O vento estava fresco, as duas taças de vinho foram o suficiente para deixar tudo mais tranquilo e leve. Ela precisava disso, ou iria surtar. Não era como se os dois fossem casar ali, naquele mesmo lugar, mas significava muito, ainda mais vindo de alguém que não é tão romântica, não sabe as regras e os jeitos. Harvey relaxou, na cadeira. Estava gostando daquele mimo. Em determinado momento, quando ela saiu, lembrou-se do anel. Era o momento perfeito. Contudo, pensou que estragaria se transformasse tudo em algo dele. Naquele instante, Harvey sentiu-se em dúvida. Uma parte dele, gritava para correr e pegar o bendito anel, o outro, dizia que era melhor esperar e deixar a noite por conta dela. Ao voltar, Samanta segurava a caixa, achou que já era hora. Seu coração estava na boca, as mãos suavam e ela nem sabia quais eram as palavras que usaria. Harvey também se sentiu nervoso, sem perceber que ela escondia algo. Já em um estofado, encostado ao parapeito, que trazia conforto e de on
Semanas depois Minha vida finalmente estava começando a fazer sentido. Ou melhor dizendo, uma parte dela. Uma grande parte dela. E eu estava feliz. Finalmente, tinha o reconhecimento que tanto buscava no meu trabalho, tinha alguém que amava ao meu lado e uma família com quem podia contar. E, mesmo com o abalo entre mim e minha melhor amiga desde o ocorrido, conseguíamos conversar, compartilhar sobre o nosso dia e rir de algumas lembranças. Essa pequena normalidade nos unia e me fazia bem.Morar com o Harvey ainda era um desafio. Ele sempre foi atencioso, mas agora parecia ter ganhado um lado controlador, até mandão. Era como se ele precisasse organizar cada detalhe, cada mínima coisa ao redor. Em certos momentos, eu até gostava da segurança que essa obsessão dele trazia, mas, em outros, me irritava. Era exaustivo. Me sentia, por vezes, como se estivesse num cenário controlado por ele. Eu me perguntava se era comodismo meu deixar que ele tomasse as rédeas de tudo por enquanto. Talvez.
Claramente, alguma coisa estava errada comigo, e eu não queria que Harvey descobrisse. Ele era atento, sempre observador e controlador, e a cada dia parecia estar mais perto de desvendar o que eu tentava esconder. Fugir dele para vomitar no banheiro estava se tornando um desafio quase impossível, e eu tive que admitir para mim mesma que algo estava realmente estranho. Tirei alguns minutos para tentar entender o que se passava e, conforme as possibilidades se desenrolavam na minha mente, uma ideia assustadora e completamente inesperada tomou forma. Senti o sangue gelar nas veias, minhas mãos suadas, e meu coração disparou. Neguei de imediato, mas, aos poucos, fui forçada a encarar a verdade: cometi erros impulsivos, atos que não mediram as consequências. E, na correria da nova rotina — trabalho, o relacionamento com Harvey, a vontade de evitar o reencontro com Yen e tudo o que isso representava —, simplesmente deixei passar detalhes que agora se voltavam contra mim.Era impo
Desde o momento em que descobri a minha gravidez, eu meio que... dissociei da realidade. O mundo inteiro passava ao meu redor, e eu só pensava em como iria lidar com tudo isso. Não era como se fosse o fim do mundo. Eu não estava desamparada, e sabia que meu noivo com certeza ficaria radiante, talvez até soltasse fogos de artifício para comemorar. Mas a questão não era ele, era comigo mesma, era algo interno. Um medo. Talvez até um pânico. Nunca parei para pensar em como me sentiria quando finalmente quisesse ter filhos. Bem, um filho meu, do meu próprio sangue. Desde sempre eu tive a sensação de que queria adotar. Mas ter um filho que carregasse meu DNA... Eu não sabia como processar isso. Ele está crescendo dentro de mim. Faz parte do meu corpo agora. E eu já fiz parte do corpo de alguém.Não é como se você entrasse num orfanato, encontrasse centenas de crianças e uma delas te olhasse de uma forma tão especial que parecesse te escolher como mãe. Não sei. Até isso parecia l
