueira.
Elas sorriem e falam, juntas, que estão ótimas.
— Meninas, eu queria perguntar se vocês já viram um homem por aí. Sei que seu primeiro nome é Ian, que ele tem pelo menos 1,90 de altura, cabelos negros, olhos azuis...
— Tem pinta de arrogante? — Ágatha acrescentou.
— Sim. — confirmei feliz. — Você já o viu por aí?
— Se eu já vi? Menina, quem não viu esse homem? E, que homem lindo! É um deus grego, mas muito estressado e mal-humorado. Está sempre dando ordens e sendo arrogante.
Eu já sabia que ele não era uma boa pessoa, no entanto queria que alguém, pelo menos, dissesse algo de bom dele, para que eu não me sentisse tão mal por desejá-lo.
— Quem é ele, Ágatha? — questionei, bastante curiosa, sentando-me no meio delas.
— É o mais novo chefe, querida. Ian Novack. É o filho de Robert Novack e assumiu a empresa depois que o pai sofreu o acidente e ficou em coma.
Estou paralisada. Ele é o chefe? O dono de tudo aqui? Porra!
— Você está bem? — perguntou ao ver minha pele mais pálida do que o normal. — Ele te fez algo?
— Não. Eu só o vi por aí. Parecia que tinha comido algo estragado. — Ainda estou tentando me recuperar.
— Ele está assim desde que assumiu os negócios. — Revira os olhos. — O que tem de lindo, tem que mal-educado.
— Ok, meninas. Tenho que trabalhar agora. Obrigada pela informação! — Levanto—me e saio de perto delas.
Meu Deus! Ian é o CEO da TEC Corporation?! A minha ansiedade está fazendo com que minhas mãos soem e meu coração acelere. Acho que não posso entregar o celular do meu chefe, pois não quero irritá-lo. Mas, ao mesmo tempo, ele é um grosso com todo mundo. Seu pai está em coma, porém isso não justifica seu modo de tratar as pessoas.
O conflito em meu peito pode até me causar um infarto se eu continuar pensando nisso.
Não posso desistir agora. Afinal, ele não saberá quem sou e não sabe nem que existo.
Vou trabalhar e, após o almoço, levarei o pacote para a recepção. Depois, ele que se vire! O que irá deixá-lo ainda mais irritado.
Não sei se isso me deixa feliz ou com mais medo.
Volto do restaurante com o pacote, levando-o na bolsa para que ninguém perceba nada, entro no prédio com ele na mão e vou até a recepção, onde vejo Molly.
Minha língua parece presa, mas não posso desistir agora. Seria errado ficar com o aparelho.
— Molly, uma moça me entregou este pacote agora a pouco e disse que é para o entregar ao Ian Novack. Ela parecia muito irritada e nem quis entrar. — Entrego-lhe.
Odeio mentir, e não faço isso com frequência; só quando preciso muito.
— Quem é Ian Novack? — questionei.
— Lembra do homem por quem você me perguntou ontem e eu também não sabia quem era? — Afirmo com um aceno de cabeça. — É ele, o novo chefe. Dizem que é muito arrogante.
Ian é muito famoso por essa atitude, no entanto não parecia ser um brutamonte quando falei com a piranha no telefone.
— Entendi. Então, você pode entregá-lo?
— Pedirei para que Mila entregue. Ela é secretária dele.
— Coitada! — Rimos.
Sigo para o meu posto.
Não quero ver o homem pessoalmente. Provavelmente, ele vai querer me matar quando souber o que fiz.
