Capítulo 9

Ian

— É muita tecnologia. — O homem está abismado com a sala onde é armazenada milhares de combinações numéricas que representam os dados de cada empresa para a qual trabalhamos. — Nunca vi algo igual.

— Todos os anos essa ala cresce para acompanhar o número de empresas com quem temos parcerias. — Observo atentamente o senhor Phil, que se estica, tentando ver até onde vão os equipamentos da sala. — Tudo é monitorado vinte e quatro horas por dia e temos um sistema de climatização para que os servidores não se danifiquem. Além do mais, nossos funcionários são capacitados para resolver qualquer problema.

— E vocês cobrem qualquer prejuízo se isso acontecer? — Levanta as sobrancelhas grossas ao me olhar.

— Claro. — Coloco um sorriso no rosto, sendo que não estou nada feliz. — Sabemos como é importante manter tudo em ordem, para que nada dê errado, Phil. As manutenções são constantes, e não é só na sede que temos este extenso equipamento que está vendo. — Eu o acompanho para fora do local, indo em direção à sala onde os engenheiros e técnicos trabalham. — Em Los Angeles está o que meu pai chama de “cérebro”. É parecido com o que acabou de ver, só que cinco vezes maior; e os servidores se comunicam entre si, permitindo que saibamos de tudo em tempo real, tanto em Nova York, quanto em Los Angeles.

Sua expressão de surpresa me alegra. Ele é tão difícil quanto convencer um certo passarinho a me encontrar pessoalmente. Mas, diferentemente de como é com ela, vou conseguir fechar o negócio com esse homem.

— Seu pai tinha razão. — chamou minha atenção. — Você é bom nos negócios e um ótimo negociador.

— Nunca ouvi meu pai falar essas coisas sobre mim. — Lembro-me da nossa última briga, antes de ele sair irritado do meu apartamento e ir à festa que eu devia ter ido.

— Ele sempre reconheceu a sua capacidade. Mas, não pode mentir, dizendo que não era um imprudente com as mulheres. As notícias saíam sobre você nos noticiários de fofoca. — brincou.

— É. Eu não posso. — Sinto-me ainda mais culpado.

Entramos na sala onde todos trabalham para manter tudo em ordem. Sem os engenheiros, não somos nada. Ainda não sei como funciona essa parte, mas também não preciso. Eu cuido da administração e deixo essa área para os que amam as coisas confusas que estão nas telas dos computadores agora. O local não é tão fechado e todos estão em seus lugares, com vários monitores, fios, e com uma climatização especial. Eu nunca tinha entrado aqui. Milton é o chefe desse setor, e é ele quem nos explicará tudo.

— Bem... É aqui onde tudo acontece, Phil. Este é Milton, chefe do setor, e quem realmente sabe o que acontece nessa sala.

O homem baixinho, quase careca e de sorriso que vai de orelha a orelha, cumprimenta o nosso visitante e logo começa a sua palestra sobre todo o processo. Eu deveria prestar atenção nisso também. Não porque iria me ajudar a convencer Phil a nos contratar, e sim porque gostaria de saber mais sobre tudo, já que agora sou eu quem administro a TEC Corporation. O problema é que passo o tempo inteiro tentando achar alguém que não quer ser achada. Poderia deixar isso de lado e respeitar o anonimato dela, porém é impossível impedir os meus olhos de buscar por ela, mesmo não sabendo como achá-la.

Está difícil parar de pensar nessa mulher ou na possibilidade de estar sendo enganado e, na verdade, estar conversando com um estranho que sente a necessidade de brincar comigo. Apesar da foto que recebi do seu pulso, pode ser isso.

Milton e Phil estão andando pelo espaço em minha frente enquanto eu nem escuto o que eles dizem. Até que uma coisa no meio do caminho chama a minha atenção. Embora não tenha inspecionado este lugar, sei que aqui dentro não há tantas mulheres. Milton me disse uma vez que dentre todos os engenheiros diurnos, só há uma delas, a melhor entre todos. E estou a uns passos dela agora. O mais interessante de tudo é que sua nuca, a cor dos seus cabelos e sua pele clara não me são estranhos.

