Capítulo 6

Emma

Não sei por que mandei mensagens para ele, nem por que conversamos. É loucura! Ian é meu chefe, um egocêntrico safado.

Talvez seja a falta do que fazer ou a solidão. Só isso para justificar tudo que está acontecendo.

Devo confessar que ele é engraçado, embora seja irritante. E, apesar de saber disso, ainda quero receber e responder suas mensagens.

Não posso negar que senti um pouco de medo e que até agora sinto. Não fiz nada demais, porém, com a fama de chefe que ele tem, devo me prevenir e não dar muita pinta, para não correr o risco de topar com ele e ser reconhecida de alguma forma.

O pior é que assim que virei o quarteirão, eu o vi. Ele estava lindo, trajando um terno cinza. Sua bunda fica maravilhosa na roupa mais justa e seus cabelos estavam sendo levados pelo vento, mesmo não sendo tão longos. O homem é lindo, quase um deus. Se não fosse tão arrogante...

Fiquei feliz quando o vi entrar no prédio. E, para disfarçar, esperei alguns minutos do lado de fora.

Quando trabalho, as horas se passam e eu nem percebo. Gosto muito do que faço e de onde trabalho. Sou a única mulher no meu setor e uma das melhores no ramo, assim como Victor, que agora está me pedindo ajuda com o olhar.

Depois de ser um cavalheiro ao ajudar Ágatha e Mia, ele se tornou o queridinho delas. É sempre bem-educado, um bom ouvinte, nunca é desrespeitoso com ninguém, e todas o acham fofo.

Só o observo de onde estou. Geralmente, nós nos vemos no restaurante, na hora do almoço. Só não quando estou com preguiça, pouca fome, e opto por comer algo na lanchonete da empresa.

Mas hoje, em uma tentativa inútil de fugir dos meus pensamentos, escolho ir com ele e suas novas amigas para lá. É estranho estar no mesmo lugar que as secretárias. Elas são simpáticas e nunca me olharam estranhamente, nem nada, mas compará-las a mim neste exato momento seria um crime. Enquanto estou com uma camiseta simples, uma calça jeans surrada e sapatos de adolescente do segundo grau, elas estão usando um vestido bonito, saltos altos, e estão com os cabelos bem feitos, além de maquiagens elegantes. Até parecem madames, pela forma de agir.

— Vocês não sabem como está sendo estranho o meu trabalho hoje. — Falou Mia. Está empolgada com o que vai contar.

Ela é a secretária de Ian. Portanto, querendo ou não, infelizmente, fico curiosa para saber a notícia.

— Por quê? — Perguntou Ágatha. — O idiota do seu chefe fez alguma coisa? Quero dizer... mais alguma coisa?

— Ele está de bom humor. — Comentou surpresa, com um sorriso nos lábios pintados de vermelho. — Desejou um bom dia para mim, pediu “por favor” quando quis um café e não estava tão grosso como sempre. Será que o pai dele morreu?

— Credo, Mia! Talvez ele só esteja revendo como trata os funcionários ou tenha transado com alguém ontem. — Disse Ágatha, fazendo-me engasgar com o suco que bebia.

Todas olham para mim, e Victor ri da minha cara. Nenhum deles sabe realmente o que aconteceu.

— Seria alguma namorada? — Questionou Mia, pensativa.

— Não mesmo. — Respondi sem pensar, vendo—as lançar um olhar estranho para mim novamente. — Vocês mesmas dizem que o homem é um arrogante. Como arranjaria uma namorada que o suportasse? — Argumentei após minha gafe.

— Pode até ter razão, Emma. Mas, já viu o homem? — Perguntou o óbvio. — Ele é lindo de morrer e tem muito dinheiro. Aposto que seu telefone está repleto de número de mulheres. Ontem, por exemplo, uma delas foi ao seu escritório. Estava tão irritada que nem esperou que eu anunciasse sua chegada. — A mulher do telefone, talvez?

— Então, essa está descartada como candidata. — Ironizou Ágatha.

— Ele ficou chateado e nem sabia do que ela estava falando. — Mia continua pensativa.

Eu poderia deixar essa passar, mas meus dedos e a burrice da minha cabeça falam mais alto. Pego o meu celular e digito uma mensagem para ele, antes de sair do restaurante.

Deve ter sido divertido lidar com a loira oxigenada ontem.

Surpreendendo-me, Ian responde rápido, como se já esperasse pela minha mensagem.

Então, foi você mesmo. Saiba que ela ainda está me irritando. Por que disse que é minha namorada? Todos sabem que não namoro.

“Foi exatamente por isso que eu disse. Gostaria de ter visto as caras dos dois.”

“Não foi nada engraçado ter que aturar as bobagens dela quando me procurou.”

Não sei se está irritado ou simplesmente comentando o fato.

Quem sabe, na próxima, eu esteja por perto para ver como vai reagir à outra mulher irritada por alguma coisa que eu tenha dito sobre você?

Um momento...”

Os três pontinhos no final de sua mensagem me irritaram, pois o restante está demorando uma eternidade para chegar.

Como sabe que ela esteve ontem no meu escritório? Está me espionando, comprando informações ou...? ”

Só agora reflito sobre o que fiz. Antes Ian achava que eu era uma estranha da rua, mas agora sabe que estou mais próxima dele do que imaginava. Fico puta comigo mesma e desejo me bater.

Acho que falei demais.”

Desejo apagar as mensagens, achando que assim ele se esquecerá, porém o estrago já foi feito.

Você trabalha para mim, não é, passarinho?

Você ainda não sabe quem sou, então espero que isso não me traga problemas, bundão. Além do mais, não estou cometendo um crime, não é?

Se sou seu chefe, não admito que fale comigo dessa forma e exijo vê-la agora.

Já fiz muita merda na vida e gosto de achar que sou inteligente, só que isso foi demais. Agora estou quase ferrada. Tomara que ele não me procure na empresa só para me demitir.

Acho que está convencido demais, Ian. Não pode me exigir isso. Apesar de ser meu chefe, não sabe quem sou, e não vou dar a você a oportunidade de me demitir.

Não quero demitir você, só saber, finalmente, qual é o rosto da mulher que está me deixando louco.

Eu estou te deixando louco? Não me conte piadas! É você quem está se importando muito com esse mistério. Além do mais, não vou acreditar que não me demitirá, já que até o momento o que sei sobre você é que não se permite ser desafiado por um funcionário. O que quer dizer que não vou dizê-lo quem sou, bundão.

O momento de silêncio só me deixa ainda mais nervosa. Não gosto de situações como essa, onde estou sendo pressionada, mas admito que a culpa é minha.

Tudo bem, passarinho. Mas saiba que vou descobrir quem é, querendo ou não, e provarei que sou de confiança, que não vou demiti-la.

Boa sorte, então! Não sou fácil de ser achada. E, mesmo se estiver no mesmo lugar que eu, nunca imaginará quem sou.

É um desafio?

Não, Ian. Não é um desafio. Agora, deixe-me voltar ao trabalho!

Guardo o celular no bolso e retorno ao prédio sozinha. Não quero que, de alguma forma, ele tenha tempo de me achar. Antes de passar pela recepção, vejo-o encostado na parede de mármore, olhando para todas as pessoas que passam pelo hall.

Filho da mãe!

Respiro fundo, enfio-me no meio de um grupo de funcionários que trabalha nos escritórios do andar de cima e tento, a todo custo, não o olhar. Sinto um frio na barriga incomum quando passo ao seu lado, mas, como já sei, ele nunca olhará para mim. Nem me nota quando passo.

Lá no fundo tenho dois sentimentos conflitantes, e um deles é bem idiota. Queria ser o tipo de mulher que ele notasse. Mas isso nunca vai acontecer.

Vou direto para o meu setor. Talvez possamos conversar quando ele me mandar mais mensagens, pois eu não tomarei mais essa iniciativa. Não quero mais brincar de provocar o chefe. Se, por algum azar, Ian me achasse, tenho total certeza de que me demitiria.

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