IanMeu dia foi cheio para a merda e minha cabeça está doendo. Tive duas reuniões demoradas e ainda tenho papéis para ler e assinar.Olho para o relógio e constato que são sete e meia. Está na hora de eu ir embora e nem está perto de terminar o que tenho para fazer. Sendo assim, acabo optando por deixar o restante dos afazeres para amanhã.Esse trabalho está me matando e ainda tem a preocupação com meu pai, que está em coma há dois meses. Os médicos não têm uma previsão de quando — e se — ele acordará. Não quero perdê-lo. É um bom pai e sempre esteve ao meu lado, mesmo quando eu cometia algum erro. Agora, a minha obrigação é cuidar dos negócios da família. Algo que está me estressando muito. Vivo com dor de cabeça e com as preocupações invadindo minha mente, fazendo-me perder a razão.Notei que aqui, na empresa, todos estão correndo de mim. Também... Estou sempre dando ordens e de mau humor. Com toda a certeza, eles me odeiam. E, olha que só estou aqui há uma semana.Ontem mesmo esbar
Assim que acordo, lembro-me do celular e, como um tolo, verifico se tem mais alguma mensagem da mulher misteriosa. Não tem nenhuma. É decepcionante, e me irrito comigo mesmo por pensar assim.Resolvo cuidar de tudo para começar o trabalho. Tomo banho, coloco um terno cinza e arrumo os cabelos em frente ao espelho.Meu pai sempre se orgulhou de ser pioneiro no ramo de proteção de dados. Era um leigo no assunto, mas um mestre em administrar.Com o crescimento da internet, também cresceram novas oportunidades de roubar. É por isso que a TEC Corporation se especializou nessa área e hoje trabalha com diversas empresas, bancos e pessoas que fazem parte desse meio digital.Depois de pegar os papéis que trouxe ontem para casa, enfio-me no elevador, que desce até o estacionamento. Meu motorista já está à minha espera. Quando entro no carro, resolvo dar atenção aos documentos. Ontem não consegui resolver nada, pois só pensava na estranha, mas hoje resolvi esquecê-la e focar em trabalhar.Chego
EmmaNão sei por que mandei mensagens para ele, nem por que conversamos. É loucura! Ian é meu chefe, um egocêntrico safado.Talvez seja a falta do que fazer ou a solidão. Só isso para justificar tudo que está acontecendo.Devo confessar que ele é engraçado, embora seja irritante. E, apesar de saber disso, ainda quero receber e responder suas mensagens.Não posso negar que senti um pouco de medo e que até agora sinto. Não fiz nada demais, porém, com a fama de chefe que ele tem, devo me prevenir e não dar muita pinta, para não correr o risco de topar com ele e ser reconhecida de alguma forma.O pior é que assim que virei o quarteirão, eu o vi. Ele estava lindo, trajando um terno cinza. Sua bunda fica maravilhosa na roupa mais justa e seus cabelos estavam sendo levados pelo vento, mesmo não sendo tão longos. O homem é lindo, quase um deus. Se não fosse tão arrogante...Fiquei feliz quando o vi entrar no prédio. E, para disfarçar, esperei alguns minutos do lado de fora.Quando trabalho, a
EmmaHoje, correr com Bia tagarelando sem parar no meu ouvindo, salvou-me de ficar pensando em Ian Novack, meu chefe arrogante. Ele é como um parasita em meu cérebro, que perturba até os meus sonhos.No entanto, agora estou na frente da televisão, olhando para algo que passa, e não paro de pensar nele. Estou exausta, e nem mesmo o banho me relaxou depois daquele episódio no trabalho. O que nem foi grande coisa.Uma parte de mim deseja ser notada, aparecer em seu escritório e dizer na sua cara linda tudo que penso, mas a outra, medrosa e tímida, grita ao meu ouvido, dizendo o quanto seria ridículo e errado chamar a atenção do chefe depois de tudo que já fiz. Não é uma boa ideia.Não me importo se o bundão disse que não me demitiria e que não foi grande coisa o que falei a ele durante todo este tempo. Sei que se me visse pessoalmente e concluísse que a Birdpink não é grande coisa, com certeza se enfureceria e me mandaria embora.Meu coração vai à boca quando o celular vibra ao meu lado.
