Ian
— É muita tecnologia. — O homem está abismado com a sala onde é armazenada milhares de combinações numéricas que representam os dados de cada empresa para a qual trabalhamos. — Nunca vi algo igual.
— Todos os anos essa ala cresce para acompanhar o número de empresas com quem temos parcerias. — Observo atentamente o senhor Phil, que se estica, tentando ver até onde vão os equipamentos da sala. — Tudo é monitorado vinte e quatro horas por dia e temos um sistema de climatização para que os servidores não se danifiquem. Além do mais, nossos funcionários são capacitados para resolver qualquer problema.
— E vocês cobrem qualquer prejuízo se isso acontecer? — Levanta as sobrancelhas grossas ao me olhar.
— Claro. — Coloco um sorriso no rosto, sendo que não estou nada fel
Emma O que está acontecendo comigo? Ian Novack sabe me deixar louca. Como se a amizade que dizemos ter, fosse algo tão importante e vital para a minha vida! Ele estava a poucos centímetros de mim, encarando minha nuca, causando arrepios pelo meu corpo todo e outras reações idiotas que desejei rejeitar a todo custo. Meu chefe é charmoso, e ver suas fotos me deixa boba. Eu senti que ele estava a poucos passos de mim e seu perfume sutil me deixou de quatro, no chão. Mas não como foi na última vez. Ele está frustrado, assim como eu. Por isso decidi acabar de vez com nossa brincadeira. Eu fui culpada por ter a começado, então terminei com ela. Saio atrasada do trabalho, já imaginando que perderei o metrô para chegar cedo em casa. Assim que ponho os pés para fora do prédio, Ian sai com uma expressão nada legal. Meu coração quase salta pela boca e o desejo de ir até ele, vem até mim. Não é como se tivesse sido semanas ou meses de conversa, mas o pouco que falamos um com outro foi suf
— Saia do meu apartamento e só volte quando deixar essa loucura de lado! Caso contrário, nossa amizade acaba aqui. — Tento reprimir a insegurança e a decepção que me tomaram depois do que ela me disse. — Está sendo malvada porque odeia quando estou contra você. Até tem razão em algumas coisas, mas, como minha amiga, não deveria dizê-las. Eu não faria isso com você.O arrependimento no seu rosto é evidente, contudo não mudo de ideia. Saio da sua frente e vou até o banheiro. Estou muito cansada para continuar brigando. Eu queria ajudá-la, pois, claramente, seu novo “trabalho” não é confiável.Logicamente, não posso julgar nada que não conheço, porém sei quando algo vai dar errado. Muitas meninas já se envolveram com essas coisas e nada terminou bem para elas, pois os homens costumam achar que podem usar e abusar delas, prometendo-as tudo só para, no fim, saírem vencedores.Eu não sei se Ian é como essas pessoas, já que mal o conheço e agora nem dá mais para conhecer. Tive que acabar com
EmmaSabe quando você entende o quanto é errado fazer algo e, mesmo assim, faz? Estou passando por essa situação. Duas semanas de intensas conversas com meu chefe, Ian Novack, mostraram para mim o quanto sou idiota e boba.Primeiro: claramente, eu estava me apegando a ele e, arrisco-me a dizer, gostando dele. Ian é um babaca egocêntrico e, quando se estressa, é arrogante com todos que estão em sua frente. Desde que começamos as conversas, isso veio diminuindo um pouco, assim como o desejo dele de me encontrar.Gosto de ver que o chefe que todos odeiam, no fundo, não é tão odiável. Sempre que ele está entediado ou tem novidades, manda-me mensagens de textos ou me liga quando chegamos em casa. Falamos sobre muitos assuntos, como, por exemplo, dos pais dele ou da vida boemia que ele tinha antes de tudo acontecer.É estranho falarmos de coisas que nunca falei abertamente com ninguém, nem mesmo com Bia, que ainda está chateada comigo. Também estou com ela.O pior de tudo é notar como estou
Emma— Não. Eu só estou ansiosa e... Com um pouco de medo sim; devo confessar. — Mas não é pelo motivo que ele acredita.O homem com quem conversei por semanas está dentro do transporte e, provavelmente, sob estresse. Explodirá de raiva o caminho todo. Algo que estragaria tudo que construímos, porque nem o fato de conhecê-lo melhor agora, diminuiria a minha raiva se ele me tratasse como sempre tratou os que trabalham na empresa.Saio do carro sentindo como se o chão fosse feito de lava. O frio na minha barriga está quase me paralisando.O meu superior é o primeiro a subir na aeronave, e só isso é suficiente para ouvirmos a arrogância do homem. Tenho que respirar fundo antes de colocar os pés dentro do pequeno avião.Arrumo os óculos e me viro em direção à poltrona de couro macio onde me sentarei.