Dias depoisMinha vida mudou por completo desde que descobri que havia uma criança crescendo em meu ventre. Foi como ganhar uma nova chance, uma força que eu nunca imaginei ter. No começo, o medo me dominou – não do bebê em si, mas do que ele traria consigo, do meu passado. Eu me perguntava se realmente seria capaz de ser mãe. A ideia de família parece simples, algo quase idealizado, mas quando essa realidade é lançada sobre você, sem planejamento, você se sente perdida, especialmente com tantas questões ainda não resolvidas.Foi só quando conheci a história de Mary Ann que a urgência de enfrentar esses fantasmas se instalou. Ver alguém tão parecido comigo, com uma história que parecia espelhar a minha, me quebrou por dentro, desmontando as barreiras que achei ter solidificado com o tempo. Talvez seja ingênuo pensar que o passado
Colocar tudo para fora me libertou. Aquela conversa foi necessária para me deixar leve, mesmo ainda ansiosa para ter a certeza de que eu não estava ficando louca.Assim que comecei a contar a minha história e o quanto era parecida com a dela, Mary Ann, simplesmente, se desmontou em minha frente, pegando em minha mão, enchendo os olhos de lagrimas e me abraçando forte, como se houvesse encontrado um baú cheio de ouro.Expliquei a ela que, por mais que fossem parecidas as nossas marcas de nascença, isso poderia ser apenas uma coincidência, porém, a mulher tomou como verdade desde o início.Eu sabia que era apenas o desespero de encontrar sua filha, tirado dos seus braços a muito tempo. Confesso que gostei da sensação de ser acolhida e desejada por alguém. Contudo, havia decepções nas quais nós deveríamos estar preparadas, só que ela n
"casa comigo em uma semana?" Foi o que Harvey me pediu. Na hora eu ri. Uma gargalhada enorme saiu da minha boca sem que eu percebesse e isso criou um clima estranho entre nós.O encarei, quando vi que ele não estava reagindo positivamente. Não foi uma piada. O homem realmente esperou uma resposta de mim. Ainda tentei buscar em sua expressão facial, alguma coisa que me dissesse que ele estava brincando. Ele tinha que estar brincando. Afinal, Que pergunta louca é essa?"Estáde brincadeira não é?" O questionei ainda perplexa. Harvey, então, se levantou do sofá onde estávamos, e andou até a janela de vidro de onde podia ver os prédios e as ruas do bairro mais chique de Nova York.Fiquei impressionada com a sua reação. Ele sempre falava coisas sem sentido. Brincadeiras apenas para que eu pudesse rir, contudo, aquilo não pareceu ser uma piada. Por isso eu me levantei e fui até onde ele estava, pondo minha mão em seus ombros, o que não o fez prestar atenção em mim."Harvey, isso é sério?"O
Sentada na varanda da casa nova, vejo Harvey com nosso menino nos braços. Ele passeia pelo jardim, com a melhor vista de NY, segundo a minha própria opinião. Sinto uma paz tão grande que não consigo mensurar.Tudo isso parece um sonho. Uma ilusão e o meu maior medo, agora, é acordar e perceber que nada disso é real. Eu morreria. Minha vida não teria sentido.Quando entrei naquele elevador, não imaginei que tudo mudaria dessa forma. Acredito que conhecer Harvey foi o que me fez girar a chave. Tudo, depois dele, mudou para melhor e isso eu não tenho como explicar.Fecho os olhos e lembro-me dos dias em que eu rezava para ter alguém que chamasse o meu nome e me fizesse sentir a realidade, pois eu vivia tão isolada, que as vezes achava que não existia.Conhecer Hope foi o primeiro passos para me tornar alguém sociável. Eu sempre deixava as pessoas me machucarem e pisarem, e foi ali que comecei a perceber que deveria mudar, apesar do medo. Aquele medo me aprisionava. Justo quando eu estava