Ian
Não sei o que está acontecendo comigo. Desde que comecei a conversar com aquela estranha, não paro de pensar nela ou em como ela pode ser, na cor de seus olhos, dos cabelos, em como se veste... As únicas coisas que sei dela até o momento é que tem uma tatuagem, que sua pele é pálida, que trabalha na minha empresa e que é tímida. Mas, por trás do seu anonimato, é sincera e provocante.
Todo esse mistério está me deixando louco; e uma mulher nunca conseguiu isso de mim. Estou fascinado por ela como se fosse uma necessidade saber sua identidade, seu nome, onde vive e com quem.
Não acho que o passarinho tenha algum namorado, mas pode ter algum pretendente.
Hoje, mesmo, senti que deveria sair do meu escritório só para buscar por uma pessoa que eu nem sabia quem era.
É loucura. Estou ficando louco.
O pior de tudo é que sempre quero mais dela: mais informações e mais uma mensagem.
Ela foi a primeira mulher que me fez dizer tudo aquilo sobre mim, porque a maioria que sai comigo só fala banalidades, enche o saco e me faz desejar que as horas passem rápido. Diferentemente do que a estranha causa em mim.
Em qual departamento ela trabalha? RH? É uma secretária? Assistente pessoal? Técnica de manutenção? É um mistério.
Hoje terei uma visitação com um dos nossos novos clientes. O homem é daqueles que não acredita nas novas tecnologias, mas, ironicamente, precisa de proteção virtual para os seus dados. Tudo hoje em dia gira em torno delas, como a internet. Se não se sabe guardar adequadamente os dados da sua empresa, seja banco, construtora, etc., corre-se o risco de ser roubado pelos hackers ou, como os antigos os chamam, “piratas virtuais”. Essa gente rouba tudo que você tem para ganhar.
Apesar de ser difícil gerir números e dados de outras empresas, meu pai foi um homem muito cuidadoso e sabia que, para não errar, teria que sempre inovar e buscar novas maneiras de proteger tais informações.
Minha cabeça oscila entre o trabalho, o novo cliente e a estranha do celular. Passei a frequentar espaços onde os funcionários frequentam e a observar tudo e todos. Até agora, dentro do elevador social, procuro por respostas.
As mulheres lindas com seus terninhos e vestidos justos estão caladas. Eu não sou o único homem aqui, mas ninguém, nem mesmo o cara de óculos estranhos, diz um “pio”.
Segundo a estranha, todos me acham um vilão. E ela tem razão. Desde que pus os pés neste lugar, tenho sido um bundão. Fui muito bem educado com os melhores princípios, e tudo mais, porém quando estou estressado ou de saco cheio, estouro e não penso muito nas pessoas ao meu redor.
Agora, eu não quero ser um tarado que está tentando ver uma parte do corpo de alguma mulher. Sendo assim, impeço meus olhos de procurarem por um pulso com uma tatuagem de pássaros voando. É difícil.
Você é um tarado, Ian!
Ela diria isso. Rio do meu próprio pensamento e do da mulher que, ultimamente, está tirando o meu juízo.
Dou graças a Deus quando chego ao meu andar. O clima no elevador estava estranho. As pessoas ficam assim quando estão perto de mim. O que só comprova que sou um homem odiável.
— Bom dia, senhor Novack! — Mia me cumprimentou, entregando-me meu café antes mesmo de eu entrar no escritório. — A visita com o senhor Phil está marcada para daqui a dez minutos. Ele insiste para que o senhor o acompanhe.
“Ótimo!” Como se eu não tivesse outras coisas para fazer!
Phil é o dono de uma das maiores empresas de publicidade do país, e já fazia um tempo que ele e meu pai estavam conversando sobre um acordo. O homem demorou para aceitar que uma empresa como a TEC Corporation poderia proteger o seu dinheiro. Até parece que ainda vive no século passado, onde tudo era armazenado em gavetas e escrito em papéis que só juntavam poeira. No novo século, tudo que fazemos, até mesmo criação de projetos, é colocado em HD’s ou em bancos de dados. Empresas como a dele dependem de servidores modernos para que nada seja perdido.
Contudo, o que é facilitado, também pode ser uma porta para roubos. Antes alguém tinha que passar por um segurança armado para pegar a papelada que poderia arruinar um negócio, como contratos e muito mais, porém, para isso hoje em dia, é necessário apenas um bom conhecimento e ferramentas capazes de alcançar computadores até do outro lado do mundo. Ninguém está seguro de ser roubado, no entanto dificultamos os idiotas de conseguir esse feito.
— Ok, Mia. Prepare tudo para mais tarde! — avisei, tentando não ficar de mau humor só porque um velho amigo de meu pai precisa da minha presença para acreditar que a TEC Corporation é capaz de fazer o seu trabalho: cuidar do patrimônio virtual de um bilionário qualquer. — Remarque a reunião das 10 horas para às 14 horas! Farei o possível para que isso acabe logo.
Ian— É muita tecnologia. — O homem está abismado com a sala onde é armazenada milhares de combinações numéricas que representam os dados de cada empresa para a qual trabalhamos. — Nunca vi algo igual.— Todos os anos essa ala cresce para acompanhar o número de empresas com quem temos parcerias. — Observo atentamente o senhor Phil, que se estica, tentando ver até onde vão os equipamentos da sala. — Tudo é monitorado vinte e quatro horas por dia e temos um sistema de climatização para que os servidores não se danifiquem. Além do mais, nossos funcionários são capacitados para resolver qualquer problema.— E vocês cobrem qualquer prejuízo se isso acontecer? — Levanta as sobrancelhas grossas ao me olhar.— Claro. — Coloco um sorriso no rosto, sendo que não estou nada fel
Emma O que está acontecendo comigo? Ian Novack sabe me deixar louca. Como se a amizade que dizemos ter, fosse algo tão importante e vital para a minha vida! Ele estava a poucos centímetros de mim, encarando minha nuca, causando arrepios pelo meu corpo todo e outras reações idiotas que desejei rejeitar a todo custo. Meu chefe é charmoso, e ver suas fotos me deixa boba. Eu senti que ele estava a poucos passos de mim e seu perfume sutil me deixou de quatro, no chão. Mas não como foi na última vez. Ele está frustrado, assim como eu. Por isso decidi acabar de vez com nossa brincadeira. Eu fui culpada por ter a começado, então terminei com ela. Saio atrasada do trabalho, já imaginando que perderei o metrô para chegar cedo em casa. Assim que ponho os pés para fora do prédio, Ian sai com uma expressão nada legal. Meu coração quase salta pela boca e o desejo de ir até ele, vem até mim. Não é como se tivesse sido semanas ou meses de conversa, mas o pouco que falamos um com outro foi suf
— Saia do meu apartamento e só volte quando deixar essa loucura de lado! Caso contrário, nossa amizade acaba aqui. — Tento reprimir a insegurança e a decepção que me tomaram depois do que ela me disse. — Está sendo malvada porque odeia quando estou contra você. Até tem razão em algumas coisas, mas, como minha amiga, não deveria dizê-las. Eu não faria isso com você.O arrependimento no seu rosto é evidente, contudo não mudo de ideia. Saio da sua frente e vou até o banheiro. Estou muito cansada para continuar brigando. Eu queria ajudá-la, pois, claramente, seu novo “trabalho” não é confiável.Logicamente, não posso julgar nada que não conheço, porém sei quando algo vai dar errado. Muitas meninas já se envolveram com essas coisas e nada terminou bem para elas, pois os homens costumam achar que podem usar e abusar delas, prometendo-as tudo só para, no fim, saírem vencedores.Eu não sei se Ian é como essas pessoas, já que mal o conheço e agora nem dá mais para conhecer. Tive que acabar com
EmmaSabe quando você entende o quanto é errado fazer algo e, mesmo assim, faz? Estou passando por essa situação. Duas semanas de intensas conversas com meu chefe, Ian Novack, mostraram para mim o quanto sou idiota e boba.Primeiro: claramente, eu estava me apegando a ele e, arrisco-me a dizer, gostando dele. Ian é um babaca egocêntrico e, quando se estressa, é arrogante com todos que estão em sua frente. Desde que começamos as conversas, isso veio diminuindo um pouco, assim como o desejo dele de me encontrar.Gosto de ver que o chefe que todos odeiam, no fundo, não é tão odiável. Sempre que ele está entediado ou tem novidades, manda-me mensagens de textos ou me liga quando chegamos em casa. Falamos sobre muitos assuntos, como, por exemplo, dos pais dele ou da vida boemia que ele tinha antes de tudo acontecer.É estranho falarmos de coisas que nunca falei abertamente com ninguém, nem mesmo com Bia, que ainda está chateada comigo. Também estou com ela.O pior de tudo é notar como estou
Emma— Não. Eu só estou ansiosa e... Com um pouco de medo sim; devo confessar. — Mas não é pelo motivo que ele acredita.O homem com quem conversei por semanas está dentro do transporte e, provavelmente, sob estresse. Explodirá de raiva o caminho todo. Algo que estragaria tudo que construímos, porque nem o fato de conhecê-lo melhor agora, diminuiria a minha raiva se ele me tratasse como sempre tratou os que trabalham na empresa.Saio do carro sentindo como se o chão fosse feito de lava. O frio na minha barriga está quase me paralisando.O meu superior é o primeiro a subir na aeronave, e só isso é suficiente para ouvirmos a arrogância do homem. Tenho que respirar fundo antes de colocar os pés dentro do pequeno avião.Arrumo os óculos e me viro em direção à poltrona de couro macio onde me sentarei.
IanEu devia ter tido uma noite comum, na qual sairia com um amigo, beberia dois copos da mais forte bebida e correria até minha casa para falar com a mulher que está na minha cabeça há semanas.Algo assim nunca tinha acontecido na minha vida e, até o momento, não sei se estou fascinado só pelo mistério que cerca o passarinho fujão ou se, realmente, estou me apegando afetivamente à mulher tímida e sensível.Nunca precisei fazer muito mais do que dois ou três elogios, um jantar sedutor e uma noite de sexo maravilhoso para conquistar alguém. Mas essa anônima, quem eu não conhecia pessoalmente e que insiste em se esconder de mim, está mudando tudo que eu acreditava sobre relacionamentos e sentimentos.Naquela noite, tudo mudou. Foi a primeira vez que passei por uma situação estressante como aquela. É claro que já ad
Ian— Claro, senhor Novack. Assim que ela chegar, eu a mandarei direto para o seu escritório.— Ótimo.Como um idiota, assim que coloco telefone de volta no lugar, fico nervoso e ansioso. Arrumo a mesa umas três vezes, ajeito meu terno perfeitamente no lugar, assim como o meu cabelo, que não precisa de tanta atenção.Ela está demorando mais do que imaginei e não consigo me concentrar, durante o tempo todo, nos papéis que estão sobre a minha mesa.As batidas leves na porta me fazem pegar o primeiro papel em minha frente e me concentrar nele, mesmo sem interesse, sem lhe dar atenção alguma.Não faço ideia do porquê meu coração bate como um tambor ou por qual razão a minha respiração está frenética.Deixo a folha sobre a mesa e observo entrar na sala a mulher tímida com
EmmaIr àquela viagem com Ian foi um erro. Depois dessa ocasião, ele começou a ficar estranho, tanto no trabalho, quanto nas mensagens que ainda não respondi.“Espero que tenha tido uma ótima noite de sono, passarinho.”“O dia está radiante, mas confesso que se estivesse aqui, seria duas vezes melhor.”Tenho que concordar que nossa relação é estranha e que ser chamada à sua sala uns dias depois de chegar de Los Angeles foi quase um filme de terror.Estou exagerando, óbvio.Sempre tive dificuldade de saber se alguém está rindo de mim, tirando sarro ou se está interessado; também de identificar as reações e expressões sociais. Isso porque me reservo quanto a esses aspectos. Porém, achei que com Ian seria diferente, já que ele estava sempre me dizendo tudo e não tinha medo de me falar perversidades profanas.Mesmo que eu tenha o ajudado em Los Angeles e seja boa no que faço, foi estranho ser escolhida para a nova função. Não sou de me gabar, mas é que Milton sempre afirma esse fato. Quan