Eu posso estar ficando louco, já que pareço fantasiar ultimamente. O passarinho que me perturba é anônimo, portanto minha cabeça tenta, a todo custo, moldar uma pessoa física para ele. Mas devo confessar que, em algum momento, já vi tais características.

Tudo está começando a ficar estranho, pois ela parece perceber que eu a encaro; toca na nuca com desconforto. Um de seus colegas me olha com estranheza.

Quando percebo o quão ridículo estou demonstrando ser, afasto-me, indo de encontro aos dois homens que passeiam pelo setor de monitoramento.

Pego o meu celular e digito uma mensagem à mulher que está me deixando louco.

Você é culpada por estar me deixando louco, passarinho. Passei a manhã toda andando pela empresa e foi impossível não a procurar em cada canto. Deve, pelo menos, dizer para mim em qual setor trabalha, só para me libertar dessa loucura.

É obvio que ela não me dirá, mas, mesmo assim, pedi. O mais interessante é ouvir o som de uma notificação chegar em um celular de dentro da sala. É um barulho sutil e breve que esquenta meus miolos.

Acho que estou ficando louco.

— Devo confessar que não entendi muito bem o que disse, mas me passou muita segurança. — falou Phil, trazendo-me de volta à realidade.

A verdade é que a história com a estranha está me deixando tão fora de mim, que me irrita. Assim, decido que o melhor para a minha sanidade mental é esquecê-la. Nunca nos encontraremos e ela continuará brincando com minha cabeça. Já estou cheio.

— Podemos terminar o nosso tour agora. Estou convencido de que a melhor coisa a se fazer é contratar os serviços daqui.

Confirmo com a cabeça. Preciso voltar ao meu trabalho, às reuniões intermináveis e à minha breve paz. A última opção sei que não durará, pois são muitas as questões que me levam ao estresse; e a tal desconhecida está se tornando uma delas.

Ao passar novamente pela mulher em frente ao computador, que parece concentrada na tela, sinto outra vez aquela sensação de semelhança.

— Isso já está indo longe demais. — falei a mim mesmo, condenando-me.

***

A reunião foi mais do que chata, foi quase insuportável. Já estive em muitos lugares onde o assunto me desse muito sono ou onde o palestrante que estava me passando a sua ideia, não parecesse bom no que fazia.

Mesmo dizendo que me esquecei da mulher, minha mente idiota me trai. Na verdade, não para de pensar na funcionária que vi mais cedo, na sala dos computadores. Eu devia ter falado algo e, pelo menos, visto o seu rosto.

Ao pegar o meu telefone, que havia deixado de lado, vejo uma única mensagem. É da anônima.

Acho que isso passou dos limites. Nós dois não podemos ser amigos e você ainda insiste em me conhecer. E, mesmo eu sabendo que não é tudo aquilo que os outros falam, ainda me sinto confiante em apenas conversarmos por mensagens. Acredite: não sou nada interessante. E você é meu patrão. Querendo ou não, é melhor que as coisas continuem como estão: relação de chefe e funcionária. Foi culpa minha começarmos, e até gosto de conversar com você, mas o problema é que isso esteja atrapalhando o meu e o seu trabalho. Então, creio que o melhor a fazermos é parar de escrever um para o outro.

Tenho que reler a mensagem várias vezes para acreditar no que está escrito. Não era para ser nada de mais, pois ela é uma pessoa anônima com quem me esbarrei há alguns dias. Não sei como vive ou quais são os seus princípios, portanto deveria levar tudo na maior tranquilidade.

Como se, em um passe de mágica, eu fosse me esquecer de tudo! E, olha que nem foi grande coisa.

Olho as horas e constato que já deveria estar saindo do escritório. Mas, infelizmente, meu corpo demora a reagir e o silêncio se torna estranho.

Uma nova mensagem chega em meu celular, que está sobre a mesa, e corro para ver quem é o remetente. Decepciono-me por não ser de quem eu esperava que fosse.

Já faz um tempo que não nos vemos. Que tal aproveitarmos que estou na cidade e conversarmos um pouco?

Já estou farto de apenas conversar. Eloísa não é a pessoa que eu escolheria para uma conversa. Minha intenção com ela é outra.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo