Assim que acordo, lembro-me do celular e, como um tolo, verifico se tem mais alguma mensagem da mulher misteriosa. Não tem nenhuma. É decepcionante, e me irrito comigo mesmo por pensar assim.
Resolvo cuidar de tudo para começar o trabalho. Tomo banho, coloco um terno cinza e arrumo os cabelos em frente ao espelho.
Meu pai sempre se orgulhou de ser pioneiro no ramo de proteção de dados. Era um leigo no assunto, mas um mestre em administrar.
Com o crescimento da internet, também cresceram novas oportunidades de roubar. É por isso que a TEC Corporation se especializou nessa área e hoje trabalha com diversas empresas, bancos e pessoas que fazem parte desse meio digital.
Depois de pegar os papéis que trouxe ontem para casa, enfio-me no elevador, que desce até o estacionamento. Meu motorista já está à minha espera. Quando entro no carro, resolvo dar atenção aos documentos. Ontem não consegui resolver nada, pois só pensava na estranha, mas hoje resolvi esquecê-la e focar em trabalhar.
Chego rápido à sede de Nova York, já que estava me mantendo ocupado, lendo os diversos formulários e novos contratos.
Saio do veículo e paro antes de passar pela porta da frente. Apesar de poder entrar pelo subterrâneo, gosto de chegar por aqui para passar pela recepção e conferir as coisas. Contudo, meu objetivo de hoje é encontrar uma pessoa específica, mesmo sabendo que é tolice.
Assim que noto quão ridículo é o que estou fazendo, passo pela porta giratória e vou direto ao meu escritório. É claro que o passarinho irritante não faz parte do meu quadro de funcionários.
— Bom dia, senhor Novack! — minha secretária me cumprimentou com um belo sorriso no rosto.
Talvez seu nome seja Mia. Ela sempre me deseja um bom dia, mas nunca lhe retribuo.
— Bom dia, senhorita! — Passo por ela, lendo o papel que está em minhas mãos. — Você poderia me trazer um café, por favor? — Coloco minhas coisas sobre a mesa.
— Claro, senhor. — Dá um sorriso assustado que me faz franzir o cenho. — Aqui estão os papéis para a análise. — avisou-me antes de sair.
“Ótimo!” Mais papéis!
Alguma força maior que toma o meu corpo me faz pegar o celular do bolso. Eu tentei, a todo custo, tirar todo o glitter dele na noite passada.
Busco as mensagens de ontem.
“Ser simpático não faz o meu tipo. As pessoas me olham como se eu fosse um estranho.”
A falta de resposta me irrita e me faz guardar o aparelho novamente. Concentro-me somente nos papéis agora.
“É isso que dá ser mal-educado com todo mundo. Se continuar assim, bundão, pode ser o chefe do ano.”
Apesar da demora, ela finalmente respondeu, e, como um idiota, olho a mensagem no mesmo instante.
“Senhor bundão”. Estou começando a me acostumar com esse apelido. Não somos amigos, tampouco quero que sejamos, apesar de estar curioso para saber quem ela é.
“O que a senhorita Birdpink está fazendo agora?”
Ela me manda uma foto e eu vejo que está no metrô. Não me enviou uma dela, e sim de uma senhora dormindo, sentada no banco da frente.
“A senhora parece simpática, mas quero uma foto sua.”
“Está ficando obsessivo com esse assunto. Não terá uma foto minha. Contente-se com a senhora simpática!”
Ela tem razão: estou começando a insistir demais nessa questão. Deveria me concentrar no trabalho. Entretanto, agora, que estamos conversando de novo, é difícil apenas ignorá-la.
“Tem razão. Vou começar a ignorá-la, passarinho.”
“Não seria o primeiro. Então, tudo bem.”
“Claramente, não vou fazer isso até que me mostre algo com o qual eu me contente.”
Surpreendentemente, minha tela é invadida por uma foto do seu dedo do meio. É pouco, mas consigo ver que sua pele é pálida, com uma tatuagem, e que sua unha está pintada de azul, combinando com sua cor. Isso me agrada.
“Gostei da tatuagem. É muito sexy. Gostaria de saber se outras partes do seu corpo também são."
“Vai ficar só com a mão, senhor bundão.”
“Você é a mulher mais difícil que conheço. Geralmente, não preciso fazer nada para que as mulheres tirem as calcinhas.”