IanEu devia ter tido uma noite comum, na qual sairia com um amigo, beberia dois copos da mais forte bebida e correria até minha casa para falar com a mulher que está na minha cabeça há semanas.Algo assim nunca tinha acontecido na minha vida e, até o momento, não sei se estou fascinado só pelo mistério que cerca o passarinho fujão ou se, realmente, estou me apegando afetivamente à mulher tímida e sensível.Nunca precisei fazer muito mais do que dois ou três elogios, um jantar sedutor e uma noite de sexo maravilhoso para conquistar alguém. Mas essa anônima, quem eu não conhecia pessoalmente e que insiste em se esconder de mim, está mudando tudo que eu acreditava sobre relacionamentos e sentimentos.Naquela noite, tudo mudou. Foi a primeira vez que passei por uma situação estressante como aquela. É claro que já ad
Ian— Claro, senhor Novack. Assim que ela chegar, eu a mandarei direto para o seu escritório.— Ótimo.Como um idiota, assim que coloco telefone de volta no lugar, fico nervoso e ansioso. Arrumo a mesa umas três vezes, ajeito meu terno perfeitamente no lugar, assim como o meu cabelo, que não precisa de tanta atenção.Ela está demorando mais do que imaginei e não consigo me concentrar, durante o tempo todo, nos papéis que estão sobre a minha mesa.As batidas leves na porta me fazem pegar o primeiro papel em minha frente e me concentrar nele, mesmo sem interesse, sem lhe dar atenção alguma.Não faço ideia do porquê meu coração bate como um tambor ou por qual razão a minha respiração está frenética.Deixo a folha sobre a mesa e observo entrar na sala a mulher tímida com
EmmaIr àquela viagem com Ian foi um erro. Depois dessa ocasião, ele começou a ficar estranho, tanto no trabalho, quanto nas mensagens que ainda não respondi.“Espero que tenha tido uma ótima noite de sono, passarinho.”“O dia está radiante, mas confesso que se estivesse aqui, seria duas vezes melhor.”Tenho que concordar que nossa relação é estranha e que ser chamada à sua sala uns dias depois de chegar de Los Angeles foi quase um filme de terror.Estou exagerando, óbvio.Sempre tive dificuldade de saber se alguém está rindo de mim, tirando sarro ou se está interessado; também de identificar as reações e expressões sociais. Isso porque me reservo quanto a esses aspectos. Porém, achei que com Ian seria diferente, já que ele estava sempre me dizendo tudo e não tinha medo de me falar perversidades profanas.Mesmo que eu tenha o ajudado em Los Angeles e seja boa no que faço, foi estranho ser escolhida para a nova função. Não sou de me gabar, mas é que Milton sempre afirma esse fato. Quan
EmmaA reunião com os integrantes da equipe de aperfeiçoamento foi ótima. Todos se entrosaram e não houve desencontros de sugestões. Posso deixar minha marca na solução do problema, colocando no projeto a ideia que tive para o meu próprio sistema de rastreamento virtual.Está tudo indo bem, até que um intruso passa pela porta no fim da reunião, colocando medo nos rostos dos presentes. Não entendo imediatamente de quem se trata.Ele não ficaria parado nos olhando ou, melhor dizendo, monitorando.Ian é uma boa pessoa, e confesso que não está como estava naquela vez: estressado e arrogante com todos. Na verdade, o senhor Novack ou, como gosto de chamá-lo, bundão, sorri e distribui gentileza, passando por mim como se eu não estivesse em sua frente.Quando ele me encara, encontro um brilho em seu olhar e uma informaç