Chego em casa e coloco minha roupa de corrida. Não sou de fazer muitos exercícios, mas Bia pretende ficar com o corpo definido e não quer fazer isso sozinha. Só corro para relaxar, já que não tenho ninguém para ver o resultado de tanto esforço. Mesmo sabendo que não deveria penssar dessa forma, penso.
Não demora muito para que ela chegue batendo na porta do apartamento.
— Vamos logo! Temos que correr o dobro hoje. Não resisti e comi duas fatias de torta. — avisou desanimada.
— O quê? — Ela só pode estar alucinando. — Você quer me matar?
— Deixe de ser sedentária! — Puxa o meu braço até me fazer passar pela porta.
Mesmo não querendo correr tanto, saio de casa. Como estou com muita coisa na cabeça, usarei esse tempo para pensar em uma forma de fazer o gato arrogante pagar por ter me deixado no chão.
Logo começamos a andar e, depois, a correr. Passamos por muitos lugares durante a corrida.
— Então... O que fez hoje além de se sentar na frente de um computador para olhar números e coisas bizarras que não entendo? — Bia perguntou ofegante.
— Você não vai acreditar. — Mostro-me bem empolgada com a novidade. — Eu me atrasei de novo, mas o pior é que quando eu estava entrando no prédio, um cara esbarrou em mim e foi embora como se nada tivesse acontecido.
— Não estou entendendo. A notícia é ruim e você está com um sorriso no rosto. É meio masoquista. — Mantém o cenho franzido.
— O cara deixou o celular cair. — ignorei sua ironia. — E agora ele está sob o meu poder. — Tento não ficar empolgada demais.
— Sabe, Emma? Quando digo a você para arranjar um namorado, é exatamente por isso. — Lá veio mais uma ironia. — Alguém esbarra em você e, como uma maluca, rouba essa pessoa e sorri como uma psicopata? Estou ficando preocupada.
— Não encha, Bia! Vou devolver o celular dele. Mas também vou me vingar do idiota. — Reviro os olhos.
— Podemos ver um filme se acha que sua noite está tão ruim.
— Será que dá para me apoiar nisso? — reclamei. — É a primeira vez que faço algo assim, e nem sei quem é o homem. Posso ser demitida, já que ele é, provavlmente, um dos executivos.
— Eu curto sexo selvagem e você é fora da lei. Facinante! Ainda não sei por que somos amigas. — brincou.
Bato de leve em seu ombro e continuamos a corrida.
Bia, como uma tagarela, prossegue brincando com a história, deixando-me um pouco irritada. Quando começa a falar algo sobre o seu trabalho, agradeço.
***
Estou na banheira, quando pego novamente o celular para o vasculhar e descobrir mais sobre o homem. Quero achar seu nome, porém não consigo ser tão fora da lei e ir direto à sua caixa de mensagens ou e-mail.
Bia sempre fala que sofro da “síndrome” de ser certinha demais. E é verdade. Apesar de poder e conseguir entrar em muitos computadores e redes de dados, nunca faria isso. Já me ferrei uma vez ao ser culpada por algo que não fiz, e hoje tenho esse trauma.
Decido ligar para alguém e rezo para que essa pessoa fale pelo menos o nome dele. A quantidade de contatos femininos é enorme. E não é para menos, já que ele é lindo. É lógico que pega todas que quer. Aposto que com uma ou duas chamadas, alguma delas atenderá, desesperada para sair com ele novamente.
Resolvendo colocar minha teoria em prática, clico em um número com o nome de “Ariana”. A ligação começa a chamar uma, duas vezes...
— Ian! — falou a voz feminina muito empolgada, no outro lado da linha.
Um sorriso de satisfação toma o meu rosto.
— Desculpe! Não é o Ian. — tentei disfaçar a minha voz para o caso de, futuramente, isso ser usado contra mim.
— Quem é e por que está me ligando do celular do Ian? — perguntou furiosa.
Eu penso um pouco na resposta e minha mente diabólica organiza um roteiro fora do comum para a Emma sem graça.
— É que eu queria ouvir a voz da vadia que está atrás do meu namorado. Quero lhe avisar para ficar longe dele se não quiser perder seus peitos falsos e todas as plásticas mal feitas do seu rosto. — falei em um tom de irritalção e bem mais alto do que normalmente falo.
Não sei de onde isso está vindo, mas se demorar muito, acabarei rindo e pondo tudo a perder.
— Olhe aqui, querida! Se o seu namorado fica atrás de mim, a culpa não é minha. — rebateu alterada.
— Meu Ian não fica atrás de mulheres; são as vadias que ficam atrás dele. Espero que esse recado sirva de lição para que não chegue perto do meu homem! E pode dizer a todas as suas amigas que farei o mesmo com elas caso as veja a cem metros dele. — Desligo a chamada.
Deus! O que deu em mim e por que fiz isso? Meu coração b**e a mil por hora, como se estivesse prestes a sair pela boca.
Agora sei como se chama o dito cujo. Mas, Ian do quê? Fuço ainda mais o telefone e não acho nada que ligue esse nome ao seu sobrenome. Talvez amanhã eu lhe investigue na empresa.
Por enquanto, botarei meu plano em ação. Entro novamente na galeria e começo a editar as fotos. É claro que algumas só edito as cópias, já que não sou tão cruel. Depois volto aos contatos e mudo os nomes das piranhas por coisas engraçadas. Acho que ele ficará puto com a bagunça que estou fazendo.
Não ouso ir às suas conversas particulares, porque isso é muito pessoal e não quero invadir sua privacidade. Já basta o quanto estou invadindo. Sei que para alguém que pode fazer o que faço, invadir é o objetivo, entretanto tenho os meus limites.
Acordo cedo e nem tomo café. Depois do banho, coloco roupas que não são muito chamativas, pois nunca gostei de chamar a atenção para o meu corpo. Saio na rua e ando até o metrô com uma pequena caixa na mão. Dentro dela, está o celular. Descobrirei quem é o Ian antes do almoço e lhe entregarei o aparelho depois.A única pessoa naquela empresa que sabe até os segredos mais sujos dos chefões, é Ágatha. Ela é uma das secretárias dos executivos que ficam no topo do prédio. Se há alguém que sabe quem é o bonitão arrogante, é ela.Após sair do metrô, ando algumas quadras até o trabalho. Hoje ele não veio me derrubar. Que pena! Eu poderia xingá-lo pessoalmente. Terei apenas que imaginar sua reação ao ver o que fiz no seu celular. Além da capa de glitter rosa com enfeites que coloquei nele, baguncei os contatos e editei as fotos.Poxa! Será uma boa cena.Passo pela recepção, vou para o meu armário e coloco a caixa no fundo do espaço, com medo de que alguém me veja e me denuncie quando o telefo
IanMeu dia foi cheio para a merda e minha cabeça está doendo. Tive duas reuniões demoradas e ainda tenho papéis para ler e assinar.Olho para o relógio e constato que são sete e meia. Está na hora de eu ir embora e nem está perto de terminar o que tenho para fazer. Sendo assim, acabo optando por deixar o restante dos afazeres para amanhã.Esse trabalho está me matando e ainda tem a preocupação com meu pai, que está em coma há dois meses. Os médicos não têm uma previsão de quando — e se — ele acordará. Não quero perdê-lo. É um bom pai e sempre esteve ao meu lado, mesmo quando eu cometia algum erro. Agora, a minha obrigação é cuidar dos negócios da família. Algo que está me estressando muito. Vivo com dor de cabeça e com as preocupações invadindo minha mente, fazendo-me perder a razão.Notei que aqui, na empresa, todos estão correndo de mim. Também... Estou sempre dando ordens e de mau humor. Com toda a certeza, eles me odeiam. E, olha que só estou aqui há uma semana.Ontem mesmo esbar
Assim que acordo, lembro-me do celular e, como um tolo, verifico se tem mais alguma mensagem da mulher misteriosa. Não tem nenhuma. É decepcionante, e me irrito comigo mesmo por pensar assim.Resolvo cuidar de tudo para começar o trabalho. Tomo banho, coloco um terno cinza e arrumo os cabelos em frente ao espelho.Meu pai sempre se orgulhou de ser pioneiro no ramo de proteção de dados. Era um leigo no assunto, mas um mestre em administrar.Com o crescimento da internet, também cresceram novas oportunidades de roubar. É por isso que a TEC Corporation se especializou nessa área e hoje trabalha com diversas empresas, bancos e pessoas que fazem parte desse meio digital.Depois de pegar os papéis que trouxe ontem para casa, enfio-me no elevador, que desce até o estacionamento. Meu motorista já está à minha espera. Quando entro no carro, resolvo dar atenção aos documentos. Ontem não consegui resolver nada, pois só pensava na estranha, mas hoje resolvi esquecê-la e focar em trabalhar.Chego
EmmaNão sei por que mandei mensagens para ele, nem por que conversamos. É loucura! Ian é meu chefe, um egocêntrico safado.Talvez seja a falta do que fazer ou a solidão. Só isso para justificar tudo que está acontecendo.Devo confessar que ele é engraçado, embora seja irritante. E, apesar de saber disso, ainda quero receber e responder suas mensagens.Não posso negar que senti um pouco de medo e que até agora sinto. Não fiz nada demais, porém, com a fama de chefe que ele tem, devo me prevenir e não dar muita pinta, para não correr o risco de topar com ele e ser reconhecida de alguma forma.O pior é que assim que virei o quarteirão, eu o vi. Ele estava lindo, trajando um terno cinza. Sua bunda fica maravilhosa na roupa mais justa e seus cabelos estavam sendo levados pelo vento, mesmo não sendo tão longos. O homem é lindo, quase um deus. Se não fosse tão arrogante...Fiquei feliz quando o vi entrar no prédio. E, para disfarçar, esperei alguns minutos do lado de fora.Quando trabalho, a
EmmaHoje, correr com Bia tagarelando sem parar no meu ouvindo, salvou-me de ficar pensando em Ian Novack, meu chefe arrogante. Ele é como um parasita em meu cérebro, que perturba até os meus sonhos.No entanto, agora estou na frente da televisão, olhando para algo que passa, e não paro de pensar nele. Estou exausta, e nem mesmo o banho me relaxou depois daquele episódio no trabalho. O que nem foi grande coisa.Uma parte de mim deseja ser notada, aparecer em seu escritório e dizer na sua cara linda tudo que penso, mas a outra, medrosa e tímida, grita ao meu ouvido, dizendo o quanto seria ridículo e errado chamar a atenção do chefe depois de tudo que já fiz. Não é uma boa ideia.Não me importo se o bundão disse que não me demitiria e que não foi grande coisa o que falei a ele durante todo este tempo. Sei que se me visse pessoalmente e concluísse que a Birdpink não é grande coisa, com certeza se enfureceria e me mandaria embora.Meu coração vai à boca quando o celular vibra ao meu lado.
IanNão sei o que está acontecendo comigo. Desde que comecei a conversar com aquela estranha, não paro de pensar nela ou em como ela pode ser, na cor de seus olhos, dos cabelos, em como se veste... As únicas coisas que sei dela até o momento é que tem uma tatuagem, que sua pele é pálida, que trabalha na minha empresa e que é tímida. Mas, por trás do seu anonimato, é sincera e provocante.Todo esse mistério está me deixando louco; e uma mulher nunca conseguiu isso de mim. Estou fascinado por ela como se fosse uma necessidade saber sua identidade, seu nome, onde vive e com quem.Não acho que o passarinho tenha algum namorado, mas pode ter algum pretendente.Hoje, mesmo, senti que deveria sair do meu escritório só para buscar por uma pessoa que eu nem sabia quem era.É loucura. Estou ficando louco.O pior de tudo é que sempre quero mais dela: mais informações e mais uma mensagem.Ela foi a primeira mulher que me fez dizer tudo aquilo sobre mim, porque a maioria que sai comigo só fala ban
Ian— É muita tecnologia. — O homem está abismado com a sala onde é armazenada milhares de combinações numéricas que representam os dados de cada empresa para a qual trabalhamos. — Nunca vi algo igual.— Todos os anos essa ala cresce para acompanhar o número de empresas com quem temos parcerias. — Observo atentamente o senhor Phil, que se estica, tentando ver até onde vão os equipamentos da sala. — Tudo é monitorado vinte e quatro horas por dia e temos um sistema de climatização para que os servidores não se danifiquem. Além do mais, nossos funcionários são capacitados para resolver qualquer problema.— E vocês cobrem qualquer prejuízo se isso acontecer? — Levanta as sobrancelhas grossas ao me olhar.— Claro. — Coloco um sorriso no rosto, sendo que não estou nada fel
Emma O que está acontecendo comigo? Ian Novack sabe me deixar louca. Como se a amizade que dizemos ter, fosse algo tão importante e vital para a minha vida! Ele estava a poucos centímetros de mim, encarando minha nuca, causando arrepios pelo meu corpo todo e outras reações idiotas que desejei rejeitar a todo custo. Meu chefe é charmoso, e ver suas fotos me deixa boba. Eu senti que ele estava a poucos passos de mim e seu perfume sutil me deixou de quatro, no chão. Mas não como foi na última vez. Ele está frustrado, assim como eu. Por isso decidi acabar de vez com nossa brincadeira. Eu fui culpada por ter a começado, então terminei com ela. Saio atrasada do trabalho, já imaginando que perderei o metrô para chegar cedo em casa. Assim que ponho os pés para fora do prédio, Ian sai com uma expressão nada legal. Meu coração quase salta pela boca e o desejo de ir até ele, vem até mim. Não é como se tivesse sido semanas ou meses de conversa, mas o pouco que falamos um com outro foi suf