IanNão sei o que está acontecendo comigo. Desde que comecei a conversar com aquela estranha, não paro de pensar nela ou em como ela pode ser, na cor de seus olhos, dos cabelos, em como se veste... As únicas coisas que sei dela até o momento é que tem uma tatuagem, que sua pele é pálida, que trabalha na minha empresa e que é tímida. Mas, por trás do seu anonimato, é sincera e provocante.Todo esse mistério está me deixando louco; e uma mulher nunca conseguiu isso de mim. Estou fascinado por ela como se fosse uma necessidade saber sua identidade, seu nome, onde vive e com quem.Não acho que o passarinho tenha algum namorado, mas pode ter algum pretendente.Hoje, mesmo, senti que deveria sair do meu escritório só para buscar por uma pessoa que eu nem sabia quem era.É loucura. Estou ficando louco.O pior de tudo é que sempre quero mais dela: mais informações e mais uma mensagem.Ela foi a primeira mulher que me fez dizer tudo aquilo sobre mim, porque a maioria que sai comigo só fala ban
Ian— É muita tecnologia. — O homem está abismado com a sala onde é armazenada milhares de combinações numéricas que representam os dados de cada empresa para a qual trabalhamos. — Nunca vi algo igual.— Todos os anos essa ala cresce para acompanhar o número de empresas com quem temos parcerias. — Observo atentamente o senhor Phil, que se estica, tentando ver até onde vão os equipamentos da sala. — Tudo é monitorado vinte e quatro horas por dia e temos um sistema de climatização para que os servidores não se danifiquem. Além do mais, nossos funcionários são capacitados para resolver qualquer problema.— E vocês cobrem qualquer prejuízo se isso acontecer? — Levanta as sobrancelhas grossas ao me olhar.— Claro. — Coloco um sorriso no rosto, sendo que não estou nada fel
Emma O que está acontecendo comigo? Ian Novack sabe me deixar louca. Como se a amizade que dizemos ter, fosse algo tão importante e vital para a minha vida! Ele estava a poucos centímetros de mim, encarando minha nuca, causando arrepios pelo meu corpo todo e outras reações idiotas que desejei rejeitar a todo custo. Meu chefe é charmoso, e ver suas fotos me deixa boba. Eu senti que ele estava a poucos passos de mim e seu perfume sutil me deixou de quatro, no chão. Mas não como foi na última vez. Ele está frustrado, assim como eu. Por isso decidi acabar de vez com nossa brincadeira. Eu fui culpada por ter a começado, então terminei com ela. Saio atrasada do trabalho, já imaginando que perderei o metrô para chegar cedo em casa. Assim que ponho os pés para fora do prédio, Ian sai com uma expressão nada legal. Meu coração quase salta pela boca e o desejo de ir até ele, vem até mim. Não é como se tivesse sido semanas ou meses de conversa, mas o pouco que falamos um com outro foi suf
— Saia do meu apartamento e só volte quando deixar essa loucura de lado! Caso contrário, nossa amizade acaba aqui. — Tento reprimir a insegurança e a decepção que me tomaram depois do que ela me disse. — Está sendo malvada porque odeia quando estou contra você. Até tem razão em algumas coisas, mas, como minha amiga, não deveria dizê-las. Eu não faria isso com você.O arrependimento no seu rosto é evidente, contudo não mudo de ideia. Saio da sua frente e vou até o banheiro. Estou muito cansada para continuar brigando. Eu queria ajudá-la, pois, claramente, seu novo “trabalho” não é confiável.Logicamente, não posso julgar nada que não conheço, porém sei quando algo vai dar errado. Muitas meninas já se envolveram com essas coisas e nada terminou bem para elas, pois os homens costumam achar que podem usar e abusar delas, prometendo-as tudo só para, no fim, saírem vencedores.Eu não sei se Ian é como essas pessoas, já que mal o conheço e agora nem dá mais para conhecer. Tive que acabar com