“Isso, na verdade, é uma honra. Eu nunca faria tal coisa com um pervertido como você.”
“Só está dizendo isso porque está longe, e não na minha frente. Acredite: eu lhe agradaria muito, passarinho. Tanto que desejaria repetir.”
“Nunca vai acontecer.”
“Agora é você que está me subestimando. Tome cuidado ao me provocar!”
“Vai ter que ficar com a ideia de que nunca vai me encontrar, de que jamais vou ser uma das idiotas que ficam no seu pé e de que nunca me faria perder cabeça a ponto de ficar com você.”
Toda essa provocação está me deixando louco. Ninguém nunca falou assim comigo antes ou me recusou. Essa mulher pode ser uma lunática, porém está me motivando a provar o contrário.
“Espero ter a oportunidade de provar o contrário, passarinho.”
EmmaNão sei por que mandei mensagens para ele, nem por que conversamos. É loucura! Ian é meu chefe, um egocêntrico safado.Talvez seja a falta do que fazer ou a solidão. Só isso para justificar tudo que está acontecendo.Devo confessar que ele é engraçado, embora seja irritante. E, apesar de saber disso, ainda quero receber e responder suas mensagens.Não posso negar que senti um pouco de medo e que até agora sinto. Não fiz nada demais, porém, com a fama de chefe que ele tem, devo me prevenir e não dar muita pinta, para não correr o risco de topar com ele e ser reconhecida de alguma forma.O pior é que assim que virei o quarteirão, eu o vi. Ele estava lindo, trajando um terno cinza. Sua bunda fica maravilhosa na roupa mais justa e seus cabelos estavam sendo levados pelo vento, mesmo não sendo tão longos. O homem é lindo, quase um deus. Se não fosse tão arrogante...Fiquei feliz quando o vi entrar no prédio. E, para disfarçar, esperei alguns minutos do lado de fora.Quando trabalho, a
EmmaHoje, correr com Bia tagarelando sem parar no meu ouvindo, salvou-me de ficar pensando em Ian Novack, meu chefe arrogante. Ele é como um parasita em meu cérebro, que perturba até os meus sonhos.No entanto, agora estou na frente da televisão, olhando para algo que passa, e não paro de pensar nele. Estou exausta, e nem mesmo o banho me relaxou depois daquele episódio no trabalho. O que nem foi grande coisa.Uma parte de mim deseja ser notada, aparecer em seu escritório e dizer na sua cara linda tudo que penso, mas a outra, medrosa e tímida, grita ao meu ouvido, dizendo o quanto seria ridículo e errado chamar a atenção do chefe depois de tudo que já fiz. Não é uma boa ideia.Não me importo se o bundão disse que não me demitiria e que não foi grande coisa o que falei a ele durante todo este tempo. Sei que se me visse pessoalmente e concluísse que a Birdpink não é grande coisa, com certeza se enfureceria e me mandaria embora.Meu coração vai à boca quando o celular vibra ao meu lado.
IanNão sei o que está acontecendo comigo. Desde que comecei a conversar com aquela estranha, não paro de pensar nela ou em como ela pode ser, na cor de seus olhos, dos cabelos, em como se veste... As únicas coisas que sei dela até o momento é que tem uma tatuagem, que sua pele é pálida, que trabalha na minha empresa e que é tímida. Mas, por trás do seu anonimato, é sincera e provocante.Todo esse mistério está me deixando louco; e uma mulher nunca conseguiu isso de mim. Estou fascinado por ela como se fosse uma necessidade saber sua identidade, seu nome, onde vive e com quem.Não acho que o passarinho tenha algum namorado, mas pode ter algum pretendente.Hoje, mesmo, senti que deveria sair do meu escritório só para buscar por uma pessoa que eu nem sabia quem era.É loucura. Estou ficando louco.O pior de tudo é que sempre quero mais dela: mais informações e mais uma mensagem.Ela foi a primeira mulher que me fez dizer tudo aquilo sobre mim, porque a maioria que sai comigo só fala ban
Ian— É muita tecnologia. — O homem está abismado com a sala onde é armazenada milhares de combinações numéricas que representam os dados de cada empresa para a qual trabalhamos. — Nunca vi algo igual.— Todos os anos essa ala cresce para acompanhar o número de empresas com quem temos parcerias. — Observo atentamente o senhor Phil, que se estica, tentando ver até onde vão os equipamentos da sala. — Tudo é monitorado vinte e quatro horas por dia e temos um sistema de climatização para que os servidores não se danifiquem. Além do mais, nossos funcionários são capacitados para resolver qualquer problema.— E vocês cobrem qualquer prejuízo se isso acontecer? — Levanta as sobrancelhas grossas ao me olhar.— Claro. — Coloco um sorriso no rosto, sendo que não estou nada fel
Emma O que está acontecendo comigo? Ian Novack sabe me deixar louca. Como se a amizade que dizemos ter, fosse algo tão importante e vital para a minha vida! Ele estava a poucos centímetros de mim, encarando minha nuca, causando arrepios pelo meu corpo todo e outras reações idiotas que desejei rejeitar a todo custo. Meu chefe é charmoso, e ver suas fotos me deixa boba. Eu senti que ele estava a poucos passos de mim e seu perfume sutil me deixou de quatro, no chão. Mas não como foi na última vez. Ele está frustrado, assim como eu. Por isso decidi acabar de vez com nossa brincadeira. Eu fui culpada por ter a começado, então terminei com ela. Saio atrasada do trabalho, já imaginando que perderei o metrô para chegar cedo em casa. Assim que ponho os pés para fora do prédio, Ian sai com uma expressão nada legal. Meu coração quase salta pela boca e o desejo de ir até ele, vem até mim. Não é como se tivesse sido semanas ou meses de conversa, mas o pouco que falamos um com outro foi suf
— Saia do meu apartamento e só volte quando deixar essa loucura de lado! Caso contrário, nossa amizade acaba aqui. — Tento reprimir a insegurança e a decepção que me tomaram depois do que ela me disse. — Está sendo malvada porque odeia quando estou contra você. Até tem razão em algumas coisas, mas, como minha amiga, não deveria dizê-las. Eu não faria isso com você.O arrependimento no seu rosto é evidente, contudo não mudo de ideia. Saio da sua frente e vou até o banheiro. Estou muito cansada para continuar brigando. Eu queria ajudá-la, pois, claramente, seu novo “trabalho” não é confiável.Logicamente, não posso julgar nada que não conheço, porém sei quando algo vai dar errado. Muitas meninas já se envolveram com essas coisas e nada terminou bem para elas, pois os homens costumam achar que podem usar e abusar delas, prometendo-as tudo só para, no fim, saírem vencedores.Eu não sei se Ian é como essas pessoas, já que mal o conheço e agora nem dá mais para conhecer. Tive que acabar com
EmmaSabe quando você entende o quanto é errado fazer algo e, mesmo assim, faz? Estou passando por essa situação. Duas semanas de intensas conversas com meu chefe, Ian Novack, mostraram para mim o quanto sou idiota e boba.Primeiro: claramente, eu estava me apegando a ele e, arrisco-me a dizer, gostando dele. Ian é um babaca egocêntrico e, quando se estressa, é arrogante com todos que estão em sua frente. Desde que começamos as conversas, isso veio diminuindo um pouco, assim como o desejo dele de me encontrar.Gosto de ver que o chefe que todos odeiam, no fundo, não é tão odiável. Sempre que ele está entediado ou tem novidades, manda-me mensagens de textos ou me liga quando chegamos em casa. Falamos sobre muitos assuntos, como, por exemplo, dos pais dele ou da vida boemia que ele tinha antes de tudo acontecer.É estranho falarmos de coisas que nunca falei abertamente com ninguém, nem mesmo com Bia, que ainda está chateada comigo. Também estou com ela.O pior de tudo é notar como estou
Emma— Não. Eu só estou ansiosa e... Com um pouco de medo sim; devo confessar. — Mas não é pelo motivo que ele acredita.O homem com quem conversei por semanas está dentro do transporte e, provavelmente, sob estresse. Explodirá de raiva o caminho todo. Algo que estragaria tudo que construímos, porque nem o fato de conhecê-lo melhor agora, diminuiria a minha raiva se ele me tratasse como sempre tratou os que trabalham na empresa.Saio do carro sentindo como se o chão fosse feito de lava. O frio na minha barriga está quase me paralisando.O meu superior é o primeiro a subir na aeronave, e só isso é suficiente para ouvirmos a arrogância do homem. Tenho que respirar fundo antes de colocar os pés dentro do pequeno avião.Arrumo os óculos e me viro em direção à poltrona de couro macio onde me sentarei.