Desde o momento em que descobri a minha gravidez, eu meio que... dissociei da realidade. O mundo inteiro passava ao meu redor, e eu só pensava em como iria lidar com tudo isso. Não era como se fosse o fim do mundo. Eu não estava desamparada, e sabia que meu noivo com certeza ficaria radiante, talvez até soltasse fogos de artifício para comemorar. Mas a questão não era ele, era comigo mesma, era algo interno. Um medo. Talvez até um pânico. Nunca parei para pensar em como me sentiria quando finalmente quisesse ter filhos. Bem, um filho meu, do meu próprio sangue. Desde sempre eu tive a sensação de que queria adotar. Mas ter um filho que carregasse meu DNA... Eu não sabia como processar isso. Ele está crescendo dentro de mim. Faz parte do meu corpo agora. E eu já fiz parte do corpo de alguém.
Não é como se você entrasse num orfanato, encontrasse centenas de crianças e uma delas te olhasse de uma forma tão especial que parecesse te escolher como mãe. Não sei. Até isso parecia lDias depoisMinha vida mudou por completo desde que descobri que havia uma criança crescendo em meu ventre. Foi como ganhar uma nova chance, uma força que eu nunca imaginei ter. No começo, o medo me dominou – não do bebê em si, mas do que ele traria consigo, do meu passado. Eu me perguntava se realmente seria capaz de ser mãe. A ideia de família parece simples, algo quase idealizado, mas quando essa realidade é lançada sobre você, sem planejamento, você se sente perdida, especialmente com tantas questões ainda não resolvidas.Foi só quando conheci a história de Mary Ann que a urgência de enfrentar esses fantasmas se instalou. Ver alguém tão parecido comigo, com uma história que parecia espelhar a minha, me quebrou por dentro, desmontando as barreiras que achei ter solidificado com o tempo. Talvez seja ingênuo pensar que o passado
Colocar tudo para fora me libertou. Aquela conversa foi necessária para me deixar leve, mesmo ainda ansiosa para ter a certeza de que eu não estava ficando louca.Assim que comecei a contar a minha história e o quanto era parecida com a dela, Mary Ann, simplesmente, se desmontou em minha frente, pegando em minha mão, enchendo os olhos de lagrimas e me abraçando forte, como se houvesse encontrado um baú cheio de ouro.Expliquei a ela que, por mais que fossem parecidas as nossas marcas de nascença, isso poderia ser apenas uma coincidência, porém, a mulher tomou como verdade desde o início.Eu sabia que era apenas o desespero de encontrar sua filha, tirado dos seus braços a muito tempo. Confesso que gostei da sensação de ser acolhida e desejada por alguém. Contudo, havia decepções nas quais nós deveríamos estar preparadas, só que ela n
"casa comigo em uma semana?" Foi o que Harvey me pediu. Na hora eu ri. Uma gargalhada enorme saiu da minha boca sem que eu percebesse e isso criou um clima estranho entre nós.O encarei, quando vi que ele não estava reagindo positivamente. Não foi uma piada. O homem realmente esperou uma resposta de mim. Ainda tentei buscar em sua expressão facial, alguma coisa que me dissesse que ele estava brincando. Ele tinha que estar brincando. Afinal, Que pergunta louca é essa?"Estáde brincadeira não é?" O questionei ainda perplexa. Harvey, então, se levantou do sofá onde estávamos, e andou até a janela de vidro de onde podia ver os prédios e as ruas do bairro mais chique de Nova York.Fiquei impressionada com a sua reação. Ele sempre falava coisas sem sentido. Brincadeiras apenas para que eu pudesse rir, contudo, aquilo não pareceu ser uma piada. Por isso eu me levantei e fui até onde ele estava, pondo minha mão em seus ombros, o que não o fez prestar atenção em mim."Harvey, isso é sério?"O
Sentada na varanda da casa nova, vejo Harvey com nosso menino nos braços. Ele passeia pelo jardim, com a melhor vista de NY, segundo a minha própria opinião. Sinto uma paz tão grande que não consigo mensurar.Tudo isso parece um sonho. Uma ilusão e o meu maior medo, agora, é acordar e perceber que nada disso é real. Eu morreria. Minha vida não teria sentido.Quando entrei naquele elevador, não imaginei que tudo mudaria dessa forma. Acredito que conhecer Harvey foi o que me fez girar a chave. Tudo, depois dele, mudou para melhor e isso eu não tenho como explicar.Fecho os olhos e lembro-me dos dias em que eu rezava para ter alguém que chamasse o meu nome e me fizesse sentir a realidade, pois eu vivia tão isolada, que as vezes achava que não existia.Conhecer Hope foi o primeiro passos para me tornar alguém sociável. Eu sempre deixava as pessoas me machucarem e pisarem, e foi ali que comecei a perceber que deveria mudar, apesar do medo. Aquele medo me aprisionava. Justo quando eu estava
EmmaO dia começou bem difícil. Dormi tarde porque estava empolgada criando um software, portanto me me atrasei nesta manhã, não tomei café e perdi o metrô. Fiquei vinte minutos esperando o próximo e, quando ele chegou, não tinha lugar para me sentar.Apesar de ter acordado quase agora, meu corpo ainda está cansado. E, depois do trabalho, ainda tenho que correr com Bia, que está me forçando a fazer essa atividade todos os dias depois do trabalho.Agora estou quase correndo para chegar a tempo para o meu turno no emprego. Meu chefe não é tão ruim, mas odeia atrasos. E, mesmo sabendo que Victor não dirá nada a ele sobre isso, não posso me arriscar.Estou quase na porta giratória que dá acesso ao prédio, quando uma parede bate em mim e eu caio de quatro no chão. Olho para cima e vejo que o filho da puta, que nem olha para trás, corre para entrar no prédio.Não dá para ver direito quem é. O que me deixa ainda mais furiosa. Ainda no chão, vejo um aparelho celular caído. Ele deve ter deixad
Chego em casa e coloco minha roupa de corrida. Não sou de fazer muitos exercícios, mas Bia pretende ficar com o corpo definido e não quer fazer isso sozinha. Só corro para relaxar, já que não tenho ninguém para ver o resultado de tanto esforço. Mesmo sabendo que não deveria penssar dessa forma, penso.Não demora muito para que ela chegue batendo na porta do apartamento.— Vamos logo! Temos que correr o dobro hoje. Não resisti e comi duas fatias de torta. — avisou desanimada.— O quê? — Ela só pode estar alucinando. — Você quer me matar?— Deixe de ser sedentária! — Puxa o meu braço até me fazer passar pela porta.Mesmo não querendo correr tanto, saio de casa. Como estou com muita coisa na cabeça, usarei esse tempo para pensar em uma forma de fazer o gato arrogante pagar por ter me deixado no chão.Logo começamos a andar e, depois, a correr. Passamos por muitos lugares durante a corrida.— Então... O que fez hoje além de se sentar na frente de um computador para olhar números e coisas
Acordo cedo e nem tomo café. Depois do banho, coloco roupas que não são muito chamativas, pois nunca gostei de chamar a atenção para o meu corpo. Saio na rua e ando até o metrô com uma pequena caixa na mão. Dentro dela, está o celular. Descobrirei quem é o Ian antes do almoço e lhe entregarei o aparelho depois.A única pessoa naquela empresa que sabe até os segredos mais sujos dos chefões, é Ágatha. Ela é uma das secretárias dos executivos que ficam no topo do prédio. Se há alguém que sabe quem é o bonitão arrogante, é ela.Após sair do metrô, ando algumas quadras até o trabalho. Hoje ele não veio me derrubar. Que pena! Eu poderia xingá-lo pessoalmente. Terei apenas que imaginar sua reação ao ver o que fiz no seu celular. Além da capa de glitter rosa com enfeites que coloquei nele, baguncei os contatos e editei as fotos.Poxa! Será uma boa cena.Passo pela recepção, vou para o meu armário e coloco a caixa no fundo do espaço, com medo de que alguém me veja e me denuncie quando o telefo
IanMeu dia foi cheio para a merda e minha cabeça está doendo. Tive duas reuniões demoradas e ainda tenho papéis para ler e assinar.Olho para o relógio e constato que são sete e meia. Está na hora de eu ir embora e nem está perto de terminar o que tenho para fazer. Sendo assim, acabo optando por deixar o restante dos afazeres para amanhã.Esse trabalho está me matando e ainda tem a preocupação com meu pai, que está em coma há dois meses. Os médicos não têm uma previsão de quando — e se — ele acordará. Não quero perdê-lo. É um bom pai e sempre esteve ao meu lado, mesmo quando eu cometia algum erro. Agora, a minha obrigação é cuidar dos negócios da família. Algo que está me estressando muito. Vivo com dor de cabeça e com as preocupações invadindo minha mente, fazendo-me perder a razão.Notei que aqui, na empresa, todos estão correndo de mim. Também... Estou sempre dando ordens e de mau humor. Com toda a certeza, eles me odeiam. E, olha que só estou aqui há uma semana.Ontem mesmo esbar